Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA

Centro de Filosofia, Letras e Educação (CENFLE)

Curso de Letras – Habilitação em Língua Portuguesa

Tópicos de Literatura Cearense -  8° Período - Noite

 

ALICE SILVA DA COSTA

ANTONIA EDILANE OLIVEIRA AGUIAR

DAVI GERARD MORAIS MOREIRA

DEBORAH ALINNE PEREIRA BARROSO

KAROLINE ARAÚJO SALVADOR

 

RESUMO

O presente trabalho pretende analisar criticamente a obra regionalista e social O Quinze, obra-prima de Rachel de Queiroz publicada em 1930, apresentando como tema central, a seca de 1915, que assolou o Nordeste do país. Dividimos a pesquisa através dos tópicos: O autor no cenário literário, a obra no cenário literário, elementos narrativos da obra, estudo da linguagem da obra e por fim, uma análise crítica sobre a obra estudada. Tivemos como recursos referenciais da pesquisa algumas edições da obra além de artigos e sites da internet.

Palavras-chaves: Análise. Crítica. O Quinze.

 

1. O AUTOR NO CENÁRIO LITERÁRIO

1.1 Rachel de Queiróz

Rachel de Queiroz foi uma importante escritora brasileira. Nasceu em Fortaleza, no estado do Ceará, em 1910. Era filha de Daniel de Queiroz Lima e Clotilde Franklin de Queiroz. Começou a publicar seu contos aos dezesseis anos e nunca mais parou. Além de escritora foi professora, jornalista, teatróloga, etc. Aos vinte anos foi aclamada na vida literária com o romance O Quinze, obra que foi fruto de sua inspiração na sua saída do Ceará, fugindo da seca, para o Rio de Janeiro. Foi contemplada com o Prêmio da Fundação Graça Aranha, em 1931. Também foi colaboradora de vários jornais em três estados do Brasil. Ela faleceu no Rio de Janeiro, de um ataque cardíaco, em novembro de 2003.

1.2 Principais Obras

O Quinze -1930
João Miguel -1932
Caminho de Pedras -1937
As Três Marias -1939
A Donzela e a Moura Torta -1948
O Galo de Ouro -1950
Lampião -1953
A Beata Maria do Egito -1958
100 Crônicas escolhidas -1958
O Brasileiro Perplexo -1964
O Caçador de Tatu -1967
O Menino Mágico -1969
Dora Doralina -1975
As Menininhas e Outras Crônicas -1976
O Jogador de Sinuca e Mais Historinhas -1980
Cafute e Pena-de-Prata -1986
Memorial de Maria Moura -1992
Nosso Ceará -1997
Tantos Anos -1998
Três Romances -1948
Quatro Romances -1960

1.3 O que a crítica diz sobre a autora

A autora é considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras do século XX. Rachel de Queiróz escreveu vários romances, todos enaltecidos pela crítica. Muitas de suas obras foram adaptadas para o cinema e também para a televisão o que gerou um grande sucesso e, certamente, só contribuiu para o crescimento de sua popularidade. E, além disso, foi ainda a primeira mulher a conseguir entrar para a Academia Brasileira de Letras, tendo ocupado a cadeira nº 5.

2. A OBRA NO CENÁRIO LITERÁRIO

2.1 Período literário a que a obra pertence

            De acordo com as pesquisas realizadas (Toda Matéria, 2017), podemos afirmar que a obra “O Quinze” de Rachel de Queiróz, foi publicada em 1930, na segunda fase do Modernismo no Brasil, ou Romance de 30, esse período literário ocorreu de 1930 a 1945 e é caracterizado pela valorização do regionalismo, no qual as obras tinham um caráter social. Outra característica importante é que as obras realizadas tinham como principal objetivo denunciar a realidade do país. A escritora Rachel de Queiróz destacou-se ao publicar o romance nessa fase, pois o título da obra “O Quinze” refere-se ao ano da seca que devastou o Nordeste, alguns trechos mostram, claramente, a situação dos habitantes da região em 1915.

