ANÁLISE DAS ATIVIDADES DE LEITURA EM UM LIVRO DIDÁTICO DE PORTUGUÊS  

Daniely Araújo da Silva[1] 

Danielly Felix de Andrade 

Resumo:

O presente Artigo de Análise foi orientado a partir dos seguintes objetivos: (1) identificar qual a perspectiva metodológica sugerida pela autora Samira Campedelli no Manual do Professor, de um dos seus Livros Didáticos da Disciplina de Português; e (2) analisar algumas das atividades de leitura que integram o respectivo Livro Didático (LD) de Português. É válido ressaltar que para alcançar ambos objetivos foi utilizado um roteiro, contendo questões para orientar a análise do referido Livro. No que concerne ao corpus deste artigo, analisamos o LD pertencente à Coleção Hoje é Dia de Português, do 2º Ano do Ensino Fundamental, publicada pela Editora Positivo, cuja autoria é de Campedelli. Em relação ao suporte teórico, fundamentamo-nos em autores como Batista (1997) e Costa Val (2002). Este trabalho foi elaborado visando contribuir para a reflexão de como a autora Samira aborda a questão leitura, nas atividades presentes no seu LD, com base no princípio metodológico sociointeracionista que rege a sua obra didática.

Palavras-chave: Leitura. Livro Didático. Manual do Professor. Perspectiva Metodológica.

Abstract:

This article was oriented analysis from the following objectives: (1) identify which methodological perspective suggested by the author Samira Campedelli the Teacher's Manual, one of his textbooks Discipline of Portuguese, and (2) analyze some of the activities reading that integrate its Textbook (LD) of Portuguese. It is worth noting that to achieve both goals, we used a script containing questions to guide the analysis of that book. Regarding the body of this article, we analyze the LD belonging to the Collection Today is Day Portuguese, the 2nd year of elementary school, published by Editora Positivo, whose authorship is Campedelli. Regarding the theoretical support, fundamentamo us on authors like Batista (1997) and Costa Val (2002). This study was designed to contribute to the reflection of how the author addresses the issue Samira reading activities present in their LD, based on social interactionist methodological principle that governs their didactic work.

Keywords: Reading. Textbook. Teacher's Manual. Methodological Perspective.

 1. INTRODUÇÃO TEÓRICA

 

Inicialmente, é necessário explanarmos um pouco sobre a leitura, para que assim possamos desenvolver o referido trabalho, com base em algumas considerações pertinentes em relação a este aspecto.

Tendo em vista que o conceito de leitura está geralmente ligado à decodificação de letras, sua aprendizagem ligar-se-ia por tradição ao processo de formação global do sujeito. Entretanto, essa concepção de leitura certamente não se torna uma verdade absoluta para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem. Desse modo, é consenso que não devemos considerar apenas o reconhecimento de letras e palavras como sendo leitura, pois a leitura processa-se através da língua e, assim, a aquisição e aprendizagem da língua, embora seja um fato individual, só se realiza num contexto social.

Nota-se que a Escola ignora este fato, citado anteriormente, pois a prática recorrente, na maioria das Escolas, é tratar o ensino da língua como se fosse um conteúdo em si. Isso se justifica pelo fato de que, como afirma Batista (1997, p.3): (...) no ensino de português, o que se ensina é o produto de uma visão, entre outras coisas, do fenômeno da língua e do papel de seu ensino numa determinada sociedade. Portanto, aquilo que se ensina está condicionado às situações determinadas pelos aparelhos ideológicos, aliados ao estatuto social, aos profissionais docentes, às formas de exercício profissional delas decorrentes, ao livro didático, à Escola, às expectativas dos alunos, entre outros (BATISTA, 1997).

Nesta perspectiva, a ideia mais comum sobre o ensino de Português é a seguinte: se ensina para alguém que já conhece a língua materna, para adquirir um conjunto de conhecimentos. No que diz respeito a essa conceituação, Batista (1997, p.7) afirma que: a natureza, assim, daquilo que se transmite na aula de Português pode ser vista como um resultado das condições em que se realiza a própria atividade de transmissão. Tomemos como exemplo, o ensino de gramática normativa que por ser ensinada de forma descontextualizada e mecânica, só serve para fazer o aluno decodificar os signos linguísticos.

