ANÁLISE DAS TECNOLOGIAS ATUAIS E A RELAÇÃO ALUNO E PROFESSOR DIANTE DESSE USO EM SALA DE AULA

Paula Cristina Straccini de Castro Lima 

Introdução 

Muitas pesquisas apontam o sucesso do uso das mídias nas salas de aula e as redes sociais têm assumido um papel bastante importante no que tange a rapidez e qualidade de transmissão de informações a educação não se tem dúvida. Prova disso são os cursos a distância oferecidos ao maior número de alunos ao mesmo tempo disponibilizando grande possibilidade de estudo sem sair de casa. Essas e outras comodidades do recurso técnico chamado internet nos são oferecidos ricamente e são possíveis de serem obtidos até pelos celulares. Entretanto há que se problematizar o seu uso indiscriminado pelos estudantes no interior das salas de aula. Este é o tema geral da pesquisa – sobre as produções da tecnologia na escola – mas recortado pelo espaço da sala de aula questionando a inadequação do uso constante dos celulares.

Neste texto apresento alguns trabalhos relevantes que abordam o tema. Trata-se do relato de parte inicial da pesquisa, etapa necessária para a construção do objeto a ser estudado 

O que dizem os estudos

Para a realização desta etapa da pesquisa foi realizado um levantamento de estudos sobre o tema usando palavras-chave que identificassem o assunto ou partes dele em periódicos, teses e dissertações e alguns livros de autores de referência teórica.

Carrino (2012), explora o tema a partir das mídias na escola. Seus textos são bem interessantes em se tratando de tecnologia na escola. O autor investiga as causas da influência midiática no processo de aprendizagem e mostra o lado positivo e negativo dessa influência. É importante mencionar que o autor também é professor e atua como docente em cursos técnicos  nos quais  grande parte da clientela é adolescente e faz o uso do celular. Dessa forma, sua defesa em prol do uso das tecnologias tem certo fundamento.

O autor também prevê e apoia o uso das mídias na escola dentro das situações pertinentes ao ensino; ele aprova e evidencia da praticidade a veiculação das informações, porém não tem sido fácil manter os olhos atentos a todos os alunos quando estes desviam a atenção do foco para algo que não diz respeito à aula. Nota-se que Carrino afirma que as proporções midiáticas na escola assumem um papel cada vez maior e de grande importância; ele ainda propõe que as mídias fazem parte de uma contribuição valiosa e deve ser agregada e aliada dos docentes no processo de ensino e aprendizagem. Creio sim, que a tecnologia assume função importantíssima na educação e que se for bem manipulada por docentes e professores ela contribui para garantir a eficiência, rapidez e qualidade na transmissão dos conhecimentos.

O texto me auxiliou na explanação dos apontamentos sobre essas influências e como levar isso para a educação de modo a contribuir para a aprendizagem. No entanto, deve-se tomar certa precaução antes de ir pensando que a tecnologia resolve tudo. Como já foi dito, ela contribui, e muito, mas é importante analisar se a busca por esses recursos como única fonte de solução para a comunicação não está viciando ou induzindo cada vez mais o aluno a ser dependente da tecnologia. Outro aspecto relevante é com relação ao que a tecnologia – enquanto veículo de comunicação – tem oferecido aos jovens. Sabe-se que a mídia tem grande poder de persuasão, convencimento e manipulação sobre esses. Está cada vez mais comum as pessoas experimentarem o que a mídia impõe na televisão através de suas novelas, programas de interação social, propagandas. Como os jovens estão em plena fase de formação de caráter, a mídia propicia algumas mudanças de hábitos e comportamentos até então mantidos pela família. Com o lema de liberdade de expressão, alguns adolescentes estão confundindo liberdade com libertinagem e acabam corrompendo valores morais, sociais e éticos. E mais uma vez, o que exterioriza essa liberdade são as redes sociais que, na maioria das vezes, são acessadas pelo celular que visa maior comodidade por sua portabilidade. Através do celular é possível expor desde o melhor acontecimento da sua vida até o pior caos da vida de um indivíduo qualquer. A tecnologia favorece, agiliza e resolve, rapidamente, muitos problemas, isso é fato. Mas o que quero mostrar, aqui, é que ao mesmo tempo ela ridiculariza, desqualifica, expõe, satiriza, envergonha e vicia o indivíduo que faz seu uso descomedido não pensando nas consequências. Falo mais especificamente do celular que é usado com frequência nas escolas e que tem causado muitos transtornos e afetado a qualidade de ensino.