Sacudido pela estrada larga do quartau, seguiu rápido, o peito entreaberto na blusa, todo vermelho e tostado do sol, que lá no céu, sozinho, rutilante, espalhava sobre a terra cinzenta e seca uma luz que era quase como fogo. (QUEIRÓZ, 1930, P. 3)

Como mencionado anteriormente, vemos no trecho acima, que a autora preocupava-se em descrever, minuciosamente, a região em que estava inserida, mostrando a problemática social daquele lugar. Esse período também foi marcado por uma literatura engajada, na qual os autores abordavam questões ideológicas, como a miséria e a tipificação social. Como sabemos, os autores denunciavam as desigualdades, mas em alguns casos, preocupavam-se em dar sugestões para solucionar o problema. Outro fator importante, é que havia certa proximidade entre o Romance de 30 e o Realismo, pois as duas correntes literárias tinham como característica a verossimilhança, ou seja, a necessidade de retratar a realidade. Vejamos as principais características do Romance de 30, conforme o site Toda Matéria (2017).

2.2 Principais características do Romance de 30

  • Regionalismo romântico
  • Romance social
  • Diversidade cultural brasileira
  • Retomada do romantismo e do realismo
  • Perspectiva determinista
  • Narrativa linear

2.3 Principais temáticas abordadas na obra

Fazendo uma análise mais específica, as principais características observadas na obra de Rachel de Queiróz, são: a descrição do mundo patriarcal, com uma ideia machista e conservadora; a perspectiva feminina, ou seja, a posição da mulher diante da sociedade; o homem sertanejo e, por fim, os efeitos da seca, que foram momentos vividos pela autora em sua infância, visto que, se tratava de sua consciência.

3. ELEMENTOS NARRATIVOS DA OBRA

3.1 Enredo

O Quinze é um romance regionalista de temática social. Logo, conta uma história que apresenta dois planos: a saga da família de Chico Bento (recheada de amarguras e desgraças) e a história de amor entre Vicente e Conceição, que na verdade não foi um romance concretizado, visto que a falta de comunicação entre os dois e o desnível cultural que os separam foram alguns dos fatores que levaram ao desfecho infeliz.

No ato da leitura percebemos que o romance tem característica psicológica, pois nos deixa imergir sobre os pensamentos e sentimentos dos personagens. A análise exterior dos personagens existe, mas a autora vai soltando uma característica aqui, outra além, sem interromper a narrativa para pormenores. A autora situa a história do romance no Ceará de 1915. O fato histórico importante da época era a seca de 1915, uma das estiagens que mais marcaram o sofrimento do sertanejo nordestino, e que dá origem ao título do livro.

Como fora mencionado anteriormente, a história tem dois planos. Temos portanto de um lado a história da saga de Chico Bento e sua família e do outro a história de Conceição. Vejamos como se envereda cada uma delas.

3.1.1 História de Conceição

Conceição é uma jovem de 22 anos que sempre passava uns meses de suas férias da escola em que era professora com sua avó Dona Inácia, carinhosamente chamada de Mãe Nácia (que lhe criara desde que morrera a mãe). Elas ficavam na fazenda da família (no Logradouro), perto do Quixadá. “Ali tinha a moça o seu quarto, os seus livros, e, principalmente, o velo coração amigo de Mãe Nácia” (QUEIROZ, p.9).  Ela não demonstrava muito interesse em namorar/casar, prefere deixar claro que tem orgulho em ser um “solteirona” independente, característica pouco peculiar das mulheres românticas. Mas ela acaba “se engraçando” com seu primo Vicente, um jovem trabalhador, “alegre e dedicado, amigo do mato, do sertão, de tudo o que era inculto e rude.” (QUEIROZ, p16) que prefere ser vaqueiro e ajudar o pai na fazenda, ao contrário do seu irmão que cursou bacharelado, casou-se, arranjou um emprego público e morava na Capital por achar a vida no sertão humilhante. Ele também tem sentimentos por ela, no entanto, o destino deles se separa quando, por causa da seca e da falta de esperança que a chuva venha, Conceição consegue convencer, com muito esforço, sua avó a sair dali e voltar para sua casa em Fortaleza.

