Nenhum indivíduo pode ir sozinho além de um determinado ponto de desenvolvimento, independente de seu grau de instrução, de devoção ou de experiência em trabalhos esotéricos. Mesmo Buda e Joshua bem Miriam de Nazareth fizeram parte de uma Tradição, embora tenham rompido com a principal corrente de suas épocas. Ambos foram treinados por professores e grupos, e estavam saturados dos métodos utilizados. Uma pessoa que não lê um livro, nunca comparece a um serviço religioso ou desempenha qualquer prática espiritual também estará influenciada pelos valores esotéricos indiretos próprios daquela cultura. Contudo, isso não é suficiente, e só conduz a pessoa até o ponto exterior de uma Tradição viva.

Um indivíduo que, na antiguidade, buscasse instrução espiritual poderia dirigir-se a uma escola para a alma. Os judeus tinham o grupo interno de estudo de rabino; os cristãos, o monastério; e os muçulmanos, o círulo sufi local. Hoje em dia tal situação não existe. A maneira ortodoxa perdeu muito de sua autoridade e a forma espiritual, sua autenticidade. Enquanto alguns acham que podem agir dentro da situação religiosa convencional porque possuem uma profunda crença na essência de uma Tradição, outros exigem mais. Desejam seguir um caminho de conhecimento profundo de Deus, e para estes nada os satisfará, a não ser um contato direto. Podem estudar e praticaar o sistema e métodos de trabalho de sua própria tradição durante muitos anos ou, como fazem muitos, até mesmo buscar um caminho em uma Tradição que seja desconhecida em sua cultura, pois não estará relacionada a más lembranças. Mesmo neste caso haverá uma época em que encontrarão os mesmos problemas de identidade e de realidade, caso não se acostumem à cultura daquela Tradição. Com freqüência, as pessoas retornam às suas origens; algo profundo se atrai para suas raízes. Não significa necessariamente um retorno ao convencional, mas de uma Linha esotérica que opera dentro de sua cultura e civilização. Buscarão contato com uma escola ou com um grupo que os conduza à essência secreta de sua própria Tradição.

Contudo, antes de se atingir esse estágio, obtém-se diversos tipos de compreensão sobre grupos. O primeiro é a compreensão de que não nos desenvolvemos sozinhos. Nenhum esforço nos conduzirá além do alcance do ego. A pessoa que leu todos os livros sobre o assunto mas não tem ninguém com quem debater, logo se tornará convencida de que só ela conhece os fatos, porque essa informação é gradualmente absorvida pelo ego, que forma um conjunto fixo de opiniões sem questionamento. O indivíduo que passa horas orando, também pode entrar em um estado que é chamado de “ego-beatitude”, no qual ele se convence de que está em contato direto com Deus. Isso pode acontecer, porém, a menos que possua uma forte conexão com o mundo exterior, é possível que isto se transforme em loucura, na qual a pessoa se sente superior a todos aqueles envolvidos com os aspectos terrenos da vida. Os direcionados para o físico podem, do mesmo modo, entrar em estado de ego-santidade, passando anos trabalhando seus corpos para torná-los perfeitos, considerando a mente e o coração como secundários. Todas essas situações possuem em si um elemento desequilibrado e obsessivo, que afeta até o mais consciencioso; após um certo tempo, a característica principal de tais indivíduos é que não desejam saber de qualquer outra maneira de trabalhar. Com muita freqüência, apenas aquela parte de sua vida estará em ordem, enquanto o resto, como os relacionamentos e a profissão, será negligenciado ou se tornará caótico.

O explorador que reconhece essa separação como perigosa atinge o ponto em que compreende a necessidade de trabalhar com outros para contrabalançar qualquer tendência excessiva do ego, o qual invariavelmente obriga a vida a seguir seus próprios critérios, em muitos casos evitando conflito ou buscando solidão. Trabalhar com outros não é fácil, em especial quando se pensa que se sabe, e é um sinal de maturidade admitir que só se obtém progresso ao se submeter a uma situação de aprendizado mais ampla. No início, isso se consegue com alguém que partilhe de opiniões semelhantes. Pode ser um tipo de parceiro que vamos supor ser um igual. Trabalhar com outro que seja inferior nessa área é uma situação repleta de perigos, os quais reforçariam a dominação do ego. Muitas pessoas começaram com as melhores intenções, e terminaram como figura paterna ou irmão de tal parceiro. A situação a dois não é uma combinação satisfatória. Acontece, naturalmente, uma polarização na qual um parceiro deve ser o predominantemente ativo, e o outro, passivo. Isso, com o passar do tempo, gera uma tensão e, às vezes, uma crise que tem pouco a ver com o trabalho desta maneira, mas apenas se um dos dois é um superior e o outro aceita a situação, como um mestre de dança ensinando um estudante.

