Artigo Agradecido

Por Bernard Gontier | 17/11/2009 | Arte

Artigo Agradecido



Esse artigo contou com a colaboração de cigarros Azul Livre, café Edson, computador Maçã G4, filtro de linha Mais Linha e com os muitos trilhões de corpos celestes dos mais variados tipos, todos girando em torno de si mesmos e de outros e se deslocando em velocidades gigantescas, mas aparentando estarem parados. Isso é um grande ponto, a aparência, pois as coisas não são o que elas são, mas o que aparentam ser.

Esse artigo agradece humildemente Alexander Graham Bell,   Marconi e Nikola Tesla, que estavam extremamente indiferentes a certa noite de inverno no início do terceiro milênio, noite esta capaz de produzir as mais hediondas coplas que se tem notícia, de lá pra cá e daqui pra lá. Estão inclusos também nessa ode o Aurélio, explicando que coplas são pequenas composições poéticas, assim como também estão inclusos os átomos, que supomos conhecer e cuja quantidade e diversidade  são inimagináveis,  todos tirados do nada, e todos mantendo aprisionadas quantidades fabulosas de energia.

Esse artigo reverencia os Sr. Steve Jobs e seus associados, que no escuro apostaram numa traquitana chamada DOS, livrando assim grande parte dos humanos do corretor ortográfico liquido. E, talvez por livre associação, seja pertinente louvar os rios, cujas águas não são salgadas, mas despejam constantemente bilhões e bilhões de litros de água nos oceanos,  que são enormes massas de água salgada, e estes continuam sempre salgados, do mesmo jeito, ainda que não transbordem, apesar de receberem constantemente tanta água.

Talvez esse artigo agradecesse à evaporação, mas é difícil compreender como é que se evapora a mesma quantidade de água  que é recebida para que os oceanos se mantenham sempre  no mesmo nível.


Por livre associação seria muito gratificante agradecer ao  carpinteiro, que tão sabiamente formulou esta formidável peça de mobiliário que agora me acode enquanto penso em chulas, palavra essa que o Aurélio (que já agradecemos), resume como “espécie de dança popular de origem portuguesa”, pois mais ou menos assim se encontram os zigue zagues mentais desejosos de manifestar gratidão,  incluindo então as folhas das árvores, desde as primeiras que existiram, sem que jamais duas fossem iguais. Nesse momento será impossível esquecer (de agradecer)  a todas as abelhas e todas as formigas, por conseguinte todas as colméias e formigueiros que existem espalhados pelo  mundo, sem qualquer comunicação de uns com  os outros e, no entanto, em todos eles todos sabem o que fazer e executam suas tarefas.

Esse artigo agradece estupefato o que faz a célula, essa maravilha   que é a unidade estrutural básica dos seres vivos, sendo mesmo um espanto  a capacidade,  poder e a sabedoria extraordinárias que possui essa coisinha insignificante, que mede apenas milionésimos de centímetro.

Esse artigo contou com a participação especial do DNA, 'pois este usa  um “alfabeto” bioquímico mínimo de  quatro  letras – A, T, C, G , que correspondem as substâncias Adenina, Timina, Citosina e Guanina  – para codificar cada uma das milhões de proteínas, hormônios ou moléculas necessárias à vida'.

Por senso de obrigação, esse artigo não se esquiva de comparar a espaçonave viajando pelo sistema solar, guiada por um computador que utiliza um “alfabeto” elementar de apenas dois algarismos – zero e um.

Já ligeiramente extenuado e arfante, esse artigo assinala (agradecido) o que ocorre na formação do corpo do ser humano com os bilhões de células que possui,  todas iguais e com a mesma capacidade para formar tudo de um corpo vivo, e cada um dos 46 cromossomos com  seus milhares de genes e cada um sabendo qual a quantidade e que tipo de proteínas devem produzir, e mais fantástico ainda, sabendo quando começar e quando parar de fazer isso.

Esse artigo pondera sobre o que aconteceria se cada gene  atuasse sem seguir uma orientação, e se expedissem instruções erradas, ou as mesmas repetidamente, e que  no lugar das pernas ou  das nádegas, por exemplo, fizessem  ali braços, corações, fígados, olhos, orelhas, nariz, etc. ou  se  fizessem  só fígados, ou só pulmões, ou só pernas, ou só braços.


Esse artigo agradece ao  físico Fred Hoyle, que nos anos 80 reconheceu que “o consenso na interpretação dos fatos sugere que um superintelecto mexeu com física, e também com química e biologia, e que na natureza não existem forças cegas dignas de menção”.

Esse artigo não poderia deixar de citar o físico Paul Dirac, que foi professor de matemática na Universidade de Cambridge e afirmou: “Talvez possa dizer-se que Deus é matemático de nível muitíssimo elevado e que Ele usou de matemática muito avançada para construir o Universo”.

Esse artigo não teria sido escrito, pelo menos não dessa forma, se antes não houvesse a leitura do livro de Luis Djara Leal – “Por que não somos felizes, se esse é o objetivo de tudo o que fazemos?”

Esse artigo encerra, observando que nem de longe poderia abranger o que de fato seu coração almeja verbalizar através de um simples “muito obrigado”, a tantas coisas e pessoas, que num átimo de segundo tornaram-no possível, livre de maiores tormentos ou sobrepujanças, para inclusive acrescentar que esse artigo finalmente agradece ao planeta, porque de longe ou de perto, a toda hora, exibe o mesmo dualismo de tudo nele contido: ser noite e dia a um só tempo.