Apontamentos e História sobre a Bíblia

Por Mateus Borges da Silva | 12/05/2025 | Religião

APONTAMENTOS E HISTÓRIA SOBRE A BÍBLIA Mateus Borges da Silva 1 INTRODUÇÃO A bíblia permanece como o livro fundamental, a própria verdade divina registrada, o guia indispensável para a jornada cristã em direção ao céu e a mais rica fonte de sabedoria existente. "Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar". Mateus 24.35 "A bíblia contém todas as palavras divinas que Deus quis dar ao seu povo em cada estágio da história da redenção e que hoje contém todas as palavras de Deus que precisamos para a salvação, para que, de maneira perfeita, nele possamos confiar e a ele obedecer. (Andrade Claudionor) 2 ETIMOLOGIA DO TERMO "BÍBLIA" A história por trás da palavra "Bíblia" revela uma interessante ligação com a antiga Fenícia. Uma de suas cidades mais relevantes, Biblos (a moderna Gebal, cerca de 40 km ao norte de Beirute), era um vibrante centro de comércio. Ali se negociava uma variedade de produtos, desde madeiras e perfumes até tecidos e couros, mas foi o papiro, mercadoria de grande procura, que estabeleceu uma conexão duradoura. Em homenagem e referência a essa cidade comercial, rica em papiro, o próprio material e, posteriormente, o livro feito dele, passaram a ser chamados de "biblos", culminando na palavra que conhecemos hoje. Originalmente, um pequeno rolo de papiro era denominado "biblion", e a reunião de vários deles constituía uma "bíblia". Assim, literalmente, a palavra bíblia significa "coleção de pequenos livros". Com o advento do papel, os rolos caíram em desuso, e "biblos" evoluiu para significar livro, como evidenciado nos termos biblioteca, bibliografia e bibliófilo. Inicialmente, cerca do ano 400, os escritores cristãos de língua grega adotaram o termo "Os livros" para designar a Bíblia, reconhecendo-a como uma série de textos da revelação divina. Contudo, no século XIII, houve uma mudança 2 para o singular, em consonância com a ideia de que ela representa uma única manifestação vocal de Deus. Além de Bíblia, as escrituras são outra forma pela qual o livro sagrado é conhecido. No novo testamento, o termo é empregado para designar livros do Antigo Testamento, vistos como inspirados por Deus, mas também é usado para se referir a trechos do próprio Novo Testamento. Outra designação significativa é Palavra de Deus, aplicada a ambos os Testamentos em sua forma escrita. "A necessidade desse estudo é que, sendo a Bíblia um livro divino, veio a nós por canais humanos, tornando-se, assim, divino-humana, como também o é a Palavra Viva - Cristo -, que se tornou também divino-humano". (Antonio Gilberto). A formação da Bíblia é um dos muitos fatores que a elevam a um patamar singular e extraordinário. Ao longo de quinze séculos, cerca de quarenta escritores, sob a orientação direta de Deus, deram origem aos seus 66 livros (39 no Antigo e 27 no Novo Testamento). A impressionante harmonia entre esses textos, produzidos por indivíduos de variadas profissões, em diferentes lugares e épocas, é uma prova da sua origem divina unificada. A palavra "testamento", originária do grego "diatheke", carrega um duplo sentido: aliança/concerto e o documento de últimas vontades. No Novo Testamento, esse termo é empregado (cf. Lc 22.20), enquanto o Antigo Testamento usa "berith", significando apenas concerto. Essa ambiguidade grega ilustra como a morte de Cristo selou a Nova aliança, garantindo a herança aos crentes (Rm 8.17, Hb 9.15-17). O Antigo Testamento, com seus 39 livros predominantemente em hebraico (com trechos em aramaico e algumas palavras persas), organiza-se em quatro seções: Lei (Gn-Dt, 5 livros), História (Js-Et, 12 livros), Poesia/Devocional (Jó-Ct, 5 livros) e Profecia (Is-Ml, 17 livros). A classificação temática dos livros do Antigo Testamento (AT), herdada da Septuaginta através da Vulgata, prioriza assuntos em detrimento da cronologia, o que pode desorientar leitores que buscam uma compreensão história linear, diferentemente da estrutura da Bíblia hebraica. Essa não é a única distinção; as edições católico-romanas também modificam os nomes de alguns livros (1 e 2 Samuel para 1, 2, 3 e 4 Reis; 1 e 2 Crônicas para 1 e 2 Paralipômenos; Esdras e Neemias para 1 e 2 Esdras) e a numeração de certos 3 Salmos (o Salmo 9 em Almeida corresponde a dois salmos em outras versões, causando um descompasso até a convergência nos últimos três salmos). O Novo Testamento, escrito em grego Koiné é composto por 27 livros, organiza-se em quatro grupos bem definidos: Biografia (os Evangelhos), História (Atos dos Apóstolos), Epístolas (21 cartas doutrinárias, incluindo as paulinas, as pastorais a Hebreus e as gerais ou católicas de Tiago e Judas) e Profecia (o livro do Apocalipse ou Revelação). 