ANÁLISE DA IGREJA A PARTI DO VATICANO II TENDO COMO FUNDAMENTO A LUMEN GENTIUM Nº 8

PEDRO JOSÉ FERREIRA ARAGÃO

Projeto de Pesquisa Apresentado Como Requisito Parcial de conclusão do Curso de Teologia do Centro de Estudos Superiores Mater Dei, da disciplina TCC, ministrada pelo Profº Pe. José da Cruz                                      

1 INTRODUÇÃO

A Igreja não é a Humanidade, mas é constituída por uma parcela significativa desta mesma Humanidade. Isto quer dizer que a Igreja e o Reino de Deus não são realidades coincidentes, embora haja entre estas duas realidades uma relação privilegiada. Na verdade, a Igreja é uma realidade histórica enquanto o Reino, embora esteja a emergir na história, atinge a sua plenitude na transcendência que está para lá da história.

Devido ao seu carácter comunitario de fiéis, a Igreja pertence à História. O Reino, pelo contrário, encontra a sua plenitude na comunhão humano-divina, a qual é eterna e onde já não existem sacramentos. A Igreja nasceu como comunhão orgânica e dinâmica de pequenas comunidades, às quais os Apóstolos chamavam Igrejas. Nestas comunidades a lei era a comunhão fraterna animada pelo Espírito Santo, dizem os Atos dos Apóstolos: “As Igrejas gozavam de paz (…). Cresciam e fortaleciam-se, vivendo no temor do Senhor, repletas da consolação do Espírito Santo” (At 9, 31).

Devido à união orgânica que existe entre Cristo e as comunidades cristãs, São Paulo diz que as comunidades são o Corpo de Cristo. Falando assim, São Paulo queria dizer que a união entre os crentes não pode existir se não estiver fundamentada em Cristo ressuscitado.

O Concílio Vaticano II descreve a ligação sacramental da Igreja a Cristo, dizendo que esta é o sinal de que a História Humana entrou na plenitude dos tempos, isto é, na fase dos acabamentos. Ao falar da plenitude dos tempos, o Concílio quis dizer que a Humanidade está na fase da divinização. Em outras palavras, graças à Encarnação do filho de Deus, o divino enxertou-se no humano, a fim de a Humanidade ser divinizada.

A Igreja está chamada a ser o sinal visível desta união orgânica da Humanidade à Divindade, como diz o Concílio Vaticano II: “A luz dos povos é Cristo. Por isso, este sagrado Concílio, reunido no Espírito Santo, deseja ardentemente iluminar a todos os homens com a luz deste mesmo Espírito. Esta luz resplandece no rosto da Igreja, a qual está chamada a anunciar o Evangelho a toda a criatura” (LG 1).

A Fé na missão de Igreja é parte integrante da Fé em Jesus Cristo Ressuscitado que é cabeça da mesma Igreja. Como sacramento do plano universal da salvação de Deus, a Igreja exprime o insondável desígnio da bondade e sabedoria de Deus que nos chamou à participação da vida divina (LG 2). A Igreja é a explicitação e corporização deste projeto amoroso de Deus em favor de toda a Humanidade. Mas é também a mediação de comunicação e encontro do Senhor ressuscitado e do seu Espírito com o mundo.

Como sabemos, a pessoa humana, na sua realidade essencial é eterna, pois é uma realidade espiritual. Mas esta realidade espiritual comunica-se com os outros através do corpo. Eis a razão pela qual Cristo faz da Igreja o seu corpo, isto é, mediação de encontro com o mundo. Por outras palavras, a Igreja é mediação para poder acontecer o encontro entre Cristo e o mundo.

O Concílio ainda nos diz que a dignidade do homem e a sua verdade estão na sua vocação à comunhão com Deus (GS 19a). Além disso, esta comunhão é realizada historicamente, de modo singular, em Jesus Cristo (LG 2). O Filho de Deus assume a natureza humana para nos fazer participar da natureza divina, acrescenta o mesmo Concílio. Ao encarnar, o filho de Deus uniu-se organicamente à Humanidade tornando possível, deste modo, a plena realização fundamental do ser humano, isto é, ser incorporado na Comunhão da Santíssima Trindade.

A Igreja é a mediação desta atualização da reconciliação com Deus na marcha da História. O mistério da Igreja não cabe em uma única definição, pois são muitos os elementos de que é constituída como veremos. O essencial, portanto, não é a sua estrutura, mas a sua essência e o seu mistério, pelos quais a Igreja tem origem e pela qual vive. O primeiro capítulo da Lúmen Gentium diz que se trata da realidade transcendente da salvação que se revela e manifesta de modo visível na Igreja (LG 8b). A Igreja é uma assembleia visível e uma comunidade espiritual.

