As angústias da crise econômica de 1929 e o risco que corremos em 2008.

         Muitos economistas fizeram o paralelo da crise de 2008 com a de 1929. Algumas situações são peculiares a cada crise, outras similares nas duas. Fica complicado abordar todas estas questões técnicas em um artigo, mas algumas considerações podem ser tecidas, principalmente do que poderíamos ter sofrido agora, a exemplo das mazelas sociais geradas na crise de 1929.

       Como no exemplo de 2008, a crise de 1929 foi também eclodida pela super avaliação de ativos, principalmente ações da bolsa em Wall Street. Registros dão conta que a bolsa de valores surgiu em 1487 na Bélgica, mas podemos considerar que tomou curso firme e promissor em 1792, em Wall Street. Uma pitada de globalização começa no início do século XX, em 1901, quando Marconi usa as primeiras comunicações telegráficas e em 1915, Graham Bell coloca o telefone no circuito. Isso era para o mercado financeiro global e para bolsa, combustível para acelerada e crescimento. A tecnologia e inovação eram os vetores e ferramentas da fortuna mundial, a bolsa uma parte destas ferramentas.

    Como em via de mão dupla, o impulso nas comunicações está relacionado ao primeiro problema financeiro global, pelo menos com registros e conhecimentos comprovados, o crash de 1929.

    O mundo saia da primeira guerra e a retomada econômica gerava abastança. Processos tecnológicos e de aumento de produtividade eram vistos na indústria e conseqüentemente na atividade econômica gerando um ciclo virtuoso de prosperidade e de riqueza. Incipientes, sem conhecimento de causa, sem regulamentação, são criados mecanismos de suporte e alavanca para este ciclo próspero e promissor, derivativos eram disseminados como proteção aos negócios e também como especulação que se iniciava. Tudo ia bem, mas existiam riscos desta magnificência, preconizados por poucos, mas reais. Enquanto a maioria dos analistas pregava a continuidade da espiral de prosperidade global, alguns já anteviam uma bolha que poderia explodir, muito disso se repetiu em 2008.

    Em 1929, começa a ocorrer queda das ações em Wall Street. Contra as previsões otimistas e projeções mirabolantes, em outubro de 1929, precisamente dia 23, a bolsa tem queda de 4,6%. Pouco, quando havia subido 9,5% no dia anterior. No primeiro momento a situação passa desapercebida, mas era o prenúncio de uma crise que se arrastaria por alguns anos e traria conseqüências nefastas aos países e as pessoas. Diversos ativos estavam apreciados, supervalorizados e a força do mercado comprador começa a reduzir. Muitos não acreditam que a celeuma chegasse a economia real, mas a nuvens que se formavam trariam uma tempestade jamais vista até então.

    No início da crise, os “liquidacionistas”, corrente de importantes economistas, achava que a crise era passageira, não afetaria a economia real e se limitaria a quebra de algumas empresas e bancos. Equivocadamente e diferentemente do ocorrido em 2008, governos relevaram o cenário mais pessimista. O pensamento dos “liquidacionistas” prevaleceu em diversos países e até medidas mais sérias e graves foram tomadas piorando o problema. Uma das medidas mais esdrúxulas foi a proteção dos países a sua economia em detrimento do comércio global, principalmente os Estados Unidos. Protecionismo explícito e irresponsável agrava o problema seriamente e só para se ter uma idéia: O mercado global, em todos segmentos caiu 30%, os preços de todos produtos, de alimentação a indústria naval, tiveram queda de preços de até 40%. A retração econômica na Europa entre 1931 e 1935 foi de quase 20%.  Isso aumentava o desemprego e a refreada do comércio entrando em ciclo perverso. 

