#Aprendalendo

            As práticas  de leitura que vêm sendo postas em prática nos mais variados níveis e setores da Educação Básica têm se revestido de um conceito sofismático com raras possibilidades de obtenção dos reais objetivos do ensino, que é a aprendizagem. Essa distância entre os meios e os fins nos leva ao conhecimento, por meio da cultura, do saber e do amadurecimento político, diante dos desafios do mundo que não se cansa de avançar em todo os sentidos.

          Saber ler tornou-se, pois, imperativo para o acesso às variadas áreas do conhecimento. Nesse recorte, observa-se que de acordo com as mais rigorosas classificações do papel da linguagem, o mais próximo da nossa realidade social é a necessidade de efetivar-se a interação entre os elementos de composição de uma sociedade que insiste em ser linear na forma de ver a vida, mas que precisa reconhecer que em leitura, como em educação e na vida, nada é linear.  

            Ao longo de vários anos, tem se tentado uma forma mágica de criar meios para que a pessoa, na academia ou na vida, tenha necessidade de usar adequadamente a faculdade da leitura. Afinal, por meios da história percebe-se que ler vai além de experiências com as letras e as simbologias intelectualizáveis, mas finca suas raízes em um ponto: sobreviver diante da vida que nos impõe um desafio a cada segundo, uma hipótese a cada instante em busca de uma tese que está além das condições de ensino que os sistemas insistem em oferecer.

Mesmo que o grande problema enfrentado pela sociedade brasileira seja a falta de compreensão do que, de fato e leitura, é a vivência com os fatos do dia a dia de cada um, há experiências que fundamentam razões que nos levam a uma prática eficaz no incentivo à leitura. O #aprendalendo responde e repercute de forma positiva nos seus métodos de trabalho. Numa analogia elementar ler impõe uma necessidade de fazer com que o “leitor” faça um reconhecimento dos seus domínios, para criar estratégias de desenvolvimento intelectual.

Assim, defende-se que ler é estabelecer relações entre o texto e o conteúdo, entre o conteúdo e a intenção textual, entre o que pretende o autor da manifestação linguística e o seu receptor. Essa ideia representa o que há de mais elementar no campo da compreensão dos fatos: com que palavras uma pessoa se comunica e com que ferramentas se monta uma mensagem.

O desenvolvimento de uma sementeira 

Em uma sala de aula, por exemplo, o professor começa a listar, silenciosa e discretamente, termos, palavras e expressões ditas, anotadas, registradas no quadro, como parte do conteúdo de algumas disciplinas, termos utilizados no material didático da turma, textos e reportagens de módulos, livros, vídeos e cadernos, (...) que , em tese, fazem parte do cotidiano da turma. Tome-se como exemplo, o seguinte apanhado, ao longo de dois encontros semanais:
reengenharia, teoria, obsolescência, poder aquisitivo, maioridade penal, índice de desenvolvimento humano, agricultura familiar, sustentabilidade, resíduos sólidos, efluentes líquidos, aterro sanitário, responsabilidade social, precipitação pluviométrica, mobilidade urbana, reeducação, vício, dependência, fluxo urbano,  resiliência, respeito, tolerância, empatia, propósito, depreciação.

Esse tabuleiro, por assim dizer, é posto no quadro e anotado pela turma. As reações, são as mais variadas possíveis, alguns desconhecem totalmente o significado das palavras, outros associam às aulas de determinadas disciplinas, outros expõem que são termos ouvidos nos jornais da TV, ou de alguns comentários de rua, postagens de celular, face e outros... o fato é que de um modo ou de outro, percebe-se o que se lê, o que se consome à mesa, nos bate-papos com amigos e familiares. Afinal, fala-se o que se lê; escreve-se o que se fala...

Em um grupo observado de 80 jovens de classe média alta, na fixa de 13 a 15 anos, constata-se que apenas 22 reagem como entendidos no significado da palavra e, se for trazido à sala uma questão social recorrente, até 40 deles, associam os termos a um determinado assunto que está sendo objeto de discussão na mídia e na sociedade em que vivem.