Pinheiro, Silveira e Bazzo (2007), assim como Carrino, também abordam o impacto da tecnologia e seus efeitos na sociedade. Tratam ainda de como deve ser feita a interação do CTS (Sociedade, Tecnologia e Sociedade) com a comunidade escolar. Esse movimento tem obtido cada vez mais adeptos na área educacional. A intenção é mostrar que a tecnologia está relacionada à evolução humana, mas que merece alguns cuidados para que não tenha uma dimensão social maior que a necessária. É exatamente isso que pretendo focalizar em minha pesquisa, mostrar o valor da tecnologia na sociedade, mas apontar seus pontos negativos. Ainda foi possível notar que o enfoque dado à tecnologia é no intuito de contribuir para a formação do indivíduo sendo necessária cautela para que os valores não se invertam, porque na realidade quem sobressai na criação tecnológica é o ser humano e não a invenção por si.

Outros trabalhos, mencionados a seguir, referem-se aos aparelhos tecnológicos como grandes ferramentas de auxílio ao ensino e aprendizagem dos alunos. Porém, a minha proposta é analisar a outra face da educação e tecnologia, quero investigar quais aspectos negativos esses recursos midiáticos podem ter.

No artigo de Santos (2007) o tema é a prática de alfabetização incluindo o uso da ciência. O autor defende a aprendizagem da educação científica para formação do caráter do aluno. Nessa mesma direção Sanches (2009), em sua dissertação, explora o meio midiático como precursor da compra, incitando os jovens ao consumismo oferecido pela mídia. Fumian(2013) compartilha das mesmas ideias e este, por sua vez, relata os pontos positivos de se utilizar a ferramenta Facebook como auxiliador no processo de aprendizagem.

Ainda no sentido de mostrar que a tecnologia é algo importante para a educação Vieira Neto e Bruno (2013) analisam o lado formativo do professor, ou seja, que é necessário integrar-se ao universo digital para incorporar à educação.

As informações contidas nesses textos contribuem em partes para minha pesquisa, pois nele, os autores só apontam as características positivas em se utilizar a ferramenta em sala de aula e o que eu quero abordar, precisamente, são os aspectos negativos.

Para poder compreender, inicialmente, os contextos que temos vivido nas escolas e também são apontados nessas pesquisas, algumas leituras da Sociologia foram de grande ajuda. É possível perceber que as situações relatadas da realidade escolar e das pesquisas apontam para interação expandida por meio do celular e outros produtos, o que vem gerando processos de cooperação, competição e conflito remodelados de um novo tempo sociocultural. Assim, para entender os conceitos entre valores e atitudes dos homens com relação à sociedade recorri a Wiese (1976). A leitura do texto favorece a compreensão da intenção de comunicação do indivíduo, como o homem vive em sociedade e qual a reflexão que o homem faz diante da comunicação dos outros. É interessante realizar abordagens diferentes e analisar no que elas inferem da situação comunicativa, e também tecnológica, através das necessidades individuais do ser humano. Do ponto de vista do sociólogo Wiese a comunicação depende do processo de interação social.

A análise desse autor a respeito da coletividade permite entender o processo de influência social, pois o homem é cercado por forças coletivas que contribuem no desenvolvimento de sua formação. Sendo assim, ele afirma:

Evidentemente, dentro dos limites dos nossos objetivos, consideramos as forças coletivas (Estado, Igreja, Associação, Empresa etc...) como tipos de formadores sociais que se distinguem entre si porque em cada um deles a maneira pela qual se relaciona os homens e os grupos humanos é diferente. (WIESE, 1976, p. 220).

Sobre a situação e o contexto social escolar podem ser também incluídos nesse pensamento e, na situação de hoje, percebe-se que eles diferem quase que totalmente da realidade dos últimos quinze anos. O nosso contexto social já é completamente diferente. Com base nessa afirmação Sorokin também auxilia a compreensão ao analisar características do tempo sociocultural. Aponta uma delas ao dizer:

O mesmo é verdadeiro para uma maior extensão de modificações em diferentes sociedades ou sistemas sócioculturais. Um ano de vida numa sociedade moderna é sobrecarregado com maiores e mais numerosas alterações do que cinquenta anos de existência em uma tribo primitiva e isolada. (SOROKIN, 1976, p. 232).

