AS CAUSAS DA DEFICIÊNCIA DA ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

 

Camila Sousa

 

1.                  Apresentação do tema e Justificativa

 

 

A partir da década de 30 a educação de adultos começou fazer parte da realidade brasileira. Com isso, muitas pessoas iniciaram ou voltaram aos estudos, buscando adquirir habilidades as quais não foram possíveis na idade própria. Com o passar dos anos os programas criados com o objetivo de erradicar o analfabetismo foram sendo aperfeiçoados, visando superar as imperfeições e atingir o objetivo ao qual se propunham.

No entanto, observa-se que apesar das conquistas para melhoria dessa modalidade de ensino e dos altos investimentos por parte das entidades responsáveis os alunos não estão conseguindo obter bons êxitos, a leitura e escrita dos mesmos deixam muito a desejar, porém, em muitos casos, esses alunos são aprovados com boas notas, sendo promovidos há anos seguintes, abrindo questionamentos sobre como foi conseguida essa promoção.

Atualmente existem vários programas para alfabetização de adultos dentre eles, destaca-se: Brasil Alfabetizado, Alfabetização Solidária, Alfabetização e Cidadania entre outros. Tem também a modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Nas turmas de EJA encontramos um público muito heterogêneo, que têm um rico conhecimento da vida, mas na maioria das vezes com a autoestima devastada. São pessoas que tiveram muitas razões para terem abandonado ou por nunca terem freqüentado a escola. Dentre as quais podemos citar: pais e maridos analfabetos e machistas, necessidades de trabalhar, inexistência de escolas, paternidade e maternidade precoces e falta de dinheiro, transporte, comida e oportunidade.

Muitos desses educandos sentem vergonha de nunca terem estudado ou de terem parado os estudos há muito tempo, sentem-se incapazes com medo do ridículo e do desconhecido. Entretanto, depois que eles perdem esse medo, a sala de aula passa a ser um espaço de lazer e aprendizado e os colegas e professores grandes amigos, a turma passa a ser uma família amorosa, unida e respeitosa.

Infelizmente nem sempre essas “famílias” permanecem unidas em alguns casos, a alfabetização não é levada a sério. Em alguns municípios do interior do estado como é o caso de Amontada, boa parte dos docentes são escolhidos por indicação de alguns políticos e os critérios determinados na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, Lei 9394/96) no que diz respeito à seleção dos educadores para educação básica, na modalidade de EJA, são ignorados. Com isso acabam assumindo as salas de aula pessoas que não têm nenhuma experiência na área da educação e nem formação que dêem um embasamento para lidar com esses alunos.

As consequências são terríveis. Os planejamentos realizados junto à coordenação não são postos em prática, o uso do alfabeto e sílabas móveis como meios de aquisição da leitura e da escrita, a construção do portfólio do aluno como um instrumento de avaliação, entre outras ações planejadas, não saem do papel. Assim as aulas ficam monótonas e os estudantes que já têm uma autoestima baixa e outras opções tentadoras fora da escola como ir para casa dormir, jogar baralho com os amigos, assistir TV ou ficar com a família depois de um dia inteiro de trabalho, sentem-se desestimulados, incapazes de aprender e evadem-se.

Sendo que essas são apenas algumas das possíveis causas da desistência, observa-se também que muitos alunos desistem porque não vêem perspectiva em continuar os estudos, uma vez que a oferta de emprego oferecida pelo município é mínima.

Precisa-se repensar essa prática, para que possamos descobrir as causas da deficiência da alfabetização na Educação de Jovens e Adultos, a fim de que melhore os índices de analfabetismo e o Brasil venha a ser realmente alfabetizado; uma vez que sem educação não se constrói um país socialmente justo e economicamente viável.

Diante do exposto justifico a escolha desse tema porque sou Professora alfabetizadora dessa modalidade de ensino e encontro muito dificuldade e vejo muita negligência por parte de alguns colegas. Partindo desse pressuposto pretendo investigar as causas pelas quais a alfabetização de jovens, adultos e idosos nem sempre acontece, isso me ajudaria a melhorar minha prática no dia-a-dia na sala de aula e também ajudar os colegas professores a fazerem com que essa alfabetização realmente aconteça.

