AS ATIVIDADES CIRCENSES COMO ALTERNATIVA PARA AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Camila Santos Teufel

RESUMO

A Educação Física escolar deve incluir e integrar o aluno nas práticas da cultura corporal de movimento, preparando-o para desfrutar do jogo, do esporte, da dança e das atividades rítmicas, da ginastica, e das lutas, em benefício da qualidade de vida. Para que as práticas corporais sejam aceitas mais facilmente pelos alunos, é importante proporciona-los, durante as aulas de Educação Física, vivências diversificadas além daquelas tradicionais como futebol, voleibol ou basquetebol. Como uma aliada da Educação Física, as atividades circenses vêm se constituindo, pois são atividades que possuem um potencial educativo. Os alunos desenvolvem, durante o processo de ensino/aprendizagem das atividades circenses, diferentes aspectos pessoais como a cooperação, a sensibilidade na expressão corporal, o desenvolvimento da criatividade, a melhora da auto-superação e da auto-estima. Desse modo, torna-se excelente veículo condutor para uma educação física mais artística, mais dedicada às atividades de expressão corporal. Este estudo destaca a introdução das atividades circenses no contexto escolar. Assim, compreendemos que o ambiente escolar deve ser um dos principais meios de ensino/aprendizagem e produção cultural, considerando o circo como uma parte importante da cultura corporal.

Palavras-chave: circo, atividades circenses, educação física escolar.

1. INTRODUÇÃO    

Hoje em dia, as aulas de Educação Física escolar não são valorizadas como as demais disciplinas da grade curricular, pois ainda há uma crença que é um momento apenas de lazer e socialização nas escolas, porém, ao contrário do que se imagina, a Educação Física é uma disciplina indispensável e de suma importância para o desenvolvimento motor das crianças.

O desenvolvimento motor faz parte do comportamento humano. O desenvolvimento cognitivo, o desenvolvimento afetivo e o desenvolvimento motor estão relacionados.

O exercicio físico é o fator responsável por prevenir e combater diversas doenças relacionadas ao sedentarismo e, se praticado com frequencia, pode evitar que a criança desenvolva problemas cardíacos, diabetes ou ate mesmo se torne um adulto obeso (GALLAHUE; OZMUN, 2009 apud AMADOR, BARBOSA, PONTES, 2012).

Desde 1920 a educação tradicional brasileira mantém a Educação Física como uma atividade isolada no curriculo escolar, que se objetivou do treinamento pré-militar, do nacionalismo, da eugenia, da preparação de atletas, etc. Esse conceito não se aplica aos dias de hoje, pois podemos perceber a constante evolução da cultura corporal de movimento.

Pensando nisso, os objetivos da Educação Física Escolar devem ser reconsiderados, já que, nos tempos atuais, o papel da Educação Física é formar cidadãos capazes de se posicionarem criticamente diante das novas formas da cultura corporal de movimento.

Como componente curricular da educação básica, a Educação Física deve incluir e integrar o aluno nas práticas da cultura corporal de movimento, preparando-o para desfrutar do jogo, do esporte, da dança e das atividades rítmicas, da ginastica, e das lutas, em benefício da qualidade de vida. Este é um processo constituído por várias fases, respeitando os níveis de desenvolvimento dos alunos. Na primeira fase do Ensino Fundamental (do 1º ao 3º/4º ano) deve-se priorizar o desenvolvimento das habilidades motoras basicas, jogos e brincadeiras. A partir do 4º/5ºano do Ensino Fundamental, deve-se promover a iniciação esportiva, as atividades rítmicas e a dança, e também a ginástica. No 7º/8º ano deve-se promover o aprimoramento das habilidades especificas e o desenvolvimento das habilidades mais complexas, inciando-se um trabalho voltado para a aptidão física (BETTI, ZULIANI 2002).

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) o aluno tem direito a uma educação que o proporcione um desenvolvimento amplo, que tenha ligação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas com cunho social. A execução de atividades circenses está diretamente ligada a essa construção integral, tornando possível ao professor compartilhar de práticas culturais que há muitos anos fazem parte da história e que foi deixada de lado pela escola (BRASIL, 1996).

Muitas vezes os componentes da cultura corporal de movimento são deixados de lado durante as aulas de Educação Física devido a falta de preparo dos professores, que tendem a abordar somente os conteúdos que possuem maior domínio, resultando em aulas restritas e vinculadas apenas aos esportes coletivos.

Os conteúdos da cultura corporal de movimento têm como objetivo principal transmitir para os alunos uma tradição de práticas corporais formada historicamente na área de conhecimento da Educação Física, permitindo que os professores se adaptem e progridam com eles.

