O ponteiro do relógio parecia andar a passos lentos, o salão cada vez mais cheio, meu advogado estava lá observando meu comportamento para que eu não demostrasse nenhum sinal contrário do infortunado réu, aquele terno parecia me apertar cada minuto. E caramba que calor, queria exigir que ligassem o ar condicionado quando deparei com o maldito ventilador que parecia mais uma sucata do que um ventilador.

A audiência começou. Só pensava em quanto tem aquela chatice iria continuar, “Meu Deus, será que essa mulher não irá acabar nunca de me acusar, estou ficando com dor no pescoço e cansado de ficar nesta cadeira nada confortável” e quem liga se eu estava dirigindo em alta velocidade, deveria ter acelerado muito mais.

Entre um “ Esse moleque sem educação” e um “ deve ser condenado” de cabeça baixa, apenas observando meus sapatos para transparecer inocência e arrependimento. Vi me naquela madrugada de janeiro. Nossa que patético aquela discursão com meu pai, cara chato.

Lembro me que estava na sala de casa, meu pai como sempre gritando comigo por que não era igual meu irmão, aquele sim era um exemplo de filho. Eu era uma porcaria que não merecia a vida e conforto que tinha.

_Você é um moleque, um irresponsável e um vagabundo. Xingue-me de qualquer coisa mais não me chama de vagabundo e muito menos irresponsável.

_Você defende tanto seu filhinho querido, abre os olhos coroa, seu filho é .... Você é um grande idiota.

Sabia que não poderia ultrapassar aquele limite, o que meu irmão era ou sentia não faria diferença para mim e não cabia a mim questiona-lo, mas que deu vontade de expô-lo, isso deu. Mas acho que mesmo que eu quisesse continua a falar sobre isso, não daria muito tempo só senti o empaqueto dos punhos do meu pai no meu rosto e senti o gosto amargo na boca de sangue. Aquilo me faz ter mais ódio e raiva dele.

Virei o mais rápido que pude e peguei a chave que tinha na mesinha ao lado do telefone.

Fui para garagem e quando vi aquela preciosidade do meu pai ali parado, cintilando um brilho adorável, meus olhos faiscavam e meu sorriso foi de orelha a orelha.

“ Agora você me paga velhote”

O Porsche Coupé rondou quando liguei e arranquei, passando por cima do gramado da frente da casa. Nossa que sensação maravilhosa, me sentia o dono do mundo. A vizinha que sempre espiava pelos cantos da janela, pela primeira vez tinha levado um susto, primeiro porque já era meia noite e pouco e depois pela violência com que sai com o carro. Vi pelo retrovisor meu pai ali olhando com desgosto e com certeza teria gritado se não fosse tão tarde.

Quando já estava chegando perto da guarita, minha vontade era quebrar aquela cancela, mas tive o azar de ter um outro carro que já estava saindo e a cancela estar levantada, o que fiz foi só passar correndo com o carro sem esperar qualquer ação do porteiro.

Nossa desci aquela avenida a duzentos por hora, que delícia. Eu minha vingança perfeita, acabar com aquele carro. O troféu do meu pai. Cada nervo, cada veia parecia destinada a esse propósito. E aquele era o momento.

Passei por uma guarita policial e pisei mais fundo no acelerador, que vontade se ser pego ali. A multa, o escândalo, mais uma vez a sorte favorecia meu pai, não tinha nenhum agente naquele momento. Que ódio foi aí que eu corri mais na avenida, já sem carro pelo motivo de véspera de feriado prolongado e final de semana. Respirava ofegante como se tivesse corrido uma maratona, acho que já estava voltando ao normal, me acalmando. O nervosismo parece que tinha dado lugar ao raciocínio. Morrer não era o objetivo nem ficar numa cama. Já estava descendo a outra rua, para alcançar a avenida e dar o retorno.

Quando faltava alguns metros para o retornar, passei por cima do mini calçada que fazia divisão entre a rua de mão dupla. Mas que saco, aquele carro parecia ter tomado um banho de sorte. Nada parecia acontecer com ele.

Respira. Quando realmente já tinha desistido de fazer qualquer coisa com o carro, vi um cachorro na estrada. Meu irmão sempre amou os animais, por isso já teve uns cinco animais, entre cão, gatos e pássaros. Eu por outro lado o odeio, persegui o.

Desviei no último segundo, nisto errei o pedal e acelerei ao invés de frear, o carro que estava em segunda macha deu um rangido forte e correu em direção ao mini penhasco que ali tinha eu joguei o volante para o outro lado e bati de frente ao poste de luz.

Minha cabeça estava doendo, senti um fio de suor, que descobri depois que era sangue, escorrer pelo meu rosto. Um rapaz veio ver se precisava de ajuda.

_ Que! Não tô bem, me deixa.