2 A MENSAGEM ESCRITA Diante de múltiplas formas de revelar sua verdade aos homens (Hb 1:1), algumas já demonstradas ao longo da história bíblica - como a mediação de anjos (Gn 18,19; Ap 22:8-21), o uso de sortes (Êx 28:30, Pv 16:33), a influência da consciência (Rm 2:15), o testemunho da criação (Sl 19:1-6), vozes audíveis (1Sm 3) e intervenções milagrosas (Jz 6:36-40) -, Deus escolheu um "caminho mais excelente": a fixação de sua mensagem em um registro escrito. Essa decisão visava garantir maior precisão, durabilidade, objetividade e facilidade de propagação da verdade divina a todas as épocas. A escolha da escrita como meio de comunicação divina se justifica por suas notáveis vantagens: a precisão, que demanda clareza do emissor e promove a exatidão na recepção; a permanência, que salvaguarda a mensagem da erosão da memória e ainda fomenta a interpretação pessoal; a objetividade, que confere à mensagem uma marca indelével, minimizando a subjetividade; e a capacidade de propagação, que assegura uma transmissão mais fiel e abrangente do que a oralidade. 3 LINGUAS ORIGINAIS O hebraico, pertencente ao tronco das línguas semíticas faladas na Ásia Mediterrânea (com algumas exceções regionais), integrava o grupo cananeu, que abrangia a costa oriental do Mediterrâneo, incluindo Síria, Palestina e a atual Jordânia. Além do hebraico, o grupo cananeu também incluía o ugarítico, o fenício e o moabítico, sendo o fenício particularmente similar ao hebraico. Acredita-se que o alfabeto hebraico primitivo tenha derivado do fenício. Evidências sugerem que Abraão adotou o hebraico ao chegar em Canaã, em 4 vez de trazê-lo da Caldéia, como demonstra a diferença linguística entre Labão, seu sobrinho na Caldéia (que falava aramaico, conforme Gênesis 31:47), e Jacó, recém-chegado de Canaã (que falava hebraico). A história da escrita hebraica remonta a cerca de 1800 a.C, na Palestina, conforme indicam descobertas arqueológicas como o Calendário de Gézer (século X a.C.) e os fragmentos do Mar Morto (século I a.C. e D.C.). Essa forma inicial, que utilizava apenas consoantes, sofreu modificações até se tornar a "escrita quadrada" após o exílio babilônico, sendo posteriormente padronizada pelos massoretas no alfabeto hebraico conhecido hoje. A leitura dessa escrita antiga, desprovida de vogais, era um desafio, pois dependia da interpretação do leitor para determinar os sons vocálicos, o que levava a ambiguidades e, em última instância, à perda da pronúncia original de muitas palavras bíblicas. Após o século VI, em Tiberíades, os eruditos judeus, conhecidos como massoretas (devido à sua ligação com a "Massorah", a tradição), introduziram sinais vocálicos na escrita hebraica para perpetuar a pronúncia tradicional. Esses sinais, dispostos ao redor das consoantes, caracterizam o chamado Texto Massorético, presente em textos bíblicos posteriores. Moses Ben Asher e seus filhos foram renomados massoretas. Adicionalmente, o Pentateuco Samaritano, um texto hebraico pré-cristão que mantém a escrita hebraica antiga, representa uma segunda importante linhagem textual hebraica, distinta do texto massorético. O aramaico, língua semítica com raízes em Arã/Síria desde 2000 a.C (uma área bíblica extensa), influenciou profundamente o hebraico a partir dos cativeiros de Israel (722 a.C) e Judá (587 a.C). No retorno do exílio babilônico em 536 a.C., o aramaico era a língua predominante entre os israelitas, fato que demandava a interpretação das Escrituras hebraicas lidas publicamente na época de Esdras (Ne 8:5, 8). Trechos bíblicos significativos foram originalmente escritos em aramaico, como partes de Esdras, Daniel e um versículo de Jeremias. O aramaico era a língua de Jesus e da igreja primitiva em Jerusalém, comprovado por suas palavras sobre o "jota" (iode) em Mateus 5.18 e o uso de "abba" em Marcos 14.36. Contudo, sua leitura das Escrituras em hebraico (Lucas 4.16-20) demonstra seu domínio dessa língua também. Com o declínio do aramaico após as conquistas árabes, o hebraico ressurgiu, um acontecimento com implicações proféticas para Israel. No entanto, 5 no período do Novo Testamento, o aramaico era a língua vernacular dos judeus e, por isso, era comum refere-se a ele como "hebraico" (como em várias passagens do NT). Essa terminologia é evidente quando comparamos os relatos de Marcos (escrito para romanos, usando o aramaico) e Mateus (escrito para judeus, referindo-se à mesma fala como hebraica). O idioma original do Novo Testamento é o grego Koiné, o dialeto comum e acessível, diferente do grego clássico dos filósofos. Embora haja debate sobre a origem aramaica de Mateus, o restante do NT foi escrito nessa forma de grego, que surgiu da união dos dialetos dórico e ático, ambos ramos das línguas arianas. A precisão expressiva do grego e sua proximidade com o português o tornam a língua bíblica mais familiar. A ascensão do Koiné como língua franca se deu com as conquistas de Alexandre, que a partir de 336 a. C. expandiu a influência grega por todo o mundo conhecido. A ampla compreensão do grego pelos judeus na época de Jesus, impulsionada pela Septuaginta, tornou o Evangelho acessível desde o início. O alfabeto grego, com suas 24 letras de raízes fenícias, foi o meio de transmissão. Contudo, apesar da utilidade de conhecer as línguas originais, a verdadeira compreensão da revelação divina reside na mensagem bíblica em si, que o Espírito Santo dinamiza e usa como ferramenta (Ef 6.17). 