Almanaque Esotérico 5
Os dois séculos de ouro poloneses: Unida à Ucrânia e depois ao Estado lituano, a Polônia forma, no fim do século XV, um conjunto territorial de 850 mil quilômetros quadrados que vai do Báltico à Criméia tártara (do mar ao mar). O país é hospitaleiro para todos: cristãos orientais, calvinistas e judeus vindos da Alemanha, da Boêmia, da Hungria, da Baixa Silésia, da Áustria, da Espanha e do litoral turco do mar Negro. As controvérsias religiosas, embora não faltem, desenrolam-se sem violência; a Igreja, até a lenta reconquista das mentes pelos jesuítas, após a Contra-Reforma, é mantida sob controle pelos príncipes. Cada nacionalidade, regida sobretudo pelo seu próprio direito, recebe privilégios gerais e individuais que aos poucos se fundem num direito único.
No trabalho espiritual, um indivíduo pode ir até um determinado ponto. Mais adiante, o caminho se torna obscuro por que penetra no desconhecido. Aqui necessita-se de ajuda. Contudo, o que é oferecido pelas circunstâncias pode não ser o que se precisa, e o explorador inexperiente muitas vezes não distingue o bom do mau. O que pode ser dito é que companheiros encorajadores são tão importantes quanto mapas de grande utilidade, técnicas completamente testadas e um guia de total confiança, porque o Caminho está coberto de inúmeras provas para testar e impedir que os despreparados saiam de suas profundezas. Uma escola de Cabala é uma proteção planejada para conduzir grupos em total segurança através deste difícil território que se estende entre o mundo natural e o Reino do Espírito. Além de ser um meio de treinamento e de transporte, uma escola é um método pelo qual as pessoas podem formar, sob a direção de um tutor supervisionado por um mestre, um veículo misto capaz de conter mais que a soma de seu conhecimento ou experiência. Além disso, criando tal veículo, um grupo de pessoas dedicadas será capaz não só de entrar em segurança aos níveis superiores, mas também de atrair o Espírito Santo para baixo, de modo a transformar suas atividades em acontecimentos cósmicos que influenciam o mundo ao redor delas. Esse tipo de manifestação é o Trabalho de toda a operação esotérica, um elo na cadeia do Ensinamento. Como parte de uma Linha, uma Escola de Cabala não apenas pertence a uma tradição clássica, mas é uma divisão de uma rede mundial de organizações espirituais cuja tarefa é nutrir a vida interior de cada geração, para que cresça e floresça no Jardim do Santo.
Em 1495, três anos após a última expulsão dos judeus da Espanha, Alexandre Jagelão reafirma o direito deles a viver na Polônia, apesar de algumas agressões antijudaicas. Por volta de 1500, eles ainda não passam de vinte e três mil, ou seja, 0,6% da população, dispersos por oitenta e cinco cidades e vilarejos. Um século e meio depois, serão mais de quinhentos mil, correspondendo a 5% da população, num território mais vasto.
Suas profissões variam consideravelmente de uma cidade para outra. Eles são camponeses, comerciantes, vendedores ambulantes, rendeiros de moinhos, cervejarias e albergues, músicos, condutores de cavalos, camareiros a serviço dos judeus mais ricos, fabricantes de couros, de têxteis, de roupas, funcionários de comunidades. Em certas cidades, os artesãos e práticos judeus (ourives, barbeiros, farmacêuticos, médicos, fabricantes de produtos alimentícios) devem paagar elevadas taxas às guildas locais. Em outras, o artesanato lhes é proibido e eles se mantêm clandestinos. Em outras, ainda, são admitidos nas guildas com os artesãos cristãos. Em outras, enfim, criam suas próprias guildas. Os rabbis lhes proíbem certos ofícios. Por exemplo, em meados do século XVI, o grão-mestre encarregado da comunidade, rabbi Moses Isserles, autoriza o comércio de objetos sacramentais católicos, tais como os rosários, ao passo que outros rabinos o proíbem. Mais tarde, rabbi Judah Loew, dito o Maharal de Praga, muito influente na Polônia, durante meio século, decreta, com base na Cabala, que o comércio do couro com os não-judeus exclui da “celeste Israel” aqueles que o praticam.