Almanaque Esotérico 6
De acordo com as lendas cabalísticas, Deus, o Santo, instrui uma Academia nas Alturas sobre a natureza da existência. Essa assembléia é composta de grandes espíritos humanos que atingiram o mais alto nível de realização durante a vida na Terra e merecem instrução direta ao mais recôndito significado da Torah. Diz a tradição, além disso, existir uma cadeia de academias sob este grupo máximo, através da qual um ser humano tem a possibilidade de estudar diversas áreas do Ensinamento. Está registrado que um grande rabino, Shimon ben Yohai, durante ascensão mística, costumava visitar os diversos yeshivot, para ver como cada qual operava e qual era a sua especialidade. Alguns desses grupos traziam o nome de seus líderes, como a Academia de Moisés e a Academia de Aarão. O caráter de seu tutor não só nos dá uma idéia do que estudava cada yeshiva, mas também de que existem escolas relacionadas a determinadas Linhas de desenvolvimento. Sem dúvida, cada tradição espiritual tem suas diversas escolas e Linhas, assim como na Terra, embora quanto mais adiante se prossiga na hierarquia do Céu, mais próximas as Linhas se encontram, em princípio, até não se diferenciar entre o místico sufi e o budista, entre o hindu e o cristão. Neste nível, muito pouco separa o mago do gnóstico, o maçom do xamã. Aqui, o ensinamento é o mesmo, enquanto a forma se dissolve em conteúdo e significado essencial.
Podemos perguntar por que existem tantas religiões diferentes, se há apenas um Ensinamento verdadeiro; o qual, observamos na história da humanidade, é reivindicado por esta ou aquela seita como possuidoras da única versão. A razão disso é testemunhada pelo fato de que esta dissensão é encontrada apenas nos níveis mais baixos de compreensão, onde uma multiplicidade de visões geradas por condições físicas e sociais expressa uma lei universal, que quanto mais distante se está da origem da realização, mais localizada e particular será a apreensão da realidade total. Uma visão total só é encontrada quando se está em união com o divino, onde nenhuma separação ocorre. Contudo, este é um estado supremo de evolução, e entre o primeiro e o último passo do caminho espiritual existem muitos degraus e desvios. Por isso existem tantas portas no mundo comum. Estão ali para colocar um explorador em contato com outros no Caminho.
Às vezes eles gerenciam o comércio de sal por conta do Estado; assim, em 1578, um judeu da Lituânia, Saul Frudycz, a quem o rei arrenda o comércio do sal de Koden (a 60 Km de Brest-Litovk), obtém do Tesouro real empréstimos a taxas baixíssimas, a fim de construir uma torre de evaporação e uma cuba para combustão das pastas de sal.
Os reis também os nomeiam coletores de impostos ou de direitos alfandegários: também nesses casos, a formação da nação exige um financiamento estrangeiro.
Os grandes proprietários de terras, em concorrência com os reis, utilizam judeus como administradores de seus domínios. Em troca de direitos sobre a colheita, esses administradores adiantam o produto dos campos aos senhores, fazem-se reembolsar pelos camponeses e tornam-se influentes o bastante para trazer aos domínios que eles gerenciam outros judeus, como albergueiros (ofício muito valorizado), colonos, moleiros, camareiros. Algumas aldeias judaicas até se organizam em torno desses grandes gerentes.
A atividade de prestamista torna-se considerável, e os rabinos da Polônia têm de autorizá-la explicitamente mais uma vez: para rabbi JUdah Loew, o direito de emprestar a juros resulta de que o valor numérico do termo “juro” (ribbit) é 612, o que, segundo ele, prova que emprestar equivale por si só a obedecer às 613 obrigações da Lei. Como em outros lugares, afora os empréstimos a ricos negociantes, os judeus emprestam a artesãos e a comerciantes cristãos utilizando o mamram (em polonês, membran goly), aquela promissória muito sumária, elaborada por judeus franceses no século XII, da qual constam o montante do empréstimo, a data de pagamento e a assinatura do devedor.
