APOSENTEI!

Maria Eunice Gennari Silva

Em 2017. Mas, vez ou outra, passo na porta das escolas onde aprendi, ensinei e nunca esqueci.

Foi lá que passei grande parte do meu tempo observando profissionais, alunos e famílias que não perdiam a esperança e o entusiasmo.

Foi lá que vi muitas crianças unirem letras e descobrirem que elas formavam palavras e, nesta descoberta, vi nelas a alegria de saber que estavam lendo.

Foi lá também que vi crianças com dificuldades de aprendizagem, mas com profissionais incansáveis e que não desistiam delas.

Foi lá que vi adolescentes envolvidos em projetos geniais inseridos no planejamento de bons profissionais, despertando, nestes adolescentes, a consciência do aprender para que pudessem realizar os seus projetos de vida.

Foi lá, também, que vi, muitas vezes, adolescentes desistirem da vida escolar e fazerem tristes opções. Mas vi muito profissional lutando pelo retorno deles à escola e investindo tempo para ajudá-los a voltar à realidade.

Foi lá que, felizmente, vi muita gente boa no que faz pela educação.

Foi lá que vi muita gente continuar perseverando na arte de educar crianças e adolescentes.

Foi lá que vi muita gente que não perde a esperança do aluno ler o mundo e compreender a sua importância como referência de um país, prioritariamente, educado.

Pois bem... aposentei e fui embora. Mas, por outro lado, ainda há escola que ficou...

Ficou no desejo de, algum dia, passar por transformações radicais. Radicais porque elas são vitais para sua sobrevivência.

Ficou no desejo de não fazer parte dos baixíssimos índices de aproveitamento, o IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.

Ficou no desejo de ver as suas portas sempre abertas em respeito à transparência para com a comunidade escolar, e para oferecer bons relacionamentos através de atividades artísticas e culturais.

Ficou na vontade de que, dentro dela, nada seja mistério, nada seja um segredo revelado apenas ao seleto grupo que, muitas vezes, domina, que oprime e sufoca o verdadeiro trabalho pedagógico na escola.

Ficou esperando que, um dia, sejam transformados, em verdadeiros profissionais da educação, aqueles que decidem e até documentam a respeito dos que trabalham verdadeiramente, simplesmente porque estes incomodam.

Ficou na esperança de que, um dia, não haja mais abuso de autoridades, ordens impostas e regras que só servem para colocar uns contra os outros.

Fui embora, mas a escola continua...

Continua sendo, algumas vezes, como uma delegacia de polícia onde boletins de ocorrência se tornam corriqueiros e naturais, substituindo práticas de ensino personalizado e ressignificado.

Continua sonhando com espaços criativos e inovadores para alunos que, até por motivos banais, passam grande parte do seu tempo longe da aprendizagem na sala de aula, porque esperam para uma “conversa séria com chefias poderosas”.

Continua aguardando a chegada de profissionais capacitados na pedagogia do afeto, para demonstrar e ser referência do quanto são apaixonados pela educação.

Continua esperando por mais profissionais que conheçam a realidade do bairro e da escola, para que através de suas habilidades e competências possam executar um bom Plano de Ação junto aos alunos.

Continua no desejo de receber, destes profissionais, propostas e projetos inteligentes com atividades multidisciplinares e integradas às reais necessidades da comunidade escolar.

Continua lutando para que o PPP (Projeto Político Pedagógico) e o Regimento Escolar sejam documentos de fácil acesso, com direito à encontros periódicos para leitura, análise e revisão quando necessária.

Aposentei, fui embora, mas ficou e continua em mim, mais do que tudo, o desejo da escola com uma Biblioteca que funcione o tempo todo, durante o ano letivo, porque é lá que bate o coração da escola. E, com ela, o Laboratório de Informática, onde o Sempre Novo (biblioteca) linkado ao Novíssimo (laboratório) traz à existência uma aprendizagem ressignificada.

Escola sem Biblioteca e sem Laboratório de Informática funcionando, de maneira que alunos e professores, diariamente, tenham livre acesso a eles para leitura e pesquisa, melhor fechar, porque o seu coração já não bate mais. Ela está perdida no tempo e no espaço.

Portanto, é preciso que a escola, junto aos seu profissionais da educação, se conscientize de que, agora, mais  que antes da pandemia, é tempo de travessia e transformação. Há uma necessidade destes profissionais aperfeiçoarem a compreensão do aluno em relação à leitura no papel, assim como na leitura das tecnologias digitais.

Escolas! Coloquem, ressuscitem e/ou invistam urgentemente nas suas Bibliotecas e Laboratórios de Informática!

E eu continuo na certeza de que algum dia, mesmo não estando mais por aqui, se a escola passar por transformações radicais, porque elas são vitais para sua sobrevivência, vou festejar onde estiver.