RESUMO
Este artigo analisa a presença do elemento imagético na produção de livros raros e sua função em publicações jurídicas contemporâneas. Ressalta que, atualmente, a forma como grande parte da sociedade se apropria do objeto livro é cada vez mais despida de interesses artísticos e revestida de interesses informacionais. Reflete sobre as influências da imagem no mercado livreiro a partir das considerações de Araújo (1986), Fonseca (2008) e Dansa (2009). Reforça o viés publicitário das capas e sobrecapas atuais. Conclui que, a depender das diferentes épocas, a imagem será um recurso situado na ênfase do gosto artístico ou na necesisdade de mercado.

Palavras-chave: Livro jurídico. Livro raro. Mercado editorial.

 

Introdução

Nos últimos anos uma parcela do mercado editorial jurídico parece ter entendido que suas publicações não necessitam mais das tradicionais encadernações ou capas monocromáticas, comuns às imagens de bibliotecas jurídicas do passado. Uma breve visita às livrarias revela que grande parte dos livros atuais possuem, como atrativo, as imagens. 

Certamente existem aquelas editoras que optam pela antiga tradição, com poucas figuras e cores, e continuam com seus espaços razoáveis no mercado livreiro. Mas a tendência na elaboração de capas que ganham destaque por sua produção imagética/fotográfica, ao que parece, é forte.

Não há dúvidas: o século XXI é o século da imagem e do som, em sua absoluta qualidade, e praticamente todos os setores da sociedade bebem dessa fonte. Note um simples cartão de visita, por exemplo. As gráficas produzem itens cada vez mais sofisticados, no ritmo das mudanças e das novidades do mundo digital. 

A produção de livros já teve dias de excelência material, em uma espécie de “era artística”. Encadernações luxuosas, com pastas e lombadas gravadas, cortes em dourado, brasões e ex libris foram alguns dos elementos que atribuíram ao livro um status de obra de arte – e que até hoje fascina leitores, bibliotecários, colecionadores e bibliófilos por todo o mundo. 

Atualmente, a forma como a sociedade se apropria do objeto livro, em função e uso, é despida de interesses artísticos e revestida de interesses informacionais - façam-se as ressalvas, obviamente. Tal fato também é refletido em números. Lembremos que, na área jurídica, o volume de edições anuais ainda é capaz de movimentar grandes cifras por uma razão: a produção de informação na esfera do Direito é ininterrupta e sua disseminação encontra-se imersa em um compasso jamais visto .

Aqui cabe uma observação: embora as abordagens sobre produção de livros sejam diversas, uma vez que seu impacto tem influência em vários setores das unidades de informação - como aquisição e estudos de usuários -, elas não são novas.  

Retomamos as impressões de Peter Burke, em seu artigo Problemas causados por Gutenberg, onde o autor explora as consequências imprevistas a partir da invenção da imprensa de tipos móveis. 

Ele cita a descrição do humanista francês Guillaume Fichet, segundo a qual a invenção seria um “Cavalo de Tróia”. Essa visão foi corroborada pelo fato de diferentes grupos sociais levantarem, à época, críticas ao novo instrumento. Copistas, vendedores de livros manuscritos e contadores de histórias estavam entre aqueles que temiam que a imprensa os privaria de seu meio de vida (BURKE, 2002, p. 174).

A divulgação de impressos e o crescimento no número dos leitores também trouxeram preocupações de âmbito político e religioso. Alguns perguntavam se a invenção da tipografia não traria mais malefícios do que vantagens (BURKE, 2002, p. 174), uma vez que os leitores poderiam analisar textos por conta própria e não seriam, a rigor, submissos às autoridades. Subsequente à invenção da imprensa o autor identifica a “explosão” da informação, que trouxe a necessidade de novos métodos de gerenciamento de informação. 

Isaac Newton, por exemplo, mostrou certo estresse com a quantidade de publicações que chegavam ao mercado. Constam relatos sobre sua irritação e resistência com relação à publicação rápida e periódica dos seus escritos antes que eles tivessem adquirido maturidade e formato completo para ser exibido na forma de livro (MOSTAFA; TERRA, 2000). 

Como se vê, o debate sobre o ritmo na produção de livros e seus impactos parece estar, de certa maneira, sempre em pauta. Ora, se pensamos no uso de imagens e sua relação com o aumento de tiragens, é necessário situarmos este discurso não apenas no viés artístico, mas no sentido de vender algo. Assim, no campo das imagens e do capitalismo do século XXI, a ênfase repousa sobre o como chamar a atenção do consumidor leitor em meio às várias opções do mercado.