Enquanto Conceição trabalhava no Campo de Concentração, um lugar onde os retirantes do sertão recebiam apoio e ajuda com comida e abrigo, ela encontrou por acaso Chiquinha Boa, que trabalhou por um período na fazenda de Vicente e que foi ao Campo de Concentração porque ouviu falar que o governo estava ajudando o povo que sofria com as consequências da seca. As duas conversaram e Conceição descobriu, por meio dela, que Vicente teve um caso “com uma caboclinha qualquer”. Conceição fica irritada com isso, o que mostra que realmente ela tinha interesse pelo Vicente e um dia, quando ele resolve visitá-las (ela e sua avó, que fazia bom gosto do possível namoro) como havia prometido, ela, ainda revoltada com a informação do seu possível envolvimento com a filha de um de seus empregados, passa a tratá-lo de modo indiferente, deixando-o ressentido, pois não entende o motivo, então ele:

 

“(...) foi descobrindo uma conceição desconhecida e afastada, tão diferente dele próprio, que, parecia, nunca coisa nenhuma os aproximara. Em vão procurou naquela moça grave e entendida do mundo, a doce namorada que dantes pasmava com a sua força, que risonhamente escutava os seus galanteios, debruçada à janela da casa-grande, cheirando o botão que ele lhe trouxera... E ao fim da visita, quando ela falava sobre o efeito da seca na vida da cidade, pareceu-lhe até pedante...Tinha na voz e nos modos uma espécie de aspereza espevitada, característica de todas as normalistas que conhecia...” (QUEIROZ, p.78)

 

 

Depois da visita, deitada na cama, com a luz apagada, Conceição recordava do primo. E...

 

“Num relevo mais forte, tão forte quanto nunca o sentira, foi-lhe aparecendo a diferença que havia entre ambos, de gosto, de tendências, de vida... ele era bom de ouvir e de olhar, como uma bela paisagem, de quem só se exigisse beleza e cor. Pensou no esquisito casal que seria o deles...Pensou que, mesmo o encanto poderoso que a sadia fortaleza dele exercia nela, não preencheria a tremenda largura que os separava.” (QUEIROZ, p.78, 79 e 80)

 

 Agora, o caso de Zefinha parecia mesquinho e sem importância e ela descobre que o que ela queria, ou seja, alguém que “nas horas de tempestade, de abandono, ou solidão”, ela pudesse buscar o “seguro companheiro que entende e ensina, e completa o pensamento incompleto, e discute as ideias que vem vindo, e compreende e retruca as invenções que a mente vagabunda vai criando” (QUEIROZ, p. 79), talvez ela não pudesse encontrar em Vicente. Depois dessa visita, os laços deles se estreitam e o interesse que um sentia pelo outro diminui, mas não finda.

Quando a seca finalmente acabou no início de dezembro fazendo voltar as primeiras chuvas, Dona Inácia volta sozinha para o Logradouro e Conceição permanece na capitaljunto com seu afilhado Manuel, Chamado de Duquinha, o filho caçula de Chico Bento que foi dado a pedido insistente dela, para que ele tivesse um rumo e cuidados melhores.

No último capítulo, que conta os detalhes de uma animada quermesse de Natal em Quixadá realizada três anos após a terrível seca quando tudo parecia razoavelmente estabilizado, Conceição está lá, e numa conversa com o novo dentista da terra enquanto observavam a felicidade de uma amiga que parecia feliz agora que estava casada e tinha uma filhinha, Conceição é acusada de não ter felicidade semelhante “por que não quer”, a moça sempre com respostas prontas, insinua que é feliz sim, por outros motivos e que não teve o mesmo destino da amiga porque nunca encontrou “ninguém que valesse a pena”. E sobre o amor, ela faz a seguinte reflexão:

“Ora o amor!... Essa história de amor, absoluto e incoerente, é muito difícil de achar...eu pelo menos nunca o vi... o que vejo, por aí, é um instinto de aproximação muito obscuro e tímido, a que a gente obedece conforme as conveniências... Aliás, não falo por mim...que eu, nem esse intinto... Tenho a certeza de que nasci para viver só...(QUEIROZ, p148)”

 

Por fim, ela se conforma que apesar de reconhecer que ela seria sempre considerada “estéril, inútil e só”, perante as conveniências da sociedade, ela adoça a amargura e o vácuo da maternidade impreenchida de seu coração com a presença de Duquinha que ela o criara como verdadeiro filho, seguindo o destino de toda mulher que é “acalentar uma criança no peito”, no seu caso, não no sentido literal, mas em relação aos seus cuidados infinitos, sua dedicação e seu carinho.

