APELO                                             

Belo Horizonte, 19-04-1977

 

Neste caminho infindável,

Que me enche de cansaço,

Que me perturba a mente,

Que me desgasta as energias,

Eu me conheci.

 

Eu sou um homem

Que embora nada me falte,

Eu vivo na miséria,

Eu vivo na tristeza,

Eu vivo na angustia.

Talvez a culpa seja minha,

Por não me compreender melhor,

Por me pensar

Um conhecedor da vida.

 

Na verdade eu conheço

Uma boa parte da vida.

É um por cento de prazer,

Enquanto que o resto

É loucura e angustia.

 

Talvez isso represente

Uma boa parte da vida

Mas, essa parte eu conheço.

Não por passar pela fome,

Não por passar pela vida,

E sim por conhecer

Os miseráveis e angustiados,

Que nada esperam da vida.

 

Quem são esses homens                                                     

Para sofrerem tanto assim?                                                                 

Que fizeram eles

Para não ter o que comer?

O que eles não fizeram?

Não é esse povo

Os que mais produzem alimentos?

Porque eles nada tem,

Enquanto quem nada faz

Tem muito e joga fora,

Só pelo prazer de negar

Os restos de seus banquetes?

 

No dia em que um homem

Tentar consertar o mundo,

Peço a todos os sofredores

Que o ajudem em sua tarefa,

Mesmo que seja difícil.

Mesmo que seja por teus filhos.