ANÁLISE DE EFICÁCIA DO MÉTODO DE INVESTIMENTO COM BASE NO VALOR INTRÍNSECO PARA SELEÇÃO DE AÇÕES LISTADAS NA BOVESPA

RESUMO

Diante da grande demanda da população por conhecimento para balizar seus investimentos financeiros contrapondo com a grande oferta de informações sobre o assunto, o investidor em geral fica sem saber qual o melhor método a ser utilizado e, em especial, que garanta o melhor resultado. Diante destes questionamentos o presente trabalho busca levantar as duas correntes de análises predominantes no mercado financeiro, a análise técnica e a análise fundamentalista, apontando as principais características de cada uma, bem como apresentando um método de montagem de carteira de investimentos com base no valor intrínseco, cujo embasamento teórico está ancorado na obra “O Investidor Inteligente” de autoria de Benjamin Graham. Desta forma, portanto, com o presente trabalho será possível visualizar se tal método apresentado por Graham (2007) é eficaz quando aplicado aos investimentos feito na BmF&Bovespa, ou seja, o método está apto a oferecer ao investidor resultados positivos no longo prazo.

1 INTRODUÇÃO

No mercado globalizado e competitivo atual o principal objetivo dos gestores de empresas é a busca pelo aumento do lucro e a maximização de valor para o acionista. Entretanto, atualmente o ambiente econômico mundial é marcado por fortes incertezas, o que provoca nos investidores um comportamento bastante defensivo com relação ao nível de volatilidade das diversas Bolsas de Valores pelo mundo. Esse comportamento, por vez, acaba por levar esses agentes econômicos a tomarem decisões de investimentos que se tornam revelam equivocadas. Basicamente, as pessoas recorrem aos investimentos em bolsas de valores, visando obter retornos superiores aos investimentos mais conservadores (renda fixa), com riscos menores, como poupança, Certificados de Depósito Bancário - CDBs, títulos do governo, entre outros. Entretanto, dado o quadro de instabilidade global, os riscos de perda nos mercados de renda variável passam a ser enormes. Neste contexto, descrito acima, existem dois instrumentos básicos que ancoram os investimentos em bolsas de valores (renda variável), a saber: a análise técnica e a análise fundamentalista. A utilização desses dois instrumentos ajuda a melhorar a escolha dos melhores investimentos, bem como os níveis de riscos mais adequados a esses investimentos. A análise técnica ou como também é conhecida análise gráfica, de uma maneira sucinta, é uma forma de abordagem que utiliza como ferramenta principal os gráficos das cotações das ações. Nesses gráficos se analisa, principalmente, o preço passado das ações a fim de prever qual será o preço futuro dela, determinando, assim, o melhor momento de comprar ou vender o ativo. Em resumo, como destaca Vidotto, Migliato e Zambon (2009) a “teoria” de Charles Dow busca compreender os dados passados,traçar padrões de comportamento e projetar comportamentos futuros dos preços das ações. Charles Dow – que foi um dos expoentes na utilização da análise técnica – afirma que eventos passados podem determinar eventos futuros; a configuração gráfica dos preços tende a se relacionar com a direção que eles tomarão no futuro, ou seja, antes de um movimento significativo de alta ou baixa nas cotações de determinada ação, ocorrem formações que sinalizam previamente a movimentação que deverá ocorrer em relação a determinada ação. (VIDOTTO; MIGLIATO; ZAMBON, 2009. p.294). 8 Já a corrente fundamentalista estuda os fatores que interferem no equilíbrio entre compradores e vendedores do mercado. Estes analistas utilizam em suas análises variáveis internas e externas à empresa que influenciam a formação do preço da mesma, tanto no valor presente como em seu valor futuro. Este instrumento incorpora três linhas de atuação principais: análise da empresa; do mercando onde ela está inserida e dos indicadores econômicos e contábeis. Acertar projeções de preços para ações é algo extremamente complicado, tendo em vista que as expectativas futuras para tais preços podem ser afetadas por diferentes fatores. Dentre esses fatores se destacam: os fluxos de caixa esperados e o tempo ideal, que são distintos para cada agente; e a taxa de desconto que pode às vezes não ser a mais apropriada. Por outro lado, sabendo-se que os investidores podem não ter a mesma percepção de risco, pode-se fazer projeções mais estruturadas e confiáveis através do uso de algum modelo de avaliação de ativo ou negócio. Para Damodaran (1997) muitos investidores seguem a teoria de investimento denominada de “comprador maior”. Esta diz que o valor de um ativo é irrelevante desde que exista um “comprador maior” que esteja disposto a comprar aquele ativo. Embora isso possibilite realizar algum lucro, não há garantias de que haverá um investidor disposto a comprar o ativo quando chegar o momento certo de vender. O