Esse pensamento vale para os dias atuais. Anteriormente, os alunos não tinham contato com a tecnologia exacerbada na escola, mesmo porque os recursos tecnológicos eram limitados em todos os sentidos, principalmente em escolas públicas. Na década de 1990 surgiram os primeiros celulares e, levando em consideração o custo-benefício, poucos tinham o aparelho. Somente médicos, fazendeiros, empresários e abastados valiam-se do aparelho móvel que era genial, porém com recursos limitados a fazer e receber ligações ou enviar mensagens de texto. A tecnologia, como não é novidade, avançou e contribui celeremente para a adaptação e inovação do aparelho móvel. Em poucos anos grande parte da população já tinha em mãos um celular. E a aquisição do mesmo, deixa de ser restrita a uns e outros. O custo benefício ainda não era dos melhores, mas já conquistara o coração das pessoas o desejo de se tornar um proprietário de tal equipamento. Grandes esforços foram feitos, pois ainda não era tão acessível, mas já era possível. O celular passou a ser um instrumento de auxílio no trabalho, nas relações familiares, em todas as situações cotidianas. Chegou até ser sonho de consumo para alguns. E quem o possuía tinha a autoestima e o status elevado. Com o passar do tempo, o celular evoluiu ainda mais e hoje só não tem celular quem realmente não deseja. Há de se concordar que esse pequeno aparelho já tomou conta da nossa vida e principalmente do convívio social no qual estamos inseridos. Com o uso do celular tornou-se possível a comunicação imediata: perguntas e respostas em questão de segundos através das mensagens de texto. O mesmo equipamento tornou possível a comunicação por meio das redes sociais e assim as pessoas trocam ideias, compartilham saberes, experiências, expõem indignações, fazem propaganda, informam. Tudo simultaneamente. Com o uso dos aplicativos disponíveis no aparelho a comunicação, ou a falta dela, deixa de ser um empecilho de falta de informações. O celular viabiliza e agiliza a troca de informações. São muitas as instituições escolares e de extensão universitária que utilizam a tecnologia para se comunicarem com rapidez e segurança com seus alunos. É o caso dos cursos a distância que proporcionam informações acadêmicas através da tecnologia. Mas de que forma os alunos têm acesso a essas informações? A resposta mais óbvia seria através do computador. Mas o que pretendo evidenciar é que o celular tomou tamanha proporção que é através dele que os alunos acessam toda informação acadêmica. Seja por plataformas, sites, e-mails e, inclusive, as redes sociais por haver maior probabilidade de acesso. O celular é, hoje, parte da vida e da existência das pessoas, principalmente dos alunos. Pode-se dizer que ele também protagoniza o palco da competição entre os alunos.

A competição nos é incutida culturalmente. Os alunos tendem a observar e escolher as profissões que lhes renderão bons salários ao invés de pensarem naquela que possivelmente trará prazer em seu exercício. Ainda tem-se em mente que profissional bem sucedido é o que possui um alto salário e acumula bens. É gerado o espírito de competição desde as séries primárias quando os alunos são estimulados a produzir algo e como recompensa receber um prêmio. Nota-se culturalmente a presença da individualidade sendo pregada entre os alunos. Essa individualidade está presa à cultura da competição como bem observam outros  autores:

Examinando-se, pois, nosso sistema escolar, vemos imediatamente refletido o espírito competitivo do todo cultural. Na escola, ênfase muito pequena é colocada sobre a dedicação dos alunos à classe, considerada como um todo. As escolas “progressistas” encorajaram projetos coletivos em que cooperavam todos os alunos, mas esta prática vai de encontro às tradições. A organização escolar que leva cada criança a trabalhar por si mesma e em seu próprio interesse é muito mais usual. Os estudantes melhores não ajudam os deficientes, antes dependem, para sua superioridade, da inferioridade dos demais. Cada criança luta contra todas as outras. A competição com o fim de obter honrarias, se possível, é intensificada ao extremo, como na sociedade global de que a escola participa (OGBURN e NIMKOFF, 1976, p. 256).

Entendo que a tecnologia tem contribuído muito atualmente com a educação, no entanto há os outros lados da moeda, pois os alunos competem entre si em relação a esses aparelhos e os adolescentes se entusiasmam demasiadamente com os aparatos tecnológicos deixando de lado as explicações valorosas dos professores em sala de aula. Os alunos com o auxílio da internet vão além dos seus limites e superações. Qual a causa desse desinteresse pelo que é tradicional (sala de aula) e o exagero de tempo passado em frente a uma tela de computador ou celular? Será problema de estrutura familiar, que não impõe limites? Será a escola que não sabe ao certo como lidar com a nova realidade? Ou realmente esses alunos estão certos em seus comportamentos?