Muitos dos saberes gerados e usufruídos pela sociedade em relação ao corpo e ao movimento foram incorporados pela Educação Física em seus conteúdos, como a luta, o jogo, a dança, a ginástica e o esporte, e têm em comum o reflexo corporal de diversas culturas da humanidade, podendo possuir características lúdicas, de lazer, promoção de saúde, fatores estéticos, meio de expressão ou comunicação, ou rendimento esportivo. Portanto, estes conteúdos devem ser renovados sempre que possivel para que se tornem significativos aos alunos (DARIDO, TAHARA 2016).

Segundo De Oliveira (2008) a Educação Física é uma área do conhecimento que integra os alunos na cultura corporal de movimento, e tem a finalidade de lazer, afetos, emoções, e expressão de sentimentos numa perspectiva metodológica de ensino e aprendizagem, buscando a expansão da autonomia, da participaão social, da cooperação e da afirmação de valores e principios democráticos em benefício do exercício da cidadania.  

As manifestações da cultura corporal de movimento significam (no sentido de conferir significado) historicamente a corporeidade e a movimentalidade – são expressões concretas, históricas, modos de viver, de experienciar, de entender o corpo e o movimento e as nossas relações com o contexto – nós construímos, conformamos, confirmamos e reformamos sentidos e significados nas práticas corporais (BRACHT, 2005, p. 100 apud DE OLIVEIRA, GOMES,SIMOES, 2008).

Para que as práticas corporais sejam aceitas mais facilmente pelos alunos, é importante proporciona-los, durante as aulas de Educação Física, vivências diversificadas além daquelas tradicionais como futebol, voleibol ou basquetebol. A inclusão de novas vivências facilitam a  adesão dos alunos na medida em que aumentam as chances de identificação.

As probabilidades de estender as práticas corporais na escola têm sido preocupação de diversos estudos. Podemos citar: "O futebol feminino nas aulas de Educação Física escolar" (SOUZA JR., 1991 apud DARIDO, 2005), "Atividades rítmicas e expressivas para alunas do magistério" (DE ÁVILA, 1995 apud DARIDO, 2005), "O jûdo nas aulas de Educação Física escolar" (MATHIAS, 1995; NORA, 2000 apud DARIDO, 2005), "A prática da ginástica aeróbia nas turmas mistas"(VENTURA, 1996 apud DARIDO, 2005), "As práticas corporais alternativas na escola" (FERREIRA, 2000 apud DARIDO, 2005). Outros autores buscaram ampliar o leque de atividades corporais na escola, por exemplo, “Tai - chi - chuan: uma ginástica ou dança? Experiência não formal em Educação Física Escolar” (TAVALER, 1995 apud DARIDO, 2005) e “Vivenciando a Dança de Salão” (VOLP, 1994 apud DARIDO, 2005).

Este estudo destaca a introdução das atividades circenses no contexto escolar. Assim, compreendemos que o ambiente escolar deve ser um dos principais meios de ensino/aprendizagem e produção cultural, considerando o circo como uma parte importante da “cultura corporal” (SOARES et al., 1992 apud DUPRAT,2007). Desta maneira, defende-se a introdução deste fundamento no ambiente educativo como um conteúdo significativo. Mais especificamente, como um conteúdo do professor de educação física, responsável por ofertar as noções da cultura corporal (DUPRAT,2007).

2. O CIRCO 

O circo surge através das atividades de entretenimento, de elementos das festividades religiosas e sacras, das apresentações publicas em praças, ruas, teatros e tablados, passa por diversas transformações até chegar ao circo que conhecemos hoje, como uma arte de malabaristas, equilibristas, trapezistas, acrobatas e palhaços (DUPRAT, 2007).

No século XIX, no Brasil, surgia o circo “tapa-beco”, que era realizado em um terreno baldio cercado com enormes cortinas para que fosse possível cobrar as entradas, tinha como estrutura um mastro e ao topo um travessão para que fossem presos os aparelhos aéreos. Outro modelo de circo que existiu no Brasil é o pau-a-pique, com madeira cortada e disposta em circulo, onde as apresentações aconteciam no período diurno devido a falta de energia elétrica (SILVA,2014).

O circo conhecido por nós começa a ser desenvolvido no século XVIII, originário das apresentações eqüestres em recintos fechados, retornando as apresentações nas praças e ruas, até chegar às famosas lonas de circo, modelos que continuam até os dias atuais. 

No final do século XX surgem as primeiras exibições do “circo novo”, termo qual vem passando por inúmeras discussões afim de melhor caracterizar esta nova idéia de circo que pode ser exercido como um veículo educacional em escolas e projetos sociais.

