Não aprecio o alpinismo e não o entendo como demonstração de vigor, de juventude e alegria de viver, de coragem, seja lá o que for. Amo a imponência das montanhas e sua beleza grandiosa, verdadeira demonstração do poder de Deus e em nada comparada ao poder do ser humano, que em total desigualdade de condições com a natureza tenta enfrenta-la e supera-las, como se isso fosse possível.

Inúmeras pessoas já perderam suas vidas nas solidões geladas e desertas das alturas rarefeitas das montanhas, no fundo das grutas entre as pedras pontiagudas, na escuridão da noite e completamente sozinhas, feridas, desorientadas e famintas ...

E eu pergunto: mas por que, para que? Que necessidade as levou para lá? Mas a resposta é sempre a mesma: a emoção! O prazer da aventura, a alegria da conquista, a coragem de enfrentar o impossível e provar a si mesmo e ao mundo que foi capaz de realizar o sonho de atingir o cume da montanha inatingível. Façanha, chegar no topo, chegar lá!

Isto é, se chegar! Se chegar, comemorar estourando uma garrafa de champagne entreabraços e muito riso dos companheiros, choro de emoção, fazer fotos e filmes, olhar o mundo lá de cima, abrir os braços e se sentir acima de todos e de tudo e depois cravar uma bandeirinha no gelo para marcar a sua vitória. E depois... Depois o quê? Aventurar-se novamente montanha abaixo. Simplesmente, voltar!

Isto é, se voltar! E muitos não voltaram nem voltarão. Outros retornam carregados por equipes de resgate, desidratados, estropiados e mutilados, com pernas ou braços amputados, mas se sentindo felizes e vitoriosos, prontos para escreverem e reproduzirem em filmes as suas odisséias e até mesmo prontos para repetir o feito, certos de que morrerão com o dever cumprido.

Estranha e mórbida essa felicidade, penso eu. E por que alguém com um corpo perfeito, forte e sadio não poderia desfrutar de todos esses dons, usando-os num empreendimento útil, sem correr o risco de perde-los ou até mesmo de perder a própria vida? Quantos existem que frágeis ou até mesmo inválidos, utilizam o seu potencial em benefício da humanidade, como pesquisas sobre a cura de doenças até hoje incuráveis, ao invés de desperdiçarem o seu tempo arriscando as suas próprias vidas, vidas que poderiam ser tão úteis a si mesmos e aos outros, vidas que se reproduziriam, mas não tiveram essa oportunidade!

Mais do que nunca o mundo precisa de pessoas capazes, mas não de desafiar as montanhas de um espaço que não foi criado para o homem. O mundo precisa de pessoas capazes de escalar montanhas, mas de problemas que até hoje ainda não foram superados, e não de pessoas que desperdiçam as suas vidas em troca de um prazer tão fugaz.

Respeito as opiniões contrárias, mas eu vejo o alpinismo como um atentado contra a vida, que é o maior presente que ganhamos de Deus.

Júnia – dezembro – 2009