Em um romance de Hermann Hesse, o protagonista compara o mundo a um ovo e afirma que se quisermos nascer (para a vida, para a realização, para nós mesmos), devemos rompê-lo: “quem quiser nascer tem que destruir um mundo”. A metáfora aplica-se também à educação. Adquirir um novo conhecimento exige persistência, dedicação e esforço; requer tempo, renúncia a várias formas mais imediatas de prazer e, principalmente, quebrar a casca da “zona de conforto” oferecida pelas habilidades já dominadas.

O medo do fracasso é um dos motivos pelos quais desenvolvemos resistência à aprendizagem. Aprender um novo idioma, por exemplo, demanda investimento financeiro e intelectual. Envolve frustração, insistência, leituras, conversas, testes, mais leituras e, ao final, geralmente proporciona muita alegria e o descortinamento de novas possibilidades culturais e profissionais.

O maior problema parece ser a dificuldade de trilhar os árduos passos necessários para o aprendizado, pois desenvolvemos, ao longo do tempo,uma cultura na qual se deposita demasiada esperança na sorte, no “jeitinho”, nos milagres de loterias e “realities shows”. A impressão generalizada é de que o esforço pessoal, o zelo, a disciplina e o trabalho duro de nada valem, pois o mundo é dos espertos, e não dos dedicados.

Não há nada mais distante da verdade. Mesmo os artistas e atletas bem sucedidos conseguiram o sucesso à custa de muito trabalho, talento, oportunidade e sorte. Constituem ínfima minoria entre os milhares de colegas de profissão com carreiras nada brilhantes. Notoriedade é, também, muitas vezes obtida pelos traficantes, corruptos e outros criminosos, sem por isso merecer admiração.

Não há escola ou aprendizado sem professor, motivado e respeitado. O professor Pedro Demo, um dos maiores pesquisadores do país, escreve: “Para mudar qualquer coisa em educação, é imprescindível mudar o professor, em duas dimensões conjugadas: valorização socioeconômica profissional e valorização da formação e formação continuada. Não considero que o professor resolve tudo, porque toda proposta monótona não corresponde à complexidade da realidade, mas ele é peça-chave. O foco obsessivo no professor teria como resultado ‘culpá-lo’, o que não cabe, porque ele é tão vítima desse sistema de ensino quanto seu estudante. A ideia é, então, cuidar do professor, literalmente, contanto que ele possa cuidar do estudante, pois ser professor é cuidar que o aluno aprenda”.

Alguns pais que amam seus filhos e querem o melhor para eles, com a intenção de estimulá-los,adotam uma cultura de sucesso e vitória, esquecendo-se de pontuar o difícil caminho para obtê-los - e muitos desses filhos crescerão com a sensação de que o sucesso lhes é devido, por decreto e sem esforço. À primeira frustração, correrão a buscar culpado externo, seja a escola que frequentaram, e que não ensinou corretamente, ou seja, de forma fácil e sem atribulações, todo o necessário para evitar o malogro; sejam seus pais que não lhes contaram como é o mundo real.

Precisamos ver os eventuais fracassos como outra forma de aprendizagem; caminho para o autoaperfeiçoamento e melhoria do processo educacional.

 

 

 

Wanda Camargo, educadora e assessora da presidência das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.