UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ

CENTRO DE FILOSOFIA, LETRAS E EDCAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS/PORTUGUÊS

ALICE SILVA DA COSTA

ANTÔNIA EDILANE OLIVEIRA AGUIAR

DEBORAH ALINNE PEREIRA BARROSO

KAROLINE ARAÚJO SALVADOR

“A borboleta é capturada e morta, para ser exibida na Europa: sai do seu meio ambiente através da morte. Inocência, prisioneira e vítima de seu meio, transcende-o e se liberta apenas pela morte. Ambas representam a ideia de beleza e de fragilidade. Enquanto a borboleta se eterniza e perpetua o nome de Inocência, espetada pelo cientista num estojo de colecionador, a personagem do romance é eternizada pelo romancista.”

RESUMO

O presente trabalho pretende analisar criticamente o romance regionalista Inocência, um clássico do fim do Romantismo e obra-prima de Visconde de Taunay que descreve os hábitos, costumes e cenários da vida do sertão tão bem conhecidas pelo autor por conta de suas viagens e campanhas militares. Dividimos a pesquisa através dos tópico: autor, obra, escola literária a qual pertence, elementos narrativos, estudo do léxico e por fim, uma análise crítica nossa sobre a obra estudada. Tivemos como recursos referenciais algumas edições da obra além de artigos e sites da internet. Nos despertou bastante interesse e apreço a forma como o autor nos mostra de forma bem clara a simplicidade, o sofrimento e o jeito típico do sertanejo, através de seus poucos, porém notáveis personagens.

Palavras-chaves: Análise. Crítica. Inocência.

1 O AUTOR NO CENÁRIO LITERÁRIO

1.1 Alfredo Maria Adriano d'Escragnolle Taunay, primeiro e único visconde de Taunay, (Rio de Janeiro, 22 de fevereiro de 1843 — Rio de Janeiro, 25 de janeiro de 1899) foi um nobre, escritor, músico, professor, engenheiro militar, político, historiador e sociólogo brasileiro.

Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, ocupando a Cadeira n.º 13. Também é o patrono da Cadeira n.º 17 da Academia Brasileira de Música.

Taunay tinha um agudo senso de observação e análise, aliado a uma vivência riquíssima da paisagem e da História do Brasil. Foi um dos primeiros prosadores brasileiros a emprestar a linguagem coloquial regional em suas obras.

Na época em que o autor se inspirava para escrever Inocência, publicado em 1872, acontecia no país a aprovação da Lei do Ventre Livre, onde todos os filhos de negros que nascessem à partir daquela data seria livre da escravidão brasileira.

  1. Principais obras: Romances

             A mocidade de Trajano (1870); Inocência (1872); Lágrimas do coração, O manuscrito de uma mulher (1873); Ouro sobre azul (1875); O encilhamento (1894); No declínio (1899) Histórias brasileiras (1874); Narrativas militares (1878); Ao entardecer (1900) – Obra póstuma.

  1. Crítica sobre o autor

                  Foi um ator não denominado pelo sentimentalismo, que soube conjugar as características fundamentais da estética romântica com grande acuidade na construção de tipos e na descrição das paisagens brasileiras. Focalizou os usos e costumes do interior do pais, em narrativas pitorescas. É notável como o narrador nos apresenta o choque de duas concepções de mundo extremamente diversas. Pereira, homem do sertão, preso a padrões estritos de comportamento, mantém sua bela filha Inocência reclusa.

Crítico das influências da literatura francesa, Taunay buscava promover a arte brasileira no exterior. Taunay foi um autor prolífico, produzindo ficção, sociologia, música (compondo e tocando) e história. Na ficção, a obra Inocência é considerada pelos críticos como seu melhor livro.

2 A OBRA NO CENÁRIO LITERÁRIO E AS CARACTERÍTICAS QUE A CATEGORIZAM

 

2.1 Resumo

O livro "Inocência" (1872) foi escrito pelo professor, político, historiador e sociólogo carioca Alfredo d'Escragnolle-Taunay (1843-1899)
é ambientado no sertão de Mato Grosso, em 1860, o romance tem como protagonista Inocência. Órfã de mãe, ela foi criada pelo pai, o mineiro Martinho dos Santos Pereira, que pauta a sua vida por valores como a honra e a palavra dada, além do amor incondicional pela filha. Julgando que está fazendo o melhor por ela, decide casá-la com Manecão Doca, um homem simples e rude, porém rico, o que possibilitaria a filha uma boa vida.