4 MATERIAIS E INSTRUMENTOS DE ESCRITA A Bíblia foi registrada utilizando uma diversidade de materiais de escrita típicos do mundo antigo. Desde as antigas tabuinhas de barro (Suméria, e alusões em Jeremias e Ezequiel) e as duradouras inscrições em pedra (presentes em diversas culturas e na própria Bíblia), passando pelo flexível papiro em rolos (usados por João), até os materiais de origem animal como couro (possivelmente para Jeremias) e pergaminho (mencionado por Paulo), os autores bíblicos adaptaram os recursos disponíveis. Outros materiais menos convencionais, como metal, cera, pedras preciosas e até cacos de cerâmica, também serviram para registrar mensagens bíblicas, contrastando com a ausência de evidência do uso de linho para esse fim. Os autores bíblicos utilizavam uma variedade de ferramentas para registrar suas mensagens. O estilete, um instrumento pontiagudo, era usado para gravar em tabuinhas de barro ou cera. Para inscrições em pedra, 6 empregava-se o cinzel. A escrita em materiais como papiro, couro, velino e pergaminho exigia a pena e a tinta. Um canivete era mencionado no contexto de destruir um rolo, indicando um material resistente, e servia para afiar as penas. A preservação e transmissão do texto bíblico ocorreram por meio de seus manuscritos. A ausência dos originais, escritos pelos próprios autores, pode ser explicada por diversos motivos: o costume judaico de sepultar manuscritos desgastados para evitar mau uso, a potencial destruição por governantes ímpios de Israel (exemplificado em Jeremias 36), a perseguição de Antíoco Epifânio que visava eliminar as Escrituras, e a sistemática destruição de textos sagrados cristãos durante o reinado de Diocleciano. Consequentemente, os autógrafos bíblicos não existem mais. 5 OS MAIS IMPORTANTES MANUSCRITOS Em contraste com a vasta quantidade de mais de 5 mil manuscritos do Novo Testamento que existem hoje, a preservação dos escritos clássicos da Grécia e Roma ilustra de forma notável a singularidade da transmissão dos textos bíblicos. Enquanto obras históricas e religiosas do mundo antigo praticamente desapareceram, apenas 643 manuscritos da Ilíada de Homero sobreviveram, da história de Roma de Tito Lívio resta apenas 20, e Guerras Gálicas de César é conhecida por apenas 9 ou 10 manuscritos. A Guerra do Peloponeso de Tucídides conta com apenas 8 manuscritos, e as obras de Tácito subsistem em apenas 2. Embora os manuscritos do Antigo Testamento não sejam tão numerosos quanto os do Novo, a pesquisa de suas evidências revela a natureza e a robustez da comprovação documental dos textos originais da Bíblia hebraica. Apesar do número reduzido de manuscritos antigos do Antigo Testamento (com exceção dos da Genizá do Cairo), devido à sua idade, instabilidade histórica na Palestina, práticas de descarte de manuscritos danificados e a padronização massorética, o Texto Massorético que utilizamos hoje, baseado em manuscritos posteriores ao século X, demonstra notável confiabilidade. Essa integridade é comprovada pela significativa correspondência entre passagens paralelas dentro do próprio AT, como os exemplos dos Salmos, Isaías, Reis, Miquéias e Crônicas, que apresentam um acordo textual substancial e, em 7 muitos casos, uma semelhança quase exata, atestando a fidelidade da transmissão do texto. A descoberta dos Rolos do Mar Morto em 1947, perto de Qumran, por um pastor beduíno em busca de um animal perdido, representou um achado arqueológico de grande significado. As onze grutas exploradas revelaram a biblioteca da comunidade essênia, com cerca de 600 manuscritos fragmentados. A antiguidade desses rolos foi corroborada por descobertas posteriores em Murabba'at, datadas da revolta judaica. Entre os achados de Qumran, destacase um rolo dos profetas menores com grande semelhança ao Texto Massorético e um palimpsesto semítico antigo. A datação dos rolos é consistente com análises de carbono 14, estudos da escrita e da ortografia, e a cerâmica encontrada nos sítios, abrangendo os períodos Helenístico e Romano. 6 INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA A Bíblia consistentemente declara sua inspiração divina, notavelmente através da frase "Assim diz o Senhor", que ocorre mais de 2600 vezes. Essa repetição, junto a expressões semelhantes, sela sua autenticidade como a voz de Deus através de seus autores (Ez 11:5; 2 Cr 20:14, 20-24). O termo "inspiração", do latim "in" e "spiro" (inspirar), como visto em Jó 32.8 e 2 Timóteo 3.16, descreve uma influência sobrenatural, o próprio "respirar" de Deus, cuja Palavra é "Espírito e Vida" (Jo 6.63; Hb 4.12). O conteúdo bíblico deriva fundamentalmente de três formas: a revelação, que consiste na transmissão por Deus de informações previamente desconhecidas, ilustrada nos primeiros capítulos de Gênesis (embora a totalidade do conteúdo revelado seja incerta); os fatos conhecidos, que podem ser resultado de vivência direta ou análise de registros existentes, como se vê em Lucas, que narra suas próprias experiências em Atos e pesquisa para seu Evangelho (Lc 1.1-4); e a profecia, que representa a mensagem de Deus entregue através de um profeta, um indivíduo com inspiração divina cuja palavra profética era considerada infalível e tinha o propósito de instruir o povo sobre a vontade de Deus. As Escrituras possuem uma dupla natureza: são a Palavra de Deus, originadas e expressas por Ele (2 Tm 3.16, usando o termo grego para inspiração divina do texto escrito). Simultaneamente, foram homens piedosos, escolhidos 8 por