A autora Costa Val (2002, p.109) mostra que para a compreensão da língua devemos considerar três correntes teóricas: a primeira, composta pelos estudos que vêem a língua como estrutura; a segunda, pelos que vêem a língua como atividade mental; a terceira pelos que vêem a língua como atividade social.

No que diz respeito à compreensão da língua, a gramática na prática de ensino não está dissociada da aquisição da mesma. Nesse sentido, Costa Val (2002, p.109) conceitua a gramática como construto teórico que identifica unidades formais e descreve as relações entre essas unidades e suas possibilidades de combinação no interior do sistema.

Trata-se, em linhas gerais, da compreensão de que saber português - saber a gramática do português - significa ser capaz de interagir com sucesso nas diversas práticas sociais de linguagem, usando adequadamente diferentes variedades da língua de acordo com as circunstâncias que condicionam esse uso (COSTA VAL, 2002).

Também é válido ressaltar que, o trabalho em sala de aula deve começar da prática para chegar à teoria. Inicie do concreto para o abstrato, partindo do que é conhecido pelo aluno para depois lhe apresentar o desafio daquilo que ele desconhece (COSTA VAL, 2002).

Considerando todas estas considerações cabe, portanto, à Escola viabilizar o acesso dos alunos ao uso eficaz da linguagens relacionando-a às ações efetivas do dia-a-dia. Para tanto, deverá haver instrumentos que possibilitem ao professor concretizar isso na prática em sala de aula. E um dos instrumentos de ensino que podem propiciar isto é o Livro Didático. Mas, nem sempre os Livros Didáticos aos quais o professor tem acesso lhes permite desenvolver um ensino eficaz da língua, já que alguns são baseados em metodologias tradicionais. Porém, existem muitos que apresentam propostas inovadoras para o ensino do Português.

Portanto, com o intuito de observar como atualmente o Livro Didático de Português vem abordando o ensino de Língua Portuguesa, considerando a importância do mesmo para a formação cidadã crítica e reflexiva do aluno, optamos por fazer uma análise de um Livro pertencente à Coleção Hoje é Dia de Português[2], do 2º Ano do Ensino Fundamental, publicada pela Editora Positivo, cuja autoria é de Campedelli[3].

De um modo geral, visamos alcançar os seguintes propósitos: (1) identificar qual a perspectiva metodológica sugerida pela autora Samira Campedelli no Manual do Professor, de um dos seus Livros Didáticos da Disciplina de Português; e (2) analisar algumas das atividades de leitura que integram o respectivo Livro Didático (LD) de Português.

O presente trabalho encontra-se dividido em cinco itens, referentes aos seguintes tópicos: (1) introdução teórica; (2) aspectos metodológicos; (3) análise do livro didático de português - (3.1) análise do manual do professor, (3.2) análise das atividades de leitura; (4) considerações finais; e (5) referências bibliográficas.

2. ASPECTOS METODOLÓGICOS

         

O respectivo Artigo de Análise é de caráter descritivo e interpretativo, sendo fundamentado em algumas referências bibliográficas da linha da Linguística. Desse modo, analisamos os princípios metodológicos – inerentes ao Livro Didático de Português analisado – que são materializados no Manual do Professor, da obra de Samira Campedelli, revelando como as atividades de leitura presentes no seu LD de Português refletem, ou não, a metodologia proposta pela escritora.

O corpus analisado foi um Livro Didático da Disciplina de Português, da referida escritora, que pertence à Coleção Hoje é Dia de Português. Tal análise foi realizada em duas etapas. Durante a primeira etapa, realizamos a leitura da obra na íntegra. E, na segunda, analisamos o Manual do Professor e as atividades de leitura de algumas Unidades do LD, nos guiando por um roteiro de análise contendo algumas questões referentes aos aspectos a serem observados na obra.

Após esta sucinta explanação acerca da metodologia e do corpus que integram este trabalho, partiremos para o tópico relativo à análise da obra, que é composto por dois subtópicos relativos às questões que foram observadas.

3. ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO DE PORTUGUÊS

3.1 Análise do Manual do Professor

            Visando alcançar o primeiro objetivo deste artigo – identificar qual a perspectiva metodológica sugerida pela autora Samira Campedelli em um dos seus Livros Didáticos da Disciplina de Português – analisamos o Manual do Professor do referido LD do 2º. Ano Fundamental. Assim, consideramos para análise um roteiro[4] contendo as seguintes questões: 1. Como o manual está organizado? 2. Como se dirige ao professor? 3. Apresenta ou não conceitos, definições e classificações? 4. Apresenta ou não orientações/sugestões para a realização do trabalho em sala de aula? Desse modo, identificamos alguns aspectos os quais explanaremos a seguir.

            O manual encontra-se disposto em tópicos e subtópicos, os quais citamos aqui: 1. A escola e o livro didático – 1.1 Conhecimento, saber e saber escolar, 1.2 Currículos, demandas sociais e o livro didático, 1.3 Tradição ou inovação? 2. Apresentação da Coleção; 3. Pressupostos teóricos – 3.1 Língua portuguesa, 3.2 Alfabetização e letramento, 3.3 Leitura, 3.4 Análise linguística, 3.5 Produção de textos e 3.6 Oralidade; 4. Estrutura da coleção; 5. Organização didática – 5.1 Seções e ícones; 6. Encaminhamento metodológico; 7. Planejamento anual – 7.1 Sugestões de atividades, 7.2 Avaliação; 8. Sugestões de leitura para o professor; 9. Bibliografia comentada; 10. Referências.

            Além disso, pudemos observar que a linguagem do manual não se dirige diretamente ao professor, deixando subentendido que as orientações dadas sejam para eles, porém apresentando tudo indiretamente. Entretanto, há uma parte no início do manual (apresentação) na qual a autora escreveu: Caro professor: Esta coleção foi concebida com o objetivo de proporcionar situações de aprendizagem (...) (CAMPEDELLI, 2007, p.02). Assim, esse é o único momento do manual em que ela se dirige de forma direta ao professor.

            No que diz respeito à parte teórica, que traz conceitos, definições e classificações, constatamos que a mesma antecede a parte prática do manual e aborda os seguintes aspectos: Língua portuguesa, Alfabetização e letramento, Leitura, Análise linguística, Produção de textos e Oralidade. Ainda a autora traz em outras duas partes do manual, sugestões de leitura para o professor e bibliografia comentada, que dão mais suporte teórico para o educador.

            Em relação às questões mais práticas do Manual do Professor, verificamos que ela sucede a parte de fundamentação teórica e apresenta os tópicos que se seguem: encaminhamento metodológico e planejamento anual {sugestões de atividades e avaliação}. Nessas seções, o professor encontra um suporte prático para o seu trabalho em sala de aula.

            Por fim, destacamos que com base na análise feita deste manual, é notável que a perspectiva metodológica defendida pela autora Campedelli é a sociointeracionista, já que ela acredita que o conhecimento pode ser construído a partir da interação “interpessoal” (entre os sujeitos) para depois se tornar “intrapessoal”. Além disso, ela defende que a educação deve servir para formação cidadã, preparando os sujeitos para uma participação social mais efetiva e crítica, e que nesta educação para a cidadania o professor deve mediar, orientar e intervir o processo de ensino-aprendizagem, que propicie ao aluno desfrutar do uso social da língua (CAMPEDELLI, 2007). Há um trecho do manual que pode ilustrar isso:

 

(...) Com base na abordagem sociointeracionista de aprendizagem e entendendo a linguagem como produto das relações sociais, (...) entendemos que o seu domínio é fundamental para que os alunos tenham acesso aos bens culturais e participação efetiva no mundo letrado (CAMPEDELLI, 2007, p. 08).

