APLICAÇÕES ATUAIS DA SEMIÓTICA

 

 

 Como bem define Santaella (2002), a Semiótica é um campo de conhecimento que interroga e analisa objetos existentes no mundo, tudo aquilo que significa, ou seja, signos. Parte-se do pressuposto de que tudo aquilo que existe no mundo emite algum significado, sentido, mensagem, assim a Semiótica procura investigar como essa significação é feita, que efeitos de sentido determinado objeto traz ao simples existir. Resumidamente, um signo relaciona três elementos, conforme explica Peirce (1974): É composto por um Objeto (que pode ser um fato); um Interpretante (que pode ser a interpretação que alguém venha a fazer do fato - não confundir com "intérprete"); e um Representâmen, que é o corpo do signo em si. Assim, no Signo há uma relação tripla entre Objeto, Interpretante e Representâmen. Por exemplo, a palavra “mesa" é um Signo: o seu Objeto pode ser uma mesa qualquer; o Interpretante, para você - é a mesa que vem à sua cabeça ao ler a palavra; e  o Representâmen é a própria palavra "mesa”. Na prática, o Representâmen é o veículo da informação. A semiótica é definida por Saussure, como ciência que estuda a vida dos signos no quadro da vida social.

  A principal utilidade desta ciência é possibilitar a descrição e análise da dimensão representativa (estruturação sígnica) de objetos, processos ou fenômenos em categorias ou classes organizadas. Assim, a Semiótica pode contribuir, fortemente, para a eficácia da comunicação social, na medida em que estuda a utilização das linguagens (de carácter verbal e/ou não verbal), considerando os contextos (ligados ao emissor e/ou ao receptor) das mensagens. Admite-se que a comunicação é eficaz, quando o emissor, com a sua mensagem, consegue atingir os seus objetivos junto do(s) receptor(es)-alvo. Em princípio, se o emissor ajustar a mensagem às características do canal de comunicação e ao contexto de recepção e escolhendo-se o meio de comunicação social que melhor chega até ao público-alvo e construir mensagens devidamente ajustadas tanto ao canal como ao(s) receptor(es) pretendido(s), o processo todo se torna mais eficaz.

 Assim, dada a sua natureza, a Semiótica é muito útil no estudo de qualquer fenônemo relacionado à transmissão e retenção de informação: a Linguagem, as Artes e a própria Comunicação. Considera-se, também, que a semiótica ensinada aos cursos de ciências da comunicação deva ser antes mais uma semiótica geral, uma semiótica que ensine os estudantes a analisar as propriedades sintáticas, semânticas e pragmáticas dos signos. É esse estudo que os capacitará para uma abordagem semiótica da comunicação jornalística, publicitária, etc. Daí também que ache que a semiótica deva ter uma característica operacional, isto é, ensinar os estudantes a lidar com os signos, tal como a gramática de uma língua os ensina a lidar com as palavras, na formação e transformação de signos.

              Atualmente, estudar a semiótica é uma necessidade básica do lingüista que deseja compreender o fenômeno pós-moderno da língua; A língua perdeu parte de seu poder comunicativo, que hoje se dá por intermédio de elementos sinéticos e alegóricos, convencionados em milésimos de segundo e depois destruídos; culturas inteiras, complexas que nascem e morrem em menos tempo do que demoramos a aprendê-las; a vacuidade da língua e a nova dimensão da linguagem fazem da semiótica a disciplina mor da nova era da comunicação, incluído aí as artes.

 A Semiótica pode servir para apurar a capacidade de análise da sociedade, vista como um texto, na medida em que nos torna mais perspicazes a observar aquilo que nos rodeia. Assim, ela percebe indícios que revelam tendências sociais. Isto tem importância política e econômica. Veja que a sociedade atual busca cumprir as exigências para que seus produtos venham a tornarem-se objetos de consumo. Nesse sentido, a linguagem é elemento chave no que diz respeito à transmissão de sentido de um produto ao consumidor. Deve-se reconhecer que língua e fala, isto é, a linguagem, é para elementos do produto, o componente de maior importância quando referido à comunicação, pois para que um produto seja vendido, por exemplo, tem que utilizar a linguagem da melhor forma possível para transmitir ao consumidor uma informação e chamar a sua atenção. Além disso, através da forma como é utilizada a linguagem, um objeto de consumo pode ou não se destacar entre outros do mercado.

  Grandes empresas ligadas à moda, fabricantes de tecidos, estilistas, cabeleireiros e, recentemente, a cosmética, têm ao seu serviço equipes de profissionais cujo trabalho consiste em “farejar” as tendências atuais, muito antes de nós, simples mortais consumidores. Profissionais viajam pelos quatro cantos do mundo e mantêm-se atentos a tudo o que se passa à sua volta, a fim de captar, com o máximo de antecipação possível, o chamado “espírito dos tempos”, para depois o transmitirem a todos os produtos de uma marca.