Deus e impulsionados pelo Espírito Santo (termo grego para o movimento dos escritores em 2 Pe 1.21), que receberam e registraram essa Palavra em forma escrita. O termo grego "Logos" serve como designação para a Palavra escrita de Deus na vasta maioria de suas ocorrências no Novo Testamento (cerca de 200 vezes), e identifica o Filho de Deus em algumas passagens (7 vezes). Tal como a expressão articula o pensamento, o Logos atua como a manifestação de Deus, seja na pessoa viva de Cristo (o Logos vivo) ou no registro escrito da Bíblia (o logos escrito). Essa dualidade espelha a união das naturezas divina e humana em Cristo, encontrando um eco na combinação sobrenatural desses elementos na Palavra de Deus. A própria Bíblia atesta sua inspiração divina em suas diversas seções, com o Novo Testamento também reconhecendo a autoridade inspirada do Antigo. Adicionalmente, apresenta declarações científicas que se mostraram precisas (Jo 26.7; Sl 135.7; Ec 1.7; Is 40.22). A autoridade de Jesus Cristo sela essa inspiração: ele interagiu com a Bíblia como Palavra de Deus, ensinou a partir dela, declarou-a como verdade absoluta e viveu em obediência a seus ensinamentos, reconhecendo a atuação do Espírito Santo em seus autores e utilizando-a como arma contra o mal, além de cumprir suas profecias. A Bíblia demonstra sua fidedignidade através do cumprimento notável de uma ampla gama de profecias, desde as específicas sobre líderes como Ciro (Is 44.28; 45.1) até as abranges sobre o Messias (Gn 49.10; Is 7.14; 53; Dn 9.24- 26; Mq 5.2; Zc 9.9; Sl 22), a nação de Israel (Lv 26.14, 32, 33; Dt 4.25-27; 28.15; 64; Is 66.8; Jr 23.3; 30.3; Ez 11.17; 36; 37; Is 60.9; 61.6) e a sucessão de impérios mundiais (Dn 2 e 7). 7 Falsas Teorias A revelação, como em Apocalipse 10.3-4, pode ocorrer sem a subsequente inspiração para registrar. Inversamente, a inspiração pode guiar o registro de fatos observados ou pesquisados, como em 1 João 1.1-4 e Lucas 1.1-4. O modo como Deus inspirou os escritores é a forma da inspiração, e o texto resultante é o seu resultado. As teorias da intuição, iluminação, dinâmica e ditado buscam explicar esse modo, enquanto a teoria verbal plenária descreve a natureza completa do texto inspirado. 9 Diversas teorias inadequadas tentam explicar a inspiração bíblica. A Teoria da Inspiração Dinâmica postula que Deus capacitou os escritores para transmitir a verdade de forma confiável em fé e prática, mas não em assuntos não religiosos, falhando em explicar a coexistência do sobrenatural e do natural na escrita bíblica e a suposta falibilidade dos autores em fatos simples. A Teoria do Ditado ou Mecânica reduz os escritores a meros amanuenses, ignorando suas personalidades e estilos distintos, o que não se alinha com a diversidade de escrita na Bíblia, embora Deus garanta a exatidão da mensagem sem anular a vontade humana. A teoria da Inspiração Natural ou Intuição vê a inspiração como um discernimento humano superior em questões morais e religiosas, assemelhando os escritores bíblicos a artistas talentosos, mas exclui a autoria divina. A teoria da Inspiração Mística ou Iluminação a descreve como uma intensificação da percepção religiosa comum aos crentes, o que implicaria que qualquer cristão poderia escrever Escrituras sob influência divina especial. A teoria da Inspiração dos Conceitos, e não das Palavras, argumenta que Deus transmitiu ideias, deixando a expressão linguística aos autores humanos, desconsiderando a importância das palavras específicas na comunicação e interpretação bíblica. Por fim, a Teoria dos Graus de Inspiração sugere que diferentes partes da Bíblia possuem níveis distintos de inspiração, classificando-os em sugestão, direção, elevação, superintendência e revelação direta. Embora reconheça a autoria humana, essa teoria abre espaço para especulações infundadas sobre quais partes da Bíblia seriam mais ou menos inspiradas que outras. A teoria correta da inspiração bíblica, conhecida como Teoria da Inspiração Plenária ou Verbal, postula que toda a Escritura é igualmente inspirada por Deus. Ela enfatiza que os autores bíblicos não foram meros autômatos, mas cooperaram ativamente com o Espírito Santo, que os capacitou a registrar a Palavra de Deus utilizou seus próprios vocabulários, porém sob uma influência divina tão poderosa que o resultado foi, de fato, a Palavra de Deus. Essa teoria descreve o poder inexplicável do Espírito Santo atuando sobre os escritores, guiando-os na transcrição do registro bíblico, seja através de observações pessoais, fontes orais ou escritas, ou revelação direta, preservando-os de erros e omissões, inclusive na escolha precisa das palavras em seus aspectos gramaticais, garantindo assim a inerrância e a autoridade divina das Escrituras. O próprio Jesus Cristo reconheceu essa inspiração verbal 10 plenária ao afirmar a imutabilidade da lei até a menor letra (Mateus 5.18 e Lucas 16.17). 8 AUTENTICIDADE DA BÍBLIA A autoridade da Bíblia, fonte de influência e prestígio, deriva crucialmente de sua credibilidade, conferindo-lhe um poder sobrenatural vinculado à inspiração e ao cânon. A inspiração outorga autoridade a passagens particulares, a canonicidade a livros completos, e a credibilidade valida seus dados históricos, geográficos e científicos. No entanto, a inspiração não implica automaticamente autoridade, que reside na procedência e veracidade do texto, sendo Deus o Autor primordial. Falas registradas por inspiração, mas não originárias de Deus, como as de Satanás (Gênesis 3. 