Anacronismo tecnológico

       A ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) acaba de regulamentar uma tecnologia chamada PLC ( Power Line Communications). A notícia é estampada na mídia nacional como uma sensação absoluta, revolução tecnológica. Errado! Vamos fazer um relato e uma análise deste fato, não precisamos, nem devemos culpar a ANEEL pelos erros cometidos, a agência fez seu papel, só que fora da hora.
       A tecnologia PLC é a utilização da rede elétrica para transmissão de dados, nada mais natural na era do conhecimento e na sociedade da informação. Maravilha tecnológica? Não, aqui começa o anacronismo tecnológico que tentaremos explicar. 
       O PLC é usado no mundo desde a década de 60, várias tecnologias foram desenvolvidas nesta plataforma, inclusive aqui no Brasil temos casos de sucesso.
        Em 1995 a CEMIG fez um projeto pioneiro com a utilização da rede elétrica para transmissão de dados. A tecnologia era usada para aplicativos com foco na melhoria de sua rede, os resultados foram grandes. Em 2000 a mesma CEMIG teve a chance de expandir a tecnologia, inclusive com ganhos tecnológicos e muitas melhorias, mas o racionamento e outras razões que não vem ao caso não deixaram o projeto prosperar.Imagino em quantos outros países não foram tantadas expeiências deste tipo, sempre esbarrando no conservadorismo de um setor, independente de sua pátria.
       Vivemos em um mundo onde a velocidade é uma das premissas da economia e da tecnologia. No final da década de 90 a telefonia celular explodia em crescimento, milhões de consumidores entravam no mercado e isso gerava uma alavanca nos recursos de P&D e no próprio mercado que atingia escalas inimagináveis. A conseqüência é a redução dos preços de equipamentos e da infraestrutura. Só no Brasil, existem em São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul, mais celulares que habitantes. Isso é mercado crescente! O ciclo virtuoso tecnológico acontece.
        O PLC que era uma grande promessa pela capilaridade da rede existente em todos os países, inclusive nos países mais pobres, sem infraestrutura de telecomunicação, foi perdendo a competitividade, não entrou no ciclo virtuoso da tecnologia (mercado + investimntos em desenvolvimento). A discussão nos anos 90 era entre o "Wireless" e o PLC. A tecnologia da telefonia celular que avançava exponencialmente derrubou a promissora tecnologia de PLC.
       Elas não era excludentes, apenas concorrentes, agora uma tomou conta do mercado e não existirá mais espaço para a outra.
     A rápida história da telefonia celular com verdadeira sopa de letras nas siglas é resumida aqui. Iniciada nos anos 50, mas efetivada comercialmente em escala com a primeira geração (1G), analógica dos anos 1980, migrou em seguida para os sistemas NMT e AMPS, veio a  segunda geração (2G), digital, dos anos 1990: GSM, CDMA e TDMA. Atualmente usamos a (2,5 G) com tecnologias GPRS, EDGE, HSCSD, EVDO e ainda a 3G, com infinitos recursos. Os sistemas evoluíram, as freqüências aumentaram e os aplicativos também. As redes Wi-fi e Wimax são a nova evolução já no mercado com crescimento estratosférico.
      O PLC tenta avançar, capenga, com recursos parcos, conservadorismo extremo e dúvidas enormes.
     O anacronismo começa pela evolução da tecnologia chamada "Wireless" (comunicação sem fio) em detrimento da outra com excelente infraestrutura, a rede elétrica. Uma com mercado e escala derrubando preços de equipamentos e com investimentos pesados em P&D, a outra patinando na promessa e potencial, mas com poucas ações efetivas que pudessem viabilizar todo o mercado potencial.
        Diga-se de passagem, todos os aplicativos usados no PLC pela CEMIG em 1995 estão sendo usados ainda hoje, melhorados, mas usando o "wireless" como transmissão.
        Não existe mais chance deste mercado usando o PLC progredir e crescer. Nichos talvez, em prédios, condomínios, mas mesmo neste ambiente chamado "In-door", a tecnologia de "wireless" vem ocupando seu espaço com preços decrescentes, exatamente pela escala que está atingindo. Mesmo a famosa Voip (telefonia por IP) não migraram os protocolos, todos em "wireless".
       Não precisamos abordar aspectos técnicos aqui, a tecnologia hoje não é mais barreira para nada, as questões são puramente comerciais, de relação do custo benefício que sempre é melhorada pelo ganho de escala. Na era do conhecimento a escala com redução de preços e investimentos em P&D são mandatários para a inovação tecnológica.
       O PLC e o celular começaram na década de 50, ambos tiveram nichos, em determinado momento por ação rápida, ousada e estratégica das empresas de telecomunicações, uma tecnologia explode, a outra fica inerte no tempo, andando de lado e batendo de frente com o conservadorismo de um setor, que chegou a pensar que poderia entrar  mercado das telecomunicações.
       Um pouco de ousadia é sempre ingrediente para a inovação, somos testemunhas do que aconteceu no Brasil na questão do PLC, depois de quase 10 anos uma tecnologia é autorizada pelos atores institucionais, mas com custos altos e problemas diversos. A indústria do piloto vai faturar, fatura sempre, mas mercado mesmo não existirá. Infelizmente.        
       Posso afirmar com todas as letras que perdemos uma chance aqui em Minas Gerais, de fazer uma revolução que se iniciou, mas parou no conservadorismo de algumas pessoas ou na falta de ousadia de outras.
      A história ainda irá testemunhar este nosso vaticínio, pode anotar ai. A regulamentação veio tarde, o mercado é só potencial, mas sempre vão existir os retardatários correndo atrás deste mecado, eles se esquecem que a velocidade nas ações é parte da guerra e esta foi perdida ai. A inovaçao se dá com ousadia, ações visionárias e mercado.