O drama da obra se instaura quando o prático de enfermagem Cirino Ferreira de Campos aparece, um caipira de São Paulo, criado em Ouro Preto, 25 anos, que cavalgava pelo sertão realizando curas de maleitas e febres. Ao curar Inocência, desperta nela uma grande paixão, que terá um final trágico, pois Manecão, inconformado com o desinteresse da noiva pelo casamento, termina por matar o rival numa estrada. Tempos depois, Inocência, melancólica, também falece, numa morte e tristeza própria do romantismo.

Cristaliza-se assim a lógica romântica: ou o par central realiza seu amor em vida, vivendo felizes para sempre, ou os protagonistas acabam por se encontrar em outro plano, morrendo.

A obra estrutura-se em trinta capítulos e um epílogo em que reaparece dois anos depois da morte da pobre moça, o naturalista alemão Meyer recebendo, na Alemanha, uma homenagem da Sociedade Geral Entomológica e da imprensa, pela descoberta de uma borboleta (Papilio Innocentia), à qual dera esse nome justamente para imortalizar a jovem brasileira que conhecera no sertão.

Taunay consegue, ao longo da obra, realizar uma bem contada história de amor, com final trágico, a partir de um triângulo amoroso, repleta de descrições do modo de falar e de viver do sertão brasileiro.

  1. Características marcantes presentes na obra

 

Além das características que irão classificar a obra como pertencente a determinado período literário como será mostrado posteriormente, existem algumas que merecem ser destacadas por serem identificadas de imediato como:

 

  • O Sofrimento – Percebido na caminhada do sertanejo em busca de seus objetivos através de longas distâncias, sendo que no percurso, existe a dificuldade do abrigo. Veja essa descrição que aparece logo no início do capítulo I intitulado “O Sertão e o sertanejo”, destinado a introduzir o leitor no mundo em que a história vai desenvolver-se:

“Corta extensa e quase despovoada zona da parte sul-oriental da vastíssima província de Mato - Grosso...depois das casas, mais e mais, e caminha-se largas horas, dias inteiros sem se ver morada nem gente...ali começa o sertão chamado de bruto.” (p1)

  • A Simplicidade – Que é claramente observada através do comportamento e diálogos entre as personagens típicas. O autor foi um dos primeiros prosadores brasileiros a emprestar a linguagem coloquial regional em suas obras. Observa-se isso na elaboração de diálogos com a coloquialidade graciosa e natural do sertanejo que usa expressões como "Nocência” (apelido carinhoso dado a filha de Martinho), "é bom não se canhar as-sim"(com sentido de não se acanhe/se intimide), "Nhor-sim” (Resposta que quer dizer: Sim, senhor!), entre outras. Também é percebida nas comidas: “(...) umas colheres de farinha de mandioca ou de milho, adoçada com rapadura. (p21)”
  • As Contradições – Comprovadas entre o jeito de ser do sertão e a forma avançada da Europa, representadas por Pereira e Meyer. Ao lado dos acontecimentos, que constituem a trama amorosa, há também o choque de valores entre eles, um naturalista alemão que se hospedara na casa de Pereira à procura de borboletas, evidenciando as contradições entre o meio rural brasileiro e o meio urbano europeu. E, finalmente:
  • A Beleza – Retratada através da paisagem do sertão:

 

“(...) estira-se a fio cumprido sobre os arreios desdobrados e contempla descuidoso o firmamento azul, as nuvens que se espacejam nos ares, a folhagem lustrosa e os troncos brancos das pindaíbas, as copas dos ipês e as palmas dos buritis a ciciar a modo de harpas eólicas, músicas sem conta com o perpassar da brisa. Como são belas aquelas palmeira!” (p21)

        E da jovem Inocência:

 

“Apesar de bastante descorada e um tanto magra (por causa da doença), era Inocência de beleza deslumbrante. Do seu rosto irradiava singela expressão de encantadora ingenuidade, realçada pela meiguice do olhar sereno que, a custo, parecia coar por entre os cílios sedosos a franjar-lhe as pálpebras, e compridos a ponto de projetarem sombra nas mimosas faces. Era o nariz fino, um bocadinho arqueado, boca pequena, e o queixo admiravelmente torneado...” (p47)

Sigamos agora para o próximo subtópico.