4-5) ou Pedro (Mateus 16.22), carecem de autoridade divina. Da mesma forma, retirar um texto do contexto, embora as palavras sejam inspiradas, anula sua autoridade ao distorcer seu significado original. A credibilidade de um livro repousa em sua fidedignidade ao relatar eventos e fatos com precisão, tal como ocorreram ou em sua essência, e na correspondência entre o texto que temos hoje e o original. Portanto, a credibilidade abrange tanto a veracidade do registro quanto a pureza textual, referindo-se tanto ao conteúdo original quanto à integridade do texto atual, seja ele uma cópia ou uma tradução. A fidedignidade da Bíblia é atestada tanto pela história quanto pela arqueologia. O relato bíblico da queda de Samaria, com o cerco de Salmanezer IV e o cativeiro realizado por Sargom II (2 Reis 17. 3-6), cujo reinado (722-705 a.C.) é confirmado historicamente (apesar de sua breve menção em Isaías 20.1), encontra eco em registros seculares. No campo arqueológico, as tábuas de Nuzi oferecem paralelos a práticas em Gênesis, a escrita egípcia pré-data Abraão, e evidências sustentam a narrativa do Êxodo, incluindo a escravidão e libertação de Israel. A integridade das Escrituras é sustentada por cinco pilares interconectados. Primeiro, a integridade topográfica e geográfica é verificada pela arqueologia, que consistentemente situa os povos, línguas, lugares e eventos bíblicos nos locais exatos e nas condições geográficas precisas 11 descritas. Segundo a integridade etnológica ou racial é comprovada pela concordância entre as afirmações bíblicas sobre as raças e os dados etnológicos revelados pela arqueologia. Terceiro, a integridade cronológica é atestada pela correspondência entre a identificação bíblica de povos, lugares e eventos com seus períodos históricos, corroborada pela cronologia síria e descobertas arqueológicas. Quarto, a integridade histórica é demonstrada pela harmonia entre os nomes e títulos de leis bíblicas e os registros seculares, conforme evidenciado por achados arqueológicos. Quinto, a integridade canônica reside na contínua aceitação dos livros que compõem as Escrituras pela igreja ao longo da era cristã, o que representa um endosso de sua integridade como um corpo unificado. A solidez do Novo Testamento repousa em quatro pilares de credibilidade. Primeiro, a competência de seus escritores, habilitados pelo Espírito Santo para testemunhar e ensinar as verdades divinas através de memória, relatos orais e escritos, discernimento espirituais e suas capacidades de escritas inspiradas. Segundo a honestidade de seus escritores é patente no teor moral de seus textos, na busca pela verdade e nos perigos que enfrentaram ao defender suas convicções, arriscando bens, status social e a própria vida, o que dificulta a hipótese de serem fraudadores intencionais. Terceiro, a harmonia dos escritos é notável, com os Evangelhos sinóticos se complementando sem conflitos e os detalhes de João enriquecendo o conjunto. Adicionalmente, o livro de Atos fornece o pano de fundo histórico para dez das cartas paulinas, ilustrando a coesão dos vinte e sete livros em sua apresentação unificada de Jesus Cristo e sua missão. 9 CÂNON E CANONICIDADE A palavra "cânon" traça sua etimologia do grego kanṓn, cuja raiz é o hebraico qaneh, significado junco ou vara de medir (Ap 21.15). Seu significado expandiu-se para norma, padrão ou regra (Gl 6.16; Fp 3.16) e, no contexto eclesiástico, para decisões autorizadas de concílios. Aplicado às Escrituras, "cânon" denota os livros que passaram por um "teste" e foram reconhecidos como inspirados por Deus, sendo aceitos como parte essencial das Sagradas Escrituras. 12 Quatro critérios eram utilizados para determinar a canonicidade de um livro: a Autoria Divina, questionando se a inspiração provinha de Deus ou apenas do homem; a Autoria Humana, investigando se o escritor era um profeta ou portavoz de Deus, ou se o livro foi editado ou endossado por tal figura; a Genuinidade, buscando comprovar a autenticidade do livro através de evidências históricas de sua autoria, origem e data, ou, na ausência de um autor nomeado, se o conteúdo permaneceu consistente com sua forma original; e a Veracidade, averiguando se o livro registrava fatos reais e verdadeiros. A Bíblia faz referência a outros livros, que, presume-se, não existem mais, como o Livro das Guerras do Senhor (Números 21.14), o Livro dos Justos (Josué 10.13 e 2 Samuel 1.18), a história do reinado de Salomão (1 Reis 11.41), os registros da história do rei Davi (1 Crônicas 27.24), as crônicas dos profetas Samuel, Natã e Gade (1 Crônicas 29.29), os livros e profecias de Natã, Aías e Ido (2 Crônicas 9.29), e o livro de Semaías juntamente com o registro das genealogias (2 Crônicas 12.15, 13.22, 26.22, 33.19). A canonização de um livro bíblico não outorgou sua autoridade, mas sim reconheceu e declarou sua autoridade já estabelecida por outros fundamentos, tanto pela nação judaica quanto pela igreja cristã. Para integrar