ANALISE SEMANTICA DE ALGUMAS PALAVRAS E EXPRESSÕES NA OBRA “O QUINZE” DE RACHEL DE QUEIROZ

AZEVEDO, Maria Atacília Almeida

 

Resumo: Este artigo vem mostrar, analise semântica das palavras e de expressões no regionalismo dentro da obra “O Quinze” de Rachel de Queiroz, com a finalidade de mostrar característica e expressões regionais dentro do campo semântico. As palavras empregadas junto com essas expressões para mostrar a língua têm um valor cultural, de grande importância tanto dentro da literatura como na semântica, dentro do contexto histórico da autora, na sua riqueza de detalhes.

 

Palavras-chave: Rachel de Queiroz; Expressões; Regionalismo.

 

INTRODUÇÃO

Junto às mudanças culturais, a humanidade acaba exercendo uma atividade de criar significados sentidos para as coisas, para expressar a comportamentos visões de mundo através do uso da língua, através da semântica pode nos aprofundar nessa área. Esse fato se da principalmente pela língua associada com a atividade criadora do ser humano, que cria novas expressões significados novos, nos permitindo mergulhar nessa riqueza lingüística.

Nesse artigo podemos fazer uma analise sobre conteúdos semânticos  no regionalismo da a obra  “O Quinze” de Rachel de Queiroz, temos como objetivo mostrar expressões utilizadas  na fala  dos  personagens. A importância dessas expressões no contexto da obra, pois a língua sendo um dos instrumentos mais importantes para a comunicação da humanidade, onde através de uso dela podemos conhecer culturas, aspectos de seus vocabulários.

Esse trabalho apresentará vida e obra da autora, e como Rachel de Queiroz chegou a se inspirar para escrever um livro descrevendo uma realidade vivida pelo povo de sua terra, e essa mistura de realidade com ficção junto com um conjunto de expressões regionalista. E em seguida o sentidos dessas expressões, os sentidos dessas palavras dentro do campo da semântica, com aspecto teórico acerca dessa temática, e seus valores para nossa realidade.

RACHEL DE QUEIROZ – Vida e Obra

Rachel de Queiroz nasceu em 17 de novembro de 1910, em Fortaleza Ceará, filha de Daniel de Queiroz e de Clotilde Franklin de Queiroz, tendo certo grau de parentesco com José de Alencar. Tendo sua raiz familiar em Quixadá. Sua família fugindo da seca parte para o Rio de Janeiro, esse teria sido um dos motivos que levaram a escrever “O Quinze” retratando a realidade da seca em sua terra, depois de um tempo retornam ao Ceará, onde começou a escrever cartas para o jornal “O Ceará”, pegando gosto pela literatura.

Ao longo de sua vida Rachel escreveu romances, livros infantis, crônicas, peças de teatro e também adaptações de suas obras para Televisão e cinema, também fez alguns trabalhos como tradutora. Ela foi a primeira mulher a ingressa na Academia Brasileira de Letras no ano de 1977, conquistou desde cedo sua independência financeira trabalhando como tradutora, escritora e jornalista .

Na obra podemos perceber como a autora mistura realidade com ficção, mostrando a realidade e causadas pela grande seca ocorrida no Ceará em 1915. Voltando para o Rio de Janeiro em 1939, a partir daí Rachel começa uma nova fase em sua vida, mas nunca esquecendo suas origens, onde o “imaginário, costumes, religiosidades, crenças, línguas, símbolos, retratando uma temática regionalista, em especial a busca pela oralidade, de certo modo de falar de sua gente” (CUNHA, 2008, p.107), pois não abria mão de passar meses em sua fazendo em Quixadá interior do Ceará.

Descreveu com uma riqueza de detalhes, esse grande e penoso momento vivido pelos retirantes nordestinos, com um amplo conhecimento do campo literário abordando os flagelos da seca. Juntou observação com imaginação para escrever usando esses componentes para a elaboração de uma obra que logo teve reconhecimento pela critica, o plano de fundo da obra é a seca ocorrida em 1915 como foi à vida dos retirantes nesta época.

Rachel de Queiroz faleceu no dia 04 de novembro de 2003 do Rio de Janeiro, aos 92 anos. Deixando um rico acervo literário, e sua marca na historia de Literatura Brasileira, alem do grande reconhecimento nacional deixou uma grande herança histórica e cultural para as futuras gerações.

REGIONALISMO NA LITERATURA

O regionalismo na literatura mostra expressões típicas da região, seus diversos significados, junções de palavras determinando um significado diferente que as palavras têm nos dicionários, de acordo com Lucia Miguel pereira (1973, p.179) “costumes e linguagens locais, cujo conteúdo perderia a significação sem esses elementos exteriores, e que se passem em ambientes onde os hábitos e estilos de vida se diferenciem dos que imprime a civilização niveladora.”