Na analogia da proposta, que é criar necessidade de demonstrar o que se lê e o que se precisa ler, evidencia-se que não basta saber o significado de uma palavra lida, mas é condição para absorção de sua importância, a identificação da origem do seu uso, da matriz em que ela está inserida, do contexto a que ela pertence. Faz-se o caminho de volta: em vez de propor estudos linguísticos para conhecimento de fatos, que sejam os fatos discutidos, criticados, avaliados, para serem reproduzidos, momento em que é preciso: localizar os pontos-chave de cada assunto, entender como cada etapa se encaixa no todo, dando condições para que o leitor como agente do seu tempo e do seu conhecimento, faça dos pontos-chave, ferramenta de expressão; do seu entendimento, a diferença que cada um faz para absorver o que lhe convém e, por último, reproduzir, da forma que seus conhecimentos prévios permitem e que a sua competência assegura. Observa-se que em uma brincadeira analógica registra-se a letra “L”, inicial de localizar e inicial da palavra LER, “E” como inicial de entender e segunda letra de LER e por último, a letra “R” como inicial de reproduzir e última letra da palavra LER.

O jovem leitor não precisa perceber que está “lendo”, como uma imposição de um professor que pretende impor a melhor maneira de ele apender. Mas ele pode e deve perfeitamente realizar essa tarefa de ler, como se estivesse analisando, criticando, avaliando, conhecendo o terreno de uma atividade que lhe dá prazer, como as regras e etapas de um jogo eletrônico. “Na sequência de um jogo é perguntado ao adolescente, o que ocorre com um sapo, se colocado vivo em uma panela aberta, cheia de água limpa. Ligado o fogo, por que o sapo não pula fora, se ele está livre”? O jogador para, hesita, pensa que a resposta não deve ser tão óbvia, não estaria naquele moderno jogo, pensa, pensa... e vêm as primeiras respostas: porque o fogão é alto, porque não deu tempo e a água ficou quente rapidamente, porque quando ele foi posto na água, esta já estava quente e o matou, ele era aleijado... longe da resposta ideal, o jovem jogador, ao pensar, conjecturar, responder... ele leu. Leu como lhe foi permitido, leu como aprendeu a ler, leu como lhe foi conveniente. Ele errou de todas as maneiras, mas leu. Isso era o que estava em jogo desde o início. Para que ele seja provocado a uma resposta plausível, o professor conta uma história que aparentemente nada tem a ver com a história do sapo.

“ O ser humano, começa a história, faz de sua vida o seu tesouro e o seu  fardo. Tudo depende das suas escolhas. O jovem está fazendo algo de que gosta. Tudo parece uma maravilha, o mundo parece lhe sorrir, diante de fatos tão normais que atendem perfeitamente aos seus sonhos e ideais. Lá fora, o mundo gira velozmente e as coisas mudam instantaneamente, mas o nosso jovem, no conforto de sua rotina, nem se dá conta de que ele está ficando para trás. Mas para que sair da sua zona de conforto?  O mundo enquanto texto, está sendo atualizado, modernizado, modificado, interpretado de acordo com o olhar que recebe, de acordo com a leitura que lhe imputam, a partir do que se lê, se faz, se espera, se diz.

Assim são os profissionais que se acomodam uma situação de quase derrotismo: “eu nasci assim, eu cresci assim...”, os professores que não se atualizam que acreditam estar tudo pronto e acabado. Assim, parece que há uma resignação, não leio, não sei, mas tudo bem, quem sabe as coisas não mudam? Já mudaram. A leitura que deverá ser feita é que o contato com o significado seguindo seu conhecimento de mundo, possibilita a todos, lerem o mesmo conteúdo, obtendo diversificadas compreensões e interpretações de um mesmo fato, interagindo com o seu contexto e realidade de entorno. O leitor realiza o processo de maneira ativa, enriquecendo a leitura que contribuirá com seu saber, que se propõe fazer. A leitura, ação de rotina, atualmente, destacando-se os espaços urbanos intelectualizados, anda é algo ligado a tabus, hábitos e costumes que se perdem na história.

