ALMA LAVADA? NEM TANTO.

Por Romão Miranda Vidal | 29/11/2012 | Crônicas

 ALMA LAVADA? NEM TANTO.

O Brasil acordou hoje com notícias que de certa forma nos deixaram preocupados e tristes. Morreu um dos baluartes do bom senso, da ética, do profissionalismo correto e justo Joelmir Beting. Pessoa simples, humana, brasileiro, ex bóia-fria, vencedor de inúmeras batalhas em favor da democracia e da liberdade de expressão. A tristeza que nos invade é muito grande, pois perdemos o profissional que durante toda a sua vida marcou vários gols de prata.

A perspicácia com que traduzia as mazelas diárias, as suas frases de efeito, o seu raciocínio lógico o tornaram referência e nunca se fez de rogado aos convites para participar de eventos onde transferia seus conhecimentos e educava os ouvintes a respeitar nossas raízes e nossas conquistas.

O seu perfil jornalístico sempre foi de elevada ética, nunca se ouviu uma palavra sequer que o desabonasse, tão pouco uma atitude jornalística que incitasse ao radicalismo. Na realidade sempre foi um ser humano ponderado.

O Brasil perde o homem que sabia transmitir as notícias, que nos deixava de alma lavada, ante os absurdos dos desmandos econômicos, políticos, administradores, com seus comentários equilibrados.

Mas ao lamentarmos a perda de um dos ícones do jornalismo brasileiro, lamentamos o desfecho do julgamento do mensalão.

Os meandros da Justiça são complicados e de difícil entendimento.

Por qual razão os integrantes do Núcleo Financeiro e de Marketing receberam penas elevadíssimas e os integrantes do Núcleo Político receberam penas leves? Quem foram os grandes pensadores e articuladores do Mensalão? Quem detinha o poder de influência e decisão nos destinos do Brasil, ante uma situação de desvantagem política na Câmara Federal e concordava com a enxurrada de dinheiro que pagava regiamente os mensaleiros? O chefe da Casa Civil elaborou o plano? O presidente da Câmara Federal articulou as ações? O presidente do Partidão que pressionava os deputados da base aliada e não aliada? Ou foi uma engenharia financeira e de marketing político engendrado pelo Marcos Valério e a Kátia Rabelo? A comparação se faz necessária. O mentor sem sombra de dúvida. De onde partiria a iniciativa de compensar financeiramente os mensaleiros? Da diretoria do Banco Rural? Qual o interesse? A aquisição de mais um banco? Mas a que ponto tal ação teria repercussão nos destinos políticos do Brasil? A realidade nos diz que ao deter o poder decisório e de influência direta ao Presidente da República e mentor das atividades coercitivas, deveria ter a sua penalização máxima. Quem financia a venda de cocaína é tão culpado quando ao que faz o tráfego? E quem consome a droga? As penas na realidade deixaram a desejar. Tem-se a impressão que os ministros decidiram condenar quem financiou ou disponibilizou o dinheiro. Mas teriam estes elementos do Núcleo Financeiro tanto poder a tal ponto de exigir ou influenciar o Chefe da Casa Civil a colocar em prática ações corruptivas?

O plano em si sem o elemento financeiro não teria prosseguimento. Da mesma forma do elemento financeiro sem um plano adequado e direcionado não teria sustentação e nem razão de existir. Mas quando somadas as suas intenções e sustentações torna-se possível o plano. Faltavam os operadores e os operantes. Então tudo se consolida.

Mas como dizia o poeta: No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. Esta pedra? O deputado federal que resolveu denunciar todo o cambalacho.

Teriam suas penas maximizadas. Dois elementos que se articulavam nas extremidades. Do Palácio do Planalto urdia a forma corruptiva dirigida literalmente aos elementos políticos. Das terras mineiras articulava-se a melhor forma de corromper: dinheiro em abundância.

Mas a quem aquinhoar com a maior pena? Quem financiou ou quem articulou e colocou em prática todo o complexo de cooptar presidentes de partido e seus comandados?

Moralmente analisando a situação. A quem interessava conseguir maioria no plenário e nas votações de interesses do governo federal? A resposta. O Palácio do Planalto e seus mandatários. A nação brasileira outorgou-lhes poderes decisórios, para que conduzissem os destinos da melhor maneira, sustentados na ética, na lisura, na honestidade e no patriotismo.

E estupefata a população brasileira foi brindada com um dos maiores escândalos jamais vistos e tidos na história do Brasil.

Pressões de parte da imprensa simpática aos integrantes e por certo beneficiada com verbas da comunicação, se fizeram presentes e tomavam posições indutivas tentando convencer o Brasil que estava em curso uma ditadura jornalística e que um Linchamento Político estava sendo praticado. Na realidade o que aconteceu foi um Linchamento Mediático-Financeiro.

Explica-se. Mediático pelas empresas de publicidade. Leia-se Marco Valério. Financeiro: Diretoria do Banco Rural e do Banco do Brasil.

Sorrateiramente os que tinham a obrigação moral de se postarem como Guardiões dos interesses públicos tentaram aparelhar o Brasil. Traíram a confiança neles depositadas, pelo voto popular. Cometeram crimes? Sim. Foram incriminados por crimes do tipo formação de quadrilha, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, peculato e por ai afora.

Mas o crime maior não foi sequer citado e comentado.

Os políticos citados e julgados a eles não foram imputados o maior de todos os crimes.

O crime de Lesa- Pátria.

Esta seria a melhor forma de encerrar um dos maiores julgamentos públicos, onde foram expostas as chagas purulentas e mal cheirosas de uma fatia corrompida e corruptora da política brasileira.

Excluí-se desta fatia gangrenosa políticos sérios, competentes, patriotas, justos e perfeitos, que felizmente ainda existem no Brasil.

Estamos de Alma Lavada? Acredito que não.

Estamos tristes? Sim. Um dos valores morais da imprensa brasileira nos deixou fisicamente, mas nos deixou exemplos mil a serem seguidos.

Que a sua alma descanse em Paz.