ANTOGONISMO DA AVALIAÇÃO ÚNICA NO PROCESSO DE APERFEIÇOAMENTO DO ENSINO NOS CURSOS DE EXTENSÃO – EAD

 

Nelson Dias da Silva

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Resumo

O objetivo deste artigo é demonstrar meu posicionamento crítico e reflexivo sobre o antagonismo existente entre a aplicação de avaliação única ao término de cursos de extensão – Ensino a Distância e a busca pelo aperfeiçoamento contínuo do sistema. 

Palavras-chave: Antagonismo. Avaliação única. Aperfeiçoamento contínuo.

  1. Introdução

        Meu artigo está alicerçado em experiência própria, vez que conclui em 19-05-2.015 o curso – MBA em Recursos Humanos, realizado em 12 (doze) meses em uma Instituição de Ensino Superior, e as avaliações correspondentes ao ensino e aprendizagem eram realizadas ao término de cada disciplina, (avaliações pontuais) o que possibilitava uma auto-avaliação para o docente quanto à didática pedagógica utilizada e para o discente para auto-avaliação quanto à eficiência e eficácia do método de estudo utilizado para a assimilação do conteúdo do ensino recebido em cada disciplina. Diferentemente, o Curso de Pôs Graduação em Formação de Docentes para o Ensino Superior que cursei posteriormente na mesma instituição o desempenho do aluno foi avaliado em uma única vez ao final do curso, portanto, neste caso houve a existência do antagonismo entre a avaliação única no processo e o aperfeiçoamento do ensino e aprendizagem no curso de extensão EAD.

  1. Desenvolvimento

       O processo avaliativo exerce papel fundamental na sua função informativa, conforme já descrito no resumo do presente artigo. A avaliação fornece subsídios para que os docentes e discentes tenham conhecimento dos seus pontos fortes e fracos no processo de ensino-aprendizagem, fazendo com que ambos tomem as providências necessárias para que ocorra um bom desenvolvimento do trabalho pedagógico, ou em casos de resultados indesejável a oportunidade de utilizar novas metodologias para alcançar os resultados educacionais esperados.

       As mutações do sistema de avaliação bem como os seus procedimentos estão diretamente relacionadas com a influência da valorização que se acentuam em cada época, e do desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Hoje, considera-se a avaliação como sendo um instrumento, um termômetro que mede o desempenho que foi obtido em um determinado período, ou seja, ensino e aprendizado. A avaliação da aprendizagem é uma questão político-pedagógica e deve sempre contemplar as concepções filosóficas de homem, de educação e de sociedade, o que implica em uma reflexão crítica e contínua da prática pedagógica da escola e sua função social.

      A LDB (Lei 9394/96) exige aos sistemas de ensino, sejam públicos ou particulares, que efetivem um processo avaliativo contínuo e qualitativo, mediador, em escolas e universidades. O que havia de fato, até o presente, era uma falta de acompanhamento do processo de aprendizagem dos alunos e muito menos com o sentido de prevenir as dificuldades surgidas, observando-os, refletindo sobre a natureza de suas manifestações, replanejando e tomando decisões de caráter puramente pedagógico, tendo-se por base os resultados dos testes e tarefas realizadas. Como conseqüência, a LDB vem tornar obrigatoriedade aquilo que deveria ter sido buscado como meta, já há tempo, tão somente pela sensibilidade dos envolvidos no processo escolar como um todo ou pelas exigências e pressões inerentes a esse processo ou modelo escolar.

2.1. Objetivos das avaliações segundos grandes estudiosos

     A avaliação tem por base acolher uma situação, para, então (e só então), ajuizar a sua qualidade, tendo em vista dar-lhe suporte de mudança, se necessário. A avaliação, como ato diagnóstico, tem por objetivo a inclusão e não a exclusão; a inclusão e não a seleção (que obrigatoriamente conduz à exclusão. O diagnóstico tem por objetivo aquitalar coisas, atos, situações, pessoas, tendo em vista tomar decisões no sentido de criar condições para a obtenção de uma maior satisfatoriedade daquilo que se esteja buscando ou construindo). Luckesi (2002, p. 172-173).