  1. Período Literário

No Brasil, o romantismo somava quase 40 anos, quando visconde de Taunay lançou seu livro Inocência. Em um momento já desgastado do gênero, o livro de Taunay logo foi elogiado pela crítica como um dos melhores romances regionalistas já escritos no Brasil. No final do romantismo brasileiro, a partir de 1960, as transformações econômicas, políticas e sociais levaram a uma literatura mais próxima da realidade. Com a decadência do regime monárquico e o ideal de republica, desenha-se uma transição para um novo gênero, o Realismo(Naturalismo).

No período da obra, o romantismo brasileiro entrava em declínio e o Realismo se aproximava, portanto, esta obra é de transição para o Naturalismo por causa de uma grande e infalível característica: o homem é produto do meio ou seja, as pessoas agem de acordo com o tipo de vida que levam.

  1. Sobre o ROMANTISMO...

 O Romantismo brasileiro surgiu em 1836 com a publicação de "Suspiros Poéticos e Saudades" de Gonçalves de Magalhães. Mas se originou mesmo na Alemanha e Inglaterra no final do séc. XVIII e se desenvolveu no Brasil durante o séc. XIX. A característica principal da Poesia Romântica é a expressão plena dos sentimentos pessoais, com os autores voltados para o seu mundo interior e fazendo da literatura um meio de desabafo e confissão. A vida passa a ser encarada de um ângulo pessoal, em que se sobressai um intenso desejo de liberdade. O estilo romântico revela-se inicialmente idealista e sonhador, depois, crítico e retórico mas sempre sentimental e nacionalista. Características Gerais:

  • Exaltação dos sentimentos pessoais;
  • Expressa os estados da alma;
  • Exaltação da liberdade, igualdade e reformas sociais;
  • Valorização da natureza;
  • Sentimento nacionalista

Contudo, é válido destacar que uma das características mais marcantes da obra é a IDEALIZAÇÃO DA IMAGEM FEMININA, feita quando Taunay conta com franqueza seu relacionamento com uma jovem que conheceu no Mato Grosso, a partir daí percebemos a origem mais íntima da personagem-título de lnocência, protótipo da mulher sertaneja imaginada pelo autor.

“Do seu rosto irradiava singela expressão de encantadora ingenuidade, realçada pela meiguice do olhar sereno que, a custo, parecia coar por entre os cílios sedosos a franjar-lhe as pálpebras, e compridos a ponto de projetarem sombras nas mimosas faces. Era o nariz fino, um bocadinho arqueado; a boca pequena, e o queixo admiravelmente torneado.” (página 33) “Jamais vira coisa tão perfeita como o seu rosto pálido. Os olhos franjados de sedosos cílios multo espessos e o seu ar meigo e doentio.” (página 31)

Taunay apresenta algumas dessas características em sua obra Inocência, além de reforçar uma das principais características do Romantismo europeu: a concepção de um único e idealizado amor, cuja impossibilidade de realização leva os protagonistas à morte. (Inocência, era fiel ao seu princípio amoroso, foi capaz de morrer de tristeza em face da ausência definitiva do amado). Por conta dessa característica, o romance, é considerado por alguns uma espécie de Romeu e Julieta (obra de Shakespeare) do sertão brasileiro, região que o autor conheceu bem em suas andanças como militar, não cede ao excesso de sentimentalismo, com descrições bastante realistas da natureza brasileira. O fato de ele ter conhecido os ambientes que descreve faz uma grande diferença.

Inocência portanto, traz uma combinação rara na literatura brasileira, pois exige o domínio de dois tipos de discurso: o romântico (representado pelas características do Romantismo presentes na obra: regionalismo, culto à morte, amor impossível, idealização da mulher e o realista, ou melhor, uma produção atraente com componente amoroso e elementos descritivos do ambiente e da fala regional.

  1. Categorização da obra

Existe uma categoria literária que aborda questões sociais a respeito de determinadas regiões do Brasil, destacando características de cada região, linguajar típico da região, apresentação das personagens como pessoas que vivem longe das cidades, entre outras. Ela é chamada de Romance Regional ou Regionalista, ou ainda Sertanista que tem como objetivo revelar o Brasil para os brasileiros. Alguns dos escritores românticos decidiram, então, usar suas narrativas para divulgar os aspectos locais ignorados por seus contemporâneos. Inocência, de Visconde de Taunay exemplifica muito bem esse processo.

