O arrependimento envolve tristeza pelo pecado e também afastamento dele. Não abandonaremos o pecado enquanto não reconhecermos quão terrível ele é. Enquanto não nos afastarmos sinceramente do pecado não haverá mudança real em nossa vida.

O arrependimento é uma mudança de atitude. Na linguagem do Novo Testamento, a palavra se refere a alguém que muda de atitude, desiste do pecado e se volta para Deus. Arrependimento é, em suma, a atitude de alguém que desiste de pecar.

Muitos não compreendem a verdadeira natureza do arrependimento. Multidões de pessoas se entristecem por causa de seus pecados e até mesmo procuram fazer uma reforma exterior, porque têm medo de que seu mau comportamento lhes cause sofrimentos. Mas não é esse o arrependimento que a Bíblia fala. Essas pessoas lamentam o sofrimento e não o próprio pecado.

Esse foi o tipo de tristeza que Esaú sentiu quando percebeu que havia perdido para sempre o direito de primogenitura.

Balaão, apavorado pela presença do anjo se colocou no meio do seu caminho com a espada apontada para ele, reconheceu seu pecado porque teve medo de morrer; porém, não se arrependeu verdadeiramente nem mudou seus planos ou passou a aborrecer o mal.

Judas Iscariotes, depois de haver traído seu Senhor, exclamou: "Pequei, traindo o sangue inocente!".A confissão foi arrancada de sua mente culpada por um horrível sentimento de condenação e por imaginar o juízo que o estava esperando. As conseqüências o enchiam de pavor. Mas não houve em seu coração uma profunda tristeza por haver traído o inocente Filho de Deus e negado o Santo de Israel.

Faraó, quando sofria as conseqüências dos Juízos de Deus, reconhecia seu pecado para escapar aos castigos prometidos, mas voltava a desafiar o Céu logo que as pragas cessavam. Todos esses indivíduos lamentam os resultados do pecado, mas não se entristeceram pelo próprio pecado.

Quando, porém, o coração permite que o Espírito Santo de Deus o influencie, a consciência é despertada e o pecador consegue enxergar um pouco da profundeza e santidade da lei de Deus, base do Seu governo no Céu e na Terra.

A "luz verdadeira que veio ao mundo e ilumina todas as pessoas", ilumina também os segredos do coração, e revela as coisas ocultas das trevas. Apodera-se da pessoa um senso de culpa. O pecador percebe sua própria condição, começa a enxergar a justiça do Senhor e experimenta um sentimento de horror, em sua própria culpa e impureza, diante d'Aquele que conhece tudo o que vai dentro do coração. Vê o amor de Deus, a beleza da santidade, o prazer da pureza; tem grande desejo de ser purificado e poder ser aceito na comunhão do Céu.

A oração de Davi, depois de sua queda, ilustra como é a verdadeira tristeza pelo pecado. Seu arrependimento foi sincero e completo. Não fez qualquer esforço para diminuir seus erros; nenhum desejo de escapar ao julgamento que o ameaçava inspirou a oração que fez. Reconheceu que era grande a sua culpa; viu a contaminação de sua mente; aborreceu o pecado.Não pedia somente o perdão, mas queria receber também um coração puro. Tinha enorme desejo de desfrutar o prazer da santidade, ser novamente aceito na presença de Deus. Este foi o modo como ele se expressou:

"Feliz aquele cujos pecados Deus perdoa e cujas culpas Ele apaga. Feliz aquele que o Deus Eterno não acusa de fazer coisas más e que não age com falsidade". "Ó Deus, tem misericórdia de mim por causa do Teu amor !Lava-me de toda a maldade e limpa-me do meu pecado. Purifica-me de todas as minhas culpas e apaga meu pecado. Pois eu conheço bem os meus erros, e os meus pecados estão sempre diante de mim... Tira de mim o meu pecado, e ficarei limpo; lava-me e ficarei mais branco do que a neve... Ó Deus, cria em mim um coração puro e dá-me um espírito novo e firme. Não me expulses da Tua presença nem tires de mim o Teu Santo Espírito. Dá-me novamente a alegria da Tua salvação e faze que o meu espírito seja obediente... Ó Deus, meu Salvador, livra-me da morte, e com alegria eu anunciarei a Tua justiça".

Arrependimento como esse está fora de nosso alcance, por nossas próprias forças; só é conseguido por meio de Cristo, que subiu ao Céu e deu dons aos homens.

Aqui está exatamente o ponto em que muitos erram, e por essa razão não percebem o auxílio que Cristo gostaria de lhes oferecer. Pensam que não podem chegar a Cristo sem primeiro se arrepender e que o arrependimento lhes prepara o caminho para o perdão dos pecados. É certo que o arrependimento vem antes do perdão, pois unicamente o coração quebrantado e triste é que sente a necessidade de um Salvador.

Mas será que o pecador tem de esperar até que se tenha arrependido, antes de poder se aproximar de Jesus?

Deveria o arrependimento ser uma barreira entre o pecador e o Salvador?

A Bíblia não ensina que o pecador tenha de se arrepender antes de aceitar o convite de Cristo: "Venha a Mim todos vocês que estão cansados..., e Eu lhes darei descanso".

É a virtude que vem de Cristo que conduz ao verdadeiro arrependimento. Pedro esclareceu esse ponto aos israelitas: "Deus O colocou a Sua direita como Líder e Salvador, para dar ao povo de Israel a oportunidade de se arrepender e receber o perdão dos seus pecados".Assim como não podemos alcançar perdão, sem Cristo, também não podemos nos arrepender sem que o Espírito Santo nos desperte a consciência.

Cristo é a fonte de todo bom impulso. Somente Ele é capaz de implantar no coração a inimizade contra o pecado. Todo desejo de verdade e pureza, toda convicção de nossa própria natureza pecaminosa é uma evidência de que Seu Espírito está trabalhando em nosso coração.

Jesus disse: "Eu, quando for levantado da Terra, todos atrairei a Mim". Cristo precisa Se revelar ao pecador como o Salvador que morreu pelos pecados do mundo. E quando contemplamos o Cordeiro de Deus sobre a cruz do Calvário, começa a revelar-se a nós o mistério da redenção, e a bondade de Deus nos leva ao arrependimento.

Morrendo pelos pecadores, Cristo manifestou um amor que não pode ser compreendido. Esse amor abranda o coração do pecador, impressiona-lhe o entendimento e o leva à contrição.

Fonte: Revista Decisão