“Aos pais dos meus irmãos.”


A educação é um fenómeno social e somente inerente aos seres humanos. Em outras palavras, não se educa os cães, as aves ou os insectos, mas educam-se as pessoas que independentemente das suas particularidades, precisam adquirir princípios e valores que os possa transformar em sujeitos socialmente aceites e capazes de contribuir na melhoria do meio em que estão inseridos, isto, através de uma convivência baseada no respeito e na solidariedade.

Este é um texto que dedico especialmente aos pais, onde apresento uma singela opinião sobre a maneira de actuação no que diz respeito a educação dos filhos.

Aos pais, porque tal como defende e bem o eminente sociólogo Emile Durkheim, a educação é a transferência de valores das gerações mais velhas para as gerações mais novas e lamentavelmente, a realidade mostra que os nossos velhos têm tido sérias dificuldades em passar um leque de testemunho para aquela que na visão feliz de Pepetela, é a geração da utopia.

Aos pais, porque, na verdade os filhos são apenas membros de um núcleo criado por estes, ou seja, os filhos (alguns), nascem num seio familiar já com normas estabelecidas, princípios e valores a observar e até mesmo já com desafios a alcançar.

Aos pais, porque destes é a responsabilidade de educar de maneira consciente, eficiente e responsável os filhos.

Aos pais, porque para estes são dedicadas e destinadas as palavras do rei Salomão, segundo as quais:

“Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele.” Provérbios 22.6

Bem, compreende-se perfeitamente que no que concerne a educação dos filhos, os pais procuram desenvolver este processo com amor. Indubitavelmente, os pais esforçam-se em demostrar bastante afecto, mas é daqui a onde transcorre a minha abordagem, alertando que deve-se ter bastante atenção para a grande disparidade existente entre um amor adequado e inadequado.

Segundo Campbell (2003), quando os pais optam por acções que promovam uma educação saudável, um crescimento emocional equilibrado e estimulem a autoconfiança estamos claramente em presença de um amor adequado o que o permite um desenvolvimento salutar do filho. Para o psiquiatra e conselheiro familiar, o inverso acontece quando estes tornam-se exageradamente possessivos e sedutores chegando mesmo a confundir o mimo com educação.

O que os moralistas dizem é que hoje por hoje, verifica-se uma clara inversão de valores, as sociedades andam de patas ao ar, uma situação que tem sido cada vez mais agudizada muito por conta do desenvolvimento tecnológico e que assim sendo, as Instituições devem trabalhar arduamente no sentido de se inverter o quadro, mas o certo é que tal desiderato só pode ser alcançado através de uma aposta séria na educação.

Mas essa mesma educação, não pode e nem deve ser confundida!

A tragédia de uma sociedade ocorre quando esta é portadora de pais que insistentemente confundem mimo com educação porque quando assim acontece, os filhos tornam-se extremamente astutos ao ponto de manipular até mesmo os próprios pais.

Exemplo:
Pai: Fábio você precisa se dedicar mais aos estudos, durante o trimestre os teus resultados não foram bastante satisfatórios.
Filho: Se eu aprovar o papá vai me dar o quê?

Este é um exemplo que pode não ter nada de errado aos olhos de quem entende sobre o processo de ensino-aprendizagem, porque o filho manifesta simplesmente um desejo que se correspondido pelo pai, servirá de motivação extrínseca para o êxito acadêmico do filho. Mas a verdade é que se visto noutro prisma, é demostrada aqui as astúcias de um filho mimado que por conta da sua atitude perante uma simples repreensão, colocou o próprio pai encurralado ou como se diz na gíria, entre a espada e a parede.

O mesmo exemplo, pode ser aplicado em outras circunstâncias, mas os pais precisam ter alguma coragem para admitir quando os filhos estão realmente errados e serem fortes o suficiente para nalgumas vezes lidar com as consequências dos erros cometidos por estes.

A verdade é que, quando exageradamente mimado, o filho torna-se sociopata, sem qualquer apego aos valores morais, mas pior do que isso, é que ele se torna capaz de simular sentimentos para facilmente manipular outras pessoas.

É preciso compreender que a educação vai muito além de uma simples instrução.

O acto de educar, não consiste tão-somente em “depositar” os filhos nas melhores escolas.

A boa educação, pouco ou nada tem haver com o baixo, ou elevado preço das propinas que se pode pagar por um filho.

Pais, compreendam que mais importante do que os mimos, o que realmente os filhos precisam é de orientação e disciplina.

É preciso educar os filhos, principalmente quando crianças, que nem sempre querer é poder!

É preciso educar os filhos que mesmo tendo “tudo”, algum dia a razão poderá lhes faltar e do perdão necessitar.

É preciso educar os filhos que o ter, não faz o ser.

Faço este apelo, consciente de que não existe maior riqueza que podem dar aos vossos filhos se não mesmo a Educação e que de resto sabemos que ela não se vende e tão pouco se compra.

O que todos deviam saber é que nem toda riqueza tem preço e a educação é uma fortuna que jamais pode ser avaliada.

Pais, eduquem os meus irmãos passando o vosso bom testemunho, através do diálogo permanente porque se assim não for, continuaremos a ter uma sociedade atabalhoada.

De resto, é tal como dizia o grande poeta Nzola Ramos:
“Que ninguém se iluda! Promessas do diabo, não cospem paraíso.”

Por: Simão Menezes Fio