O equilíbrio alcançado entre os aspectos ligados ao conceito de verossimilhança – que muitas vezes chegava a comprometer a qualidade de obras regionalistas – como a tensão entre ficção e realidade, a linguagem culta e a linguagem regional e a adequação dos valores românticos à realidade bruta do nosso Sertão, é o que dá qualidade à essa obra.

  1. Principais Temáticas abordadas pelo autor

Os críticos têm encontrado muitos temas no livro e alguns consideram a aventura como o módulo temático supremo da obra. Embora o livro permeie por muitos caminhos complexos, o encontro inesperado, os conflitos familiares e o final trágico são seus temas claros. Muitos desses assuntos, estudados pelos críticos literários, fazem parte da estrutura de Inocência e alguns deles estão listados abaixo:

2.5.1 Amor e morte

Inocência é vista como uma história de amor e de paixão despertada naturalmente por dois jovens, mas é aquela paixão impossível porque não corresponde à vontade dos pais (a exemplo do amor cortês medieval), além de ser também um amor perigoso porque, como acontece inesperadamente, tem uma função de desequilíbrio.

Na obra também observamos o triângulo amoroso, onde o amor não encontra seu par, como sugere a crítica Irene Machado: "Enquanto perdura a situação conflituosa, o amor impossível exprime uma situação de impasse que se traduz através da constituição dos triângulos amorosos: o amor não encontra seu par. Daí o desencontro. No romance de Taunay, temos vários triângulos amorosos, dependendo dos elementos que o constituem. Os elementos mudam segundo o ponto de vista em questão: do ponto de vista dos namorados: Inocência, Cirino e Manecão; e do ponto de vista de Pereira e do ponto de vista de Cirino: Inocência, Meyer, Manecão. Amor diante da razão social e, consequentemente, permanência do statu quo. É uma questão de honra: o pai prefere ver sua filha morta a ter seu nome desonrado. Que nome? ... O importante é que a morte garante a pureza, do nome e da filha. Para Inocência, a morte é a única saída para o impasse a que sua vida foi encaminhada. É a única forma de escapar do compromisso assumido e de não se casar com Manecão; e seria também a única forma de não cair em desgraça se atendesse ao pedido de fuga de Cirino. A morte de Inocência é uma daquelas mortes românticas provocadas pelo acaso. Morte de amor: Inocência livrou-se da febre da maleita, mas não escapou da febre da paixão. A morte de Cirino é fruto de uma vingança, por isso ele se torna um herói. Morre honestamente, enfrentando seu rival. Ambas são mortes românticas, morte que ataca jovens apaixonados. É a única forma de conservar o encantamento da paixão."

2.5.2 Razão e emoção

O Romantismo sempre pretendeu retratar o embate entre razão e emoção, e isso não foi diferente no romance de Taunay, onde a paixão domina a razão de Cirino embora, ao contrário dos heróis do romantismo brasileiro, é produtivo e não se entrega inteiramente às paixões. Sob um outro parâmetro, Meyer, assim como Cirino, possui um encantamento por Inocência, mas é um encantamento diferente, onde o naturalista talvez não esteja apaixonado, mas tenha consagrado esse seu sentimento em um nome científico.

Alguns críticos consideram que Meyer foi o único que conseguiu a realização de seu sentimento e, portanto, é o vitorioso da história, a partir do momento que driblou os "valores autoritários" de Pereira. Os críticos vêem essa vitória como um "brinde à inteligência", a partir do momento em que o personagem Meyer é homem da cidade e pôde, ao contrário de Cirino, desviar-se do comportamento rude. Para a crítica Irene Machado, "Graças à medicina popular de Cirino, Inocência se salva da moléstia, e graças à ciência de Meyer, ela vive eternamente numa outra esfera de existência."

Outra temática perceptível é representação um Brasil patriarcal, em que a vida das mulheres era inteiramente decidida e controlada pelos homens (pais ou marido), por isso o autor ironiza a visão machista, como nesta cômica exposição de Pereira encontrada no capítulo V sobre o comportamento das mulheres:

“Eu repito, isto de mulheres, não há que fiar. Bem faziam os nossos do tempo antigo. As raparigas andavam direitinhas que nem um fuso... Uma piscadela de olho mais duvidosa, era logo pau. (...) Cá no meu modo de pensar, entendo que não se maltratem as coitadinhas, mas também é preciso não dar asas às formigas...”