Tinha que consegui pegar a minha jaqueta, que estava misturada em meio aos destroços do carro. Assim que recupere a, procurei em seus bolsos dos pacotes de crack que Erick tinha me dado para entregar para Edgar. Com a batida provavelmente o carro alguém poderia acha-lo. Minha cabeça realmente doía

Achei apenas um pacote, mas não consegui procurar pelos demais, lembro-me que uma mulher doida, saiu na rua. Olhando para frente e começou a me ofender.

Foi aí que percebi que tinha derrubado o poste e que tinha caído encima de uma lata velha, porque mesmo aquela senhora estava lamentando mesmo?

_ Tá bom senhora, vou ressarcir a senhora. Estava meio tonto.

_Seu irresponsável, o que você fez com meu carro. Como pode fazer isso

_ Senhora primeiro foi um acidente, depois eu vou pagar

_ Como um acidente, você acelerou o carro, quer se matar ... seu irresponsável

Há, já disse e repito, não me chama de irresponsável

_ Cala boca sua idiota, foi um acidente e ponto.

A vontade era soca lá para que ela parasse de me chamar de irresponsável e vagabundo, sei que quanto mais eu pedia para falar baixo mais alto ela gritava, chamando a atenção de outros porteiros ao redor. Ouvir ao longe a sirene da polícia e ainda tinha que me livrar do pacotinho de crack no meu bolso. Fingir vomitar e me joguei no chão lançando o pacote para perto de um bueiro.

Pisquei os olhos, deveria ter adormecido no tribunal, sem que alguém percebesse. Nossa que viagem, deveria ter sido num flash de segundo, pois ali ainda estava a promotora me acusando e pedindo justiça. Como se estivesse num estádio de futebol a berrar gol.

 

I

O ponteiro do relógio parecia andar a passos lentos, o salão cada vez mais cheio, o ventilador já parecia ser velho amigo e ansioso para escutar minha fala.

Respirei fundo e lá vamos nos. Hora de apresentar Joaquim para o meritíssimo e todos aqui.

Era uma meia noite e quarenta de janeiro, quando estava a voltar para casa, o carro tinha sido um pelo presente que meu pai me dará. Não era novo, mas era o que eu sempre quis ter. Era um presente do pai, afinal estava quase se formando na faculdade de arquitetura. E já mostrava os princípios de um grande arquiteto.

Aquele rapaz exemplar, que sempre tirou as melhores notas no colégio era o orgulho para todos a sua volta.

Aquela noite estava testando o novo presente tinha acabado de ganhar do meu pai assim que cheguei da universidade. Nossa que alegria, quando vi que ele reluzia um brilho único no verde britânico. Meu coração chegava a pular de alegria.

Resolvi que iria dar uma volta naquele momento. Lembro me que tinha errado uma ou duas vezes as machas por isso quase pulei para cima do gramado e passei veloz pelo porteiro.

Mas fora isso fui muito bem, passei pela guarita policial e desci tranquilamente pela avenida, fiz os dois retornos para voltar para casa, a noite estava agradável com uma brisa de verão.

Melhor sensação, já estava a uns cem metros depois do retorno, a rua estava sem iluminação naquela noite e só vi por reflexo o vulto de um cachorro, momento em que virei o volante e joguei o carro para cima da calçada, os pedais não respondiam por alguma razão.

Lembro me que um porteiro muito gentil veio questionar se estava bem, não queria incomodar então tentei dispensa-lo o mais rápido possível, percebi que tinha coisa rolando para baixo do chão do carro mais nem me dei ao trabalho de investigar, sentia meu rosto todo ensanguentado. Minha respiração alterada e muito tonto. Provavelmente tinha batido com a cabeça. Nossa que dor.

Uma senhora começou a gritar e ofendendo e eu sem entender o que estava ocorrendo, quando vi que tinha batido num poste e que acertará o carro dela. Nossa aquilo pareceu me machucar mais, graça aos céus por não ter gente ali dentro.

Tentei convence lá que iria pagar tudo, mas que naquele momento estava precisando de um médico. Quando percebi que iria vomitar.

Outra vez, minhas pálpebras piscaram com força, tudo aquilo tinha sido uma grande obra de arte, reviver os passos de Joaquim no tribunal e convencer que ele realmente foi uma grande vítima, pensou o advogado. Ouvi com grande alegria quando o juiz disse absorvido das acusações. Respirei fundo e olhei para meu cliente que estava com carinha de criança ainda triste, mas feliz pelo doce final e seus familiares na plateia assistindo, seu pai com cara de desgosto e seu irmão com felicidade de ver ele tinha sido liberado daquelas atrocidades. A promotoria me olhava com ar de desaprovação e eu fui até meu cliente para aperta sua mão e encaminha ló até sua família.