ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DO BEHAVIORISMO SOB A ÓTICA DE EMANNUEL ZAGURY TOURINHO

 

Luiz Tiago Vieira Santos[1]

 

O artigo “Notas sobre o Behaviorismo de Ontem e de Hoje”, de Emannuel Zagury Tourinho, traz uma análise sucinta sobre a escola psicológica do behaviorismo, buscando suas raízes históricas e sua configuração atual na contemporaneidade. Pode-se dizer que o principal objetivo dos estudos behavioristas se configurava na busca de uma forma de enquadrar todas as respostas animais numa espécie de lei universal que iria permitir, de certa maneira, a previsibilidade e o controle dos comportamentos.

O autor afirma que essa escola psicológica – originada a partir dos trabalhos de Watson – detinha-se no estudo do comportamento e que possuía como método àquele utilizado pelas ciências naturais, isto é, desenvolvida sob dois parâmetros básicos: a observação e a experimentação. Entretanto, no que tange ao surgimento do behaviorismo, embora se divulgue que foi o Watson o primeiro motor desta escola, é sabido que, alguns anos antes dele, vários trabalhos já tinham sido elaborados na mesma linha de raciocínio, como os de Edward Lee Thorndike, com a chamada lei do efeito.

Segundo essa concepção, o comportamento animal poderia ser controlado através de um estímulo de prazer, associado a um determinado tipo de comportamento. Assim haveria por parte do animal uma espécie de aprendizagem, pois haveria uma memorização da associação comportamento-estímulo. Por outro lado, a associação poderia ser também negativa, caso o estímulo fosse de desprazer. Isso acabaria desestimulando certos comportamentos. Esse método ficou conhecido como: “método do ensaio e erro”. Essa teoria, por presumir a construção de um padrão interno de reação, isto é, de aceitar certa internalização da ação, foi alvo de críticas conferidas por diversos psicólogos comportamentais que argumentavam ser esse um retorno aos moldes da psicologia internalista, bem representada, por exemplo, em Freud.

Contudo, ao adotar possibilidades de uma aprendizagem comportamental na qual o animal responderia a estímulos, a teoria de Thorndike promoveu uma ruptura com o mecanicismo da ação até então vigente, trazendo à tona, o selecionismo como causa de explicação para o comportamento. No mecanicismo, segundo Tourinho, as relações são unidirecionais e invariáveis, enquanto que no selecionismo são multidirecionais e variáveis.

Dessa forma, pela ótica selecionista, o animal não simplesmente reagiria automaticamente a estímulos, mas diante deles, reagiria ou não. Assim, por essa teoria, não haveria a certeza absoluta da reação, mas sim a probabilidade de sua ocorrência, pois dependeria das relações do animal com o ambiente externo.

O autor afirma que a teoria de Thorndike foi palco de disputa com outra teoria que tratava do estudo das relações reflexas, de Ivan Pavlov. De acordo com esse fisiologista, as respostas de um organismo seriam reflexos, que poderiam ser extraídos através de estímulos condicionados. Essa disputa entre teorias promoveu uma divisão entre os behavioristas da época, de acordo com o autor.

Watson, por sua vez, seguiria a teoria de Pavlov, ao passo que determinara ser o reflexo a base de explicação do comportamento humano, embora de forma não isolada como propunha Pavlov que, como fisiologista, focava sua teoria em sistemas específicos do organismo. Já Watson, na condição de psicólogo, se predispunha a explorar a teoria reflexiva apontada para o todo sistêmico que forma o organismo e, como já dissemos, criar uma teoria de respostas que servisse tanto para ação simples como para comportamentos complexos peculiares do homem, a exemplo do pensamento.

De acordo com Tourinho, nesses moldes, o trabalho de Watson permitiu o reconhecimento de que suas pesquisas poderiam significar novos rumos para a psicologia e contribuiu para o também reconhecimento desta como disciplina científica. Mais adiante, como afirma o autor, os trabalhos de Watson seriam retomados por Skinner (tido por muitos como fundador da análise do comportamento), que também elegeria os reflexos como objetos de estudo da psicologia.

Contudo, Skinner foi mais adiante, buscando através dos reflexos não um apenas a possibilidade de consegui-lo mediante o estímulo condicionado, mas atentou para a possibilidade de variadas respostas ou reflexos ao mesmo estímulo. Para Skinner, as relações estímulo-resposta dependeriam não só deles, mas de variáveis externas ao organismo como a motivação e as emoções, num esquema que ele denominou de “relações operantes”. Ainda, de acordo com o autor, Skinner foi duramente criticado ao publicar sua teoria, pois partia de pressupostos elaborados a partir da lei do efeito de Thorndike, porém não lhe reconheceu os créditos devidos, assim como fizera mais adiante com Kantor, quando da construção de uma teoria funcional da linguagem.