o cânon do Novo Testamento, um livro precisava passar por cinco critérios: Apostolicidade, questionando se foi escrito por um apóstolo ou por alguém com forte ligação apostólica (imprimatur apostólico); Universalidade, verificando se o livro era amplamente aceito e circulava na comunidade cristã universal (imprimatur da igreja), o que ajudou a excluir escritos apócrifos; Conteúdo, avaliando se a natureza espiritual do livro lhe conferia o direito a essa categoria, rejeitando ficções; Leitura em Público, analisando se o livro possuía características adequadas para leitura litúrgica, como era feito com a lei e os profetas; e Inspiração, sendo este o teste final para determinar se o livro evidenciava ter sido divinamente inspirado. É relevante notar que já no final do segundo século, a maioria dos livros do Novo Testamento era reconhecida como apostólica, e até o final do quarto século, os vinte e sete livros do nosso cânon atual haviam sido aceitos por todas as igrejas do ocidente e, no oriente, a partir de 500 d.C., embora ainda hoje existam questionamento minoritários sobre alguns livros. 10 OS LIVROS APÓCRIFOS 13 O termo "apocrypha" carrega uma variedade de significados que espelham o debate sobre sua inclusão no cânon bíblico. Originalmente significado "oculto" ou "obscuro" no grego clássico, passou a designar o esotérico. Nos séculos III e IV, figuras como Irineu e Jerônimo aplicaram "apocrypha" aos livros do Antigo Testamento não considerados canônicos, inclusive os pseudepígrafos. A partir da Reforma, o termo se refere aos escritos judaicos não canônicos do período intertestamentário, suscitando a dúvida sobre se sua ocultação visava preservação por profundidade ou se decorria de sua natureza espúria. Em contrapartida, "cânon" simboliza a regra ou os critérios que validam a autenticidade e inspiração dos livros bíblicos, representando a lista dos textos sagrados e sinônimo de Escrituras como norma autoritativa para fé e prática, abrangendo também o credo eclesiástico e os procedimentos da igreja. "Canônico" qualifica o que está em conformidade com o cânon, enquanto "pseudepígrafo" denota literalmente "escritos de autoria falsa". Embora os apócrifos não sejam inerentemente falsos, eles são classificados como não canônicos e podem conter ensinamentos questionáveis. As Bíblias Hebraica, Protestante e Católica divergem em seus cânones. A Bíblia Hebraica contém apenas os 39 livros do Antigo Testamento, rejeitando o Novo Testamento e os apócrifos. A Bíblia Protestante aceita 39 livros do Antigo Testamento e os 27 do Novo Testamento, mas exclui os apócrifos presentes na Vulgata Católica, por sua vez inclui os 39 livros do Antigo Testamento, os 27 do Novo Testamento e diversos livros apócrifos (ou deuterocanônicos) em sua versão Vulgata, como 3 e 4 Esdras, Tobias, Judite Sabedoria, Eclesiástico, Baruque (com a Carta de Jeremias), 1 e 2 Macabeus, adições a Ester e Daniel, além da Oração de Manassés. A Septuaginta também continha alguns desses apócrifos, com Esdras e Neemias aparecendo como 1 e 2 Esdras, respectivamente. A igreja Romana oficializou a inclusão dos apócrifos no cânon bíblico em 8 de abril de 1546, durante o Concílio de Trento, numa época marcada pela Reforma Protestante e pelos debates acirrados sobre doutrinas como purgatório e salvação pelas obras, para as quais os romanistas buscavam respaldo nos apócrifos. Essa decisão, contudo, não foi unânime dentro da Igreja Católica, gerando controvérsias e até mesmo conflitos físicos entre bispos durante o Concílio, conforme relatos históricos. A primeira Bíblia católico-romana contendo os apócrifos foi publicada em 1592, sob a autorização do Papa Clemente VIII. 14 Inicialmente, os reformadores protestantes também incluíram os apócrifos em suas Bíblias, posicionando-os entre o Antigo e o Novo Testamento como leituras edificantes, mas não inspiradas, prática que perdurou até 1629. A influente versão King James de 1611 ainda os continha. No entanto, após 1629, as igrejas reformadas excluíram completamente os apócrifos de suas edições bíblicas e influenciaram a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira a não publicar Bíblias com esses livros e a não colaborar com outras sociedades que os incluíssem. Por volta de 435 a.C., o cânon do Antigo Testamento foi estabelecido e não recebeu novas adições. Embora a história judaica tenha prosseguido em outros escritos, como os Macabeus, estes não foram equiparados à autoridade das palavras divinas dos períodos precedentes. Essa convicção de que a comunicação divinamente autorizada cessou após esse período é um tema recorrente em várias formas de literatura judaica não bíblica. A Septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento aprovada pelo Sinédrio judaico de Alexandria, incorporou os Livros Apócrifos como um apêndice devido a um menor rigor e à influência do helenismo. Essa anexação provavelmente se deu pela proximidade física dos rolos apócrifos aos canônicos, levando escribas, na era dos códices, a copiá-los em conjunto. A maioria desses livros, escritos em grego (com exceção de Judite, Eclesiástico, Baruque e 1 Macabeus), surgiu consideravelmente após Malaquias, o último profeta do Antigo Testamento. Consequentemente, a