As armas de Aquiles: a disputa da inteligência contra a força

Antônio de Pádua Pacheco*

Resumo

O presente artigo tem como objetivo analisar a importância do discurso pautado na métis quando comparado com aquele discurso pautado na ausência da métis, quando se leva em consideração os discursos apresentados por Odisseus e por Ájax assim como apresentados por Ovídio em suas Metamorfoses, quando disputavam os heróis as armas de Aquiles.

Palavras-chave: métis, discurso, força, armas.

Abstract

This article have goal analyse the importance of speech ruled in metis when compared with speech ruled in absence of metis, when take along consideration the speeches presented for Odysseus and Ajax as presented for Ovidium in the Metamorphosis, when dispute the heroes the guns of Achilles.

Keywords: metis, speech, force, guns.

* Mestre em História Social pela FFLCH-USP (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas-Universidade de São Paulo).

1. Introdução

O que levaria dois grandes heróis da Guerra de Troia a travarem tão acirrada disputa por armas que nem sequer conseguiram proteger seu portador? Por não terem realizado seu objetivo primário, estas armas não seriam elas mesmas inúteis para quem quer que fosse? Tal argumento cai por terra quando se observa que tais armas foram objeto de disputa acirrada por parte de dois grandes heróis vencedores da Guerra de Troia. Estes heróis são nada mais nada menos do que Odisseus, o herói cuja principal característica era o uso de maneira muito apropriada da métis1 , a principal característica da deusa Atena, do titã Prometeu, de outro personagem famoso, Sísifo, só para ficar com alguns exemplos; e Ájax, o guerreiro, que, após Aquiles, era um dos melhores dos aqueus na planície troiana durante a guerra. Ájax portava um escudo torre, cuja principal característica era proteger o seu portador de forma completa, deixando ao inimigo pouquíssimas aberturas para eventuais ataques. Se as armas de Aquiles fossem incapazes de proteger o seu portador, então não seria justificada a acirrada disputa perpetrada por estes dois grandes heróis, dado que Aquiles ainda estaria vivo e ainda seria capaz de ele mesmo portar sua armadura. Esta disputa acabou por gerar consequências desastrosas não só para Ájax, como também para outros habitantes do acampamento grego. Neste passo é importante mencionar algumas informações importantes. São três informações relevantes. A primeira diz respeito às armas propriamente ditas (escudo, elmo, couraça etc.); a segunda diz respeito às armas de Aquiles; a terceira é uma informação substancial: quem era Aquiles. Por levar grandes heróis da Guerra de Troia a uma disputa de tão grande acirramento, as armas, ou melhor: a armadura dos guerreiros possuía não só o valor em si, representado pela proteção do corpo do guerreiro, mas também um valor simbólico muito grande no que diz respeito ao valor guerreiro, no que diz respeito à importância do guerreiro que está ou estava usando a armadura. Para os antigos gregos, o ato de despojar as armas do guerreiro morto tinha um valor simbólico imenso; dizia respeito ao fato de se ter vencido, sobrepujado em combate singular outro guerreiro de igual valor para as tropas inimigas. Para o vencedor isso traria glória, traria fama imorredoura. Para o perdedor, isto traria desonra, e, no caso da fama, uma fama invertida, negativa. Assim, quanto maior o valor guerreiro de um combatente tanto maior seria sua fama. Vencer este guerreiro em combate singular tornaria o vencedor muito mais famoso e merecedor de honrarias imensuráveis. Destarte, eram muito comuns acirrados combates em torno dos cadáveres de grandes guerreiros; uns lutando para defender o cadáver e suas armas, para retornar com eles para o seu acampamento; outros lutando para despojar o cadáver de suas armas e exibir a armadura como troféu para seus pares. [...]