 

3.1.2 História de Chico Bento

A história de Chico Bento acontece simultaneamente a de Conceição. Ele era vaqueiro da fazenda de Aroeiras, que pertencia a Dona Maroca. Por conta da seca, a proprietária manda soltar o rebanho e “expulsa” os empregados para evitar maiores prejuízos, Chico fica sabendo disso por meio de um bilhete, deixado pelo administrador e sobrinho de Dona Maroca, que dizia:

 

“Minha tia resolveu que não chovendo até o dia de são José, você abra as porteiras e solte o gado. É melhor sofrer logo o prejuízo do que andar gastando dinheiro à toa em rama e caroço, pra não ter resultado. Você pode tomar um rumo ou, se quiser, fique nas Aroeiras, mas sem serviço da fazenda. Sem mais, do compadre amigo...” (QUEIROZ, p.21).

   

 Chico Bento tem duas opções: ficar no sertão e morrer de fome, ou então migrar para algum outro lugar para tentar sobreviver. Junta um pouco de dinheiro, troca e vende algumas reses e consegue uma burra negociando com Vicente. Começam a viajar (ele, a mulher, a cunhada Mocinha e os cinco filhos). A cunhada Mocinha, no trajeto, encontra uma casa para trabalhar (casa da dona Eugênia), vendendo café na estação de trem. Porém, ela passou mais tempo namorando e se engraçando com os homens do que trabalhando. Eugênia, revoltada, despediu Mocinha, que continuou vivendo por aí. Na história, acabou se tornando uma “mulher da vida”, com um filho sem pai.

Chico Bento continuou sua saga. Josias, seu filho, morrendo de fome, comeu uma mandioca crua e acabou morrendo envenenado. A burra já estava morrendo, então Chico a vendeu por 6 mil réis antes dela morrer. Depois vem o episódio da cabra roubada: Chico Bento encontra uma cabra no caminho e, desesperado, a mata para poder comê-la. Nesse ínterim, aparece o dono da cabra e, ao ver o animal morto, se revolta. Acusa Chico Bento de ladrão e recolhe o corpo do animal. Chico Bento, desesperado e com a família morrendo de fome, pede para o dono da cabra deixar um pouco de carne. Ele, revoltado com Chico Bento, deixa apenas as tripas para Chico Bento e vai embora.

Depois, Pedro (outro filho de Chico Bento) desaparece. Chico Bento vai até a delegacia para pedir ajuda e o delegado o reconhece (é o Luís Bezerra, amigo de Chico Bento há algum tempo). O delegado ajuda a procurar o menino e descobre que ele se misturou com comboieiros de cachaça (o que seria melhor para o menino do que ficar com o próprio pai e conviver com sua desgraça de retirante). O delegado alimentou e arranjou passagens de trem para Chico Bento e o que restou da sua família viajar para Fortaleza.

Ao chegarem lá, Chico Bento e sua família ficam no Campo de Concentração e se encontraram com Conceição, que os ajudou. Com a ajuda de Conceição, Chico Bento conseguiu um trabalho no açude do Tatuape. A moça enviou um bilhete à senhora que administrava o serviço, tentando comovê-la com a história da família do vaqueiro.

Conceição adota Duquinha (Manuel), o caçula dos filhos de Chico Bento, já que estava doente e precisava de socorro: estava prestes a morrer. Chico Bento resolve ir para São Paulo para tentar novas oportunidades, visto que o emprego na represa (açude) do Tauape não estava rendendo (pagavam muito pouco, mal dava para sobreviver e sustentar a família). Conceição os ajuda e consegue as passagens para eles que embarcam em pouco tempo num “navio, escuro e enorme, com sua bandeira verde de bom agouro, tremulando ao vento do Nordeste, o eterno sopro da seca” levando-os para um lugar longe do seu sertão, onde sempre houvesse farinha e sempre houvesse inverno.

3.2 Tipo de Narrador

Utilizando o discurso direto, a autora apresenta uma prosa narrada em 3 ͣ pessoa, que conta com a presença de um narrador onisciente, que estando de fora da história, se introduz na intimidade dos personagens como se fosse Deus. Sabe de tudo sobre eles, tanto fisicamente quanto psicologicamente, conhecendo seus desejos e adivinhando seus pensamentos.

