Alimentação utilizada pela Etnia Krikati no Ritual do Esteirão 

Francisca Oliveira Elizeu1;

Francy Janne Soares Silva1;

Hyanka Alves de Sousa1;

Joane D’Avila Brito Santos1;

Nathália Maria Leite Nonato1;

Rayla Rodrigues Silva1;

Raymara Reis Sousa1;

Professor Dr. Zilmar Thimóteo Soares2;

                                                  RESUMO

 

A alimentação constitui uma das atividades humanas mais importantes, não só por razões biológicas evidentes, mas também por envolver aspectos econômicos, sociais, científicos, políticos, psicológicos e culturais fundamentais na dinâmica da evolução das sociedades. O objetivo deste trabalho consiste em conhecer a alimentação servida no Ritual do Esteirão, da Aldeia indígena São José na etnia krikati em Montes Altos (MA). O Esteirão faz parte de sua cultura e significa a passagem da adolescência para a fase adulta. A base da alimentação que é servida compõe de batata, arroz, inhame e chibé, (farinha de mandioca com agua); para eles essa alimentação vai deixá-los e mais fortes. É uma etnia que mesmo tendo passado por muitas lutas e perseguições ainda guardam a sua cultura.

 

Palavras-chave: Alimentação, Ritual, Esteirão.

 

 

 

  • INTRODUÇÃO

 

 Os primeiros habitantes do Brasil, utilizando o que a natureza e a floresta lhes ofereciam, se alimentavam basicamente de mandioca, macaxeira ou aipim, milho, carne de caças, peixes, raízes, frutas silvestres, palmito, castanhas, “cocos” de palmeiras e algumas folhas. Esse costume perdura até hoje com os índios que não têm muito contato com os homens brancos e que conseguem dessa forma preservar melhor a sua cultura

Os rituais indígenas são uma celebração das diferenças. Em primeiro lugar, das diferenças entre os seres que habitam o cosmos. Os rituais indígenas são, além disso, uma celebração das diferenças entre os próprios seres humanos, diferenças sem as quais não haveria nem troca nem cooperação.

Os Krikati, cujo nome significa “aldeia grande”, habitam um território recentemente demarcado e não homologado com 146.000 hectares que estão localizados no Sul do Maranhão, entre as cidades de Montes Altos e Sitio Novo, com uma população de 1.027 habitantes (Funasa 2010, online). Situado a margem da rodovia MA 280.

Deu-se uma visita de campo, que foi necessário para chegamos até o local da nossa pesquisa que segundo Fernandes (2007, p.22) define atividade de campo em Ciências, como toda aquela que envolve o deslocamento dos alunos para um ambiente alheio aos espaços de estudo (Nardi- 2009, online).

Foi realizada uma pesquisa etnográfica que se utiliza de coleta dados, procurando compreender os seus valores, hábitos, suas crenças, práticas e o comportamento dessa etnia, segundo Marli André (1992), a etnografia tem sido entendida como um relato escrito por meio de diferentes técnicas (João, 2016, online) usando essa técnica foi possível entrevistar os indígenas e buscar informações sobre a alimentação que é servida no Ritual do Esteirão.

 O Esteirão é um ritual de passagem da adolescência para a fase adulta. E também conhecer como vivem os indígenas nesse período de reclusão, que é de noventa a cento e vinte dias. Neste contexto a pesquisa tem como problemática, o alimento que esse indígena está ingerindo nesse ritual, se é suficiente e condiz para o desenvolvimento esperado. Sendo assim a pesquisa tem como objetivo analisar os nutrientes da alimentação usada pelo os índios no Esteirão.

2  METODOLOGIA

 

No dia 19 de Março de 2016 os alunos do curso de Nutrição junto com os acadêmicos do primeiro período da Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão, fez-se uma visita de campo, na aldeia São Jose entre os índios Krikati, foi realizado uma pesquisa etnográfica sendo usado o método etnográfico e a coleta de dados que se deu através de entrevista com questões abertas, com a população indígena, que foram entrevistados dez índios. Foram entrevistadas índias com idade entre 10 a 60 anos, para o conhecimento de sua cultura e alimentação no ritual do esteirão. A pesquisa, teve uma abordagem descritiva e qualitativa. Após voltar da visita de campo, dentro do contexto foi realizada uma pesquisa bibliográfica, sobre a cultura dos Krikatis, para a realização do artigo.

 

 

3- RESULTADO E DISCURSÃO

 

A alimentação constitui uma das atividades humanas mais importantes, não só por razões biológicas evidentes, mas também por envolver aspectos econômicos, sociais, científicos, políticos, psicológicos e culturais fundamentais na dinâmica da evolução das sociedades. Os recursos econômicos envolvidos em alimentação, em termos de mercado, são consideráveis, perfazendo um montante bastante superior àqueles relativos a outros setores.

