Aposentar-se-ia

 Sempre a dizer que queria e precisava se aposentar, passou grande parte de sua vida a imaginar, a pensar quão bom seria o dia em que pudesse parar de trabalhar e usufruir todos os benefícios que a vida lhe devia... Que devia,  por ter sido sempre um homem trabalhador, cumpridor de seus deveres e obrigações. A não adaptação a essa nova etapa de sua vida, sequer passava por seus pensamentos. Mantinha longe as expectativas e medos de uma vida que não desejava viver. Pensava-se sempre um aposentado feliz, saudável, bem disposto e que a velhice jamais seria para ele, sinônimo de desânimo, de fraqueza. Jamais, pois a vida continuaria. Novas etapas viriam e ele as aproveitaria com a sapiência da idade, afastando de seus dias a solidão e o marasmo. Daria a si  mesmo a sua contribuição mais significativa, a de viver  plenamente todos os dias de sua vida até que eles se fossem. Seria produtivo, respeitando e entendendo suas limitações, desapegado dos ideais da juventude. Apegar-se-ia aos ideais de sua idade atual, redescobrindo novas formas de vivenciar seus dias, jamais se perguntando que futuro é esse ao qual me agarro com unhas e dentes. Saberia que era o seu futuro, o qual não mediria pelo tempo e sim por seus sonhos a realizar com mais tempo e tranquilidade, sem os arroubos de outrora. E tinha tantos sonhos...

Aposentar-se-ia, mas não da vida. Queria chegar a essa etapa, não como alguém que tudo sabe, mas sim como alguém com vontade de aprender, de descobrir novas maneiras de passar pela vida, sem se sentir a beira da estrada. Queria participar do tempo. Do seu tempo, sabendo como fazer-se feliz, driblando as dificuldades e as tristezas que dele se aproximariam, mesmo sem a sua conivência. Daria sentidos outros à sua vida  ainda a viver, usufruindo-a em paz.

Não queria nunca ser alguém a pontar o dedo para o outro, tornando-o responsável pelo que a ele pudesse acontecer. Teria sempre as rédeas de sua vida em suas mãos.

Queria ser capaz de entender suas dores, ignorando os sinais dados pelo corpo, que com o passar dos tempos se mostra insensível e cruel.

Queria encarar a vida com otimismo.                                                                                Queria...

Ah como queria renascer a cada dia!