James Joyce (1882-1941) é conhecido como um dos mais inovadores escritores do século XX. Autor de importantes obras como “The Portrait of The Artist As a Young Man” (1916) e “Ulysses” (1922). O conto “The Dead” é o último e mais famoso da coleção Dublinenses e diferencia-se dos demais contos, tanto pelo tamanho, quanto pela intensidade poética e sua representação simbólica. Joyce nasceu em Dublin em 1882, no entanto viveu a maior parte de sua vida fora da Irlanda. Apesar da ausência em sua terra natal, a obra joyceana está sempre ligada a cidade e país de origem do autor, tornando-os assim parte de grandes cenários literários. Joyce se permite ao uso de uma certa liberdade na utilização das palavras e suas experiências, especialmente em suas últimas obras. Nos contos o autor não se restringe a mostrar uma sociedade perfeita e virtuosa, e sim uma escrita realista e um raciocínio impressionante sobre as histórias da vida urbana irlandesa, mostrando seu cotidiano com defeitos e desasseios. 

“The dead” é constituído de um enredo simples, sendo a epifania um símbolo marcante neste conto. Inicia-se com um acontecimento banal na casa das Senhoritas Morkan. Uma festa de fim de ano tradicional e bem idealizada, no ápice do entretenimento burguês com músicas, danças, e um jantar farto. Observa-se que a história é contada em terceira pessoa, referindo-se a Gabriel Conroy, sobrinho das anfitriãs. Visto como culto, observa-se em Gabriel um sentimento de superioridade em relação aos participantes da festa, característica essa nítida em seu tradicional discurso: --Ladies and Gentlemen, it is not the first time that we have gathered together under this hospitable roof, around this hospitable board. It is not the first time that we have been the recipients - or perhaps, I had better say, the victims - of the hospitality of certain good ladies. He made a circle in the air with his arm and paused. Everyone laughed or smiled at Aunt Kate and Aunt Julia and Mary Jane, who all turned crimson with pleasure. Gabriel went on more boldly: --I feel more strongly with every recurring year that our country has no tradition which does it so much honour and which it should guard so jealously as that of its hospitality. It is a tradition that is unique as far as my experience goes (and I have visited not a few places abroad) among the modern nations. Some would say, perhaps, that with us it is rather a failing than anything to be boasted of. But granted even that, it is, to my mind, a princely failing, and one that I trust will long be cultivated among us. (p 182) Na primeira parte do conto, onde é narrado o início da festa com os convidados, observa-se uma inapropriação intelectual sentida por parte de Gabriel com relação aos demais convidados. Tal conclusão dar-se após o mesmo em uma conversa informal com Lilly, a filha do zelador, receber dela uma resposta considerada ríspida e grosseira. Gabriel logo interpreta tal situação como uma certa dificuldade de adaptação com aquelas pessoas proveniente de sua superioridade intelectual com relação as mesmas, havendo assim uma inadequação a simplicidade das pessoas ali inseridas com sua “sublimidade intelectua”, como podemos perceber no seguinte diálogo: --Tell me, Lily, he said in a friendly tone, do you still go to school? --O no, sir, she answered. I'm done schooling this year and more. --O, then, said Gabriel gaily, I suppose we'll be going to your wedding one of these fine days with your young man, eh? The girl glanced back at him over her shoulder and said with great bitterness: --The men that is now is only all palaver and what they can get out of you. Gabriel coloured, as if he felt he had made a mistake, and, without looking at her, kicked off his goloshes and flicked actively with his muffler at his patent-leather shoes. Os contos de Joyce acarretam a busca por suas epifanias. No capítulo 15 de Stephen Hero há uma explicação. Joyce diz que suas epifanias correspondem a: “Uma manifestação súbita, quer na vulgaridade do discurso ou do gesto, ou em uma fase memorável da própria mente. Ele acreditava que cabia ao homem de letras registrar estas epifanias com cuidado extremo, visto que elas mesmas são os momentos mais delicados e evanescentes”. [...]