Também como em outros lugares, os ofícios de prestamista e corretor se misturam. Um poeta e compositor de música das cortes de Brandemburgo e depois da Polônia, A. Jarzebski, anota no século XVI que “os judeus nos prestam certos serviços trazendo peles, ouro, prata, cordas e botões, e, com eles, tudo é barato. Pode-se obter tudo, se’já por empréstimo, seja por troca. Dizem que, entre eles, mercadeia-se todos os dias, exceto aos sábados. Mas, se é verdade que eles tiram pouco lucro daquilo que vendem, também é verdade que dão pouca coisa por esse dinheiro”.
Com companheiros bem-preparados muitas coisas se tornam possíveis, as quais não seriam obtidas se estivéssemos sozinhos. Trata-se dessas coletivas espirituais, como servem de ponte para os estágios de evolução entre o individual e o Absoluto, e como funcionam em diferentes níveis. Contudo, como esta é uma visão cabalística, devemos primeiro observar as leis que pertencem à Escada do Ensinamento e o porquê de sua existência.
A totalidade de tudo o que existe está contida na Unidade, da qual tudo se origina. Esta Unidade Divina não é apenas maior que qualquer coisa nela contida, mas apresenta em si a menor unidade separada. De acordo com a Cabala, o ponto de origem de todas as coisas é simbolizado pela Coroa das Coroas, que chamou para si o Nome Divino EU SOU O QUE EU SOU. O significado desta afirmação Sagrada não é só uma declaração de intenção, mas também uma descrição do ciclo completo de manifestação, desde o surgimento da Vontade Divina no EU SOU da abertura, até seu retorno no eco e a repetição. EU SOU. Entre esses dois nomes Nomes Sagrados, na palavra “o que” está tudo o que já foi, o que é, e o que será. Este processo de impulso e reflexo se irradia desde a Cabeça Divina até o ponto mais distante do desdobramento em existência, onde o princípio da separação da Unidade na multiplicidade do todo cria, forma e faz miríades de Seres e situações em um imenso caleidoscópico cósmico de vibrações e partículas. Para o olho ignorante, o Universo é uma profusa confusão de complicações e interações ao acaso, mas para o olho que conhece e observa os padrões, o mundo é um cosmo ordenado de estruturas e dinâmicas que claramente se movimentam em uma progressão distinta, seja na sucessão das estações ou no relacionamento entre a divindade e a humanidade. Esta ordem, deste ponto de vista de nosso estudo, será percebida na unidade e na diversidade da humanidade em seus diversos estágios de evolução.
Se tomarmos a humanidade como um todo, veremos que todos os seres humanos são essencialmente iguais, e reconhecem uns aos outros como diferentes de quaiquer outras espécies. Na verdade, é possível dizer que cada indivíduo contém em miniatura todos atributos de um ser humano, seja macho ou fêmea, porque todos os elementos estão presentes em ambos os sexos. É apenas uma questão de ênfase. Aqui principia a diferenciação. Contudo, além da grande divisão sexual existe a divisão de raças. Algumas tradições dividem a humanidade em três tipos. Alguns cabalistas, por exemplo, usam o símbolo dos três filhos de Noé para indicar as pessoas da ação, da devoção e da contemplação, ou aqueles que operam primeiramente através do corpo, do coração e da cabeça. Outros cabalistas dividem a raça humana em quatro, de acordo com os animais sagrados: o Homem, a Águia, o Leão e o Touro. Outros ainda dividem a raça humana em sete de acordo com seu nível de desenvolvimento. Todos esses métodos de divisão são válidos. Depende do ângulo tomado para avaliação. Contudo, todas essas categorias têm seus limites, porque nada do que existe está em estado puro, e embora seja possível dizer que as civilizações da África, da Ásia e da Europa enfatizam a ação, a emoção e o intelecto, respectivamente, há muitos exemplos em todas essas manifestações gerais das tendências humanas que contém elementos das outras manifestações, como o dançarino europeu, o pensador asiático ou o poeta africano.
