Quando falamos em fazer uma faxina, a primeira coisa que nos vem de imediato é uma limpeza total. Limpeza da casa, seja de um espaço fechado ou aberto, ou ainda aquela arrumação ou reorganizada geral. Sim, aquela faxina externa de espaços físicos e que exige muito físico, mas a que focaremos aqui é aquela que vem de dentro de nós mesmos, que vem de dentro para fora e que é tão essencial quanto o asseio do ambiente em que vivemos. Limpar o nosso interior é também um exercício indispensável, tão necessário quanto o nosso asseio e organização pessoal, uma faxina na alma e em nossa mente. Uma limpeza como um jato de água nos serve para nos liberar, para respirarmos melhor, para podermos abrir espaço ao novo e deixar o que não é necessário partir, ou apenas ir para o lixo, em um alinho indispensável.

Não falo com base em diferentes doutrinas ou técnicas como o Feng Shui tão disseminado, e cuja principal função é proporcionar um ambiente mais harmonioso através do fluxo de energia e que, pessoalmente, considero extremamente válido e com muitos fundamentos interessantes. Então, partindo dessa técnica milenar como exemplo, podemos perceber claramente que em diferentes culturas ao redor do mundo, o oriente e o ocidente buscam em suas maneiras distintas o contato com a essência ou a energia pura, cristalina e fundamental como fonte de equilíbrio objetivando sempre a renovação, e o polo positivo que nos orienta na trilha da prosperidade e, consequentemente, a uma vida mais saudável. A faxina se torna então um ato de trazer e renovar energias dentro de nós mesmos e isso repercute no ambiente que nos rodea.  Eu diria que é uma busca de harmonia onde a nossa prioridade é a saúde, a nossa paz em nosso ambiente pessoal e a nossa canalização de energias da natureza que nos ajuda a nos purificar.

Não importa os meios ou as técnicas que optamos em utilizar para alcançar nossos objetivos. O que importa é a iniciativa e principalmene entender que essa higienização ou reorganização é quase que imperativa no nosso processo evolutivo ou como sempre menciono uma despoluição pessoal. E na minha forma de entender, um modo saudável de valorizar a vida, valorizar o seu tempo e a si mesmo.

Hoje em dia percebo ainda mais e tento sempre impor isso dentro de mim mesma como uma prioridade na busca da minha auto-restauração e do meu crescimento como pessoa. De apreciar o que se tem e se lembrar do que se necessita e sempre nos colocando diante da gratidão que é a forma mais singela e pura, embora sutil, de se chegar a uma restauração. Acredite, gratidão é a principal ferramenta que se tem em mãos quando fazemos uma faxina.

Levando em conta minha experiência pessoal de ter sobrevivido a um ataque terrorista, um dos fatores que mudou muito o curso de minha vida, por anos me fechei ao mundo, a minha familia e muitas vezes a mim mesma, no entanto, durante meu processo de recuperação pós-ataque passei por diversas etapas e hoje, quando olho para trás, consigo não só visualizar melhor o que vivi como também identificar várias etapas percorridas. Quando comecei a escrever meu livro, foi como levantar um peso de minhas costas e minha faxina pessoal começou a ganhar corpo, ou melhor, um processo de recomeço e retomada e, especialmente, de amor à vida que me conduziu a redoscoberta da importância do amor próprio de me valorizar e elevar o nível da minha autoestima. Busco minhas energias e força em Deus e na minha fé e esperança.

Minha faxina interna é constante, pois há sempre espaço para melhoras e reestabelecimento de prioridades em cada etapa, em cada fase de nossas vidas. Sempre renovando esperanças, sempre se reorganizando e dando a volta por cima, e acreditando em si mesma que é possível avançar de maneira positiva e saudável e sempre pronta para viver.

Muitas vezes somos forçadas diante de situações inesperadas a ter que encarar tomar decisões, talvez seja essa a maneira do universo nos colocar diante da “nossa faxina necessária”, ou quem sabe é uma sacudida que nos impulsiona para tal ação. Assim, não temos como fugir de situações e decisões que a vida nos impõe e que surgem de diversas naturezas, seja de caráter emocional ou como relações de amizades e familiares. Seja qual for e onde quer que seja necessária, estamos constantemente tomando novos rumos e novas trilhas muitas vezes inevitáveis e muitas vezes essenciais. Muitas vezes deixar ir pode até doer.

Quando entramos na faxina, ou reciclagem, outros sentimentos começam a surgir debaixo do tapete, como a valorização dos verdadeiros amigos, sim aqueles que realmente estão com você.

Sem dúvida jamais confundir as várias pessoas que estão no seu convívio com as que realmente estão com você.

Em suma, ame a si mesma (o), se valorize, seja grata(o) e busque renovar o seu compromisso com você e a sua vida. A vida é uma dádiva divina e única, só nos resta aprender e evoluir. Por anos, após minha vida ter sido brutalmente afetada por uma ideologia destrutiva e ter presenciado mortes em alta escala eu não conseguia perceber a chance milagrosa que tive. Por anos me sentia congelada e na maioria das vezes ainda em estado de choque. Hoje em dia, sinto o privilégio de me reconhecer viva e busco sorrir e agradecer sempre por estar aqui, pelo meu esforço em me manter forte e saudável em todos os sentidos e a minha maneira pessoal de celebrar a vida. Com isso quero dizer que decisões e mudanças muitas vezes podem parecer difíceis e exigirem um esforço homérico. É nesse momento que deve ser resoluta, olhar para dentro de si, tudo o que precisa sair e não abrir mão das suas prioridades. A vida segue nos jogando constantes desafios e lições valiosas a serem aprendidas. Todos os dias são novas experiências e novos recomeços.

Aprender e assimilar essas lições não são uma tarefa fácil e haja água corrente. Pessoalmente ainda tenho muito que aprender a lapidar e melhorar e como sempre toco na mesma tecla, meu momento de faxina vem com um peso motivacional ao sentir meu lixo reciclado e aquele aroma agradável de aprimoramento pessoal.

Não podemos reescrever ou mudar o passado, mas é possível iniciar um plano, traçar uma meta, que nos conduza para um futuro mais positivo e produtivo com base com o que não mas queremos. Focar em manter uma base sólida sempre, recordando que uma base sólida sobrevive a ventos fortes. A minha tem sido a minha fé e perseverança.

Concluo está pequena faxina, com uma frase de um dos meus escritores e pensadores prediletos, Carl Jung, e que diz mais ou menos assim “Sua visão só se tornará clara somente quando você puder olhar para o seu próprio coração, quem olha para fora sonha e quem olha para dentro desperta...”

Nada contra sonhar, não não mesmo. Eu pessoalmente tenho muito sonhos. Porém, tentar e buscar realiza-los é algo mágico, e começamos com uma bela faxina! E que a gratidão seja o toque especial.

Sorria para o mundo e para você sempre!  (by Adriana Maluendas)