Esta pesquisa aborda o significado do jogo de faz-de-conta no cotidiano de crianças e educadoras da Educação Infantil do município de Aripuanã. Para o desenvolvimento desta realizamos um estudo comparativo que nos possibilitou entender o que nos diz a criança quando brinca de faz-de-conta e o que as educadoras do Centro de Educação Infantil Albertina Felício dos Santos percebem quando as mesmas entram no mundo imaginário. Para isso fizemos observações e descrevemos cenas cotidianas do jogo de faz-de-conta com as crianças das turmas do Maternal III B (4 anos), Maternal II B (3 anos) e Pré-escolar A (5 anos), presenciamos momentos em que a criança através do jogo imaginário consegue ir de um nível a outro do desenvolvimento vivenciando situações que estão distantes do seu desenvolvimento real. As entrevistas com as profissionais das respectivas turmas foram realizadas no mesmo período das observações, onde constatamos que elas sempre disponibilizam espaço e materiais que levam a criança a entrar no jogo de faz-de-conta e compreendem a importância do jogo de faz-de-conta no processo de ensino aprendizagem. Utilizamos à teoria sociointeracionista de Vygotsky onde ele aborda a importância do brinquedo, do jogo de faz-de-conta e o conceito de zona de desenvolvimento proximal no processo de desenvolvimento da criança.
Palavras-chave: zona de desenvolvimento proximal, jogo de faz-de-conta e teoria sociointeracionista de Vygotsky.


INTRODUÇÃO

Neste trabalho abordamos sobre o significado que o jogo de faz-de-conta assume no cotidiano de crianças e educadoras que estão inseridas na Educação Infantil. Apresentamos como principal objetivo de nossa pesquisa desenvolver um estudo comparativo para compreender o que nos diz a criança quando brinca de faz-de-conta e o que as educadoras que atuam no Centro de Educação Infantil Albertina Felício dos Santos, do município de Aripuanã, percebem quando entram neste mundo imaginário. O tema despertou-nos o interesse pelo fato de nos depararmos constantemente com situações nas quais a criança mergulha num universo imaginário.
Espera-se que as discussões teóricas e os dados obtidos através da pesquisa bibliográfica e empírica possam trazer algumas contribuições para os profissionais que estão em formação e atuam junto à Educação Infantil, possibilitando uma reflexão acerca do imaginário infantil.


REFERENCIAL TEÓRICO

Embasamos nossa pesquisa na teoria sócio-interacionista de Vygotsky (2000) particularmente no conceito de Imitação e da Zona de Desenvolvimento Proximal, uma vez que, conforme o autor, através da imitação a criança vai experimentar comportamentos e ações que talvez ainda não fizesse por conta própria criando assim sua zona de desenvolvimento proximal. Com isso podemos perceber que a criança, enquanto brinca de faz-de-conta, consegue ir de um nível a outro de desenvolvimento alcançando assim o seu desenvolvimento potencial.
Levantamos também teorias de Wajskop (2001), Kishimoto (2006) e Andrade (2006) que abordam sobre as situações imaginárias criadas pela criança através das quais emergem regras de comportamentos implícitas, provenientes de formas culturalmente constituídas que são compartilhadas entre os atores sociais com os quais a criança convive. Além de outros autores que abordam sobre o papel do brinquedo e do jogo de faz-de-conta no processo de desenvolvimento infantil.


METODOLOGIA

Desenvolvemos uma pesquisa de natureza predominante qualitativa, objetivando com isso uma maior consistência para análise dos dados coletados junto à pesquisa de campo e assim uma melhor compreensão do objeto que nos propomos investigar. Utilizamos como instrumento para a coleta de dados a técnica da observação a partir da qual descrevemos cenas cotidianas em que as crianças de 3 a 5 anos de idade emergem no jogo de faz-de-conta, além de entrevistas que realizamos junto às profissionais que atuam com estas crianças. Utilizamos como critério para a seleção da amostra pesquisada as crianças que permanecem em período integral na Instituição e as profissionais que com elas atuam, uma vez que o Centro oferece também atendimento semi-integral. A amostra estudada envolveu 1 turma de Pré-escola (5 anos), 1 turma (4 anos) e 1 de Maternal (3 anos) perfazendo um total de 60 crianças e 6 profissionais dentre um universo de 209 crianças e 15 profissionais divididas em 7 salas de aula no Centro de Educação Infantil Albertina Felício dos Santos, do município de Aripuanã.