3.2 Análise das Atividades de Leitura                                                                  

            Com a pretensão de atingir o nosso segundo objetivo neste artigo – analisar algumas das atividades de leitura que integram o respectivo Livro Didático de Português – fizemos uma sucinta análise acerca de como Campedelli aborda a questão da leitura no seu LD. Para isso, nos guiamos pelo seguinte roteiro de questões: 1. Apresentam objetivos para a leitura? 2. Resgatam o contexto de produção (esfera social, suporte, função social e contexto histórico)? 3. Incentivam os alunos a buscarem textos e informações fora do LD? 4. Tratam a leitura como processo de interlocução, promovendo o diálogo leitor-texto-autor? 5. Exploram conhecimentos prévios, formulações e verificação de hipóteses? 6. Exploram aspectos linguístico-textuais e discursivos (intertextualidade, efeitos de sentido, recursos de coesão e recursos sintáticos)? e 7. Exploram a relação entre textos verbais e não-verbais?  

            É válido ressaltar que foi realizada a leitura do LD na íntegra, porém elencamos apenas as Unidades 1, 3 e 5 para realizarmos a análise das atividades de leitura.

            Inicialmente, observamos que em nenhuma das Unidades deste Livro Didático a autora estabelece para os alunos os objetivos a serem alcançados, pelos mesmos, a partir da leitura dos textos verbais e não-verbais. Entretanto, como o LD analisado é o “Manual do Professor”, observamos que em algumas Unidades a escritora descreve para o professor os objetivos para a leitura do texto em questão. Por exemplo, na Unidade 1/Capítulo 2, aparece a seguinte orientação para o professor antes do texto a ser lido: (...) O objetivo desse procedimento é levar os alunos a compreenderem que objetos, fatos e situações podem ser representados por meio de símbolos estabelecidos convencionalmente (...) (CAMPEDELLI, 2007, p.16). Já na Unidade 3/Capítulo 2 existe a seguinte orientação: (...) O propósito é levar o aluno a entender a diferença entre letra (representação gráfica dos sons da fala) e sílaba (grupo de sons pronunciados numa só emissão de voz (...) (CAMPEDELLI, 2007, p.86).

            Com isso, percebe-se que o aluno que utilizar este LD não irá encontrar de forma explícita os objetivos da leitura, mas dependerá do professor esclarecer ou não os objetivos para os seus alunos, já que em alguns momentos a autora orienta o educador em relação aos propósitos das leituras contidas no Livro Didático.

            Em seguida, verificamos que, em parte, a autora resgata o contexto de produção dos textos no seu LD. A escritora não retoma a esfera social, o suporte, nem a função social dos textos que ela apresenta. Porém, pode-se dizer que a mesma faz o resgate do contexto histórico ao passo que sempre após a maioria dos textos e das atividades de leitura, aparece um “Box” contendo algumas informações acerca do autor do respectivo texto. Um exemplo disso pode ser encontrado na Unidade 1/Capítulo 1: Maurício de Sousa é o quadrinista criador da Turma da Mônica. Ele começou a produzir histórias em quadrinhos em 1959 (...). Em 1970 (...) lançou a Mônica (...) (CAMPEDELLI, 2007, p.12). A autora traz essas informações após as seções “Lendo o texto” e “Compreendendo o texto”, nas quais foi trabalhada uma tirinha dos personagens “Magali e Quinzinho”.

            Logo após, podemos perceber que no decorrer das atividades de leitura Samira não incentiva os alunos/leitores a procurarem textos e informações extras, que não apareçam no LD, mas existe uma seção no final do Livro intitulada “Sugestões de Leitura” (nas páginas 173 e 174), que sugere aos alunos algumas obras de Literatura Infantil para os mesmo lerem. Entretanto, a escritora cita apenas as obras e não apresenta objetivos nem orientações para o aluno em relação à leitura das mesmas. Podemos ilustrar isso com a seguinte sugestão que ela oferece: Contos de bicho do mato, de Ricardo Azevedo. Ática. Narrativa e quadrinhas populares, mostrando a poesia e a sabedoria contadas pelo povo (CAMPEDELLI, 2007, p.173).

            Desse modo, percebe-se que a autora apenas cita obras de Literatura Infantil indicadas para a leitura dos alunos, e expõe um resumo bem sucinto sobre a referida obra, não situando o aluno quanto aos propósitos da leitura de cada obra.