3.3 Caracterização dos Personagens

            Como já fora mencionado, O Quinze é uma narrativa linear que trata da realidade dos retirantes nordestinos quando essa região foi atingida por uma grande seca em 1915, ela traz como figuras representativas os:

3.3.1 Personagens Principais/ Protagonistas:

  • : Neta de Dona Inácia. É culta e tem ideias avançadas sobre a condição feminina de sua época. Tinha vocação para ser “solteirona”: não sentia vontade de casar, tendo uma perspectiva diferente do comportamento feminino tradicional da época (casar e fazer crescer os filhos). O único homem que lhe despertou desejos é o primo Vicente. Ela é a figura principal da obra, uma vez que faz a ligação dos dois planos já citados da histórias.  
  • Dona Inácia (Mãe Nácia): Avó de Conceição, espécie de mãe, pois foi quem a criou depois que a mãe verdadeira morreu. É dona da fazenda Logradouro, na região de Quixadá. Não aprova as ideias liberais da neta, mas tem muito carinho e cuidado por ela.
  • : Filho de fazendeiro rico (major). Desde menino, quis ser vaqueiro. No início, isso causava tristeza e desgosto à família, principalmente à mãe, Dona Idalina. Vicente é o vaqueiro não-tradicional da região. Cuida do gado com um desvelo incomum, mas cuida do que é seu, ao contrário dos outros (Chico Bento é o exemplo) que cuidam de gado alheio. Tem boas condições financeiras, mas é humano em relação à família e aos empregados. Não é um rico metido.
  • Chico Bento: É o vaqueiro pobre que cuida do rebanho de Dona Maroca, da fazenda das Aroeiras, na região de Quixadá. Ele e Vicente são compadres e vizinhos. Chico Bento tem a mulher (Cordulina) e cinco filhos, todos ainda pequenos. Expulso pela seca e pela dona da fazenda, Chico Bento e família empreendem uma caminhada desastrosa em direção a Fortaleza. Perde dois filhos no caminho: um morre envenenado (Josias), o outro desaparece (Pedro). Antes de embarcar para São Paulo, doa o mais novo (Duquinha) para a madrinha, Conceição (que estava em Fortaleza, com a Dona Inácia, por causa da seca). De Fortaleza, Chico Bento e parte da família vão, de navio, para São Paulo.
  • : É a esposa de Chico Bento. Personifica a mulher submissa, analfabeta, sofredora, com o destino atrelado ao destino do marido. É o exemplo da miséria como consequência da falta de instrução. 

3.3.2 Personagens Secundários:

  • Chiquinha Boa: trabalhava na fazenda de Vicente, mas deixou a região rural na época da seca achando que o governo estava ajudando os pobres que migravam para a capital;
  • Luis Bezerra: amigo e compadre de Chico Bento e Cordulina. Também trabalhou na fazenda de Dona Maroca (fazenda de Aroeiras), mas saiu e se tornou delegado;
  • : esposa de Luís Bezerra, madrinha do Josias
  • : filho de Chico Bento que desaparece durante a peregrinação da família sertão a dentro;
  • : filho de Chico Bento que morre envenenado; 
  • Duquinha: filho caçula de Chico Bento doado à Conceição;
  • Mocinha: Irmã de Cordulina, portanto cunhada de Chico Bento
  • Paulo: irmão mais velho de Vicente que mora na Capital
  • Lourdinha: irmã mais velha de Vicente
  • Alice: irmã mais nova de Vicente
  • Dona Idalina: prima de Dona Inácia e a mãe de Vicente, Paulo, Alice e Lourdinha
  • Mariinha Garcia: moradora de Quixadá, interessada em Vicente e amiga de suas irmãs
  • Major: fazendeiro rico da região de Quixadá, pai de Vicente e das meninas.
  • Dona Maroca: fazendeira e dona da fazenda Aroeiras, na região de Quixadá que resolve não ter prejuízos e abandona seu rebanho e empregados antes que a seca se mostre mais feroz.
  • Zefinha: filha do vaqueiro Zé Bernardo, o braço direito de Vicente no cuido do gado. É com quem a vizinhança comentava que Vicente teria tido um caso.

3.4 Classificação do Tempo e do Espaço

3.4.1 Tempo

Não há avanços nem recuos no tempo: a história é contada de maneira tradicional, obedecendo à sequência de início, meio e fim. 

3.4.2 Espaço

A história acontece no Ceará, principalmente na região de Quixadá, onde se situam as fazendas de Dona Inácia (avó de Conceição), do Major (pai de Vicente) e de Dona Maroca (patroa de Chico Bento).  Há também o cenário urbano, destacando Fortaleza, por onde passa a família de retirantes de Chico Bento e onde mora Conceição. A narrativa também possui cenas e episódios característicos da região como a procissão de pedir chuva realizada em outubro em intercessão de São Francisco e traços descritivos da condição de retirantes, magros, esguios, tostados brutamente pelo sol, mas que milagrosamente muitos conseguiram sobreviver, inclusive as crianças.