 

  1. 1.                  Delimitação do Problema

 

A sociedade atribui à escola a tarefa de ensinar a ler e escrever, para que adquirindo essas habilidades básicas o indivíduo participe da vida social e seja consciente dos seus direitos e deveres como cidadão. Uma vez que com a modernização e globalização em que se vive é imprescindível se alfabetizar, pois a alienação do processo de leitura e escrita pode ocasionar muitas dificuldades de convivência e adaptação no mercado de trabalho.

Devido isso a cada dia aumenta o número de jovens, adultos e idosos que procuram os cursos supletivos com o intuito de serem alfabetizados e concluírem o ensino fundamental e médio.

Alfabetização essa que deve ser compreendida como um processo que vai além de copiar marcas sem sentido e repetir sons descontextualizados, estar alfabetizado é saber atribuir significado e sentido às funções sociais vinculadas a leitura e escrita.

Alfabetizar jovens, adultos e idosos pode ser também entendido como uma modificação da sua cultura, pois eles passarão a lerem jornais, terão criticidade para analisar as informações que chegam por meio da TV, rádio, sem a distorção das outras pessoas, entenderão o que pode estar escrito nos documentos e passarão a ter uma identidade com a própria caligrafia, e cidadania.

Com base nisso, essa pesquisa visa identificar causas que provocam a deficiência na alfabetização de jovens e adultos.

1.2              Questão Problema

 

Diante dessa temática propõem-se os seguintes questionamentos:

Quais as causas da deficiência na alfabetização de jovens, adultos e idosos, nas turmas do 1º segmento?

Será que os procedimentos metodológicos utilizados pelos docentes da EJA são atrativos para a permanência do aluno em sala de aula?

Será que acontece uma formação específica voltada para os educadores da EJA?

2.                  Pressupostos / Hipóteses

 

Falta de formação específica dos docentes.

Baixa autoestima dos alunos, uma vez que os mesmos não acreditam no seu próprio potencial.

Falta de perspectiva no mercado de trabalho.

A baixa remuneração dos docentes.

3.                  Objetivos

 

3.1              Objetivo Geral

 

Identificar as causas da deficiência da alfabetização na educação de jovens e adultos nas turmas do 1º segmento.

3.2              Objetivos Específicos

 

 Analisar os problemas enfrentados pelos alunos da EJA, na assimilação dos conteúdos.

Propor metodologias variadas, as quais possam facilitar a aprendizagem.

Analisar os procedimentos metodológicos adotados para alfabetização dessa modalidade.

Identificar o nível de formação dos alfabetizadores.

4.                  Fundamentação Teórica

 

     Os alunos da EJA embora nem todos dominem o código escrito estão em meio a um mundo letrado e possuem pensamentos e técnicas próprias de lerem e compreenderem o que os cerca. Eles sofrem até criarem os próprios símbolos de leitura e uma vez criados ficam felizes por não terem que depender dos outros a todo o momento. Aprendem pelo a necessidade de sobrevivência. Quando esses educandos chegam à escola já trazem um rico conhecimento que precisam ser lapidado e aperfeiçoado a fim de que comecem a decifrar o código das letras.

     Conforme diz Freire (1981,41):

O analfabeto aprende criticamente a necessidade de aprender a ler e escrever. Prepara-se para ser o agente dessa aprendizagem. E consegue fazê-lo na medida em que a alfabetização é mais do que o simples domínio mecânico de técnicas para escrever e ler. Com efeito, ela é o domínio dessas técnicas em termos conscientes. É entender o que se lê e escrever o que se entende.

               

À medida que esses educandos possam a frequentar a escola, mudam sua postura diante da sociedade, pois começam a ver as coisas com mais criticidade e a não aceitarem passivamente os abusos da classe dominante. Assim, a educação os liberta, essas pessoas perdem o medo de falar e passam a ter uma opinião própria sobre o que os cerca, são conscientes do “poder” que possuem e o quanto podem fazer para melhorar o mundo ao seu redor. Sentem-se capazes, uma vez que têm o conhecimento vivenciado no dia-a-dia associado ao aprendizado na escola e com isso conseguem decifrar o código das letras, vendo o mundo de maneira diferente.