Não obstante a essas questões, Skinner vai promover a definitiva ruptura com o mecanicismo, refinando a teoria do selecionismo. Afastou assim a ideias como unidirecionalidade e invariabilidade das relações entre estímulos e respostas, bem como também lhes demonstrou seu caráter probabilístico.

Como já foi dito, Skinner procurou desenvolver estudos sobre a linguagem e, nessa perspectiva, analisava o comportamento verbal humano, ou seja, desenvolve uma teoria de análise do comportamento verbal, inclusive do cientista. A abordagem funcional da linguagem, de acordo com Tourinho, subverteu radicalmente as concepções delineadas até então a linguagem e para o mundo das ideias. Acreditava Skinner que tanto a linguagem como as ideias não seriam de realidades independentes, mas variavam de indivíduo para indivíduo através de suas interações bem particulares com a realidade; portanto, sendo de ordem externa.

Assim, para o autor, abordagem de Skinner sobre a linguagem promoveu a quebra da representacionalidade, tanto dela quanto do conhecimento como um todo e causaram impactos importantes para o estudo de problemas atuais pela psicologia, sobretudo nos que dizem respeito às emoções. 

A análise do comportamento desenvolvida por Skinner, de certa forma, influenciou inúmeros sistemas de pensamentos behavioristas e não behavioristas. Estas últimas, embora não oriundas dessa escola psicológica, defendiam semelhantemente ao behaviorismo skinneriano a visão anti-representacional da realidade. Assim, desses inúmeros sistemas de pensamento, começou-se a diversificação das produções referente à temática, caracterizando a análise do comportamento como um campo do saber multidimensional, uma vez que dialoga outras áreas do conhecimento humano.

Tourinho afirma que a análise do comportamento, hoje em dia, é constituída por um tripé de produções analítico-comportamentais: investigação básica, aplicações da análise do comportamento e produções reflexivas. Para o autor, ambas se complementam e se regulam, bem como não pertencem somente a um segmento, mas estão intimamente associadas. A investigação básica voltada para a experimentação, as aplicações de análises do comportamento, direcionadas para a intervenção profissional visando a solução de problemas humanos e as produções reflexivas, promovendo reflexões metacientíficas através do diálogo com outras ciências.

Por fim, Tourinho conclui que a abordagem atual do comportamento se direciona hoje em duas direções. A primeira refere-se à linguagem que, por ser regulada por contingências sociais, possuem uma base pública não podendo assim refletir algo estritamente pessoal ou interno. Para essa abordagem, as expressões de sentimentos, por exemplo, dependem do que foi construído socialmente a respeito dos conceitos desses sentimentos. Já a segunda direção sugere uma abordagem comportamental que demonstra serem os comportamentos frutos das relações do indivíduo com suas emoções e com a cultura. Em suma, a forma como a sociedade encara determinados assuntos, juntamente com nossas emoções, influenciam nossos comportamentos.

Algumas das mais significativas contribuições do behaviorismo têm sido, e continuam sendo, a concepção relacional do comportamento humano, a visão selecionista da causação do comportamento, a interpretação funcional, não representacional, da linguagem e dos processos linguísticos e a proposição de que os fenômenos psicológicos são relações do homem com o mundo, que podem ser abordadas com os conceitos de uma ciência do comportamento. (TOURINHO, 2011: 186)


REFERÊNCIAS

TOURINHO, Emmanuel. Notas sobre o Behaviorismo de ontem e de hoje. Psicologia Reflexão e Crítica, Porto Alegre, vol. 24, nº 1, 2011. p. 186-194. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/prc/v24n1/v24n1a22.pdf>. Acessado em 08-02-2015



[1] Possui LICENCIATURA PLENA EM CIÊNCIAS NATURAIS pela UNIVERSIDADE TIRADENTES - UNIT (2009), com experiência docente na Educação Básica (Ensino Fundamental e Médio) nas disciplinas Ciências e Biologia respectivamente e na Educação Técnica (área da saúde) na disciplina Microbiologia e Parasitologia Humanas. Atualmente é graduando do BACHARELADO EM DIREITO pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE – UFS (Currículo Lattes)