Artigo: Hepatite C próxima da cura

Jornalista Roberto Ramalho

Com um novo coquetel de dois medicamentos, os pacientes portadores de Hepatite C podem esperar a cura para muito breve.

As duas substâncias demonstraram ser muito eficazes contra a hepatite C, segundo resultados de testes clínicos publicados, revelando que esta infecção crônica do fígado estaria a ponto de ser ceifada definitivamente.

O estudo realizado nos Estados Unidos se concentra, sobretudo, na combinação de dois antivirais ingeridos oralmente, o daclatasvir e o sofosbuvir, e teve como principal pesquisador e autor do estudo publicado na revista New England Journal of Medicine de 16 de janeiro o doutor Mark Sulkowsk, diretor do Centro de Hepatites Virais da Faculdade de Medicina John Hopkins (Baltimore, Maryland, leste).

A pesquisa teve financiamento dos renomados laboratórios farmacêuticos Bristol Myers Squibb e Gilead Sciences, e mostra que a mistura dos dois princípios ativos compõem uma taxa de cura de 98%, sem gerar efeitos colaterais significativos no organismo das pessoas que ingeriram os medicamentos.

O doutor Mark Sulkowski, principal autor do estudo afirmou que a pesquisa abre caminho para tratamentos seguros, bem tolerados e eficazes para a grande maioria dos casos de hepatite C", comemorou

"Os medicamentos padrão contra a doença terão uma melhora considerável até o ano que vem o que levará a avanços sem precedentes no tratamento dos doentes", afirmou o cientista e pesquisador.

Segundo o estudo, o teste clínico de fase 2 foi realizado com 211 homens e mulheres infectados com uma das principais cepas do vírus responsável por esta infecção hepática crônica, que causa cirrose ou câncer de fígado, tornando necessário um transplante do órgão.

O documento elaborado pelo cientista afirma que o coquetel foi eficaz mesmo em pacientes de difícil tratamento, para os quais a tripla terapia convencional adotada atualmente (telaprevir ou boceprevir, além de peginterferon e ribavirina) fracassou.

Entre os 126 participantes infectados pelo genótipo 1 do vírus da hepatite C, que não receberam um tratamento prévio, 98% ficaram curados. Essa cepa é a mais frequente nos Estados Unidos e a menos agressiva ao fígado do doente.

Além disso, o estudo concluiu que 98% dos 41 pacientes que ainda estavam infectados após uma tripla terapia convencional demonstraram não ter vestígio algum do vírus no sangue três meses após o tratamento experimental.

A taxa de cura foi similar nos outros 44 participantes do estudo, infectados pelos genótipos 2 e 3 do vírus, muito mais agressivos e menos comum nos Estados Unidos.

O estudo destaca que o tratamento da hepatite C também seria bastante simplificado, passando de 18 comprimidos por dia a uma injeção semanal ou dois comprimidos diários,

Segundo dados do organismo federal dos CDCs (Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças) dos EUA, menos de 5% dos 3,2 milhões de americanos que sofrem de hepatite C ficaram curados.

Os CDC estimam também que entre 50% a 75% das pessoas ignoram estar infectados, sobretudo pelo uso de drogas injetáveis, transfusões de sangue e que foram contaminados nos anos 70 ou 80, ou por meio de relações sexuais.

Diversas ONGs, em especial a Médicos do Mundo, veem com com "grande esperança" o uso desses medicamentos, especialmente o sofosbuvir da Gilead, porém afirmam que seu alto custo (mais de 70.000 dólares para um tratamento de 12 semanas) o deixa fora do alcance da maioria dos doentes dos países em desenvolvimento.