Os Filósofos e Sábios, bem como os Neoterici e Veteres, já se envolveram em grandes discussões sobre essa arte secreta, e tentaram indicar, sob muitos nomes diferentes, alegorias e palavras sofismadas, maravilhosamente estranhas, o Subjectum e sua Essentia, e que espécie de Matéria, que espécie de Corpus, que espécie de Subjectum. E quão maravilhosa e secreta é uma Criatura que tenha incorporado poderes tão fortes estranhos e celestiais, e com as quais , depois de Digestio e purificação, pode-se ajudar a seres humanos, animais, plantas e metais e pode-se levar sua saúde e perfeição até o mais alto grau, podendo-se também praticar outras maravilhosas ações. Entretanto todos os que foram e ainda são verdadeiros Philosophi unanimemente afirmam que há apenas um único Scopum e uma única Materiam, o Filii Sapientiae, sendo muitos e variados os discursos e escritos sobre ele. Com relação à coisa essencial, entretanto, só há silêncio, e tal silêncio trancou firmemente suas bocas e sobre elas colocou um sólido Sigill, pois, caso se tornasse um conhecimento vulgarizado, como o dos padeiros e cervejeiros, o mundo em breve pereceria.
Muitos são os que buscaram esta única Res, que solvit se ipsum, coagulat se ipsum, se ipsum impregnat eti vivicat (dissolve-se, coagula-se, impregna-se, mata-se e revive-se a si própria), mas a maioria de tais pesquisadores falharam, pois se perderam em meio à busca. Portanto, é algo que mais se aproxima do ouro; e é algo que tanto pode ser ganho pelo pobre como pelo rico, seja lá o que for. Mas aquele que, de sua pópria boca, venha a falar expressamente sobre este Subjectum, o faz sob a ameaça da Philosophi execrationem divinam, e sobre si chama a maldição de Deus.
Quando os Filósofos pronunciavam uma Execratio, o Deus Todo-Poderoso respeitava o seu apelo e o outorgava, dando-lhes o que até então Ele havia guardado em Suas próprias mãos por muitos e muitos séculos. Ora, o referido Subjectum é de tal natureza que ele, nossa Magnesia, não apenas contém uma quantidade em pequenas proporções do Siritus Vitalis universal, como também um pouco de energia celestial condensada e comprimida em si. Muitos dos que o encontraram ficaram de tal modo intoxicados pelo seu fumo que se mantiveram em seus lugares e não mais puderam erguer-se. Somente um sábio e aquele que conheça tais coisas poderão tomar de uma medida desse mesmo fluido e levá-lo para si, desde o lugar onde a encontrou, seja este qual for, mesmo que das profundezas das montanhas. Pela singular e abundante graça de Deus, tanto ricos como pobres possuem a mais absoluta liberdade de tomar disso, para que vá de volta à casa com ele, e o coloque atrás da chaminé ou em qualquer outro lugar que lhe aprouver e onde lhe for conveniente, e poderá começar a trabalhá-lo e fazer experimentos, pois poderá deixar isso de lado tão rapidamente que nem seus próprios servos o notarão. Pois esta obra natural não é tão desajeitada como a dos alquimistas comuns, com seus desastrados trastes, seus fogareiros de carvão. Suas cubas fundidoras e seus cadinhos de refinação, e com todo o restante de suas tralhas. Não, esta é uma obra que se pode guardar numa arca fechada em qualquer aposento que se queira, tão sossegadamente que nem mesmo um gato a encontrará, e, caso necessário, ele poderá prosseguir com seu ofício, tomando cuidado apenas para que a fornalha tenha um testador triplo e que ele mantenha no calor certo, deixando que a Natureza siga o seu curso.
Quando, finalmente, a Solutio for retirada do Terrestriaet e fortalecida por longa Digestio, ficará então livre de Crudae Materiae e estará preparada e renascida da forma mais sutil. Subsequentemente, claro está, este agudo e potente Spiritus recebe em certas ocasiões uma quantidade bem medida, como sucede nos casos de bebida e nutrição, per modum inbitionis ET nutritionis. E sua potência assim fica condensada e dia a dia torna-se como se fora novos suportes para seus irmãos, e muito ativa. Em verdade pensas que podes trazer esta obra e levá-la a tal potência em intensidade oculta imensurável, um Spiritus VItalis? As Crudae Materiae ou o Subjectum originaram-se das Astris e Constellatio dos céus, descendo para seu reino terreno, sendo então sacado o spiritus universi secretur dos Filósofos, que é o Mercurius dos Sábios e é o princípio, o meio e o fim nos quais o Aurum Physicum está determinado e oculto e que o alquimista comum pensa poder extrair do ouro ordinário, mas em vão. Enquanto isso, os Philosophi lidam muito, em seus escritos, sobre Sol e Luna, que de todos os metais são os mais duráveis no delta. Mas isto não deve ser tomado literalmente, pois o seu Sol e Luna, quando levados à sua íntima puritaet, através de preparação verdadeira, natural e correta e filosófica, podem muito bem ser comparados com os corpos celestiais, tais como o sol e a lua, que com o seu brilho iluminam, dia e noite, o alto e o baixo Firmamentum. Portanto, estes dois nobres metais, como o Sol e a Luna dos Filósofos, assemelham-se, por natureza, ao corpo humano, e para os que sabem como prepará-los corretamente e usá-los sabiamente, dão muita saúde, e exceto isso e acima disso nada mais deve ser preparado, além do ponto tríplice do Universalis, pois o Spiritus a ser encontrado nestas duas coisas produz consistência, força e virtude, entre outras coisas.
Ora, o Homem perdoando por Deus pode preparar e aprontar um objeto ou substância do supramencionado vermelho ou branco, do sol e de Luna, o que é chamado Lapidem Philosophorum, ou a antiquíssema Pedra d´Água dos Sábios, feita da substância na qual Deus colocou tal potência na criação ou gênese do mundo, ou dos materiais frequentemente mencionados ou Subjectum, os quais Deus, por amor e por graça, implantou no altamente dotado homem divino. Porém, creio, por isso, que a substância divina deixada para ele na primeira Criação do mundo, do Spiritu Vitali, da Inspiração, tem sobrevivido em todas as espécies de criaturas. Todos receberam o mesmo Spiritum no mencionado Massam, que está firmemente oculto nas mais internas profundezas da terra, e foi indicado e permitido aos Sábios desenterrá-lo, extraí-lo, usá-lo e realizar as mesmas Miracula com ele, através do santo conhecimento que nele ainda está implantado e com o qual é diariamente suprido.
Referência Bibliográfica:
ROOB, Alexander. Alquimia & Misticismo. Taschen. Tradução Teresa Curvelo, Portugal, 2001.
OBERON, Zell-Ravenheart. Grimório para o Aprendiz de Feiticeiro. Tradução Julia VIdili , São Paulo:Madras, 2008.
PATAI, Raphael. Os alquimistas judeus: um livro de história e fontes. Tradução Maria Clara Cescato e Diana Souza Pereira. São Paulo: Perspectiva, 2009 . – (Perspectivas/direção J. Guinsburg)