No final do relato, contudo, esta crítica amena e humorística transforma-se quase em um panfleto contra o domínio absoluto que, dentro do código patriarcalista, os pais tinham sobre os filhos. Trata-se de uma opinião injuriosa sobre as mulheres que é, em geral, corrente nos sertões que traz como consequência a rigorosa clausura que são mantidas a moças assim como o casamento convencionado ou arranjado e em situação mais séria, maus tratos.

Importante ressaltar que o simplório Pereira, além de possuir boa índole, ama desesperadamente a filha. Portanto, também ele nos é mostrado como vítima dos costumes patriarcais.

  1. ENREDO DA OBRA

De acordo com as pesquisas realizadas, destacamos que a obra Inocência, de Visconde de Taunay, é um romance regionalista brasileiro, publicado em 1872 e dividido em 30 capítulos, os quais são introduzidos por uma citação e um epílogo. A obra possui fortes traços do movimento naturalista, por retratar o homem como resultado do meio. É interessante salientarmos que o romantismo estava em declínio nesse período, todavia o trágico fim da obra nos remete a ideia do movimento romântico.

O enredo passa-se no Sertão do leste sul-mato-grossense, mais especificamente na região de Santana do Paranaíba, neste ambiente vivia Martinho Pereira e sua filha Inocência de 18 anos, o pai e a filha moravam em uma fazenda. Os personagens são marcados por características regionais, Pereira é um homem rude e conservador; Inocência é uma moça simples, sertaneja, bela e carinhosa. Pereira educa a filha de forma rígida, exigindo a total submissão da moça. Em um dado momento da obra, o personagem decide casá-la com Manecão, um homem do sertão bruto, negociante de gado, de temperamento agressivo e impulsivo. Inocência, por sua vez, adoece e permanece em estado enfermo até seu pai encontrar uma pessoa que pudesse tratá-la.

            Nessa ocasião, Pereira encontrou-se com um rapaz que se dizia médico, o personagem, em questão, era Cirino, um jovem que estudou farmácia em Ouro Preto e tinha um livro de medicina popular, era uma espécie de “livro de cabeceira”. Cirino foi para a casa de Pereira e recebeu a incumbência de curar a jovem, nesse processo, Cirino e Inocência se apaixonam. No decorrer da estória, surge outro personagem que chega com uma carta do irmão de Pereira, esse personagem é o Dr. Meyer, um pesquisador alemão que embarca para o Brasil com o objetivo de realizar alguns estudos relacionados a novas espécies de insetos e borboletas. Ao elogiar Inocência, Dr. Meyer desperta a desconfiança de Pereira, que manda Tico, um anão mudo, vigiar Inocência, enquanto pede para que Cirino permaneça em sua casa até a partida de Dr. Meyer.

            Contudo, Cirino e Inocência estavam apaixonados e passam a encontrarem-se às escondidas no laranjal, para a desventura do casal, Inocência estava sendo vigiada por Tico. Para resolver o caso de amor, Cirino propõe uma fuga a Inocência, que recusa por medo da reação do pai. A jovem aconselha Cirino a buscar apoio com Antônio Cesário, padrinho dela. Neste período, Dr. Meyer faz uma descoberta de uma espécie de borboleta e decide batizá-la com o nome de Inocência, Pereira, por sua vez, fica ainda mais desconfiado. No entanto, para a surpresa de Pereira, Dr. Meyer conclui seus estudos e vai embora. No mesmo período, Cirino também viaja para encontrar-se com Antônio Cesário, nesta ocasião, Cirino demonstra ser um rapaz de caráter nobre, todavia Antônio Cesário pede para que o jovem se afaste completamente de Inocência.

            Enquanto isso, Manecão chega a casa de Pereira, Inocência recusa-se a casar com ele e apanha do pai. Pereira sem entender a atitude da filha de início, fica indignado ao saber que Inocência encontrava-se ás escondidas com Cirino, o vigia havia revelado a ele por meio da mímica. Manecão fica furioso, vai em busca de Cirino e mata o rapaz. Em seguida, Inocência morre de tristeza pela morte de seu amado e por ser obrigada a casar-se com Manecão. A obra é finalizada com o reconhecimento dos estudos de Dr. Meyer, que é homenageado na Alemanha por sua descoberta. 