4. ESTUDO DA LINGUAGEM DA OBRA

4.1 Tipo de Linguagem

Quanto à linguagem, Não há uso de palavreado erudito. Sua linguagem é natural, direta, coloquial, simples, sóbria, condicionada ao assunto e a região, própria da linguagem moderna brasileira. É uma linguagem regionalista sem afetação, sem pretensão literária e sem vínculo obrigatório a um falar específico (modismo comum na tendência regionalista).

De início é necessário lembra do contexto histórico existente na obra e todo o cenário de seca em questão e em associação com a fala dos personagens perceber que a linguagem dá prioridade ao modo regional de comunicação daquele povo, ou seja, o povo nordestino.  A linguagem é bem simples, não tendo exibição da autora por vocabulário culto, mesmo quando se trata da personagem Conceição, que é uma professora, o diálogo flui espontaneamente, dentro dos padrões do cotidiano. Discurso livre indireto. As falas dos personagens não são próprias, que são marcadas pelas aspas e travessões, o narrador está integrado com o personagem, dando a impressão de que os dois falam juntos. Fazendo com que o narrador integre-se na vida do personagem, nas suas intimidades, adivinhando-lhe os anseios e dúvidas.

4.2 Estudo do Léxico/Vocabulário

Um dos objetivos da literatura regional é mostrar entre esses aspectos, os dialetos, as inúmeras expressões de diversas regiões. A temática da obra proporciona através de muitas expressões de linguagem permitindo mostrar um dos objetivos desse tipo de literatura que seria o retrato de uma realidade regional, podemos considerar a obra como uma denúncia social feita pela autora e o seu descontentamento com aquela condição que poderia ser amenizada ou até mesmo torna se inexistente.  A real presença de recursos da língua falada, nesse sentido Rachel nos mostra com certa genialidade, a linguagem popular passa para a escrita, com sua maneira única de usar as palavras mostra um estilo forte e rico de expressividade.

Destacaremos a seguir algumas dessas expressões e uma lista com palavras e seu significado a título de curiosidade e que pode servir como auxílio para quem manifestar interesse em ler a obra.

 

Expressões/Palavras

Significados

 

Ultimou

 

Ultimou vem do verbo ultimar. O mesmo que: acabou, completou, concluiu, finalizou, findou, perfez, rematou.

 

Maço

 

Conjunto de coisas (papéis, cédulas, cartas) atadas pelo mesmo liame, ou contidas no mesmo invólucro (cigarros etc.).

 

Insone

 

adj. Que não tem sono, que não dorme

 

Aleijão

 

Deformidade física. [Figurado] Defeito moral. Monstro, pessoa muito disforme.

 

 

 

Jurema

 

s.f. Gênero de árvores da família das leguminosas, subfamília das mimosáceas, de que há várias espécies. Beberagem enfeitiçada.

 

 

Defronte

 

Localizado à frente de; diante de: a igreja fica na rua ali defronte.

 

Ancas

 

Região do corpo que se estende da cintura até as coxas. Compreende as partes íntimas femininas quadris e todo o resto desta região

 

 

Rebentões

 

Broto que nasce na raiz dos troncos, podendo até mesmo se separar da árvore original e formar uma nova planta. 

 

Terçados

 

Flexão de terçar. 
1. Que foram misturados. 
2. Foram divididos em três partes. 

 

Tange

 

 

Ato de manusear ou manipular: o carpinteiro tange a madeira com habilidade.

 

Carece

 

Carece vem do verbo carecer. O mesmo que: exige, necessita, possui, precisa, reclama, requer, requere.

 

 

Mormaço

 

Tempo quente, úmido e abafado, geralmente com um tipo de neblina caraterística que não indica nem resulta em chuva: o banhista foi à praia só com mormaço.

 

Tapera

 

Casa velha abandonada

 

Pigarreou um assentimento

 

 

Pigarreá é uma palavra derivada de pigarrear. Significado de pigarrear: Ter tosse com pigarro (muco)

 

Ganhar o mundo

 

Sair por vários lugares e não voltar tai cedo.

 

Trouxa

 

Pessoa que se deixa enganar com facilidade; quem é facilmente enganado ou iludido.

 

Descarnado

 

Separado ou privado das carnes. Muito magro.