Onde ficou a história do sapo?  “Enquanto a água lentamente aquecia, o sapo nunca fora exposto a panela no fogo, ele ia gostando, gostando, se acomodando no conforto que aquele calor inicial lhe proporcionava e, quando percebeu o perigo que se avizinhava, tarde demais: seus músculos já estavam adormecidos pela posição confortável, não mais lhes restavam forças para reagir, morreu cozido.” Assim, acontece com quem não é capaz de ler o que está sendo apresentado pela vida, pelos fatos pela história.

Voltando ao “#aprendalendo” vamos agrupar as expressões, a partir dos seus significados linguísticos e semânticos.  

Organizados em blocos, como resultado de uma pesquisa eletrônica em tablets fornecidos para o fim específico dessa pesquisa, os alunos fecharam os seguintes termos:

  1. reengenharia, teoria, poder aquisitivo, índice de desenvolvimento humano, mobilidade urbana, fluxo urbano, reeducação.
  2. Obsolescência, sustentabilidade, resíduos sólidos, efluentes líquidos, aterro sanitário, responsabilidade social, precipitação pluviométrica,
  3. maioridade penal,  vício, dependência, ,  resiliência, respeito, tolerância, empatia, propósito, depreciação.

Como resultado das leituras efetuadas sobre os termos trabalhados, os alunos foram induzidos a criar frases e expressões que os remetessem de volta aos “sítios” onde eles viram plantadas as palavras pesquisadas. Assim estavam se cristalizando, os significados dos termos que eles já usavam em suas atividades, independente da disciplina, partia-se para o reconhecimento da área do conhecimento a que eles estavam atrelados. O bloco a) remeteu um grupo de 20 alunos a produzirem frases sobre MOBILIDADE URBANA E QUALIDADE DE VIDA”. Os alunos mesmos chegaram a esse tema que foi trabalhado, por textos, reportagens, vídeos e apontamentos com leituras de vários instrumentos.

Do bloco b) chegou-se à discussão sobre E-LIXO, MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE, no bloco c) chegou-se à MAIORIDADE PENAL, RESPEITO E TOLERÂNCIA.

            Estava montado o tabuleiro da leitura. Estava confirmado o que propunha o #aprendalendo: o jovem lê, do seu jeito, no seu ritmo, de acordo com suas necessidades e condições. Como diz Paulo Freire:  “A leitura do mundo precede a leitura da palavra” FREIRE, (2003, p. 13). Sobre isso, é válido reconhecer que o aprimoramento da leitura pressupõe um leque de conhecimentos que reflete nas situações cotidianas. Cabe aos pais e professores instigar, provocar, promover meios que levem a todos à leitura dos fatos da vida, como forma de sobreviver em um mundo que avança sem tréguas.

“É importante que o professor, consciente de que o acesso ao mundo da escrita é, em grande parte responsabilidade da escola, conceba a alfabetização e o letramento como fenômenos complexos e perceba que são múltiplas as possibilidades de uso da leitura e da escrita na sociedade. CASTANHEIRA; MACIEL E MARTINS (2009, P. 15).

            Retomando a provocação iniciada pela história do sapo, os alunos perceberam a necessidade de refletir sobe a história que acabaram de ouvir e, aa partir dessa reflexão, iniciaram uma série de analogias com o comportamento de cada um deles, a respeito do “acomodar-se” por não gostar de ler, do “tenho dificuldade de ler, por isso sou mal em interpretação e texto, leitura e escrita. Ler continua sendo a ferramenta de que se dispõe para se impor quaisquer pontos de vista que possam definir espaços e possibilidades nas relações pessoais, sociais, intelectuais e profissionais. No tocante à obtenção da leitura é preciso distanciá-la dos mitos “gostar de ler”, “não gostar de ler”.  As pessoas leem, cada uma do seu jeito, no contexto e, antes de tudo a partir do seu meio, de sua vivência de suas relações e hábitos.

Sebastião Maciel Costa

Mestre em Ciências Pedagógicas