Uma das questões mais evidentes sobre a alimentação atual é o processo de distanciamento humano em relação aos alimentos. A história da alimentação humana reflete que a preocupação constante com a busca/produção de alimentos vem passando por modificações tanto na forma de produzir quando de distribuir os alimentos. As possibilidades tecnológicas de produção de alimentos em larga escala e a sua conservação por longo tempo, bem como a viabilidade global de transporte e negociação desses itens, vêm ocasionando a ruptura espacial e temporal da produção e do acesso. Então, ocorrem situações em que os alimentos são produzidos fora da estação do ano e dos locais tradicionais, sendo também acessíveis em locais distantes da sua produção, podendo gerar tanto novos contextos de consumo. (Costa,2010, online)

3-1 Alimentação indígena

 

“Os índios têm uma alimentação bastante natural, pois consomem os alimentos que eles próprios plantam e retiram da natureza. A alimentação indígena é saudável, já que está isenta da presença de agrotóxicos”. (Miranda, 2016, online).

Há algumas etnias, aonde a presença da sociedade branca teve maior influência, e a presença de alimentos industrializados, tem modificado a sua alimentação. Os Krikati por fazerem parte da cultura Timbira, assumem e incorporam muitos elementos que são comuns aos demais povos Timbira, evidentemente, com algumas diferenças. Isto, devido ao diferente grau de contato que escolheram de manter com a sociedade não indígena. A relativa proximidade de cidades e sua interferência na sociedade Krikati, e a presença indígena maciça nelas, seja por negócios, seja por motivos de estudo, vem modificando significativamente muitas das manifestações culturais que até poucos anos atrás eram realizadas.  Longe de parecer um abandono ou uma perda de sua identidade cultural, revela como a cultura Krikati é algo dinâmico, que se refaz permanentemente e que não pode ser identificada somente com determinadas manifestações culturais exteriores. (FUNAI, 2012, online)

Os índios Krikatis possuem campos, matas virgens e passa atualmente, por um processo de reflorestamento.

Embora a comunidade tenha muito recursos disponíveis, há alguns madeireiros e posseiros que há pouco tempo atrás ocuparam a área. As suas atividades se classificaram bastantes nos últimos anos, mas ainda predomina, as atividades agrícolas, a criação de gado e a produção de artesanatos, a qual se utilizam de vários materiais, como a embira, tala do buriti, de guarimã, palha de coco, tucum, sementes, dentre outros; cargos públicos: professores nas escolas indígenas e como agentes de saúde. Ainda na cultura Krikatis a arte é muito presente através de desenhos geométricos, decorativos em peças de uso doméstico de modo particular nas cabanas ou cuias. Faz parte da cultura dos Krikatis o cultivo do algodão, tecem faixas para serem usadas em suas festas, utilizam pinturas corporais feitas com tinta de jenipapo e urucum. Costumam se enfeitar com penas de aves coladas diretamente na pele.

O trabalho na roça e o cultivo de cereais é responsável por grande variedade alimentar, como arroz, milho, mandioca, macaxeira, feijão, inhame, banana e amendoim. As regiões também oferecem a caça, peixes, frutas silvestres, palmito, castanhas, coco, açaí, buriti e folhas verdes. Dos produtos da natureza, os índios também procuram extrair óleos, bebidas e farinhas que é a base da sua alimentação. Entres as frutas, cajus, bananas, mangaba, ingá, jabuticaba, mamão, guabiraba e maracujá são as mais consumidas, pelos os índios. (FUNAI 2012, online) Os Krikatis apresentam diversos elementos em comum aos outros povos Timbira já que pertencem a mesma cultura. Essa tribo esteve próxima as cidades por motivos de negócios ou estudos o que interferiu de certa forma na sociedade indígena, modificando algumas das suas manifestações culturais (FUNAI, 2012, online). Entretanto há ainda uma grande conservação de seus rituais, desse modo os Krikatis desenvolve o Ritual do Esteirão.

 

 

3-2 O Ritual do Esteirão

 

O ritual do esteirão é um ritual que significa a passagem da adolescência para a fase adulta, para os Krikati a pessoa que vai entra no Esteirão é pura. Esse indígena fica “preso”, onde a família lhe reserva um local próprio da casa, para que este passe por um período de noventa a cento e vinte dias, sem contato, interno e externo.

Segundo os entrevistados, antes ficavam mais tempo, mas devido ao período escolar houve diminuição nesta reclusão. Se estiver no período letivo à professora manda as tarefas para serem feitas dentro de casa e depois devolvidas para a correção.

O indígena que participa desse ritual têm entre onze a dezesseis anos. No ambiente escolhido pela a família, ela permanece. Esteirão que é feito do broto do buriti, uma espécie de envoltório, que abrange toda a pessoa. O Indígena fica em um quarto fechado, onde dorme e come, mas quando precisa sair para fazer suas necessidades fisiológicas, conversar com sua família ou aparecer para outras pessoas, se envolve no mesmo.