      “A prática avaliativa não irá mudar em nossas escolas em decorrência de leis, resoluções, decretos ou regimentos escolares, mas a partir do compromisso dos educadores com a realidade social que enfrentamos”. Hoffmann (2002)

       A avaliação escolar é o termômetro que permite avaliar o estado em que se encontram os elementos envolvidos no contexto. Ela tem um papel altamente significativo na educação, tanto que nos arriscamos a dizer que a avaliação é alma do processo educacional. (...) O que queremos é sugerir meios e modos de tornar a avaliação mais justa, mais digna e humana. Sant'anna (1995, p. 7)

       No que diz respeito à avaliação da aptidão, ou seja, a bagagem de conhecimentos que o aluno acumula de uma disciplina para a outra, aqui no caso, a avaliação deve subsidiar o professor com elementos para uma reflexão constante da sua prática, sobre a criação de novos instrumentos de trabalho e a retomada de aspectos que devem ser revistos, favorecendo assim, para a tomada de consciência do aluno de suas conquistas, dificuldades e possibilidades para a reorganização de seu investimento no interesse de aprender.

       Ao me referir na bagagem de conhecimento que o aluno acumula, neste caso quero enfatizar da necessidade da avaliação após o término de cada disciplina do curso, pois estaremos indo de encontro ao objetivo da interdisciplinaridade descrita no currículo. A meu ver sem esta avaliação, as disciplinas se confundirão com “justaposição de disciplinas”, o que resultaria em diluição das mesmas de modo a se perder em generalidades. A interdisciplinaridade no ensino proporciona uma aprendizagem muito mais estruturada e rica, pois os conceitos estão organizados em torno de unidades mais globais, de estruturas conceituais e metodológicas compartilhadas por várias disciplinas, possibilitando ao futuro profissional uma visão mais crítica e ampla da realidade.

     “A interdisciplinaridade se apresenta como problema pelos limites do sujeito que busca construir o conhecimento de uma determinada realidade e, de outro lado, pela complexidade desta realidade e seu caráter histórico. Todavia esta dificuldade é potencializada pela forma específica que os homens produzem a vida de forma cindida, alienada, no interior da sociedade de classes.” (Frigotto, 1995a , p.31).

      Entendo do exposto que a interdisciplinaridade pode ser vista como uma possibilidade de quebrar a rigidez dos compartimentos e paradigmas em que se encontram isoladas as disciplinas dos currículos escolares e que não deve ser vista como uma superação das disciplinas, mas, como uma etapa superior das disciplinas, disciplinas essas que se constituem como um (recorte ou subsistema) mais amplo do conhecimento em uma determinada área. Este recorte ou subsistema tem o objetivo de possibilitar o aprofundamento de seu estudo, é uma necessidade metodológica legítima e necessária, porém insuficiente para garantir a formação integral dos indivíduos.

     Considero que a expressão interdisciplinaridade possa ser entre outras definições entendida como uma “teia de conhecimento”, indo de encontro ao descrito por (Queiroz, 2003, p. 100). "Ação na qual um indivíduo mais experiente transmite os conhecimentos, gerais ou específicos, para que outro indivíduo possa compreender e assimilar".

     Um sistema educacional que se compromete com o desenvolvimento das capacidades dos alunos, pode encontrar na avaliação uma forma de reavaliar os investimentos que o professor faz, com o objetivo de que os alunos aprendam cada vez mais e melhor. Nesse caso, a avaliação tem um papel fundamental na aprendizagem do aluno, pois é a partir dela que o professor pode verificar as necessidades que cada aluno possui, e assim, realizar as intervenções pedagógicas adequadas e não como meio de classificação de conhecimentos. 

