Por: Laércio Becker, de Curitiba-PR

Difícil dizer, com precisão, qual foi o time brasileiro com pior campanha em campeonato estadual. Em primeiro lugar, porque são 27 campeonatos para comparar. Em segundo, os resultados de muitos campeonatos antigos estão perdidos. Ademais, qual seria o melhor critério para avaliar a campanha: números absolutos ou relativos? Jejuns ou percentuais de aproveitamento? Gols contra ou saldo negativo?

Pessoalmente, gosto da média de gols sofridos por partida. Nesse quesito, acho que um bom candidato é o Santa Cruz-PI. No campeonato piauiense de 1960, levou chineladas de 12x1 do Auto Esporte, 11x0 do Flamengo, 10x0 do River, 9x0 do Piauí e 10x0 do Fluminense. Essa campanha levou o Santa Cruz, clube fundado em 14.09.45, à sua desfiliação da Federação (nunca mais retornou) e eliminação do torneio, antes mesmo de levar outras goleadas dos demais participantes. A estatística é surpreendente: 5 jogos, 5 derrotas, 52 gols contra (incrível média de 10 gols por partida) e 1 gol a favor (do herói José, contra o Auto Esporte).

As incríveis médias de 10,4 gols sofridos por partida e de saldo médio negativo de 10,2 por partida qualificam essa campanha do Santa Cruz como provável recordista em campeonatos estaduais do Brasil, mesmo se comparada a outros célebres sacos de pancada do futebol nacional. P.ex.: o Íbis-PE, ganhou fama a partir do campeonato estadual de 1979, quando conseguiu 12 derrotas em 12 jogos, 1 gol a favor e 51 contra – médias nitidamente inferiores à do Santa Cruz-PI. Na espantosa campanha estadual de 1981, o “Pássaro Preto” alcançou 18 derrotas em 18 partidas, 4 gols a favor e 88 contra. Em termos absolutos, não se nega que é uma marca nacional respeitável, mas em termos relativos, o Íbis, fazendo jus à fama, perde: média de 4,8 gols por partida.

Quem pode fazer frente ao Santa Cruz-PI é o Flamengo-PE, com a interessante campanha de 1945: 6 jogos, 6 derrotas, 51 gols sofridos – média de 8,5 por partida. Destaque para as goleadas sofridas para o Náutico (21x3), Sport (10x0) e America (10x2).

O conterrâneo América de Recife, no campeonato estadual de 1995, levou 122 gols, mas em 37 partidas – média pífia de 3,3 por jogo. O xará América de Manaus, no campeonato de 2003, tomou 64 gols em 10 partidas. Média módica, que ombreia com o Israelita-PE, no campeonato de 1931: 68 gols em 10 derrotas.

Há muitos anos, uma matéria no Globo Esporte ou no Esporte Espetacular falava sobre o Ferroviário-AL, que já teve fases melhores. Tempos depois, a bola da vez esteve com o Cruzeiro-AC, que, por conta da reportagem, chegou a ganhar um conjunto de uniformes do famoso xará mineiro. Seria interessante dar uma olhada nas estatísticas desses simpáticos clubes.

O Mangueira-RJ ficou famoso pelas goleadas sofridas. Em 1909, levou de 24x0 do Botafogo, mas terminou o campeonato com apenas 44 gols em 10 jogos. Em 1912, foi um grande chocólatra (16x2 e 14x0 para o Flamengo, 12x0 e 11x1 para o Paysandu), o que resultou em 79 gols em 14 jogos – média decepcionante de 5,6 por partida.

Para terminar, vejam o que é a força da imprensa: o Cruzeiro de Arapiraca, eleito pela imprensa alagoana como o pior do Brasil em 1988, em sua campanha estadual do fatídico ano, adjetivada como “assombrosa”, levou “apenas” 81 gols em 36 jogos – média irrisória de 2,25 gols por partida. Nem merecia constar neste artigo.

 

Fontes:

ANDREOLI, Felipe. O pior futebol de todos os tempos. São Paulo: Panda, 2011.

ASSAF, Roberto; MARTINS, Clóvis. Campeonato carioca: 96 anos de história. Rio de Janeiro: Irradiação Cultural, 1997.

CORDEIRO, Carlos Celso; CORDEIRO, Luciano Guedes. Campeonato pernambucano 1915 a 1970. Recife: ed. do autor, 2001.

CORDEIRO, Carlos Celso; CORDEIRO, Luciano Guedes. Campeonato pernambucano 1971 a 2000. Recife: ed. do autor, 2002.

LEAL, Israel. O vôo do pássaro preto: a história do Íbis, o pior time do mundo. Olinda: Livro Rápido, 2010. p. 94 e ss.

RIBEIRO, Ronaldo. A duras penas: segue difícil a vida do Íbis, a ave negra do futebol brasileiro. National Geographic Brasil, São Paulo, ano 7, nº 75, p. 34-40, jun. 2006.

SEVERINO FILHO. Piauí 100 anos de futebol. Teresina: ed. do autor, 2005.

SOUTO, Bernardino. Sinal verde para o time da estação: o Ferroviário de Alagoas não quer descarrilar na hora H. Placar, São Paulo, nº 375, p. 57, 01.07.1977.