RESULTADOS

Durante a realização deste trabalho fizemos muitas observações com descrições de cenas onde as crianças entram no mundo imaginário. Dentre elas selecionamos a cena acima, na qual um grupo de crianças da Pré-escola (5 anos) brinca de casinha, demonstrando que qualquer lugar e qualquer objeto abrem possibilidades para entrarem no jogo de faz-de-conta. Nestes momentos, percebemos que a criança quando imita alguém, além de reproduzir a ação da pessoa, também coloca um pouco de si na imitação, segundo Vygotsky (2000) este fato contribui para o processo de desenvolvimento infantil, pois a imitação de hoje, amanhã, irá tornar-se algo próprio dela.
Quando está brincando, a criança cria situações imaginárias em que se comporta como se estivesse agindo no mundo dos adultos. Enquanto brinca, seu conhecimento desse mundo se amplia porque em suas brincadeiras, age como os adultos agem num verdadeiro jogo de faz-de-conta. Se é permitido à criança, por exemplo, brincar em um automóvel, uma charrete ou outro meio de transporte qualquer, sua ação tenderá a reproduzir as ações que observa nos adultos que conduzem esses meios de transporte; ela se preocupará, inclusive em reproduzir o barulho do motor ou trote do cavalo. Ao brincar, a criança não está só fantasiando, mas fazendo uma ordenação do real; tendo a possibilidade de ressignificar suas diversas experiências cotidianas.
As entrevistas realizadas com as profissionais demonstram que o jogo de faz-de-conta está presente em todos os momentos da rotina diária das crianças e que as profissionais compreendem a importância do mesmo para a construção da aprendizagem e no processo de desenvolvimento infantil e que a criança não precisa ter um local específico para brincar de faz-de-conta ela entra no mundo imaginário a qualquer momento em qualquer lugar. A esse respeito Klisys declara, "Temos de levar em conta que o espaço para o brincar de faz-de-conta precisa ser flexível, transformar-se em tantos outros espaços que a imaginação infantil inventar". (2007, p.29)


CONCLUSÃO

Para desenvolver as análises que se fizeram necessárias, a fim de respondermos aos objetivos propostos, fundamentamos na teoria sociointeracionista de Vygotsky, focando o conceito de zona de desenvolvimento proximal, a qual contribuiu no sentido de compreendermos a importância do brinquedo, da brincadeira e do jogo de faz-de-conta no processo de desenvolvimento da criança.
Através das observações realizadas percebemos que a criança quando entra no jogo de faz-de-conta alcança um nível de desenvolvimento maior do que o seu real, ou seja, ela consegue realizar ações que ainda estão distantes da sua capacidade cotidiana. Ao realizarmos as entrevistas com as profissionais percebemos que as mesmas sempre disponibilizam espaços e materiais para as crianças entrarem no jogo de faz-de-conta, pois as mesmas percebem os benefícios do jogo de faz-de-conta para o desenvolvimento integral da criança. Pela imitação a criança aprende, pois toda a sua possibilidade de construir conhecimento está interligada ao seu cotidiano. Agindo como adultos agem, imitando seus gestos, suas expressões e seus movimentos, a ponto de experimentar ações diversificadas é que a criança construirá a base de como ser e estar no mundo.
Através dessa pesquisa podemos perceber que a criança ao entrar no jogo de faz-de-conta realiza ações que estão distantes do seu cotidiano, o que possibilita uma aprendizagem significativa e prazerosa e que as profissionais pesquisadas compreendem a importância do jogo de faz-de-conta neste contexto de aprendizagem da criança.
Assim, acreditamos que o brincar, as brincadeiras e o jogo de faz-de-conta são indispensáveis na rotina das Instituições de Educação Infantil, uma vez que os mesmos fazem parte da cultura infantil e a criança necessita desses momentos lúdicos para construir sua aprendizagem de forma mais significativa.


BIBLIOGRAFIA:

ANDRADE, Daniela Barros da Silva Freire. Psicologia: Desenvolvimento e aprendizagem em bebês e crianças pequenas. Cuiabá: EdUFMT, 2006.
KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 2006.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
WAJSKOP, Gisela. Brincar na Pré-Escola. São Paulo: Cortez, 2001.