Anjo ou demônio
Publicado em 26 de abril de 2015 por Themis Groisman Lopes
Anjo ou Demônio?
Ângelo. Assim a mãe decidiu chamar o primogênito recém-nascido. Ângelo, porque tinha cara de anjo.
Embora a mãe fosse costureira e o pai, torneiro mecânico, Ângelo teve tudo de bom e do melhor. Colégio, livros, tênis, mochila. Bicicleta, bola de futebol. Televisão e videogame. O menino cresceu forte, bom, amoroso. A mãe, com os dedos, furados de tantas agulhas, o pai de pele encardida da graxa das máquinas, acreditavam que o menino teria um futuro brilhante. Coisa de anjo mesmo.
Ângelo foi também um rapaz, atencioso e gentil. Um anjo personificado, diziam todos que o conheceram.
Estudando com dedicação e afinco, tornou-se universitário. Relacionou-se bem com os colegas, e principalmente com uma estudante de filosofia, Jezabel, oriunda de uma família abastada. Seu pai era senador e sua mãe uma socialite, que vivia de forma leviana e vaidosa. Pouco falavam com a filha, que fora criada por empregadas.
Ângelo e Jezabel iniciaram um namoro.
A mãe de rapaz, Alice, não via com bons olhos o romance. Dizia que a diferença social era muito grande para que o namoro desse certo. Ângelo considerava a namorada uma pessoa dotada de bons sentimentos. Os dois eram parceiros e se amavam
Aos poucos, Jezabel mostrou-se uma pessoa revoltada com a ausência dos pais, e com visíveis ciúmes do amor que os pais do namorado demonstravam em relação a ele.
Na troca constante de projeções e introjeções entre os dois, Ângelo começou a ter vergonha da pobreza dos pais e orgulho da riqueza da namorada.
Jezabel sedutora como uma sereia, lançou seus encantamentos para o pai de Ângelo. Alice relatou ao filho, que não acreditou, voltando-se contra a mãe, passando a agredi-la com palavras ásperas.
A vida familiar de Ângelo tornou-se infernal. A briga principalmente com a mãe era sempre a refeição principal do dia. Jezabel estimulava a tensão entre os dois.
Ângelo sentiu que estava enlouquecendo. Começou a ver fantasmas. Enxergou Jezabel aos beijos com seu pai. Ficou desconfiado de tudo e de todos. Até que um dia ao olhar-se num espelho, viu refletida a figura de um demônio. Saiu à rua pedindo socorro. Foi internado num hospital psiquiátrico.
Enquanto isso, Alice ao chegar em casa não encontrou mais o marido, mas apenas um bilhete engraxado, em que lê: estou indo embora para sempre Alice, pois acho que geramos um diabo. Quero logo o divórcio. Jezabel e eu queremos nos casar. Ela está esperando um filho meu, que garanto será um anjo de verdade. Assinado: Mefistófoles.