       Os Estados Unidos com sérios problemas sociais e econômicos endurece a linha protecionista, com a
Lei Smoot-Hawley que elevou as tarifas alfandegárias, acaba sendo um tiro pela culatra e arrasta o mundo para mais fundo no poço. O espiral da desaceleração e falta de negócios vai minando todos segmentos nos diversos países. As exportações vão minguando e os mercados internos não conseguem a força para sustentar a queda nos negócios. O ciclo vicioso da desaceleração vai crescendo e os estragos vão ficando cada vez mais sérios.

    A situação era desesperadora em diversos destes países. Na Inglaterra o desemprego chegava a 45% nas indústrias fortes da época, carvão, indústria naval e tecelagem.

      Nesta grande confusão que se estendia desde 1930 os problemas persistiam, governos eram trocados e surrados nas urnas, discursos nacionalistas prevaleciam, embates ideológicos e o recrudescimento das doutrinas marxistas voltam a plena carga.

    A situação demanda mudanças, os “liquidacionistas” começam a perder terreno, medidas e programas governamentais são criados em diversos países arrefecendo de certa forma os graves problemas sociais.

   Nos EUA o programa “New Deal”, implementado por Rossevelt com assessoramento por Jonh Maynard Keynes começa a dar frutos e mudar a mentalidade econômica dos governantes.

      Tudo era feito para frear a sangria social e os problemas decorrentes da falta de emprego e renda com a queda da atividade econômica. Narrativas de desnutrição, fome, doenças e miséria da época mostram o desespero pelo qual passaram diversas famílias. O flagelo era inimaginável e comparado a poucas catástrofes da humanidade.

     A mudança do pensamento era o início da tímida recuperação econômica, via uma nova modalidade, gastos públicos usados para criar emprego e estimular o investimento com geração de emprego e renda.

    Esta confusão toda gerada pela crise global desaguou em conseqüências políticas com o fortalecimento de ideologias como o nazismo, o facismo e o comunismo. Daí para regimes totalitários, ditaduras e para a segunda guerra são passos conhecidos.

      Nas duas crises, o início se deu por motivos que se assemelham em muitas coisas. Ainda bem que as nefastas conseqüências da crise de 29 não foram sentidas em 2008, excetuando-se um ou outro setor que demitiu mais e ajustou os cintos, mas sem base de comparação.


   Os problemas sociais do mundo são endêmicos, mas por conta da crise econômica atual,  a Fome, desnutrição, desemprego e desespero nas famílias e na população não ocorreram agora, mas poderíamos ter enfrentando os mesmos problemas com conseqüências políticas imprevisíveis.  

    Como sempre dissemos, outras crises pós 1929 poderiam ter tido graves conseqüências no mundo, foram administradas com competência e as novas premissas da era do conhecimento colaboraram. A crise de 2008 pode ter sido a de maior risco na repetição do flagelo de 29. As premissas mudaram, a experiência do passado ajudou na administração do problema atual, as ferramentas de gestão são nossas aliadas.

      A crise de 2008 já é quase parte do passado, mas poucos podem imaginar os riscos que a humanidade correu. Quem conhece a história da década de 30 pode testemunhar.

      Entender o passado não é regredir no tempo, para caminhar no futuro precisamos entender o que aconteceu. A experiência passadas ajudou muito na gestão do problema atual.

       É preciso estarmos sempre atentos aos movimentos que a globalização impõe aos países sem chance de recusa. Um problema na Islândia pode repercutir por aqui, vide 2008.

       O ideal é sempre nos anteciparmos aos problemas e ficarmos ciente que a nova ordem econômica é real, mas ainda pode esconder surpresas de toda natureza.

      Quem conhece um pouco do que aconteceu na crise de 29 com a sociedade e seus funestos sofrimentos, sabe do que escapamos. Não devemos deixar que isso se repita.

      A teoria dos ciclos econômicos ainda é inconclusiva academicamente, mas no mundo real dá para percebê-la claramente. Aguardemos a próxima onda, sem repetir os erros e sem passar pelas calamidades e angústias vividas no passado.