   A Semiótica, também, vem sendo aplicada a vários tipos de mídia, e essa aplicação tem resultado em um melhor entendimento da natureza destas mídias e de como se pode trabalhá-las de forma efetiva. O cinema e o teatro são exemplos de mídias analisadas sob uma perspectiva semiótica. Assim como na análise das obras de arte, muitas imagens que atravessam nosso dia-a-dia da mesma forma apresentam esta dificuldade de compreensão. São livros, internet, revistas, cinema, outdoors, anúncios publicitários e outros que, muitas vezes somados à velocidade de sua veiculação e à velocidade da cultura da hiperinformação em que vivemos, provocam uma tendência a não mais olhá-las atentamente, e, consequentemente, não mais refletir sobre o que está sendo exposto. Podemos então dizer que somos alvos fáceis de manipulação em virtude de certa ignorância quanto ao conteúdo destas imagens. A Semiótica configura-se assim, numa importante ferramenta na decodificação desse aparentemente complexo universo imagético que nos rodeia.

   Percebe-se sua aplicação na arquitetura. É na arquitetura da cidade que encontramos o passado e o presente de uma civilização. Por ela traduzimos gostos, estilos, valores e histórias de épocas diversas. Nela encontramos a memória de uma coletividade, assim como através dela é possível prever, em parte, seu futuro próximo.  Como a Semiótica estuda qualquer fenômeno de produção de sentido, ou seja, seu objeto de estudo é muitíssimo vasto mas definido, acredita na necessidade das pessoas estarem presentes de fato, com todos os seus sentidos para uma eficaz apreciação. A cidade e seus diversos textos visuais, com seus barulhos e ruídos, imagens, cheiros, sensações táteis dentre outros, é um lugar quase que por excelência de uma necessidade e exigência de presença Trata-se, portanto, de um terreno fértil para a aprendizagem semiótica.

Nas cidades, atualmente, existe a expressão das pessoas pelo grafite. Grafite é uma comunicação visual que utiliza a cidade como suporte e a colore através de técnicas plásticas distintas, comportando letras, códigos grupais e ideógrafos complexos. Inscrições elaboradas sobre muros e paredes, privados ou públicos, geralmente pintadas com tinta spray ou tinta látex. Qual a lógica da construção desta linguagem? E qual sua eficiência como veículo de comunicação? A leitura correta dos códigos e dos discursos das inscrições parietais é elemento de extrema importância para a compreensão de cada grafite e para a distinção entre as modalidades das intervenções. 

 Outra aplicação desta importante ciência é o design. O design sendo considerado como uma atividade projetual contemporânea de resolução de problemas, alguns aspectos semióticos devem ser explicitados na etapa projetual, como o tipo de representação, os tipos de interpretações possíveis/necessárias e a relação entre o projeto e produto final. Assim é possível a aplicação do processo semiótico por meio do qual os designs são criados. Considerado, então, como uma atividade profissional de semiótica aplicada, o design é o processo de elaboração e articulação de signos adequados aos contextos visados de interpretação e de uso do produto.

 A semiótica tem utilidade na computação. Como a semiótica é a ciência dos signos, podemos dizer que um signo é qualquer coisa que "está para alguma coisa" para alguém. Partindo deste princípio básico da semiótica, podemos citar como exemplo as "ferramentas" de um software, que embora possam ser concebidas como "ferramentas" em analogia às reais, os elementos de interface de software diferem destas por não existirem como objetos "físicos", mas como signos. O "pincel" num software (ou website) "está para" o pincel real e é representado por uma coleção de pixels na tela. É fácil perceber que quaisquer informações dentro de um computador são Representâmens: imagens, figuras, sons que representam algum objeto do mundo real (e tão perfeitamente que chega-se a falar em realidade virtual!).

 A Engenharia Semiótica é uma abordagem na qual os sistemas computacionais são vistos como artefatos de metacomunicação, através do qual o designer envia uma mensagem para o usuário, cujo conteúdo é a funcionalidade (o que o usuário pode fazer) e a interatividade (como o usuário pode interagir).

  Assim, a perspectiva do computador como mídia, através da qual pessoas se comunicam, vem sendo cada vez mais aceita e usada como base para o entendimento dos sistemas computacionais. A idéia de que o computador é usado através de signos, e de que o projetista propõe signos quando cria um software, gera um novo campo de pesquisa. Este campo de pesquisa é o da Semiótica Computacional, que vem se desenvolvendo nos últimos anos em várias frentes e com diferentes abordagens. É interessante notar-se que se o sistema de significados for de signos baseados em computador, o projetista estará em um papel mais próximo de um escritor, autor teatral ou mesmo de um arquiteto, que propõe signos, do que o de um engenheiro que constrói artefatos.

