Em muitos momentos se passou a idéia de que a América Latina não dispunha de suas "impressões digitais", suas características particulares e suas qualidades referentes à diversidade sócio-cultural e econômica. Porém, é importante destacar as inúmeras possibilidades e capacidades de um continente que sem dúvida se colocará à prova mais cedo ou mais tarde.
Procuro discutir aqui não questões pontuais como, por exemplo, sistemas de governo ou políticas econômicas e sim a região como um todo, altamente carregado de elementos estratégicos para o seu desenvolvimento, quanto para uma provável fonte alternativa ante as calamitosas práticas de desenvolvimento não-sustentável em um mundo beirando o colapso.
Quando, mesmo que por alguns instantes, os olhos do primeiro-mundo estão voltados para a América Latina isto para muitos é sinal de bons ventos, ou seja, a esperança de investimentos, a chance de um grande desenvolvimento, um progresso próspero, enfim, a solução para todas as demandas locais até então reprimidas. Porém, é importante lembrar que a região possui gigantescas potencialidades em áreas essenciais à manutenção da qualidade da vida social como para o suprimento de necessidades básicas ? matéria-prima, mão-de-obra, lembremos também o campo energético com a capacidade de extração de gás natural, petróleo, eólica, os recursos hídricos, a disposição territorial para a expansão agrícola, enfim, todos esses benefícios para o fortalecimento de práticas fundamentalmente capitalistas. Isto coloca o continente em uma posição de extrema relevância no contexto mundial, a questão chave dessa discussão é qual o papel que a América Latina deve desempenhar neste processo e mais importante ainda é investigar o quanto o povo latino-americano percebe o que gira em torno de todas as atitudes políticas, econômicas e culturais de seus governos e qual a direção que deve ser tomada para favorecer as ansiedades de sua gente.
O que está posto até então, são projetos de desenvolvimento prontos, importados, "receitas prontas" em que na maioria das vezes necessitam ser adaptadas para as especificidades locais e geralmente contendo prejuízos às suas populações.
Portanto, tratando este assunto a partir de uma visão generalizada e tendo a consciência de que o tema é por natureza, de extrema complexidade, é essencial que este fórum seja aberto e também facilitado o seu entendimento para que as decisões não fiquem restritas apenas a alguns grupos com interesses particulares enquanto a maioria desprovida de conhecimentos sobre a área ? portanto sem poder de argumentação ? se torne refém em seus próprios domínios.
Em um continente fragmentado, onde irmãos não se reconhecem, onde são mais perceptíveis os acontecimentos mais longínquos, e também o interesse pelo o que está ao lado não é incentivado, tudo isso colabora para a entrada de referenciais totalmente descaracterizados do ambiente local e que vão sim, se tornar hegemônicos.
Diante dessas observações podemos imaginar que o campo de possibilidades está aberto para lutas e reivindicações que devem ser processadas a quem de direito, para que em um futuro próximo o continente não venha a ser avaliado como a "América Latrina".