Um dos objetivos da literatura regional é mostrar entre esses aspectos, mostrar os dialetos, as inúmeras expressões de diversas regiões. A temática da obra mostra que é regional traz muitas expressões, mostra um dos objetivos desse tipo de literatura. A real presença de recursos da língua falada, nesse sentido Rachel nos mostra com certa genialidade, a linguagem popular  passa para a escrita,com sua maneira única de usar as palavras mostra um estilo forte e rico de expressividade.

 Por esse motivo é tão rico de conteúdos na área da semântica que podem ser analisados, podendo aprofundar um estudo nesse campo tão cheio de conteúdos a serem estudados. “Essa analise pode se da com base em alguns teóricos, e a função da linguagem as formas como é estudada, buscando um maior entendimento na área.” A função “social é o traço mais importante da linguagem “ (MARQUES,2001:43),essa função social serve para se chegar ao um ponte de analise mais profundo das expressões regionalistas.

EXPRESSÕES USADAS DENTRO DA OBRA

Rachel usa nomes de plantas regionais para expressar, como se encontra o lugar, em que se dá a realidade do momento quando ela usa expressões como:

[...] A água do riacho afina, afina [...] (p.15)

[...] encostado a uma jurema seca [...] (p.14)

[...] O céu transparente que doía, vibrava, tremendo feito uma gaze repuxada. [...] (p.17)

            [...] O pasto, as várzeas, a caatinga, o marmeleiral esquelético, era tudo de um  cinzento de borralho. [...] (p.20)

São usadas para demonstrar outro sentido que não usa os dicionários, a primeira ela usa para falar que as águas estão secando, mostrando um cenário arrasado pela estiagem denotando o calor e a falta de água. Já a segunda expressão descreve a situação da fauna e flora com a resistência seca e seus agravantes. A esse respeito Furtado fala na citação abaixo:

“acentua a agressividade do ambiente / situação, à medida que orienta para outras considerações do cenário da seca: o clima é semi-árido, seco; a temperatura elevadíssima é, também, absorvida pelo vento; a chuva não cai – o céu transparente, sem nuvens densas, “carregadas”, enquanto prenúncio de chuva –; e o ambiente torna-se inóspito a todas as criaturas. Neste caso, podemos, ainda, estender o sentido de transparente a toda à paisagem que, por conta da seca, se torna sem cor e sem vida” (FURTADO, 2006 p.18). 

Os animais também são descrito pela autora como eles suportam o calor e resistem à seca, por meio de um campo de estudo semântico dos animais, como podemos ver em:

Reses: Gado
[...] Reses magra,com grandes ossos agudos [...] (p.14)

Garrotes: bezerros acima de um ano de idade

[..] Garrotes magros, de grandes barrigas, empurravam as vacas de cria, atropelando-se[...]  (p. 19)

 Pode-se observar nos trechos citados acima sofrimento dos animais descrito por Rachel de Queiroz, a sede a fome e clima do sertão, o gado sendo os animais que mais sofrem com a seca. Ela também descreve como esses animais sendo como símbolo de vida no sertão, pois mostra a luta para que esses animais sobrevivam como esperança para seus proprietários.

A descrição dos lugares por onde passaram os retirantes Chico Bento,  Cordulina e  seus filhos, durante a caminha em buscar de sobrevivência passaram por vários lugares abandonados descrevendo também as moradias e também de outros personagens.

Como:

 Verãozão- verão intenso, sem previsão de chuva; “verão seguro”

“Vicente lastimou-se:

─ Inda por cima do verãozão, diabo de tanto carrapato... Dá vontade é de deixar morrer logo!”(p. 15)

 Latada - cobertura improvisada, feita geralmente com palhas de coqueiro e sustentação de paus em forquilhas; serve de alpendre nas casas pobres sertanejas

“Na latada, coberta de folhas secas, o cachorro cochilava no mormaço.” (p. 25,)

 Taipa - Parede feita de barro amassado jogado contra uma armação de varas fino e tronco mais grosso.

“ A velha casa de taipa negrada ao sol o telhado de jirau” (p.25)

 Entanguida (ou intanguida) - inteiriçada, sem ação, tolhida pelo frio

“Quando Vicente foi chegando em casa,... a família toda cercava uma ovelha... que toda entanguida, tremia, com as pernas duras e os olhos vidrados:

─ Salsa, não foi?” (p. 26)

 Babau - jumento

“Pensava na troca. Umas reses tão famosas! Por um babau velho e cinqüenta mil réis de volta! O que é a gente estar na desgraça...” (p.33).