            Um outro ponto que merece destaque é que, apesar de defender a visão bakhitiniana de que a língua é criada continuamente pela interação verbal dos interlocutores, e que o texto é um “tecido de vozes” (CAMPEDELLI, 2007), por exemplo, a autora não enfoca a leitura como um processo de interlocução que promova o diálogo leitor-texto-autor. O que percebemos neste LD é que existe apenas um diálogo leitor-texto, que são os únicos elementos enfatizados pela escritora. Algumas questões deste Livro podem ilustrar isso, como por exemplo na Unidade 5/Capítulo 2: (...)”... e [Jurupari] decidiu ceifar aquela vida em flor”. O que você entende pela expressão destacada? (CAMPEDELLI, 2007, p.151). Pode-se citar essa outra questão também, da Unidade3/Capítulo 3: Você encontrou a resposta para o enigma proposto no início do texto? (CAMPEDELLI, 2007, p.97). Assim, é notável que o elemento autor não aparece neste LD como integrante do processo de interlocução de uma leitura dialógica (leitor-texto-autor), que faz parte da perspectiva metodológica defendida pela autora.

            Destacamos aqui também o fato de que houve uma preocupação de Campedelli em estimular os conhecimentos prévios, as formulações e verificação de hipóteses pelo aluno, e este aspecto pode ser observado em várias parte da obra. Por exemplo, em quase todos os capítulos antes da seção “Lendo o texto” a autora orienta o professor a estimular e considerar os conhecimentos prévios dos alunos, como aparece na Unidade1/Capítulo1: Antes de explicar aos alunos que este texto é uma narrativa co imagens (...), explore o conhecimento prévio de seus alunos com perguntas (...) (CAMPEDELLI, 2007, p.10). Este aspecto aparece também no início da Unidade 3/Capítulo 1, na qual a escritora orienta: (...) Instigue o conhecimento prévio dos alunos, apresentando alguns versos populares e parlendas com rimas (...) (CAMPEDELLI, 2007, p.76).

            Além disso, a autora explora as formulações e verificações de hipóteses pelos alunos. Isso pode ser exemplificado com uma questão da Unidade 3/Capítulo 3: Ninguém adivinhou a resposta para o desafio proposto por Lara. Converse com seu colega e, juntos, descubram o enigma (CAMPEDELLI, 2007, p.97). Por exemplo, também pode-se citar outra pergunta da Unidade 1/Capítulo 2: Para você, o que significa o título do texto Pintura das Cavernas: registro, enfeite ou mágica? (CAMPEDELLI, 2007, p.26.). Dessa forma, é notório o valor dado pela autora ao saber que o aluno possui e à capacidade que o mesmo tem de formular e verificar hipóteses, o que é transparecido nas atividades de leitura do seu LD.

            Outro ponto que destacamos é que em seu LD de Português, Campedelli explora parcialmente os aspectos linguístico-textuais e discursivos. No que diz respeito à intertextualidade, observa-se que ao longo do Livro ela faz uso do intertexto verbal X não-verbal. Ainda ela relaciona em algumas Unidades diferentes gêneros textuais, por exemplo, quando ela traz na Unidade 3/Capítulo 1 um texto verbal informativo junto com um quadrinho sobre a personagem Suriá: a garota o circo (CAMPEDELLI, 2007, p.83).

            A autora também aborda os efeitos de sentido nas atividades de leitura quando, por exemplo, na Unidade5/Capítulo 3 ele instiga a resposta pessoal do aluno questionando: Em sua opinião, por que esse texto se chama Uma história do saci-pererê que ninguém te contou? (CAMPEDELLI, 2007, P.79). É válido destacar que a autora não explora os recursos de coesão e os recursos sintáticos nas Unidades analisadas.