Portanto, a Igreja como Corpo de Cristo constitue uma unidade sacramental e orgânica. Na sua raiz mais profunda é por essência, carismática, porque o Espírito santo está na sua origem e a constitui (LG 4a). É o Espírito quem a conduz e a garante na comunhão. A “instituição” na Igreja, sendo uma realidade humana, tem, todavia, origem no dom sobrenatural do Espírito em ordem à utilidade comum. A Igreja é uma realidade espiritual, mas também social. É ao mesmo tempo uma realidade carismática e também institucional. Tudo nasce de Deus mediante os dons do Espírito Santo.

2 A IGREJA COMO PROJETO DE SALVAÇÃO

2.1 O DEUS QUE SE REVELA POR MEIO DA CRIAÇÃO E HISTÓRIA

 

Antes de tudo precisamos compreender o que vem a ser Revelação: Quando o homem pensa em revelar, o que vem a sua mente?

Revelar é trazer algo a descoberto, ou seja, tirar o véu, ou mesmo descobrir. Conforme Baraúna (1994, p. 1945), revelação é a automanifestação e autodoação de Deus em Jesus Cristo na historia, isto é, com mediação de acontecimentos com gestos interpretados pelas testemunhas autorizadas por Deus.

Podemos então falar da revelação de Deus como Ele se desvendando para nós. Ele mostrando-nos aquilo que era oculto, ou mesmo trazendo a visão aquilo que nossos olhos não podiam ver. É Deus encontrando-nos totalmente ignorantes e dando-nos conhecimento. Não adianta, pela nossa tentativa humana, conhecer Deus. Especulação em relação a revelação não se sai muito bem. Quando temos o anseio de queremos conhecer Deus, temos que depender da sua revelação a nós. É ele que nos dá revelação sobre si mesmo. Deus se revela de várias maneiras, não temos também como colocar Deus em moldes humanos para tentar entendê-lo.

Encontramos sua revelação através da sua criação, na natureza, até mesmo por sonhos e visões – presentes nas Sagradas Escrituras. A história é a nossa maior fonte de compreensão acerca da revelação de Deus, por meio do estudo da história vamos vendo Deus tornando-se manifesto aos povos antigos a ponto de se chegar a até nós. Vejamos um pouco a história dos israelitas. Eles viam Deus, como um Deus da nação, que agia na sua vida individual (Sl 147,19 “anuncia sua palavra a Jacó, seus estatutos e normas a Israel”), eles viam o Deus que lhes falava por meio dos profetas (ISm 3, 19: “ Samuel cresceu. Iahweh estava com ele, e nenhuma das palavras que lhe dissera deixou cair em terra. Todo o Israel soube, desde Dã até Bersabéia, que Samuel estava confirmado como profeta de Iahweh”.) revelando a eles seu caráter cheio de amor e misericórdia (Is 6, 3 : “eles clamavam uns para os outros e diziam: Santo, santo, santo é Iahweh dos exércitos, a sua glória enche toda a terra”). Israel acreditava que ele era povo escolhido de Deus Dt 7, 7-8:

Se Iahweh se afeiçoou a vós e vos escolheu, não é porque serdes mais numerosos de todos os povos – pelo contrario: sois o menor dentre os povos! – e sim por amor a vós e para manter a promessa que ele jurou aos vossos pais; por isso Iahweh te fez sair com mão forte e te resgatou da casa da escravidão, da mão do poder do faraó, rei do Egito. Saberás, portanto, Iahweh teu Deus, é o único Deus, o Deus fiel, que mantém a aliança e amor por mil gerações, em favor daqueles que o amam e observam os seus mandamentos.

Quando Deus reclamava sobre culto e os convida para reconhecê-lo como o único Deus, era para eles que reclamava, assim como amor e vida social. Deus haveria um dia de Julgar os povos e nações, estabelecer um reino de justiça. Seu propósito final para os homens era, portanto, a salvação e, para esse fim, escolhera a Israel para ser seu servo, o qual deveria levar todos os homens a relação verdadeira de criatura com Criador. Como, porém, Israel estava entregue ao pecado (da desobediência), para ser executado o plano da salvação, Deus prometera levantar seu povo que continuava nas trevas e viviam oprimido, um libertador.

 Com a vinda de Jesus Cristo deu-se cumprimento a toda revelação, ou seja, não há nada mais para ser revelado apenas compreendido. Sem duvida alguma a maior fonte de revelação divina está em Jesus Cristo. Jesus é a revelação viva de Deus. Jesus tornou-se humano para podermos entender seu caráter de amor e misericórdia para com sua criação.

Deus fala conosco, assim como falamos uns com os outros, fala de si mesmo, fala de seus planos, assim Ele cumpre seu propósito para com a vida do homem. Ele nos ensinar como caminhar em santidade com Ele, em direcionar nossos passos, aconselha-nos, adverte-nos, faz-nos promessas.

[...]