Armadilhas para monitoramento de insetos em pomares de goiaba


1. A cultura da goiaba

É do conhecimento científico que a goiabeira é originária da América tropical, entretanto não se conhece com certeza de que parte da América ela é nativa, pois houve uma grande distribuição natural antes da chegada dos europeus, através dos pássaros, animais e indígenas. Atualmente, a espécie Psidium guajava L. encontra-se amplamente distribuída por todas as regiões tropicais e subtropicais do globo, em estado semissilvestre ou espontâneo, graças à ação dos disseminadores naturais, inclusive o homem (MEDINA et al., 1991).
Novas variedades de goiabeira têm aumentado muito a produtividade dos pomares paulistas, devido também aos atuais tratos culturais, dentre os quais se destacam as novas cultivares, as técnicas modernas de poda e de irrigação, a capina e a adubação orgânica e mineral. Com a poda contínua e a irrigação, tem-se produzido goiaba durante o ano todo, necessitando-se fazer a colheita duas vezes por semana. Dessa forma, a produção pode alcançar até 64.285 kg/há de goiaba (PAZINI,2005).
O Brasil é atualmente considerado o maior produtor mundial de goiaba vermelha, destacando-se os estados de São Paulo e Pernambuco. Para atingir os objetivos de produção, os fruticultores têm inserido novas cultivares e também implementam programas de irrigação e de poda escalonada. Essas mudanças, no entanto, levam a um incremento considerável da população de algumas pragas que, antigamente, eram consideradas secundárias, como é o caso dos psilídeos e dos besouros-rendilhadores que preferem consumir as folhas novas resultantes de podas. Atualmente, na busca de técnicas adequadas ao cultivo da goiabeira, um dos pontos mais importantes tem sido o tratamento fitossanitário. Recomenda-se que toda decisão de controle de pragas seja baseada em observações das armadilhas de captura de artrópodes em um sistema de monitoramento constante. (GALLI et al. 2008).

2. Entomofauna associada à goiabeira.

O reconhecimento das pragas que podem estar diretamente envolvidas no comprometimento da produção é a primeira medida a ser considerada em um programa de manejo integrado. O acompanhamento das frequências das pragas e, quando possível, dos seus inimigos naturais, com conhecimento dos diversos aspectos bioecológicos, possibilita um aperfeiçoamento contínuo de programas de manejo integrado de pomares. GALLI et al. (2008) relacionam as seguintes pragas principais em pomares de goiabeira:
2.1. Psilídeo Triozoida limbata Enderlein,1918 (Hemiptera: Triozidae);
2.2. Besouro rendilhador Costalimaita ferruginea Fabricius, 1809 (Coleoptera: Chrysomelidae);
2.3. Moscas-das-frutas Anastrepha spp. e Ceratites capitata (Wied, 1824) (Diptera: Tephritid);
2.4. Gorgulho Conotrachelus psidii Marshall, 1922 (Coleoptera: Curculionidae);
2.5. Broca Timocratica palpalis Zeller, 1877 (Lepidoptera: Stenomidae);
2.6. Coleobroca Trachyderes thoracicus Oliver,1790 (Coleoptera: Cerambycidae);
2.7. Percevejo Leptoglossus gonagris Fabricius, 1775 (Hemiptera: Coreidae);
2.8. Cochonilha Ceroplastes sp. (Hemiptera: Coccidae).

Segundo PAZINI (2005), dentre os inimigos naturais presentes nesse agroecossistema, considerando-se as principais regiões produtoras do estado de São Paulo, destacam-se:
2.9 Scymnus spp. (Coleoptera: Coccinellidae);
2.10 Cycloneda sanguinea Linnaeus, 1763 (Coleoptera: Coccinellidae);
2.11 Eriopis conexa Germar, 1824 (Coleoptera: Coccinellidae);
2.12 Azya luteipes Mulsant, 1850 (Coleoptera: Coccinellidae);
2.13 Chrysoperla spp. (Neuroptera: Chrysopidae);
2.14 Aracnídeos;
2.15 Sirfídeos;
2.16 Estafilinídeos;
2.17 Formicidae.