Inovação em relação àquilo que acontece em outros lugares da Europa: os prestamistas judeus funcionam realmente como bancos. Não somente emprestam, mas também gerenciam e aplicam a poupança de seus clientes cristãos. Isso começa com empréstimos de nobres aos seus administradores para a manutenção dos domínios que lhes confiam; certos nobres até emprestam aos judeus quantias quatro vezes superiores às que os judeus lhes emprestam. Depois, prossegue com aplicação do dinheiro recebido em gestão feitas pelos prestamistas judeus em empréstimos públicos ou em negócios privados, particularmente no comércio internacional. Dessa forma, eles assumem o risco de perder o dinheiro que lhes é confiado, esperando ganhar mais que a taxa de juros que garantem aos seus clientes.
Certos negociantes judeus, como o lendário destino de Gaspar de Las Indias, por volta de 1490, fazem comércio (peles, madeira, sal, trigo, gado, roupas) com a Inglaterra, os Países Baixos, a Hungria, a Turquia, a Palestina, o Egito e a Índia. Têm correspondentes em Veneza, Florença, Leipzig, Hamburgo, Frankfurt-am-Main, Wroclaw, Gdansk, Brest-Litowski, Tykocin, Grodno, Sledzew, formando companhias entre si, associando-se a negociantes não-judeus e aplicando nisso fortunas cristãs. Os mais ricos dentre eles (os Fiszel em Cracóvia, os Nachmanowicz em Lvov, Mendel Izakowicz e Isaac Brodawka na Lituânia) são financiados por empréstimos de outros empresários, judeus e não-judeus. Em 1521, um dos panfletários da época, Justus Ludwik Decius, escreve enfurecido na Crônica de Sigismundo o Velho: “Os judeus ganham em importância; não há alfândega ou imposto pelos quais eles não sejam responsáveis ou aos quais não possam aspirar. Em geral os cristãos lhes são subordinados. Entre as famílias ricas do país, não se encontra nenhuma que não favoreça os judeus em suas casas e que não lhes dê precedência em relação aos cristãos”.
São eminentes banqueiros judeus dessa época os três irmãos Ezofowicz, de Brest-Litovsk. O mais velho, Abraham, converte-se em 1490; é nomeado responsável pela praça militar de Kowno; enobrecido, arrenda as alfândegas de Kowno e torna-se estaroste de Smolensk e de Minsk; em 1510, Sigismundo I nomeia-o ministro do Tesouro da Lituânia. Depois de sua morte, em 1519, a viúva se casará novamente com um nobre. Seus dois irmãos, Michael e Ajzyk, não se converteram e, sempre mantendo-se em relação com Abraham, fazem uma grande carreira financeira. Michael, especialmente, torna-se um dos banqueiros do reino da Lituânia em 1514 e, mais tarde, estaroste de Kowno; em 1525, agora principal coletor de impostos da Lituânia, é enobrecido como conde de Leliwa. É um dos últimos banqueiros judeus importantes da história da Polônia, antess de o país tornar-se parcialmente russo.
Em geral, os casamentos são arranjados por ocasião das feiras, nas quais os pais das moças vêm conhecer os jovens das escolas talmúdicas, particularmente buscados. Os rapazes casam-se geralmente antes dos dezoitos anos e as moças, antes dos catorze. Rabbi Salomon Luria lembra a regra talmúdica: um casamento é considerado regular quando um rapaz declara a uma moça: “Eu te quero para esposa” e ela aceita um presente dele, mesmo sem o consentimento dos pais. A natalidade dos judeus conhece então uma expansão considerável. Como as regras em matéria de alimentação e higiene são muito rigorosas, a mortalidade infantil, apesar da extrema pobreza e da exigüidade das moradias, é menor que entre os cristãos. Não é raro, portanto, ter dez filhos, dos quais seis ou sete sobrevivem. Assim, a população judaica, completada pela imigração, cresce muito depressa. As comunidades se amontoam em cidades onde com freqüência se tornam majoritárias.