UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA

CURSO DE LETRAS HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA

FRANCISCA KELY FURTADO DE SOUSA AZEVEDO

 

ANALISE DOS POEMAS DO LIVRO “UMA SOMBRA NO ESPELHO”

 

SOBRAL- 2013

ANALISE DOS POEMAS DO LIVRO “UMA SOMBRA NO ESPELHO”

AZEVEDO, Francisca Kely Furtado de Sousa1.

 

RESUMO: Sabemos que a arte de narrar histórias atravessou séculos chegando até hoje, que tem como modelo a expressão popular tendo como influencia as histórias vividas e sentimentos sentidos repassado em poemas. Desde muito tempo sabemos que os poetas usam seus poemas para expressar seus sentimentos e suas vontades. Como base de estudo tem-se o livro Uma sombra no espelho de Dimas Carvalho (2013).

Palavras-chave: Poemas. Sentimentos. Dimas.

 

1. INTRODUÇÃO

José Dimas de Carvalho Muniz, professor, contista e poeta contemporâneo nascido em 1964 em Acaraú, cidade do litoral Oeste do Ceará. Atualmente é professor de Teoria da Literatura e LiteraturaBrasileira na Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA em Sobral. Publicou vários poemas, vencedor de diversos concursos literários, pertence à Academia Sobralense de Estudos e Letras, onde é o titular da cadeira 18, cujo patrono é o Padre Antônio Thomaz 1ºpríncipe dos poetas cearenses, e também nascido no Acaraú. Seus textos tem sido publicado em jornais e revistas do Ceará e de outros estados.       

O título do texto “Uma Sombra no Espelho” justificado pelo autorlogo após a dedicatória da obra onde ele diz: “Se a literatura (a poesia) é mimese – imitação, reflexo e espelho da Realidade – a imagem que ela projeta oblíqua, indireta e ambígua, jogo de sombras num cristal fragmentado: entre as duas, eterno e transitório, este Ser frágil e cruel – o Homem.” Com essas  palavras o autor nos coloca a frente do que a obra irá ressaltar a constante insatisfação e indecisão em que vivemos, descritos por ele nas inúmeras poesias que relatam o desconhecimento de si e do outro na tentativa de decidir o que de fato habita o imenso vazio de nosso ser.

Ao fazermos uma análise da obra “Uma Sombra no Espelho,” percebemos que opoeta escreve aquilo que vive em seu mais oculto e deslindável eu, lendo-atorna-se fácil compreender o que o autor nos revela, porém é impossível não adorar as belas poesias expressas no livro e não tomar aquilo que ali foi escrito para si e levar todas essas importantes reflexões para sua vida, pois facilmente conseguimos identificar o que se passa. Identificamos as pessoas e julgamos quem elas são, porém reconhecer quem realmente somos isso torna-se um árdua tarefa que pode consumir muito tempo até mesmo uma vida inteira, em busca do seu verdadeiro eu, que por vezes vive ausente. 

2. O SENTIDO NA CONSTRUÇÃO DOS POEMAS

A obra faz parte de uma reflexão interior que todos nós buscamos encontrar, ao ler o livro, começamos a ser tocados iniciando essa análise interior logo nos 1º e 2º poemas, do Cap. I“As Sombras”. Onde o poeta expressa essa reflexão que por vezes se distancia de seu entendimento e começamos a pensar o que somos, onde estamos e para que viemos, de quem será essa sombra que vemos refletir diante de nossos olhos. Que sentimentos esse ser sente, essa atmosfera de incertezas que norteiam nosso existir, até mesmo o sentimento universal, o amor se torna confuso e inexplicável, visto nos poemas do Cap.II “Recaída no Soneto” que o autor ressalta.

 

Ah, o amor brotou nesta alvorada

e as brumas expulsou da escuridão

trouxe consigo a primavera alada

que me conduz além, para a amplidão

 

Se o amor é mesmo tudo e nada,

como passar a vida na ilusão

de que se pode evitar suas ciladas

e ileso escapar desse vulcão?

 

Ah, o amor, punhal mais que veloz,

que as vezes nasce de um olhar perdido

e corta, e rasga, e o coração perfura

 

Este é o animal que grita sem ter voz

é como um filho desaparecido

e pelo qual o pai em vão procura

 

E assim vivemos buscando respostas para as incertezas que nos rodeiam, o poeta diz “sou o que sempre de si viveu ausente”, importante fala a qual expressa com clareza tanto o que de início observamos com o título da obra e faz um paralelo com os demais poemas, somos ausentes de nós mesmos, vivendo para essa incessante busca de si.

