Antes que seja tarde...

Pai, pai, vem brincar comigo... Pedia sempre o menino quando o pai dele se aproximava.  Tinha tudo que o dinheiro pudesse comprar. Tantos brinquedos, que já nem sabia mais onde guardar... Mas nunca tivera o pai pra brincar.

Era órfão de pai vivo...

Pelo vidro do carro, quando o motorista da família o levava ao colégio, via muitas crianças brincando nos parques. Em meio a elas, adultos sorridentes, que imaginava serem os pais das crianças que ali brincavam festivamente.

Numa ensolarada manhã de domingo, em mais uma das idas ao pronto atendimento por conta duma forte crise de bronquite, o menino viu pelo vidro do carro do pai, o seu Zeca, motorista da família, brincando de bola no parque com o Danielzinho... Pai e filho nem os viram, de tão entretidos... Então o menino chorou...

Numa quarta-feira chuvosa, retornando de mais uma reunião de negócios, o possante Pajero capotou e o pai do menino morreu...

Na ida à capela onde o marido estava sendo velado, a mãe não percebeu que o filho, então com sete anos, levava às mãos uma sacola cheia de brinquedos... Chegando ao local do velório, o menino imediatamente espalhou seus brinquedos ao redor do caixão do pai e começou a brincar. A mãe, amparada por uma cunhada, pegou rápido na mão do menino e tentou afastá-lo do caixão do pai, mas o menino implorou: não mãe, meu pai ta aqui, eu quero brincar com ele...