            Finalmente, verificamos que em todas as Unidades do LD é evidente a preocupação da autora em explorar a relação entre textos verbais e não-verbais. Um exemplo disso pode ser encontrado na Unidade1/Capítulo 3, na qual aparece o poema O Bicho Alfabeto (Paulo Leminski) – texto verbal - e o desenho de uma centopéia – texto não-verbal. Além desse, pode-se citar outro exemplo, presente na Unidade 5/Capítulo 2/p.152, na qual a autora traz uma receita de Salada de Frutas com Guaraná – texto verbal – e as fotos dos ingredientes necessários – texto não verbal. Vale destacar que, em alguns momentos a autora faz uso apenas da linguagem não-verbal, como na Unidade1/Capítulo 1, que apresenta uma tirinha (“Magali e Quinzinho”) e ums história em quadrinhos (“Marina”) na p.13, ambas de autoria de Maurício de Sousa.

                                   

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS                                                                                                      

Como afirmamos na introdução, este artigo se desencadeou a partir da observação e análise do Manual do Professor e das atividades de leitura de um Livro Didático de Português, do 2º. Ano do Ensino Fundamental. Para tanto, analisamos algumas Unidades da referida obra didática da Editora Positivo, cuja autoria é de Samira Campedelli, com o intuito de verificar como a escritora materializou sua perspectiva metodológica no manual e transferiu na prática para as atividades relacionadas à leitura.

Sob esta perspectiva, nosso trabalho de análise mostrou que apesar da autora Campedelli defender uma visão sociointeracionista, defendida no Manual do Professor, as atividades de leitura propostas no seu Livro Didático não refletem totalmente esta perspectiva.

Os resultados obtidos na análise, desenvolvida no respectivo artigo, contribuem para que possamos refletir sobre o quanto os Livros Didáticos se afastam, pouco ou muito, da perspectiva metodológica que os mesmos defendem. Portanto, cabe ao professor ter atenção ao utilizar qualquer Livro Didático de Português em sala de aula, atentando sempre para o fato de que nem sempre as atividades de leitura propostas refletem realmente a metodologia inovadora que aparentemente está subjacente a ele. E, por isso, fica a critério do educador fazer as adaptações necessárias nas atividades de Língua Portuguesa, que possam se adequar à realidade da sua turma, e cumprir com uma metodologia de ensino não tradicional.

5. REFERÊNCIAS

 

BATISTA, Antônio A. Gomes. Quando se ensina Português, o que se ensina? In: _______. Aula de português: discurso e saberes escolares. São Paulo: Martins Fontes, 2002, 1ª. ed. p. 01-11 (Texto e Linguagem).

CAMPEDELLI, Samira. Hoje é Dia de Português: 2º. Ano do Ensino Fundamental. Curitiba: Positivo, 2007, 1ª. ed. Ilustrações Beatriz Röhrig [et al.].  

COSTA VAL, Maria da Graça. A gramática do texto, no texto. In: Ver. Est. Ling., Velo Horizonte, v. 10, n.2, p.107-133, jul./dez. 2002.


[1] Licenciadas em Pedagogia (Daniely Araújo – Universidade Estadual da Paraíba/UEPB; Danielly Felix – Universidade Federal de Campina Grande/UFCG) e Especialistas em Linguística Aplicada ao Ensino de Português, pela FIP (Faculdades Integradas de Patos).

[email protected]; [email protected]

[2] Livro Didático de Português, que contém 191 páginas (e mais 32 páginas do Manual do Professor) ilustradas por Beatriz Röhrig [et al.], e que faz parte de uma Coleção cuja autoria é de Samira Campedelli. A obra analisada foi publicada em Curitiba, pela Editora Positivo no ano de 2007.

[3] Bacharel e licenciada em Letras – Português pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e pela Faculdade de Educação. Doutora em Literatura Brasileira e Portuguesa pela USP. Autora de livros didáticos destinados ao ensino de língua portuguesa e literatura.

[4] Vale destacar que os dois roteiros de questões, relativos à análise do Manual do Professor e das atividades de leitura, foram elaborados pelo Prof. M. Edmilson Rafael, que ministrou a disciplina Métodos e Técnicas para o Ensino de Português, durante o Curso de Especialização em Linguística Aplicada ao Ensino de Português, na FIP (Faculdades Integradas de Patos).