As atividades ligadas ao circo ressurgem em diversos ambientes como parques, festas, academias, ONG´s, hospitais e clinícas, e também em escolas.

Nessa perspectiva, podemos observar o surgimento crescente de escolas circenses e também da prática da arte em espaços públicos e privados, além de eventos populares e acadêmicos. (DUPRAT, 2007)

Devemos citar também o surgimento do chamado circo social, que tem como foco prncipal a inclusão de adolescentes das periferias através das artes do circo. De acordo com a revista Rede Circo no Mundo Brasil (2003) o circo social nasce no Brasil no fim da década de noventa com a implantação e consolidação da Rede Circo do Mundo Brasil composta por projetos que trabalham com circo social, através de uma junção de organizações não-governamentais que investem na arte-educação como um meio eficaz para elevar o desenvolvimento de crianças e jovens marginalizados, moradores de regiões pobres consideradas perigosas.

O circo é a arte do corpo que é venerado durante todo o espetáculo. O herói por meio da beleza dos seus gestos na superação da moral, da morte e das limitações humanas nos traz para o mundo o corpo como obra de arte, como material de trabalho para o artista de circo. A perfeição da movimentação do corpo e o domínio de si mesmo nos números se fazem como uma obrigação de trabalho, uma vez que um pequeno erro pode resultar na morte de si e/ou do outro (CASSOLI, LOBO 2006).

Ao longo dos anos as iniciativas circenses foram se mantendo atuantes, porém, sem o devido destaque. Lentamente, as tradições circenses foram sofrendo influencias da mídia e se tornando objetos de consumo, como, por exemplo, o Cirque du Soleil, espetáculo que encanta a platéia envolvendo diferentes tipos de arte como musica, dança e teatro.

Todas estas artes pertencem a cultura e, já que a escola é um local de  transmissão, reprodução e produção de saberes, conhecimentos e cultura, as atividades circenses constituem parte do patrimônio cultural da humanidade, pois as várias concepções e práticas pedagógicas relacionadas a esta área do conhecimento, bem como os conteúdos possíveis de serem trabalhados na escola foram construídos historicamente.

É preciso considerar a escola como um ambiente onde o aluno tenha a capacidade de aprender, vivenciar e apreciar, ao máximo, experiências cognitivas e motoras que sejam uma base para sua formação e possibilitem a diversificação e a significação do conhecimento exposto neste ambiente.

Portanto, os conteúdos de ensino tocam a experiência social da humanidade no que tange a conhecimentos e modos de ação, constituindo-se, conseqüentemente, como meios pelos quais os alunos assimilam e adquirem novas capacidades: motoras, afetivas e cognitivas. (DE OLIVEIRA, GOMES, SIMÕES, 2008)

O Ministério da Cultura considera o circo como um patrimônio histórico da cultura, pois possui uma forma de expressão essencial para a contrução da cultura brasileira devido a capacidade de provocar influências em todo o território (ANTUNES, CARAMÊS).

Segundo Duprat e Bortoleto (2007) as diferenças entre o modelo do circo tradicional e o novo circo, com sua nova configuração, tornam mais fácil o acesso a esse conhecimento, tornando facil também a sua disseminação a uma população que, até o momento, permanecia somente como público. A mudança entre a forma oral de transmissão para seu desenvolvimento e a aplicação em escolas especializadas possibilitou o estudo dessa arte à profissionais de diferentes áreas, como por exemplo, a Educação Física. (apud AQUINO, 2014).

Entre os aspectos que pertecem às atividades circenses, o que conquistou preferência para a utilização pelos profissionais da Educação Física tem como objetivo orientar uma prática pedagógica envolvida em um trabalho feito de maneira extensiva no desenvolvimento do estudante. É importante ter em evidência o desenvolvimento do indivíduo em sua totalidade e não apenas do seu corpo físico (GOULART, 2011 apud AQUINO, 2014).

O processo de ensino-aprendizagem avançou através da transmissão da arte de pai para filho independene do modelo de circo vigente (circo familia, circo moderno, circo novo, circo tradicional, e circo teatro), todavia, entre 1940 a 1950, iniciou um processo de ruptura nos ensinamentos da arte cinsense, devido ao surgimento das escolas de circo. Dentro desse contexto, os princípios circenses vão para fora das lonas e começam a ser praticados em diversos espaços, projetos sociais, eventos, e no espaço escolar, e também, na disciplina de Educação Física (SILVA, 1996 apud TAKAMORI et al., 2010)...