Como podemos perceber na fala de Weffort (1983,6): “(...) todo aprendizado devem encontrar-se intimamente associado à tomada de consciência da situação real vivida pelo educando.” Sendo assim, é de suma importância que os planejamentos estejam dentro da realidade vivenciada pelos alunos, aí entra o compromisso e a responsabilidade do educador.

O professor da EJA muitas vezes é discriminado, pois boa parte da sociedade critica os docentes dessa modalidade. No entanto, quem leciona esses educandos sabe as dificuldades que encontra para mantê-los em sala de aula, uma vez que os mesmos estão sempre cansados ou preocupados com a educação dos filhos.                                       

Os docentes dessa modalidade são desafiados a cada dia, por isso, merecem uma formação específica, cursos que dêem um embasamento para lidar com a EJA.

Entre as muitas dificuldades que o educador encontra, pode-se citar: Os planejamentos, que precisam estar de acordo com a realidade dos alunos para que o aprendizado faça sentido. Acolhimento, são pessoas que se desestimulam muito fácil, por isso, é preciso muito jogo de cintura para motivar esses alunos diariamente. Resistência aos novos métodos educacionais, uma vez que à maioria dos discentes têm uma concepção da escola tradicional onde o professor detém todo o conhecimento.

     Como diz Brunel (2006,9):

O professor que trabalha na EJA tem que conciliar o afeto com a disciplina e o tempo com o currículo a ser cumprido. O papel do professor não é fácil nesta modalidade, pois sabe que esses alunos em geral, tem uma trajetória de descontinuidades e rupturas na sua escolarização, sem esquecer que, para muitos a EJA é a última alternativa para se manterem no espaço escolar.

     

      Para manter e obter bons êxitos com alunos de EJA é necessário que haja cumplicidade e diálogo entre docentes e discentes. As aulas precisam ser dinâmicas e acolhedoras de forma que o educando tenha prazer em aprender, eliminando da memória de muitos deles aquelas aulas tradicionais onde o aluno ficava sentado ouvindo regras e conceitos, como se fosse um depósito próprio para guardar conhecimentos.

     O aprendizado vai começar a ser realidade quando partir do aluno o desejo de aprender, é aí que entra o educador como um mediador para que a alfabetização aconteça. Conforme diz Freire (1983,111): “(...) a alfabetização não pode ser feita de cima para baixo, como uma doação ou uma imposição, mas de dentro para fora, pelo próprio analfabeto, apenas com a colaboração do educador. “

     Quando os estudantes brasileiros participam de provões a nível mundial, o Brasil sempre fica em péssimas colocações, principalmente no que diz respeito à alfabetização de adultos, por isso, é imprescindível que sejam detectadas as razões pelas quais isso acontece, pois para que haja desenvolvimento é preciso que haja educação de qualidade. Apesar dos altos investimentos nessa área, nosso país anda longe de erradicar o analfabetismo.

     De acordo com o Machado (2008,34 a 36):

O analfabetismo de adultos é nossa maior dívida social, em qualquer ponto do planeta. Em todo lugar, os indivíduos que carecem de competências elementares em leitura, escrita e cálculo somam 774 milhões de pessoas. Ou seja - um em cada cinco adultos é analfabeto – e 64% desse porcentual é formado por mulheres. (...) No Brasil, dados de 2005 indicavam que 11% da população com mais de 15 anos é incapaz de decodificar um simples bilhete, ler o itinerário de uma linha de ônibus ou uma manchete do jornal. 

     Daí se dá a importância da realização dessa pesquisa, se existem investimentos para essa modalidade de ensino, se tem alunos, professores e escolas, então o que está faltando para que a alfabetização deixe de ser utopia e passe a ser fato.

5.                  Procedimentos Metodológicos

 

5.1              Modalidade de Pesquisa

 

 A pesquisa a ser desenvolvida requer a abordagem qualitativa, pois oferecerá oportunidade de analisar, descrever e compreender o objeto problematizado no sentido de conhecer suas características, visando obter informações significativas que possam auxiliar o processo de alfabetização na educação de jovens, adultos e idosos. Para isso será feita uma pesquisa bibliográfica e de campo, a fim de que sejam colhidos dados sobre o problema. Como vejamos na palavra de Andrade apud Marconi (1990; 75), “Pesquisa de Campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e / ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar.”