inclusão de textos não canônicos para os judeus na Septuaginta pode ter ocorrido por desconhecimento dos livros genuinamente canônicos ou pela indistinção de valor por indivíduos menos comprometidos com o judaísmo. Apesar da rejeição desses livros pelo judaísmo palestino, eles oferecem um importante panorama da vida intelectual e religiosa judaica, particularmente durante o período intertestamentário, o que pode ter motivado sua anexação ao texto grego. Em sua obra "Contra Apion", o autor declara: "Não possuímos miríades de livros discordantes e conflitantes, mas apenas vinte e dois, que abrangem toda a história e são justamente considerados divinos". Após mencionar os cinco livros de Moisés, os treze dos profetas e os demais escritos ("que incluem hinos a Deus e conselhos para a conduta humana"), ele prossegue afirmando que, "Desde Artaxerxes até os nossos dias, tudo foi registrado, mas não com a mesma credibilidade dos períodos anteriores, pois a sucessão dos profetas cessou. Contudo, a confiança que depositamos em nossos próprios escritos é 15 evidente em nosso comportamento; pois, apesar do longo tempo decorrido, ninguém jamais se atreveu a adicionar, subtrair ou alterar qualquer coisa neles". No terceiro século d.C., Orígenes catalogou vinte e dois livros do Antigo Testamento, preservado por Eusébio, lista idêntica à de Josefo e ao Texto Massorético, incluindo Ester, mas excluindo os apócrifos. Tertuliano, seu contemporâneo, mencionou vinte e quatro livros canônicos. Hilário de Poitiers, no século IV, referiu-se a vinte e dois. Atanásio, em 367 d.C., listou os livros do nosso atual cânon do Novo e Antigo Testamento (exceto Ester), mencionando alguns apócrifos como leitura para novos convertidos, mas não como canônicos. Jerônimo (340-420) defendeu um cânon hebraico no Prologus Galeatus, colocando os apócrifos à parte, incluindo Sabedoria, Eclesiástico, Judite, Tobias e o Pastor de Hermas fora do cânon, e notou a origem grega, mas acreditava que Sabedoria foi escrita em grego devido à sua eloquência helenística. A mais antiga lista cristã existente do Antigo Testamento é de Melito de Sardes (c. 170 d.C.), que listou os cinco livros de Moisés, Josué, Juízes, Rute, quatro livros dos Reis, dois de Crônicas, Salmos, Provérbios, Sabedoria de Salomão, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Jó, Isaías, Jeremias, os Doze Profetas, Daniel, Ezequiel e Esdras. A rejeição dos livros Apócrifos por nós evangélicos se deve primariamente à presença de numerosas heresias, narrativas lendárias e imprecisões históricas e geográficas, elementos que os desqualificam como Escritura Sagrada. Por exemplo, Tobias (c. 200 a.C.) promove a justificação por obras, a mediação de santos, superstições e até mesmo um anjo enganador. Judite (c. 150 a.C.) apresenta uma moralidade questionável onde os fins justificam os meios. Baruque (c. 100 d.C.), apesar de se colocar na época de Jeremias, é posterior e defende a intercessão pelos mortos. Eclesiástico (c. 180 a.C.), similar a Provérbios, contém doutrinas como justificação pelas obras, tratamento severo de escravos e animosidade contra samaritanos. Sabedoria de Salomão (c. 40 d.C.) introduz conceitos como o corpo ser uma prisão da alma e a salvação através da sabedoria. 1 Macabeus (c. 100 a.C.) é um relato histórico dos Macabeus, enquanto 2 Macabeus (c. 100 a.C.) uma narrativa paralela com lendas, ensina a oração e ritos pelos mortos, admite a não inspiração do autor e menciona a intercessão de santos. As adições ao livro de Daniel incluem as histórias de Suzana, Bel e o Dragão, e o cântico dos três jovens na fornalha. 16 Eruditos bíblicos apontam frequentemente erros nos Apócrifos, como D.L. René Paehe, que cita imprecisões históricas e geográficas em Tobias e inconsistências cronológicas e numéricas em 2 Macabeus. Além disso, alguns livros ensinam práticas mágicas para exorcismo, como Tobias 6. 5-9, que contradiz a Bíblia ao sugerir que partes de um peixe têm poder demonífugo, enquanto as Escrituras enfatizam o nome de Jesus para expulsar demônios (Marcos 16.17; Atos 16.18). Outro erro grave nos Apócrifos é o ensino de que esmolas e boas obras purificam pecados e salvam a alma (Tobias 12.8-9; Eclesiástico 3.33), uma doutrina que se opõe diretamente à salvação pela graça mediante a fé no sacrifício de Cristo (Hebreus 9.11-12, 22; 1 Pedro 1.18-19; Romanos 3. 20, 24, 28). Similarmente, Eclesiástico 3.4 sugere que o perdão dos pecados se alcança pela oração em si, desviando da necessidade de fé e arrependimento baseados no sacrifício de Cristo (Provérbios 28.13; 1 João 1.9; 2.1-2). A prática da oração pelos mortos é ensinada em 2 Macabeus 12. 43-46, contradizendo a Bíblia que afirma que o destino após a morte é selado (Mateus 7.13-14; Lucas 16.26) e deturpando passagens como Sabedoria 3.1-4 para sustentar a ideia do purgatório, que é refutada por diversos textos bíblicos (1 João 1.7; Hebreus 9.22; Lucas 23.40-43; 16.19-31; 1 Coríntios 15.55-58; 1 Tessalonicenses 4.12-17; Apocalipse 14.13; Eclesiastes 12.7; Filipenses 1.23; Salmos 49.7-8; 2 Timóteo 2.11-13; Atos 10.43). Além de erros doutrinários, os Apócrifos também apresentam anjos mentirosos (Tobias 5.15-19) algo incompatível com a natureza dos mensageiros divinos (Lucas 1.19), e descrevem comportamentos anticristãos como vingança (Judite 9.2, cf. Romanos 12.17-19) e crueldade/egoísmo (Eclesiástico 12.6, cf. Provérbios 25.21-22; Mateus 5.44-48; João 6.35; Romanos 12.20). Adicionalmente, a Igreja Católica tenta fundamentar a Imaculada Conceição em uma interpretação distorcida de Sabedoria 8.19-20, que contradiz passagens bíblicas como Salmos 51.5, Lucas 1.30-35 e Romanos 3.23. 