3. Armadilhas para atração e captura de pragas e inimigos naturais.

As armadilhas para monitoramento de pragas e inimigos naturais são utilizadas com a finalidade de se ter uma amostra do tamanho da polulação que existe no pomar. Tais armadilhas podem ser classificadas pelo mecanismo de atração, entre os quais se destacam a atração por substâncias alimentares e a atração por cor (NAKANO & LEITE, 2000).
A eficiência do monitoramento das moscas-das-frutas está na dependência da qualidade do atrativo, do tipo da armadilha e de sua localização no campo. Os tipos de frascos e substâncias atrativas para determinação de populações de tefritídeos já foram objetos de estudo de diversos pesquisadores (PUZZI et al.,1957; PUZZI & ORLANDO,1959; BLEICHER et al., 1978; HEDSTROM & JIMÉNEZ,1988; GALLI & DA ROSA, 1944; ALUJA & PINERO,2004).
O atrativo alimentar para moscas-das-frutas está relacionado a um instinto primário, pois as fêmeas necessitam principalmente de compostos protéicos e hidratos de carbono para atingirem a maturidade sexual (STEINER, 1952). Assim, a proteina hidrolisada é o atrativo-padrão de muitas pesquisas realizadas para atração de moscas-das-frutas (GALLI & BARELLI, 1999; BRAGA SOBRINHO et al., 2002; ALUJA & PINERO, 2004; URAMOTO et al., 2005). MONTOYA et al. (2002) pesquisaram treze combinações de atraentes em armadilhas para monitorar moscas-das-frutas, em agrossistemas de cafeeiro, citrícola e de manga, em Chiapas, no México, durante o período de 1995 ? 98. Concluíram que a proteína hidrolisada é a melhor opção de atrativo na captura de Anastrepha spp.
As armadilhas McPhail são bastante utilizadas em pesquisas quantitativas e qualitativas. Entretanto, elas apresentam dificuldades no manuseio e capturam um elevado número de outros insetos (BRAGA SOBRINHO et al. 2002). GARCIA et al. (2003) utilizaram armadilhas McPhail plásticas modificadas, para monitoramento de A. fraterculus em pomares de pêssego, ameixa, laranja e tangerina, na região ocidental de Santa Catarina. NAKANO & LEITE (2000) relataram que a construção das armadilhas para controle e monitoramento das moscas-das-frutas pode ser feita com garrafas plásticas, nas quais são feitos furos laterais com aproximadamente um centímetro de diâmetro. Aquece-se a garrafa com uma lamparina no local escolhido para introduzir um cone de madeira, a dez centímetros do fundo da garrafa, até atingir o diâmetro especificado. À seguir emprega-se uma serra por dentro da garrafa plástica para que o orifício de entrada da mosca tenha uma área de pouso para "reconhecimento". Uma vez que a mosca atinge o interior da garrafa, fica impossibilitada de fuga e acaba dentro do líquido atrativo.
As armadilhas adesiva amarelas (AAA) também podem ser utilizadas com sucesso para o monitoramento de moscas-das-frutas. KHATER et al (1996) empregaram tais armadilhas no monitoramento do tefritídeo Bactrocera (Dacus) oleae (Gmelin) em pomar de oliva, no sul do Líbano. YOKOYAMA & MILLER (1996) utilizaram armadilhas adesivas amarelas para constatar a ausência de Rhagoletis completa (Diptera: Tephritidae) , em cinco pomares de nozes, no Vale de São Joaquim, na Califórnia-EUA. No Brasil, astas armadilhas têm sido empregadas com sucesso para a captura de moscas-das-frutas, psilídeos, besouros rendilhadores, etc. além de inúmeros arthópodes da entomofauna benéfica. Tais armadilhas podem permanecer na planta por até 15 dias sem perder a capacidade de captura por meio de uma cola bastante persistente que resiste aos raios solares e a chuvas constantes, podendo capturar milhares de artrópodes em uma área de 15 X 8,5 cm. No Brasil, tais armadilhas são usadas com sucesso em estudos de análises faunísticas em pomares diversos (PAZINI, 2005; BALDAN, 2007).
As armadilhas adesivas amarela também são importantes instrumentos para o monitoramento de inimigos naturais em programas de manejo integrado de pragas. THOMSOM et al. (2004) utilizaram três tipos bem diferentes de armadilhas para coleta de invertebrados em viticultura sustentável e verificaram que as armadilhas adesivas amarelas foram as mais eficazes no monitoramento de Hymenoptera, de Thysanoptera, de Hemiptera, de Diptera, de Coleoptera e de aracnídeos.
As armadilhas de solo tipo Pitfall são utilizadas para o monitoramento de insetos que habitam ambientes rasteiros próximos aos troncos das árvores em pomares. São facilmente confeccionadas com frascos ou baldes que são enterrados ao nível do solo e cobertos com telha por sobre uma armação ou suporte. LUQUE-GARCIA & REVES-LOPES (2001) relataram que o emprego de armadilhas onde os organismos caem dentro de um recipiente, é uma metodologia muito utilizada nos estudos de invertebrados epigeus, especialmente coleópteros e formigas. A temperatura do solo exerce um papel fundamental na captura, pois as temperaturas mais baixas estão associadas a um coeficiente de captura alto, devido a esses animais apresentarem pouca conservação de calor no corpo. THOMSON et al. (2004) utilizaram armadilhas em viticultura sustentável e verificaram que as armadilhas do tipo Pitfal foram as melhores para o monitoramento de formicídeos.