que o investidor inteligente deve fazer é nunca pagar por um ativo mais do que ele vale. Embora seja óbvia essa afirmação não é aplicada pela maioria dos investidores. “Não vi nenhuma tendência em direção ao investimento em valor em meus 35 anos de prática. Parece que existe uma característica humana irracional que gosta de tornar difíceis as coisas fáceis”. (BUFFETT apud MIZRAHI, 2009. p. 1). A avaliação de um ativo incorpora muitos elementos subjetivos de analistas de mercado, pois se parte de estimativas futuras que são criadas. Porém, tais estimativas devem ser baseados em fatos concretos e comprovados, o que impõe a existência de sólida base de informações da conjuntura econômica e das técnicas de análise em finanças. Em síntese, para determinação do valor de mercado de uma empresa existem componentes fundamentais como o fluxo de caixa, a taxa mínima de atratividade, o horizonte de tempo das projeções e o risco do negócio. Portanto, o processo de avaliação de uma empresa é muito importante como ferramenta de gestão, como também para a tomada de decisão. 9 Neste contexto acima descrito Buffett citado por Mizrahi (2009) afirma que “a inteligência não é garantia de sucesso quando se trata de investimentos. Você não precisa ser o melhor aluno e mais inteligente, para que a abordagem em valor seja aplicada para os investimentos”. (BUFFETT apud MIZRAHI, 2009, p.57). Ao analisar uma base histórica de retornos ao investir em renda fixa e em renda variável, pode-se observar que o retorno sobre investimentos em ações são superiores aos de renda fixa no longo prazo. Porém, mais importante do que comprar uma ação de uma excelente empresa é saber qual o valor máximo que você deverá pagar por ela, para que no tempo pré-determinado desse investimento, ela renda o equivalente a um investimento em renda fixa, acrescido de uma taxa extra por arriscar o capital, chamado de prêmio de risco. Como pode ser observado no curso da história, com o passar do tempo, apesar de os preços das ações variarem muito no curto prazo, ou seja, serem muito voláteis, no longo prazo esses preços das ações converge em direção ao valor intrínseco do negócio. O valor intrínseco de um negócio nada mais é do que o valor contábil calculado de uma empresa, ou seja, o que a empresa realmente vale contabilmente. No cotidiano os investidores poderão se deparar com empresas com seu valor intrínseco menor do que a cotação dela na bolsa, e outras empresas com valor intrínseco maior que a sua cotação na bolsa. O que se busca quando é utilizada a estratégia do investimento a partir do valor intrínseco é comprar ações de empresas que tenham um valor intrínseco muito superior ao valor da cotação na bolsa. Buffett coloca de forma bem simples essa situação, exemplificar a partir da [...] alegoria do Sr Mercado de Bem que pode parecer ultrapassada no mundo moderno do investimento, em que a maioria dos profissionais e acadêmicos fala sobre mercado eficiente, proteção dinâmica e betas. O interesse deles por esses assuntos é compreensível, já que as técnicas envoltas em mistérios obviamente tem valor para os provedores de conselhos de investimento; afinal de contas, existe algum médico que tenha ficado rico e famoso apenas por aconselhar a tomar aspirinas? (BUFFETT apud MIZRAHI, 2009, p.31). Desta forma, o investidor embasado no referencial teórico de Graham (2007) pode realizar seus investimentos objetivando o longo prazo, comprando ações de empresas com excelentes indicadores financeiros e a um preço que garanta um retorno mínimo durante o período da aplicação. 10 A importância da teoria de Graham (2007) é tamanha, que ele é conhecido como sendo o “pai” da análise fundamentalista. Sua teoria revolucionou o modo como os investidores enxergavam o mercado de ações, pois ao invés de analisar a ação de uma companhia observando o comportamento passado de sua cotação, para projetar um preço futuro, como é precificada pelos investidores que optam pela analise técnica,a teoria de Graham (2007) busca prever os fluxos de caixa futuro das empresas, para assim identificar qual delas se sobressairão no futuro, para poder adquiri-las no presente. A Bolsa de Valores de São Paulo, BOVESPA, maior e mais importante centro financeiro do Brasil, registrou no ano de 2013 uma média de movimentações diárias de aproximadamente 6,27 bilhões de reais e uma movimentação anual de aproximadamente 1,83 trilhões de reais, segundo. (BOVESPA 2015b). O mercado acionário é extremamente complexo e volátil, sendo classificado pela BM&FBOVESPA (2015b) como investimento de alto risco. Isto significa que sendo um mercado de renda variável, a probabilidade de retornos mais elevados que a renda fixa são maiores. Porém, o risco embutido neste tipo de investimento é mais alto, ou seja, tem-se uma propensão maior a perder o dinheiro investido. 

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