AS CONTRIBUIÇÕES DO FILÓSOFO FRANCIS BACON PARA A CIÊNCIA MODERNA

 

Luiz Tiago Vieira Santos[1]

 

 

O filósofo britânico Francis Bacon desenvolveu seu projeto filosófico no contexto histórico da Renascença. Iniciado na Itália, o movimento renascentista teve seu auge entre os séculos XV e XVI e espalhou-se por toda a Europa, desencadeando profundas mudanças na política, na economia, na organização social e, sobremaneira na forma de se conduzir pensamento científico.

E era do Renascimento significou uma ruptura com a cultura e o saber escolástico da Idade Média, promovendo a substituição de uma visão teocêntrica de mundo por uma percepção antropocêntrica. Isso influenciou todo pensamento da cultura ocidental e preparou as bases científicas e filosóficas da era moderna. Nesta, o mundo e os fenômenos naturais passaram a ser explicados a partir da razão humana e, não mais, pelas verdades reveladas pela moral cristã do medievo.

Necessitou-se, assim, de uma revisão dos saberes acumulados desde a Antiguidade, perpassando por toda Idade Média. Todo conhecimento produzido até então era marcado pelo aristotelismo que, segundo Bacon, era uma “filosofia estéril” fundamentada em construções linguísticas que partiam das opiniões dos homens sobre as coisas e não das próprias coisas. Dessa forma, não se produzia um conhecimento novo, tampouco benéfico em obras para a humanidade. Por essas razões, a escolástica foi duramente criticada por Bacon.

A partir daí, o filósofo iniciou sua empreitada em busca de um conhecimento novo e fecundo em obras benéficas para a humanidade, que seriam decorrência dos progressos da ciência. Em uma de suas obras, provavelmente a mais famosa “Novum Organum”, mais precisamente no aforismo XXXI, Bacon deixa claro sua pretensão de incitar uma restauração do conhecimento científico, em vigor na época, a partir de suas bases. Dessa forma, trilhando um novo caminho para o conhecimento e que este fosse verdadeiramente útil ao progresso, diferentemente de outrora.

Em o “Novum Organum” ou “Novo Instrumento”, traduzido assim em nossa língua, o filósofo inicia os passos de um novo método, que tendo o experimento como meio, permitiria que se chegasse a um conhecimento seguro e verdadeiro.

Devido à inovação trazida por suas ideias, o filósofo foi considerado por muitos como o “fundador da ciência moderna”, “o criador do método experimental”, dentre outros tantos adjetivos. Contudo, antes que angariasse todos esses apostos, Bacon propunha-se a entender quais seriam os entraves (ídolos) da mente humana, que atrapalhavam o desenvolvimento produtivo das ciências, para enfim, poder propor e aplicar seu novo método.

Destarte, cria a teoria dos ídolos com o objetivo de explicar as falhas da antiga “indução estéril” aristotélica. Tais entraves ou ídolos seriam: os ídolos da tribo, imbricados na natureza humana e que faziam o homem reduzir o complexo ao simples, isto é, simplificar demasiadamente a realidade, pois isto lhe aprazia ou agradava; os ídolos da caverna, alusão feita à alegoria da Caverna de Platão, na qual o homem possui uma caverna particular que ofusca a luz da natureza, fazendo o sujeito enxergar tudo a sua volta sob uma ótica extremamente particular; os ídolos do foro, referentes às distorções no uso da linguagem e no processo de comunicação humana; e, por fim, os ídolos do teatro, que se referia aos sistemas filosóficos vigentes na sociedade. Este último referia-se mais precisamente ao aristotelismo presente em sua época, o qual combatia fervorosamente e tentara desmontar com sua nova teoria do conhecimento.

Após a constatação de sua teoria dos ídolos e a evidência de que as falsas noções do intelecto humano dificultavam a verdadeira indução, Bacon propôs a introdução do seu novo método. Neste, o indivíduo, afastando-se ao máximo de seus ídolos, não mais simplesmente passaria pela experiência, mas se ateria a ela como fim último e critério de verdade, ou seja, somente seriam verdadeiros os conhecimentos que brotassem de experimentos científicos construídos a partir da imparcialidade do indivíduo, criando assim uma forma “antecipar” e “interpretar” os fenômenos naturais. Para tanto, o cientista deveria se utilizar do auxílio de “instrumentos” que lhe possibilitasse a ampliação dos sentidos, chegando assim a “verdadeira indução”. Para ele, nossos sentidos eram enganosos e, sem o auxílio de tais instrumentos, teríamos uma percepção falseada da realidade.

Assim, é perceptível que a técnica ou grosso modo, a “arte do fazer”, experimentar, detinha um lugar privilegiado no método baconiano. A luz de seu método, portanto, o filósofo britânico criou as condições para assentar as bases da construção de um conhecimento seguro e rigorosamente método, que culminaria no progresso das ciências nos séculos posteriores, iniciando um processo irreversível de construção paulatina do conhecimento humano.

REFERÊNCIAS

BACON, Francis. Novum organum. São Paulo: Nova Cultural, 2000. p.254 (Coleção Os Pensadores)



[1] Possui LICENCIATURA PLENA EM CIÊNCIAS NATURAIS pela UNIVERSIDADE TIRADENTES UNIT (2009), com experiência docente na Educação Básica (Ensino Fundamental e Médio) nas disciplinas Ciências e Biologia respectivamente e na Educação Técnica (área da saúde) na disciplina Microbiologia e Parasitologia Humanas. Atualmente é graduando do BACHARELADO EM DIREITO pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – UFS (biografia retirada do currículo Lattes)