 Pia-  excessivamente salgado; comida extremamente salgada

“Pondo na boca o primeiro pedaço, Chico Bento cuspiu:

─ Ih! sal puro! Mesmo que pia! “(p.41)

 As relações dessas palavras com a realidade descrita nos capítulos, mostram traços marcantes dentro da semântica, sendo propriedades diferenciadoras.Uso dessas expressões, “de propriedade semântica”   fazem parte dos fenômenos relacionados a  língua e forma que são empregados na fala, Marques fala que “ os indicadores semânticos corresponderiam a   componentes que indicassem propriedades semânticas.” (MARQUES,2001p:102). Os estudos dessas expressões ajudam a promover um melhor entendimento da língua, estudar esses campos semânticos, o entendimento de como se dá o uso de palavras e sua expressividade.

Por meio dessas palavras a autora descreve a pobreza e o modo simples dos lugares e objetos usados pelos retirantes, esses objetos dentro do campo da semântica são usados como símbolo de miséria. Os fenômenos naturais tendem a influenciar o uso dessas palavras e expressões, tornando-se parte de seu contexto social, Saussure  (1988, p. 17)fala que :

 “[A língua] é somente uma parte determinada, essencial dela [da linguagem],indubitavelmente. É, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos.” 

Assim ele fala o homem pode construir sua própria língua, que a linguagem pode ser considerada uma faculdade natural dos indivíduos, no sentido social sendo um sistema de convenções. Os homens adquirem ao longo do convívio socialmente falando, acaba se criando esse sistema e essa variação de palavras.

É notável dentro da obra a presença dessas variações lingüísticas, que são geradas pela influencia de fatores ligados a natureza, social, histórica e cultural, entre outros. Com tudo isso se percebeu  dentro da obra a língua com seu lado intelectual na escrita, mas percebemos uma afetividade nas palavras empregados pela autora, nos mostrando um certo grau de expressividade na linguagem usada na Obra.

Desse modo, o cenário, as imagens construídas dentro da obra apresentam elementos compostos de usa da natureza geográfica apresentando-se sem vida, já que em condições normais é caracterizada pelo verde, sendo símbolo de prosperidade, de vida esperança para o sertão. Também elementos como algumas espécies de animais, apear da presença constante da morte, com uma fisionomia que mostra nitidamente os efeitos da seca, mostrando à fome, a miséria, a desolação causadas pela estiagem, deixando as pessoas sem muito perspectiva de vida.

Expressões e palavras que vemos que são usadas até pelas pessoas, nos dias atuais, ser humano em sua essência tende a carregar esse uso de expressões em sua essência. Esses hábitos, são aceitos  pelo certo grupo sociedade  ou subgrupos ligados a essa  tradição aprendida pelos indivíduos,como parte de sua cultura.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Podemos concluir que, as expressões  encontradas na obra  “O Quinze” de Rachel de Queiroz é de um caráter regional. E que estudar  expressões e algumas palavras dentro do regionalismo dessa obra, analisamos que a cultura dessa  época uma vez sendo as palavras parte fundamental  da cultura, e expressada através da língua.

 Que pode se estudar a semântica dentro de textos literários, principalmente os ligados ao regionalismo pela carga lingüístico dentro das obras. Que esses estudos dentro da área da semântica pode nos ajudar na compreensão de mundo de indivíduos, viventes em uma sociedade. Analisando os vocabulários, aspectos sociais, nos mostram uma sociedade de valores e costumes que se identificam com a realidade da autora.

Conclui-se que esse valores abrangem o campo lingüístico semântico, literário,com personagens cheias de espontaneidade em  suas falas, no que se referem a língua.Também no que se refere a uso de expressões, que fazem parte do popular, caracterizando aspectos culturais de um determinado lugar , nesse caso o nordeste, mais particular o sertão do Ceará, num período doloroso para os habitantes desses lugares.

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REFERÊNCIAS

CÂMARA JÚNIOR, J. Mattoso. Dicionário de lingüística e gramática: referente à língua portuguesa. – 13. 2d.- Petrópolis, Vozes, 1986

CUNHA, Cecília Maria. Rachel antes do ‘Quinze’. Jornal O Povo. Rev. Humanidades, Fortaleza, 2008 V.23,n, p.107-119.

FURTADO, Clecia Maria Nóbrega. Expressões de fala em O Quinze, de Raquel de Queiroz: uma análise léxico-semântica. Universidade Federal da Paraíba. Programa de Pós-graduação em Letras. João Pessoa: 2006.

MARQUES,Maria Helena Duarte. Iniciação a Semântica: Maria Helena Duarte Maques.5.ed.Rio de Janeiro:Jorge Zahar.Ed.2001

MIGUEL- PEREIRA, Lúcia. História da literatura brasileira: prosa e ficção-1870-1920.3.ed. Rio de Janeiro:1973

QUEIROZ,Rachel de1910-2003.O Quinze/Rachel de Queiroz.77ªed.Rio de Janeiro:Ed.Domingos Olimpio,2004

SAUSSURE, Ferdinand de, Curso de Lingüística Geral. São Paulo : Cultrix