11 TRADUÇÕES A imperativa de traduzir a Bíblia ecoa o mandamento pós-ressurreição de Jesus para disseminar o evangelho globalmente (Marcos 16.15), dada a miríade de línguas entre as nações. A proliferação histórica de traduções bíblicas em 17 centenas de idiomas atesta a providência divina para a concretização dessa missão. As primeiras traduções incluem as versões semíticas, a saber, o pentateuco Samaritano e os Targuns; as versões siríacas, como a Peshita e a Filoxênia; e as versões latinas, a exemplo da Vetus Latina, da Ítala, da revisão de Jerônimo e da Vulgata. Adicionalmente, surgiram importantes versões orientais, como as egípcias ou cópticas (até o século V d.C.), a Etíope (c. 330 d.C., fundamentada na Septuaginta), a Gótica (c. 350 d.C., também derivada da Septuaginta), a Armênia (século V, baseada na Septuaginta), a Georgina (século V, originária da Armênia) e a Eslavônica (século IX, com base na Septuaginta e ainda em uso). Embora existam traduções para o árabe, sua importância para a crítica textual é menor. No contexto europeu, ressaltam-se as versões em inglês (como a King James Version, a Revised Version, a American Standard Version e a Revised Standard Version) e a tradução para o alemão. No Brasil, destaca-se a tradução de João Ferreira de Almeida, um ministro do Evangelho da Igreja Reformada Holandesa em Batávia (atual Jacarta), que iniciou sua tradução do Novo Testamento, concluindo-o em 1670 e publicado em Amsterdã em 1681, cem anos antes da primeira edição católica em português. Almeida traduziu o Antigo Testamento até Ezequiel 48.21, falecendo em 1691, com a conclusão da obra sendo feita por amigos missionários, especialmente Jacob Opden Akker. Sua tradução baseou-se nos originais grego e hebraico, além das versões holandesa e espanhola. O Antigo Testamento foi publicado em 1753, e a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira começou a publicar o texto completo de Almeida em 1819. O texto passou por revisões em 1894 e 1925, culminando na "Edição Revista e Corrigida" (ARC) em 1951 pela Imprensa Bíblica Brasileira e na "Edição Revista e Atualizada"(ARA) pela Sociedade Bíblica do Brasil entre 1945 e 1955, considerada uma tradução magnífica e de alta qualidade, utilizando os textos grego de Nestle e hebraico de Letteris. João Ferreira de Almeida, nascido em Portugal em 1628, converteu-se ao protestantismo em 1642, aprendeu as línguas bíblicas e foi ordenado pastor em 1656, falecendo em 1691, tendo sido queimado em estátua pela inquisição Católica em Goa. No Brasil, a Bíblia foi impressa pela primeira vez em 1944 pela Imprensa Bíblica Brasileira. A versão em português figura entre as mais populares do mundo, ao lado da Vulgata, da Bíblia de Lutero e da Versão Autorizada em inglês. Três principais entidades evangélicas atuam na publicação e distribuição 18 de Bíblias no país: a Imprensa Bíblica Brasileira (fundada em 1940), a Sociedade Bíblica do Brasil (fundada em 1948, resultado da união das agências da SBA e SBBE) e a Sociedade Bíblica Trinitariana, sediada em São Paulo. As primeiras agências de distribuição de Bíblias no Brasil foram as da SBBE (1856) e da SBA (1876), ambas no Rio de Janeiro, sendo que anteriormente as Escrituras chegavam ao país por meio de comandantes de navios. A Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (SBBE), fundada em 1804, é a mais antiga do mundo, seguida pela Sociedade Bíblica Americana (SBA), fundada em 1816. Em termos de distribuição global de Bíblias, o Brasil ocupa a segunda posição. 12 CONCLUSÃO Em suma, o Espírito Santo desempenha um papel crucial ao implantar no coração do crente, no instante da conversão, uma convicção intrínseca sobre a origem divina da Bíblia, um reconhecimento espontâneo e inseparável da fé em Cristo. Assim como testifica nossa filiação divina, o Espírito Santo assegura que a Bíblia é a mensagem de Deus para nós, conforme ensina Jesus em João 7.17. A história, marcada por sucessos e falhas, revela o impacto fundamental da Bíblia na formação do caráter e no bem-estar físico e espiritual daqueles que se permitiram ser guiados por ela. Nenhum outro livro demonstra um poder comparável para influenciar e transformar positivamente indivíduos e nações, direcionando-os a Deus, sendo o caráter moldado pela Bíblia o argumento mais persuasivo em sua defesa. 13 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS http://www.cacp.org.br/ http://www.sbb.org.br/ Gilberto, Antonio. A Bíblia através dos séculos; A história e formação do livro dos livros. Rio de Janeiro: CPAD, 1992. Oliveria, Raimundo de. As Grandes Doutrinas da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2013. Geisler, Norman & Nix, Wilhiam. Introdução Bíblica; como a Bíblia chegou até nós. São Paulo: Vida, 1997.

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