Trabalhar a três é possível porque aqui a dinâmica é totalmente diferente. Se todos os três membros desse grupo menorrrr forem iguais, as polaridades podem, então, se alternar, ficando o terceiro papel como intermediário. Está claro que isso segue a lei da tríade, na qual um fluxo se torna possível porque a energia não está totalmente mantida em oposição. Três pessoas trabalhando juntas em um tema, devoção ou ritual podem firmar a presença de um grupo. É muito diferente do relacionamento entre duas pessoas, que tende a ser pessoal. Três podem criar uma intimidade formal, no sentido de que será um grupo que concorda com um conjunto de critérios que governa a situação. Assim, enquanto um fala, os outros escutam; ou enquanto um conduz a oração ou o ritual, o outro segue, cada qual desempenhando um papel que pode ser mudado de positivo para negativo e neutro. Isso facilita o movimento de todos. Contudo, mesmo aqui, a não ser que esteja presente um superior (ainda que só por um grau), só pode haver um progresso limitado, pois não existe ainda qualquer conexão com um veículo maior, do qual possam adquirir poder e experiência.

Um veículo maior não significa apenas um grupo maior, embora isso ajude, pois expande o campo do que está sendo estudado e praticado, mas quer dizer que um grupo opera de forma mais efetiva com o aspecto esotérico ou externo do trabalho espiritual. Pode significar examinar assuntos tradicionais, manter reuniões de meditação ou conduzir exercícios físicos prescritos, planejados para expandir a consciência. Todos estes métodos estão amplamente disponíveis no mundo inteiro. Um grupo maior, com certeza, produzirá mais energia e dará maior atenção a essas atividades; porém, existem também algumas desvantagens, se não houver conexão direta com alguma Tradição viva.

Depois de três, o próximo número crítico de um grupo é o sete. Aqui começa a questão da liderança. A menos que um líder seja eleito, sempre haverá confusão, conversas paralelas e uma divisão em facções separadas. Deve haver um foco dirigente, ainda que apenas formal, para manter a ordem ou dar instruções durante a meditação ou os exercícios. Se o grupo ainda não possuir um superior ou tutor, então é bom ter uma liderança rotativa entre os membros. Como acontece com freqüência, contudo, algumas pessoas não se sentem à altura da tarefa e preferem que outras façam o trabalho. Este fato deixa a liderança entre os que tomam tais papéis como um dever, e os que buscam poder ou somente atenção, consciente ou inconscientemente. Em algumas ocasiões, o líder natural do grupo aparece rapidamente, e as pessoas aceitam a imparcialidade ou a autoridade de uma pessoa que parece ser capaz de coordenar o grupo sem perturbar a sua unidade. Em geral, só se atinge esse estado amistoso depois de uma luta de poder entre diversas pessoas; porém, nenhuma delas está apta a dirigir o grupo por causa da compulsão de seus egos. Com freqüência, os derrotados deixam tal associação e buscam realizar seu desejo de governar em outra parte. Aqui começamos a perceber a vantagem de se ter no comando um tutor treinado.

O líder natural é com freqüência o menos agressivo, o que é contrário à situação social normal. Tal pessoa surge, em geral, depois de algum tempo, quando as pessoas reconhecem sua inerente sanidade e estabilidade. Seus comentários, que são percebidos como pertinentes, muitas vezes resumindo o que o grupo necessita e não o que qualquer indivíduo deseja, são apreciados e geram o respeito necessário. Tais pessoas, muitas vezes, são as de alma mais amadurecida, embora possam não ser as mais velhas em idade. São também com freqüência os membros mais equilibrados do grupo, pois são capazes de deixar de lado seus próprios desejos, ou ego, enquanto o consenso do grupo se adianta. A liderança natural é um grande recurso, pois elimina o desperdício de energia das politicagens do grupo e concentra todos os esforços em uma única direção, que proporciona ao grupo a estrutura e a energia que este não obteria de outro modo. Se não aparecer um bom líder em um grupo desse tamanho, então este se dissolve ou se transforma em uma ditadura na qual os fracos e crédulos serão mantidos, enquanto os membros mais experientes se oporão ou partirão, pois ainda se está lidando com o nível animal dos grupos que surgem e se dissolvem.

Em grupos ainda maiores, a dinâmica aumenta e a estrutura começa a se diferenciar de acordo com as leis de rebanho, pois ainda não há verdadeira conexão espiritual. Muitas das chamadas organizações esotéricas são dirigidas desse modo. Por exemplo, muitas vezes existe o poderoso líder que é visto como mestre, e próximo do trono, os membros leais com os seus diversos graus de Seres menores estratificados em classes, de acordo com sua dedicação ao guru. Em uma escola esotérica real, a principal lealdade é para com a Verdade, e não para com uma pessoa, mas muitas vezes encontramos a personalidade do líder como atrativo, e não como veracidade do Ensinamento. À medida que o explorador se envolve com grupos maiores, ele deve estar ciente dos critérios pelos quais estes grupos são dirigidos, porque muitas vezes o que começa como uma verdadeira reunião para a procura de sabedoria, se transforma em instituição centralizada sobre uma personalidade, com tudo o que acompanha tais organizações: seus burocratas, suas regras mesquinhas e seu departamento de relações públicas.

Tendo examinado a tentativa de formar um grupo sem um tutor iniciado e os problemas que ocorrem quando um organismo esotérico se desenvolve, vamos examinar agora alguns grupos já existentes que o explorador pode encontrar, antes de encontrar o que realmente busca. Podem ser grupos que tiveram conhecimento anterior, ou possuem um líder que realmente sabe algo do conhecimento superior, mas que não o está transmitindo corretamente.