5.2              Instrumentos de coleta de dados

Os dados para realização dessa pesquisa serão coletados através de Pesquisa Bibliográfica e de Campo, Observação do dia-a-dia na sala de aula, conversa junto à equipe de coordenação e aplicação de questionários.

Serão três questionários diferentes. O primeiro com 9 perguntas abertas para o Professor, o segundo com 6 perguntas também abertas para o Coordenador e o último com 5 perguntas, sendo (3) abertas e (2) fechadas para ser respondido pelos alunos.

5.3              Critérios para análise dos dados

Uma vez colhidos, os dados serão analisados, interpretados e apresentados através de um quadro demonstrativo que represente os conhecimentos referentes à leitura e escrita dos alunos, aos quais serão enumerados de 1 a 5.

O desempenho, a motivação e formação dos docentes também serão representadas em um quadro demonstrativo.

Os avanços e dificuldades serão comparados mês a mês desde o inicio da execução da pesquisa, visando estabelecer o quadro compreensivo do problema em exposição.

5.4              Descrição das etapas da investigação

- Escolha do tema junto com o Orientador.

- Pesquisa Bibliográfica.

- Fichamento das leituras.

-Observação do dia-a-dia na sala de aula.

- Conversa junto à equipe de Coordenação.

- Elaboração de questionário.

- Aplicação de questionário.

- Analise dos dados coletados.

- Redação do relatório final.

- Entrega do trabalho e apresentação.

REFERÊNCIAS

 

 

ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à Metodologia do Trabalho Científico. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2001.

BRUNEL, Carmem. EJA: uma população cada dia mais jovem. Mundo Jovem, Porto Alegre, ano. XLIV, n.372, p.9, novembro 2006.

EDUCAÇÃO, Lei de Diretrizes e Bases nº 9394/96, de 20 de dezembro 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Brasília, DF, 20 dez. 1996. Seção V, p.15.

FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. 14ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983.

 FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 12ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1981.

MACHADO, Ana Luiza. A Educação no país evoluiu, mas ainda não é para todos. Nova Escola, São Paulo, ano. XXIII, n. 210, p. 34-36, março 2008.

WEFFORT.F. Prefácio. In FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. 14ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983.

                                                                               

                       APÊNDICE

Questionário dirigido ao Professor

1-                 Qual a sua visão da EJA?

2-                 Você fez alguma especialização para trabalhar com a EJA?

3-                 Quais as maiores dificuldades observadas em seus alunos?

4-                 Além dos livros didáticos, que outros recursos você utiliza na EJA?

5-                 Qual a realidade sócio-econômica de seus alunos?

6-                 Que participação tem seus alunos no planejamento que você faz para o trabalho com eles?

7-                 Quais as dificuldades encontradas na prática profissional da EJA?

8-                 Quantos livros sobre educação você leu no ano passado?

Questionário dirigido a Coordenação.

1-                 Quais os critérios adotados para a escolha dos docentes da EJA?

2-                 Vocês trabalham com a EJA fundamentada em algum posicionamento teórico específico? Qual? Por quê?

3-                 Como são orientados os professores da EJA, com relação ao planejamento?

4-                 Como é o acompanhamento das turmas que funcionam na Zona Rural do município?

5-                 Como é avaliado o trabalho do professor?

6-                 Como são observados os avanços e dificuldades dos alunos?

Questionário dirigido ao Aluno.

1-                 Qual seu maior desejo ao voltar (ou iniciar) os estudos?

2-                 Quais as principais dificuldades encontradas ao iniciar ou retornar a sala de aula?

3-                 O que você gostaria que mudasse na sua sala de aula?

4-                 O que vocês aprendem, de alguma maneira transforma o modo de verem e atuarem na comunidade?

( ) sim   ( ) não   ( ) nem sempre

5-                 As aulas são interessantes?

( ) sim   ( ) não   ( ) nem sempre