 

  1. ELEMENTOS NARRATIVOS DA OBRA

 

4.1 Foco Narrativo

O romance é narrado em terceira pessoa, o narrador é classificado como observador onisciente. Observamos que o narrador é capaz de fazer descrições detalhadas acerca do ambiente “Consistia a morada de Pereira num casarão vasto e baixo, coberto de sapé, com uma porta larga entre duas janelas muito estreitas e mal abertas.” (Pág. 18, 1872, TAUNAY), dos personagens “Apesar de bastante descorada e um tanto magra, era Inocência de beleza deslumbrante.” (Pág. 24, 1872, TAUNAY) e ainda do pensamento destes “Pereira tardava; e Cirino com os olhos fixos, a fisionomia meditativa e um pouco de palidez, que denunciava a intima comoção, não se fartava de admirar a beleza da gentil doente.” (Pág. 35, 1872, TAUNAY).

Tudo é apresentado a partir de um único ponto, com onisciência e onipresença. Esse é, sem dúvida, um modelo narrativo que atende às necessidades do romance regionalista, que focaliza a vida, os costumes, os valores sociais a partir de um único ponto de vista.

  1. Tipologia dos Personagens
  2. Classificação do Tempo e Espaço
  3. Níveis de Linguagem

 

  1. A PRESENÇA DE UM ELEMENTO QUE CARACTERIZA A OBRA COMO LITERÁRIA: AS FIGURAS DE LINGUAGEM

 

Aqui estão os tipos de figuras que encontramos na obra:

  • Prosopopeia - Características humanas dadas a seres inanimados

Afluente do majestoso Paraná (p7)

Magnífico laranjal (p 39)

Dolorosas flores (p 39)

Com que alegria não saúda os formosos coqueirais (p 10)

Naquela ocasião todo pontuado das brancas e dolorosas flores (p 43)

  • Hipérbole- Expressa algo de forma exagerada

Seus olhos encadeados e sua garganta abrasada (p 11)

  • Antítese- Relação que expressar contrastes, mas sem a contradição que expressa paradoxo.

“Espalham se, por fim, as sombras da noite. O sertanejo que de nada cuidou, que não ouviu as harmonias de tarde, nem reparou nos esplendores do céu, que não viu a tristeza a pairar sobre a terra,” (p 12 e 13)

  • É utilizar, consecutivamente, palavras com consoantes que produzem sons parecidos.

“Satisfeita a sede que lhe secara as fauces, e comidas umas colheres de farinha de mandioca ou de milho, adoçada com rapadura, estira - se a fio comprido sobre os arreios desdobrados e contempla descuidoso o firmamento azul, as nuvens que e espacejam nos ares, a folhagem lustros e os brancos das pindaíbas, a copa dos ipês e as plantas e as palmas dos buritis e ciciar a modo de harpas eólicas, músicas sem conta com perpassar da brisa!” (p 11)

  • Suaviza uma expressão

 “Dormir o sono da eternidade”

  • Por último, há um paralelismo entre o destino da borboleta e de Inocência:

    “A borboleta é capturada e morta, para ser exibida na Europa: sai do seu meio ambiente através da morte. Inocência, prisioneira e vítima de seu meio, transcende-o e se liberta apenas pela morte.”

 Ambas representam a ideia de beleza e de fragilidade. Enquanto a borboleta se eterniza e perpetua o nome de Inocência, espetada pelo cientista num estojo de colecionador, a personagem do romance é eternizada pelo romancista.

  1. ESTUDOS DO LÉXICO DA OBRA

Como já fora mencionado, o romance registra, na voz das personagens, a linguagem coloquial, popular, característica da região. Porém, o seu narrador, onisciente, utiliza-se da norma culta da língua para contar a história em terceira pessoa.

Ao longo da leitura da obra, percebemos que Taunay destaca, através de grifos e notas explicativas, as expressões, erros gramaticais e confusões linguísticas que as personagens fazem ao dialogar além disso, algumas editoras preocupam-se em trazer também em notas de rodapé, o significado de algumas palavras que são típicas daquela região e podem prejudicar de algum modo a compreensão do leitor.