Da mesma forma que os alunos, os professores também encontram dificuldades na mútua cooperação.

Para compreender as situações da sala de aula com todas essas características sociais, outros autores foram importantes. Tardif e Lessard (2014) contribuem para a compreensão de que a docência é um trabalho que envolve a pluralidade social e toda ação nesse ambiente reflete no comportamento dos alunos. Trata-se de uma profissão que envolve profunda interação com os que convivem na sala de aula e é necessário a atenção a tais aspectos.

De outro ponto de análise, Gauthier traz considerações sobre a necessidade de atenção à gestão da sala de aula. Os alunos sabem exatamente o que acontece nas escolas e sabe inclusive avaliar se as regras funcionam ou somente existem no papel. Sendo assim, na primeira semana de aula os professores aplicam-se em conhecer seus alunos e desde logo expõem as regras que serão vigentes e exteriorizam as consequências do não cumprimento delas. Então os alunos ficam cientes quanto ao comportamento que se espera deles dentro da instituição escolar.

Esse é o foco da pesquisa que se organiza.

Considerações finais

Diante de tudo o que foi dito, aponta-se a inexistência de estudos sobre o tema com a perspectiva aqui enunciada como argumentos que justificam a realização da pesquisa. Além disso, a relevância do mesmo tema diante do crescimento desses conflitos advindos da disseminação dos celulares cada vez mais potentes e do fascínio que os seus recursos exercem sobre os estudantes e as dificuldades dos professores e gestores para enfrentar tais situações conflituosas também justificam a realização da pesquisa.

 Exatamente pela inexistência de pesquisas sobre esse foco esta pesquisa tem como objetivo central obter dados iniciais para uma pesquisa com o problema estipulado buscando saber dos alunos o que os leva a cada vez mais se interessarem pelo uso do celular na escola mesmo sabendo que este é proibido e vem sendo causa de grandes desavenças e dispersões e como os professores se manifestam sobre tais questões. Tais características fazem com que esta pesquisa seja de caráter exploratório segundo Selttiz et al. ( 1965) de modo que se possa obter discernimentos sobre um novo foco de pesquisa contribuindo para posteriores apresentação de hipóteses de continuidade. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARRINO. Adauto Luiz. A influência da mídia no processo educacional do            adolescente. Dissertação (Mestrado em Educação).Centro Universitário Moura Lacerda, Ribeirão Preto, 2012.

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GAUTHIER, Clermont et al. Por uma teoria da pedagogia: pesquisas contemporâneas sobre o saber docente.Ijuí :Ed. Unijuí, 1998.

OGBURN, William; NIMKOFF, Meyer. Cooperação, competição e conflito. In:CARDOSO. Fernando Henrique; IANNI. Octavio. Homem e Sociedade. SãoPaulo: Editora Companhia Nacional, 1976, p. 236-251.

PINHEIRO, Nilcéia Aparecida Maciel; SILVEIRA, Rosemari Monteiro Castilho Foggiato e BAZZO, Walter Antonio. Ciência, Tecnologia e Sociedade: a relevância do enfoque CTS para o contexto do Ensino Médio. Ciênc. Educ. (Bauru) [online]. 2007, vol.13, n.1, pp.71-84.  

SANCHES, Ana Cláudia Neif. Educação do olhar: a imagem e a mídia na formaçãodo repertório cultural do adolescente.Dissertação (Mestrado em Educação). Centro Universitário Moura Lacerda, ribeirão Preto, 2009.

SANTOS, Widson Luiz Pereira dos. Educação científica na perspectiva de letramento como prática social: funções, princípios e desafios. Ver. Bras.Educ. [on line].2007, vol.12, n.36, pp.474-79.

SELLTIZ, Claire et al. Métodos de pesquisa das relações sociais.São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1965.

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TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Tradução de Batista Kreuch. 9ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

VIEIRA NETO. Silverio de Souza Vieira; BRUNO. Adriana Rocha. Os sentidos da                      Formação da Cibercultura: múltiplos olhares dos pesquisadores para a subjetivação do adulto na cultura digital. Goiânia: 36° Reunião Nacional da ANPED-29 de setembro a 02 de outubro de 2013.

WIESE, Leopold Von. Os processos de interação social. In: CARDOSO. Fernando Henrique; IANNI. Octavio. Homem e Sociedade. SãoPaulo: Editora Companhia Nacional, 1976, p. 212-222.