Considerações finais

      Dessa forma não é intenção do presente estudo denegrir o atual sistema. Mas, colocar em evidência a necessidade da busca constante por inovação, tanto no ensino quando na avaliação.

       Segundo Rodrigues (2009, p. 16) embora avaliações freqüentemente concorram para que se estabeleça um clima de animosidade entre discentes e docentes, as percepções que estes e aqueles têm sobre a avaliação na universidade tendem á concordância.

       A avaliação escolar é sem dúvida de suma importância, uma vez que, é potencialmente o instrumento a ser usado na construção ou no pleno desenvolvimento do modelo de atuação escolar. Lembramos que no ensino regular as avaliações são realizadas bimestralmente, ou seja, período determinado para acompanhar os resultados da didática pedagógica aplicada no ensino e aprendizagem, ficando comprovado que um curso realizado num período semelhante, que possui 11 (onze) disciplinas, sendo 01 (uma) monografia (Avaliação Educacional, Bases Históricas e Filosóficas da Educação, Didática do Ensino, Elaboração de Projetos Pedagógicos e Currículos dos Cursos Superiores, Estratégia para a qualidade do Ensino Superior, Estrutura e Funcionamento do Ensino Superior, Metodologia Científica, Monografia, O professor como Pesquisador, Tecnologia Aplicada ao Ensino e Teorias da Aprendizagem), não pode haver uma única avaliação para o Curso dessa magnitude Pôs Graduação em Docência para Nível Superior, pois haverá o risco de se tornar um sistema examinador.

“o homem é motivado segundo suas necessidades que se manifestam em graus de importância onde as fisiológicas são as necessidades iniciais e as de realização pessoal são as necessidades finais. Cada necessidade humana influencia na motivação e na realização do indivíduo que o faz prosseguir para outras necessidades que marcam uma pirâmide hierárquica. (Abraham Maslow http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/psicologia/maslow-as-necessidades-humanas.htm)

      As necessidades fisiológicas que se encontram como base para a pirâmide, segundo Maslow, representam as necessidades relacionadas ao organismo, como alimentação, sono, abrigo, água, excreção e outros.

      A avaliação única foi realizada em 16/04/16, imaginemos que nesse dia ou no dia anterior ocorresse um contratempo, cujo resultado se enquadraria na base da pirâmide de Maslow, mais especificamente nas necessidades fisiológicas, tais como; morte de pessoas próximas que não são reconhecidas na legislação vigente como sendo familiares, indisposição ou problemas sociais, entre outros, o prejuízo ao aluno seria irreparável, pois em tese, estaria em Dependência em todas as disciplinas do Curso, posto que, conforme o regulamento somente poderia fazer uma prova substitutiva o aluno que apresentasse um atestado médico ou do serviço.

     Segundo Luckesi (2002) existem duas formas de classificar a postura em um sistema de avaliação, quais seja, o sistema avaliador e do examinador. O avaliador sempre busca a melhoria da aprendizagem do aluno, enquanto o examinador só tem por objetivo medir e classificar os conhecimentos dos discentes.

      Lembramos que a melhoria contínua do sistema só vai ocorrer se a avaliação for conduzida com caráter reflexivo e, na medida em que sirva para identificar as carências apresentadas pelos alunos no decorrer da disciplina, e que tem papel fundamental no auxílio ao professor para que este promova possíveis modificações nos métodos de ensino, para que favoreçam o desenvolvimento necessário para alcançar os objetivos planejados. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

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MIRAS, M., SOLÉ, I. A Evolução da Aprendizagem e a Evolução do Processo de Ensino e Aprendizagem in COLL, C., PALACIOS, J., MARCHESI, A. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. 

SANT'ANNA, Ilza Martins. Por que Avaliar? Como Avaliar?: Critérios e Instrumentos. Petrópolis : Vozes, 1995. 

VASCONCELOS, Celso. Algumas observações sobre a mudança na prática da avaliação. Revista de Educação AEC, Brasília, nº 94, p. 87 – 97, jan./mar. 1995.