4. Atraentes recomendados para frascos caça-mosca e entomofauna coletada em armadilhas Pitfall e bandejas.

O atraente Moscatex (p.c.) é atualmente o produto mais utilizado para a atração de moscas-das-frutas, sendo empregado em concentrações que variam de 2% a 5%, com bastante eficiência. O suco açucarado de goiaba é um bom atraente para ser usado em armadilhas tipo McPhail ou armadilhas confeccionadas com garrafas plásticas (frascos de álcool ou de vinagre). A polpa de goiaba madura deve ser fervida em água e açúcar, na proporção de 400 mL de água para 200g de açúcar cristal para cada conjunto de seis frutos grandes. Após fervida, essa mistura pode ser peneirada e acondicionada em garrafas plásticas de 500mL para armazenamento em congelador. Quando for iniciar o monitoramento, o conteúdo de cada garrafa deve ser diluído em água para formar 1 litro de suco que seria suficiente para cerca de 10 armadilhas (PAZINI, 2005; GALLI et al., 2008).
DUARTE (2009), em estudo de armadilhas e atraentes alimentares para monitoramento de artrópodes associados à goiabeira, na região de Jaboticabal-SP, no período de outubro de 2007 a fevereiro de 2009, obteve os seguintes resultados principais: a) houve maior captura de moscas-das-frutas do gênero Anastrepha do que da espécie Ceratites capitata; b) as armadilhas tipo McPhail apresentaram melhores resultados na captura de espécimes de Anastrepha do que nos frascos caça-moscas; c) o produto comercial Moscatex a 3%, adicionado de suco açucarado de goiaba a 50%, ocasionou um aumento na captura de Anastrepha spp em frascos caça-moscas; d) a adição de suco açucarado de goiaba a 50% ao produto Moscatex não proporcionou, estatisticamente, aumento aumento na captura de moscas das frutas em frascos McPhail; e) entre os artrópodes coletados nas armadilhas de solo tipo PitPhail e bandejas plásticas, destacaram-se as famílias Aracnidae, Carabidae, Forficulidae,Formicidae, Hemerobiidae, Mutillidae e Staphylinidae; f) a armadilha de solo modelo Pitfall apresentou melhor desempenho quanto à captura de artrópodos do que a armadilha modelo bandeja plástica; g) a armadilha tipo bandeja contribuiu na captura de insetos alados, principalmente inimigos naturais hemerobiídeos.

5. Referências Bibliográficas

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