O romance apresenta uma curiosa mescla de linguagem culta urbana e termos regionais (arcaísmos, provérbios, expressões típicas).

Destacaremos a seguir algumas dessas expressões e uma lista com palavras e seu significado a título de curiosidade e que pode servir de auxílio para quem manifestar interesse em ler a obra.

 

Expressões/Palavras

 

Significados

Faça de conta

Finja

Não assunto

Não percebo

Obrei mal

Fiz mal, não fez algo bom

Nem batia a passarinha

Não se importava

É pau pra toda obra

Tem muitas utilidades

Apanha pra mim

Pegue

Bem limpo

Bem vestido

Deitar poita

Descansar

Bicho do monte

Bicho do mato

Correr seca - e – meca

Peregrinar

Se acanhar

Envergonhar-se

 

Retiro

Local em que os criadores de gado reúnem o animais mortos para a alimentação humana, os cortam e salgam.

Sertão bruto

Sem moradores

Palhoça

Cabana rústica coberta de palha ou sapé

Tapera

Casa velha abandonada

Terreno arroteado

Lavrado

Regatos

Pequeno riacho

Prosear

Conversar

Socavões

Buracos

Fundões

Sítios distantes

Maleitas

Doenças pouco graves; enfermidades de fácil resolução

Talento

Força, valentia

Andar

Sobrado

Mapiagem

Conversação

Mofina

Pouco liberal; doente, covarde

Coco

Dinheiro

Gimbo

Quantia

Um atilho

4 espigas amarradas

Soboró

Grão falhado

Bolir

Mexer

Lavrados

Colares de ouro ou prata

Mateiro

Veado do mato

Mãozada

Porção boa

Matula

Comida

Bracaiá

Gato do mato

Rufião

Namorador

Pinoia

Homem fraco

Embromação

Enrolação

Pirlas

Pílulas

Emboabas

Portugueses

 

 

  1. CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS SOBRE A OBRA

A obra Inocência foi impressa por meio de folhetins, publicados em 1872 por Visconde de Taunay, de acordo com a pesquisa realizada, esse tipo de leitura era dedicado principalmente ás mulheres da classe média alta da sociedade daquela época. A partir da leitura do romance, podemos destacar que, um dos pontos enfatizados pelo autor, é o fracasso de uma sociedade altamente conservadora, com a idealização de uma mulher limitada, entregue aos caprichos do pai e posteriormente de seu marido. Inocência nos mostra uma figura frágil da mulher do século XIX, com um desfecho trágico e imerecido.

Podemos salientar que essa visão, abordada pelo autor, despertaria a sociedade daquela época para o comportamento abusivo adotado pela família sertaneja, semelhante aos costumes da antiguidade.

A atração pelo pitoresco e o desejo de explorar e investigar o Brasil do interior fizeram o autor romântico se interessar pela vida e hábitos das populações que viviam distantes das cidades. Abria-se assim, para o Romantismo, o campo fecundo do romance sertanejo, que até hoje continua a fornecer matéria à nossa literatura.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

Análise da obra Inocência. Disponível em: https://faciletrando.wordpress.com/2015/05/15/analise-da-obra-inocencia-2/. Acesso em: 03/10/2017.

D´AMBRÓSIO, Oscar. Inocência: Análise do livro de Visconde de Taunay. Disponível no site: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/inocencia-analise-do-livro-de-visconde-de-taunay.htm?cmpid=copiaecola. Acesso: 30/09/2017

FIGURAS DE LINGUAGEM: banco de dados. Disponível em: <https://geekiegames.geekie.com.br/blog/figuras-de-linguagem/>.

Inocência (livro). Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Inoc%C3%AAncia_(livro)#An.C3.A1lise_e_cr.C3.ADtica. Acesso em:  08 out. 2017

Inocência. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Inoc%C3%AAncia_(livro). Acesso em: 03/10/2017.

Inocência. Disponível em: http://www.infoescola.com/livros/inocencia/. Acesso em: 03/10/2017.

MACHADO, A. Irene. "Estudo de Inocência". Disponível no site: Por Trás das Letras.

TAUNAY, Visconde de. Inocência. Rio de Janeiro: Abc, 2004.

TAUNAY. Visconde. Inocência. São Paulo. Fortaleza. ABC editora, 2004.

TAUNAY. Visconde. Inocência. São Paulo: Martin Claret, 2004.