 

Alpendre

 

 

Pequeno telhado saliente acima de uma porta, de uma janela, para abrigar do sol, da chuva, ou para servir de ornato; telheiro.

 

A mão em pala

 

A mão esperta, crava.

 

Domingo atrasado

 

Domingo que passou

 

Maçada

 

Golpe ou pancada com maço ou maça. Sova de paulada, pancadaria.

 

 

Deixe estar

 

Deixar com está em sentido de espera, vingança.

 

 

 

Gramofone

 

Antigo fonógrafo que reproduz sons de palavras ou vozes por meio de discos; vitrola.

 

Ignomínia

 

Desonra extrema, opróbrio, infâmia pública: a traição é uma ignomínia.

 

Parapeito

 

 

Parede de apoio que se eleva mais ou menos à altura do peito.

 

Tipoia

 

Tira de pano ou lenço presa ao pescoço para sustentar um braço doente.

 

Cangalha

 

Armação que se coloca no dorso das bestas para sustentar a carga dos dois lados.

 

 

Alforjes

 

Plural de alforje. s.m. Saco duplo cujas extremidades estão fechadas, com uma abertura no centro que facilita a dobragem.

 

 

De comer

 

Comida. Janta, almoço.

 

Purulenta

 

adj. Repleto de pus; que apresenta uma infecção definida pelo aparecimento de pus, secreção amarelada e viscosa.

 

 

Ripuna

 

Sentir nojo

 

 

Surrão

 

Espécie de bornal de couro usado pelos pastores para levar comida e objetos de seu uso. Roupa gasta e suja.

 

4.3 Figuras de Linguagem

As figuras de linguagem são recursos de expressividade usados para tornar o discurso mais atrativo e transportar uma mensagem mais real sobre o que se está falando. Na obra de Rachel é recorrente o uso de variados tipos de figuras de linguagem. Logo abaixo estão conceitos de algumas figuras de linguagem associados a trechos da obra:

4.3.1 Anáfora “Repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases”

  • legume, sem serviço, sem meios de nenhuma espécie, não havia de ficar morrendo de fome, enquanto a seca durasse.

4.3.2 Metáfora “Comparação”

  • Ele era bom de ouvir e de olhar, como uma bela paisagem, de quem só se exigisse beleza e cor. (p79)

4.3.3 Prosopopeia “Dá qualidades humanas a um ser inanimado”

  • Alta noite, na camarinha fechada que uma lamparina moribunda alumiava mal, combinou com a mulher o plano de partida.

4.3.4 Hipérbole “Exagero”

  • Ela ouvia chorando, enxugando na varanda encarnada da rede, os olhos cegos de lágrimas.

4.3.5 Sinestesia “Qualidades de outro sentido, se refere a voz como a um ser que pode levantar”

  • A voz lenta e cansada vibrava, erguia-se, parecia outra.

CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS SOBRE A OBRA

            A obra apresenta a seca do nordeste e consequentemente a fome. Não trazendo nem querendo dar lição, mas como imagem da vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Dicionário online de português. Pesquisa de significados. Disponível em:  https://www.dicio.com.br/surrao/. Acesso: 21/10/2017

Figuras de linguagem – o que são, exemplos, resumo. Disponível em: https://geekiegames.geekie.com.br/blog/figuras-de-linguagem/. Acesso: 21/10/2017

O Quinze - Resumo e Análise. Disponível em: http://www.resumosdeliteratura.com/2014/03/o-quinze-resumo-e-analise.html?m=1. Acesso: 15/10/2017

O Regionalismo na imagem do retirante em “O Quinze” de Rachel de Queiroz. Disponível em: http://letrasuva.blogspot.com.br/2008/10/o-regionalismo-na-imagem-do-retirante.html. Acesso em: 20/1017.

OLIVEIRA, Maria Eveuma de; FREIRE, Manoel; CHAVES, Sérgio Wellington Freire. RACHEL DE QUEIROZ: Uma mulher a frente de seu tempo. A produção de autoria feminina - Vol. 2, n. 1, jan./jun. 2012.

Poesia de 30. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/poesia-de-30/. Acesso em: 20/10/17.

QUEIROZ, Rachel de. O Quinze. Fortaleza, edição da autora, Estabelecimento Graphico Urania (impressão), 1930; 56º ed., São Paulo, Siciliano, 1997.

QUEIROZ, Rachel de. QUEIROZ, Maria Luíza de. Tantos Anos. São Paulo-SP: Siliciano, 1998.