Inauguramos mais um ano. Como sempre com muitas expectativas e sonhos e algumas dúvidas e angústias. Sem querer assombrar ninguém, podemos dizer que as dúvidas e angústias são maiores que as expectativas e sonhos.

As expectativas são sempre grandes e os sonhos maiores ainda. Afinal, quem ainda não sonhou com toda aquela bolada que vive se acumulando na loteria? Quem ainda não sonhou com um novo trabalho muito bem remunerado? Em ser reconhecido e promovido no ambiente do próprio trabalho?

No ambiente das relações familiares quem ainda não sonhou com o encontro do amor definitivo? Em nunca mais ter problemas ou conflitos familiares? Qual filho que não sonha em nunca mais ser chamado à atenção pelos pais? Qual pai ou mãe que nunca sonhou com um filho exemplar e que nunca traga problemas ou dores de cabeça?

E se pensarmos em temos da cidade em que moramos, quem ainda não sonhou com uma cidade limpa, sem violência? Quem ainda não sonhou em ver os novos prefeitos e vereadores trabalhando em prol da coletividade e não para engordar os próprios bolsos e os de algumas empresas escolhidas a dedo?

Esses são só alguns dos sonhos que nos impelem. Sonhos que nos movem. Sonhos que indicam o quanto ainda temos por realizar, pois se sonhamos em ter é porque ainda não temos. Se alimentamos esperanças é porque isso que nos desespera ou nos angustia ainda não deixou de ser problema.

E, infelizmente para muitos, mas felizmente para a espécie humana, muitos dos nossos sonhos, sabemos de antemão, não se realizarão. Não porque não lutemos por eles, mas porque o ser humano não se amolda aos sonhos. Nem se adapta às expectativas. Tão pouco se limita ao que deve ser – ainda bem, podemos dizer, pois se permanecêssemos sempre dentro das expectativas correríamos o risco de não progredirmos. Como já sabemos o desenvolvimento humano, social, histórico científico... só ocorre quando quebramos os paradigmas, quando quebramos as estruturas, quando quebramos os modelos, quando fugimos das formalidades. O que está previsto não é progresso mas engessamento do cotidiano e da mesmice.

Isso nos leva ao outro lado das festividades do começo do ano.

Começamos o ano de 2009 com vários quadros problemáticos, para não dizermos catastróficos. Expectativas de guerra que não se interrompem. Haja vista os conflitos constantes no oriente. Israel, empurrado pelos Estados Unidos, continua a azucrinar a vida de seus vizinhos. Afinal, a indústria da guerra não pode dar prejuízos principalmente diante das expectativas de alguns tolos sonhadores que tentam construir a paz. Enquanto a guerra for um bom negócio não adianta sonharmos com paz. Assim é o ser humano

O lado nacional dessa problemática se manifesta no empossamento de milhares de prefeitos e vereadores por esse Brasil a fora. É evidente que foram empossados alimentados pelos sonhos de milhões de munícipes. Mas o que realmente vai ocorrer serão frustrações de planos e de sonhos. Na cotidiano da administração pública os prefeitos não conseguirão agradar à população: primeiro porque terão que se manter fieis aos programas de seus partidos; depois porque não foram eleitos por unanimidade e seus adversários não lhes jogarão pétalas de rosas; além disso, a máquina – da corrupção e dos favores pessoais – cobra mais do que a vã honestidade pode oferecer; sem contar que os prefeitos que saem sempre deixam alguns pepinos – quando não bombas – nas mãos dos que vão entrar. Por tudo isso, e muito mais, é que os sonhos dos cidadãos ficarão relegados ao um outro tempo – se der tempo.

No panorama mundial se apresenta o monstro de uma crise econômica. Evidenciação de que o capitalismo sobrevive a partir de crises cíclicas. Aqui não temos espaço para discutirmos todas elas. Mas já ocorreram várias e com vários nomes: só para mencionarmos algumas, já ocorreram crises que deram origem às duas guerras mundiais; que deram ocasião à derrocada do socialismo soviético e alemão; além, é claro, daquela de 1929, que é a única que os livros de história mencionam como crise do capital. Portanto essa, que ora se alastra não é novidade. E atingirá a todos nós. Com a vantagem de que todo momento de crise é momento de crescimento. Crise é momento de purificação.

Como momento de purificação é que se pode falar da crise ecológica. Bastante comentada nos últimos tempos, mas pouco levada a sério. A grande vantagem dessa crise ecológica é que poderá ser a crise definitiva para a espécie humana. Crises sociais, econômicas e de outras envergaduras podem ser remediadas. Mas não as crises que se referem à natureza. Podemos nos preparar para seu agravamento: aumento do calor, diminuição das águas potáveis, deslocamentos dos centros de calor e chuvas – como vimos nestes últimos meses de 2008. A grande vantagem da crise ecológica é que foi provocada pelo homem e pode ser revertida por ele. Mas todos seremos atingidos. Além disso, se não a revertermos, podemos dizer, com certeza: os humanos dependem da natureza, mas a natureza não depende dos humanos...

Essas são somente algumas considerações sobre o novo ano que estamos inaugurando. Como sempre, repleto de sonhos e expectativas boas, mas, ao mesmo tempo, contornado por cenários de catástrofes.

Como será, concretamente o futuro? Esperemos para ver!

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

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