Análise comparativa entre Vidas Secas de Graciliano  Ramos e o Quinze de Raquel de Queiroz

 

                                                           Oliveira, Irineu Correia

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Este estudo tem por finalidade  estudar comparativamente  o Quinze de Raquel de Queiroz e Vidas Secas de Graciliano Ramos. Adotamos o estudo  do dialogismo  de Baktin.

Os dois romances analisados chamam atenção para os seus processos de representação, sendo em confronto com o regionalismo  e o realismo social, tornando evidente que a articulação  dos diálogos é parte integrante do processo de captação da dinâmica histórica. Assim, os dois romances assumem  intertextualmente e  dessas maneiras de dialogarem com formas narrativas equivalentes a ideologramas do passado histórico  que assimila, assumindo o novo realismo dentro de uma dimensão metaficcional que põe uma divisão entre  ideologia e reflexão estético filosófica.

 

Deve-se esclarecer, antes de mais nada, que o princípio dialógico permeia a concepção de Baktin de linguagem e, quem sabe, de mundo, de vida. O autor acredita que o monologismo rege a cultura ideológica dos rege a cultura ideológica dos tempos modernos e a ele opõe o dialogismo, característica essencial da linguagem e principio constitutivo, muitas vezes mascarado, de todo discurso. O dialogismo é a condição do sentido do discurso.(Barros e Fiorin, pg: 2)

 

            A citação aborda  o dialogo que não é somente o dialogo das forças sociais na estática de suas coexistências, mas é também o dialogo dos tempos, das épocas, dos dias, daquilo que morre, vive e nasce. De modo, a coexistência e a evolução se fundem conjuntamente na unidade concreta e  indossolúvel de uma diversidade contraditória e de linguagens diversas.

             

- meu senhor, pelo amor de Deus! Me deixe um pedaço de carne, um taquinho ao menos, que dê um caldo para minha mulher e meus meninos! Foi pra eles que eu matei! Já caíram com a fome!...

- não dou nada! Ladrão! Sem-vergonha! Cabra sem-vergonha! (o Quinze)

 

O gado aumentava, o serviço ia bem, mas o proprietário descompunha o vaqueiro. Natural. Descompunha porque podia descompor e Fabiano ouvia as descomposturas com o chapéu debaixo do braço. Desculpava-se e prometia emendar-se. Mentalmente jurava não emendar nada, porque estava tudo em ordem e o amo só queria demonstrar autoridade, gritar que era dono. Quem tinha dúvida?(Vidas Secas)

 

 

O quinze assemelha bastante com Vidas Secas, tanto  Fabiano quanto Chico Bento sofrem humilhações ao longo da narrativa, submetidos à posição social. 

 

 “ A catinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O vôo seco dos urubus fazia círculos altos em redor dos bichos moribundos...

...estavam no pátio de uma fazenda sem vida. O curral deserto, o chiqueiro das cabras arruinado e também deserto, a casa do vaqueiro fechada, tudo anunciava abandono. Certamente o gado se finara e os moradores tinham fugido...”(Vidas Secas)

 

Chico Bento parou. Alongou os olhos pelo horizonte cinzento. O pasto, as várzeas, a caatinga, o marmeleiral esquelético, era tudo um cinzento de borralho.

O próprio leito das lagoas vidrara-se em torrões de lama ressequida, cortada aqui e além por alguma pacavira defunta que retorcia as folhas empapeladas(o Quinze)

 

 

Nas duas obras percebe descrições dos espaços, a originalidade da linguagem literária na imitação  das características do sertão nordestino. Além disso, encontra  expressões típicas da região Nordeste. Ambas as obras  assemelham-se  no aspecto bem visível, quando analisamos a temática.

            O Quinze e Vidas Secas caracteriza–se pela denúncia social, com destaque ao regionalismo que ganhou importância  no auge da literatura brasileira, sendo as relações  dos personagens Fabiano e Chico Bento ao meio natural e social levados ao extremo.

            Os romances analisados  não é uma apropriação diretamente do outro, mas são os reflexos do regionalismo da época. Diálogos semelhantes contínuo  numa mesma  temática, mostrando ás desigualdades sócias.

            Em síntese,  as obras analisadas assemelham com o eco de vozes de seu tempo, do seu grupo social, e dos valores, das crenças, do medo e da esperança. Assim, o estudo dessas duas obras da nossa literatura leva nos refletir invasão ilícita e as conseqüências  negativas no que nos refere ao desenvolvimento econômico.