 

Estamos no Século XXI

estamos no século XXI, e há crianças com fome,

morrendo subnutridas na África, na Ásia, nas Américas,

em todas as partes do sofrido globo

 

é incrível, estamos no Século XXI

 

há gente sem saúde vomitando sangue

para irrigar a riqueza de um poucos,

mas nos estamos no século da engenharia genética,

da cibernética, da informática

 

nas favelas, há dor e gemido

 

há choro, sujeira, podridão

 

há uma dor muda gritando nas cidades,

seu eco repercute nos campos com força

há uma sujeira e uma podridão ocultas, disfarçadas com elegância,

que causa a dor e a miséria das favelas

mas estamos no século XXI

 

os operários estão pálidos e cansados

da faina ingrata de engordar os lucros

de banqueiros e empresários

as armas florescem com mais vigor

e a esperança parece agonizar no fim da tarde

mas no estamos no século XXI

 

 

é realmente incrível

que vinte e um séculos nada tenham ensinados, nada tenhamos

aprendido que vinte e um séculos sejam apenas

o tempo de enterrar os mortos

e preparar hecatombe final

 

há banquetes entre a fome, mansões justapostas

ao barracos os governantes

sorriem, a todos prometendo um futuro melhor

e nós, meus amigos, estamos no século XXI

acreditem ou não, estamos no século XXI

 

De importante entendimento e reflexão, o poema “Estamos no século XXI” do cap. IV “Outras sombras”, traz a tona as atitudes humanas, quem somos nós esses seres, que vivemos em pleno século XXI e ainda assim estamos presos a nós mesmos, de quem são essas sombras que refletem em um século onde tudo parece fora do lugar, onde os valores foram perdidos e soterrados pela expansão do capitalismo, seres que adotaram o egoísmo e o “ter” como valor universal para o viver em sociedade.

 

 

Duas metades

 

dentro de mim estive sempre ausente

fora de mim também não me encontrei

o que mora, distante, em minha mente,

é o lugar estranho que eu não sei

 

sempre me vi perdido entre hemisférios

que se completam, mas desigualmente

os meus astros caminham pelo sérios

caminhos do além, perdidamente

 

No Poema “Duas metades” do cap. I – As Sombras nos dar a entender que dentro de nós existe dois seres, ou melhor, duas personalidades, ambos diferentes um do outro. Para cada tipo de questionamentos iremos sempre ter duas ou mais respostas, porém só poderemos escolher apenas uma das respostas.

Vivemos perdidos na incerteza, sem sabermos que rumo tomar, sempre iremos nos deparar com dois caminhos, a constante dúvida que assombra o nosso ser, com relação às decisões e caminhos que devemos seguir.  A reflexão que temos diante desse poema é passamos a nossa vida fazendo escolhas, nos questionando a respeito da vida, sem sabermos se o que escolhemos foi certo ou não.

 

Testemunho

 

toda verdade mora na mentira

que nada dá, mas tudo nos promete

que tudo oculta mas nada nos tira

e a alma corta como um canivete

 

 

nada ganhamos, mas nada perdemos

assim resulta quite a operação...

e ainda lucramos: um instante temos

em que se ilude o inútil coração

 

bem pouco lucro, é certo entretanto,

mais poderemos exigir da vida?

do riso preço quase certo e o pranto

e é sempre igual o fim toda lida

 

que mais dizer? chegados eis ao fundo

do poço e a água vê-se mal e mal

assim também, meu caro, é este mundo:

- de tudo resta só um pouco sal

 

O poema nos mostra que por trás de uma verdade esconde-se sempre uma mentira. Percebendo no poeta um tom pessimista e sem esperança com relação à vida.  Diz também que, o que para uns é verdade para outros pode ser mentira. Enganamosa nós mesmos e quando formos nos deparar com o tamanho das mentiras, já não temos mais o que fazer.

O autor nos dá a entender que se fizermos uma má seleção das pessoas que escolhemos para está a nossa volta, ela poderá nos fazer sofrer e no final vamos nos perguntar: “como eu acreditei em palavras tão falsas?” as palavras valem mais do que um ato, tentamos aprender, mas erramos de novo.

 

A Rilke

 

O medo mora

dentro de nós

somos a casa

em que habita

 

silenciosa

dentro de nós

a sua voz

grita

 

 O poema é uma homenagem ao poeta Rilke, que mostra que o medo mora dentro de nós, e mesmo oculto, em silêncio nos perturba e nos assombra, chegando a falar mais alto do que a nossa própria voz. Podemos fazer tudo que queremos hoje por medo da morte, ou nós nunca iremos fazer por medo do que as pessoas irão pensar, deixamos de viver a nossa vida como queremos por medo.

3. CONCLUSÃO

A leitura dessa obra é sem dúvida uma excelente reflexão que nos coloca conhecimentos múltiplos sobre diversos assuntos sobre nós mesmo relatados pelas experiências vividas pelo autor que com suas poesias tocam a capacidade de refletir. Bem quem será a pessoa do autor já que na obra o mesmo diz “sou o que sempre de si viveu ausente”, porém essa será a maior reflexão sobre a obra “Uma Sombra no Espelho”, como conseguir encontrar o que somos, a identificação com a obra foi quase imediata, pois não sabemos ao certo quem somos e qual o nosso propósito, vivemos um dia após o outro buscando a satisfação momentânea, na completa ilusão de conhecer a pessoa que reflete a sombra no espelho. 

FERERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, Dimas. Uma Sombra no Espelho. 1º Ed. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2013.