    Outra aplicação é na música. A semiótica da música é uma ciência que oferece uma visão estrutural flexível e ferramentas teóricas adequadas ao estudo de questões de significação musical nas diversas disciplinas musicais de um grau de especialização maior, tais como os estudos dos sistemas musicais (modalismo, tonalismo, serialismo, aleatorismo, música eletro-acústica, etc.) e suas técnicas (contraponto, harmonia, síntese, etc.), história da música, estética musical e assim por diante. E, significação aqui é compreendida de um ponto de vista amplo, já que, de acordo com Peirce, todo pensamento se dá por meio de signos.

Outro expemplo da utilidade da Semiótica é a aplicação como recurso para  melhorar a comunicação do aluno em ambientes de aprendizagem virtual. Sistemas Hipermídia destinados ao e-Learning podem ser adaptados automaticamente às características individuais do aluno, que incluem preferências (como tipos de fontes, cores, estilos de navegação), dados pessoais (como idade) e outras, que poderiam ser capturadas no processo de  modelagem do usuário.

 

     Na ciência jurídica encontramos a importância da análise pelo processo semiótico. A semiótica do direito tem por finalidade descobrir a estrutura do fenômeno jurídico, por meio do uso de paradigmas indiciários que possam conduzir a inteligência à sua mais ampla compreensão. Dessa forma, podemos verificar que o primeiro paradigma indiciário do fenômeno jurídico é a existência da lei: sem a existência de códigos, consuetudinários ou escritos, não há que se falar na existência do direito.

        Até mesmo na área contábil verifica-se a utilidade e uso da Semiótica.  Considera-se que os profissionais da área da contabilidade e áreas afins devam compreender os signos/termos empregados na área contábil como um dos requisitos necessários para o exercício profissional da função econômica/financeira, mas o que se percebe é que muitos termos geram diferentes interpretações por aqueles que utilizam essas informações.  Este fato relevante tem encaminhamentos onde as informações econômicas e financeiras não são consideradas como importantes no apoio ao processo decisório ou são interpretadas aquém de seu potencial além de, por vezes, nos remeter a equívocos dada a impossibilidade de serem entendidas. A Semiótica estuda a linguagem sob as dimensões sintática, semântica e pragmática, avaliando a qualidade da compreensão da fonte emissora do processo de comunicação contábil.  Nesse caso, não se pretende verificar se os componentes do processo de comunicação das informações contábeis estão interagindo de forma adequada, o que se pretende é socializar a representação social da contabilidade para os vários atores emissores (fontes) do processo de comunicação contábil.

Percebe-se, portanto, uma infindável utilidade desta ciência e outros campos do conhecimento dela se utilizam, interdisciplinando-se para significar novas realidades em novos contextos.

 

 

                                   REFERÊNCIAS

BARBOSA, Maria Elisa Magalhães. A Semiótica na Moda. Disponível em <http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno12-05.html>. Acesso em 20 Novembro de 2009.

 

Centro de Estudos Peircianos. Semiótica: Perguntas e Respostas. Disponível em <http://www.pucsp.br/pos/cos/cepe/semiotica/semiotica.htm>. Acesso em 12 de Novembro de 2009.

 

FIDALGO, Antonio. A Semiótica e os modelos de comunicação. Disponível em <http://bocc.ubi.pt/pag/fidalgo-semiotica-modelos.html>. Acesso em 01 de Dezembro de 2009.

 

NIEMEYER, Lucy. Semiótica no Design. Disponível em <http://www.espaco.com/design/semiotica-no-design/>. Acesso em 02 de dezembro de 2009.

 PEIRCE, Charles Sanders; HARTSHORNE, Charles; WEISS, Paul. Collected Papers of Charles Sanders Peirce. Principles Of Philosophy And Elements Of Logic. Harvard University Press. Cambridge.1974.

PLURICOM COMUNICAÇÃO INTEGRADA. Análise Semiótica em Comunicação Integrada. Disponível em <http://www.pluricom.com.br/areas-de-atuacao/analise-semiotica-em-marketing-e-publicidade>. Acesso em 12 de dezembro de 2009.

 

SANTAELLA, Lúcia. Semiótica aplicada. São Paulo:Edit Pioneira Thomson Learning. São Paulo.2002.

 

SANTAELLA, Lúcia A teoria geral dos signos: como as linguagens significam as coisas. Ed Pioneira. 2ª edição. São Paulo. 2000

 

SEMIOTICS SYSTEMS. O que é semiótica. Disponível em <http://semiotic.com.br/conceito/semiotica.htm>.Acesso em 12 Dezembro de 2009.