A base da alimentação que é servido durante esse tempo de reclusão é, batata, inhame, farinha e chibé. O chibé é feito da farinha de mandioca com agua.


           Indumentária do Esteirão

            

            Esse tipo de alimento, segundo o relato de um indígena entrevistado, tem como objetivo, deixa à pessoa mais gorda, crescer mais rápido e assim ficar mais forte; para tanto eles comem várias vezes ao dia, satisfazendo o nível da crença, nesse ritual que é a mudança física de seu corpo. É ingerido bastante carboidrato e a pessoa não faz nenhum esforço físico, a não ser um artesanato no caso de menina.

Para os Krikati, a alimentação não atende apenas uma necessidade fisiológica, mais tem caráter simbólico, não é qualquer pessoa que pode fazer esse alimento, tem que ser uma pessoa escolhida da família. Como eles comem bastante, sem esforço físico pode ocorrer um sobre peso e consequentemente outras doenças.

Segundo o relato de uma índia de mais ou menos vinte e dois anos que participou desse ritual, lá dentro só ‘come e deita’, ninguém entra, tem que ficar só, é levado a tinta do urucum, para ela se pintar toda, até o rosto, ela diz que se acostuma tanto, que quando está se aproximando o dia de sair, nem quer mais sair. Mais como tem quer sair, sente-se pronta, mais bonita, mais forte, mulher preparada para vida.

Para outra, não é muito bom, pois não pode participar de nenhuma brincadeira, festas, nem ter contato com ninguém, mais a saída é um momento de grande felicidade, todos à espera, é feita uma vestimenta, todo de pena de pássaro, na cor vermelha e azul que ela veste e é pintada, com uma tinta branca. A família faz uma festa onde toda a aldeia é convidada, com comida, bebidas e danças, para apresentar a indígena. A despesa da festa é por conta da família, portanto eles caçam, plantam e pescam.

De acordo com a pesquisa de campo, é uma honra para a família ter uma pessoa que tenha a oportunidade de participar, deste ritual, por que hoje é bem difícil, tem a escola, e o tempo que é no mínimo de noventa dias, tem a renúncia por parte de quem irá entrar no esteirão, a despesa que a família vai fazer no final desses 90 dias, por que tem que ter a festa com todos os preparos. Conversando com uma adolescente que sonha em participar desse ritual, podíamos ver nela, a emoção e a ansiedade de chegar a hora de poder entra naquele processo, para ela é como se fosse um momento de transformação de uma fase da vida para outra, é uma espécie de purificação.

Em uma visita a casa de um indígena que estava a poucas horas de sair do esteirão, podemos ver a emoção da família, principalmente da avó que estava esperando chegar, àquela hora, para começar a prepara-lo, onde o neto seria apresentado para toda a Aldeia para a cerimônia do dia seguinte; ela iria cortar as unhas, o cabelo e pintá-lo. Nesta visita tivermos a oportunidade de ver aquele indígena dentro do esteirão, foi uma emoção muito grande, tanto da avó que nos apresentava o neto, quanto para nós.

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O Esteirão é um ritual de passagem, que vem dos seus antepassados, para a família Krikati, que tem condição de passar por esse ritual é uma honra muito grande, pois não significa só estar pronto para enfrentar a vida. Mais também é uma purificação do corpo e da alma. Mesmo sendo oferecido uma certa quantidade de alimento que pode deixa o futuro adulto obeso não devemos nos interferir, pois é cultura e crença do seu povo.

É através dessa crença que os Krikatis marcam sua evolução e tradição cultural.

Portanto, podemos dizer que foi muito importante essa visita a Aldeia São José, pois percebemos uma simbologia muito especial na cultura dos Krikatis, a harmonia que há entre eles é admirável. A alimentação que eles ingerem é rica em nutrientes e bem mais saudável, pois muitos desses alimentos são produzidos por eles mesmos.

Para nós, houve uma quebra de paradigmas, preconceitos e discriminações através da antropologia, nessa visita pudemos ver como eles realmente são, pois se tinha uma visão um pouco distorcida do modo de vida deles.

 

REFERÊNCIAS

 

 

Alimentação e globalização: algumas reflexões Rosana Pacheco da Costa Proença é nutricionista, professora do Departamento de Nutrição, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Líder do Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições (Nuppre)vai pr ref. Disponível em; http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252010000400014&script=sci_arttext. Acessado em 25/05/2016

 

JOÃO J. F. AMARAL Como fazer uma pesquisa bibliográficadicina, Universidade Federal do Ceará.

https://cienciassaude.medicina.ufg.br/up/150/o/Anexo_C5_Como_fazer_pesquisa_bibliografica.pdf acessado em 23/05/2016

 

Cultura indígena: culinária indígena. Disponível em:

http://indigena-grupo.blogspot.com.br/2010/07/culinaria-indigen.html>. Acessado em: 05/05/2016

 

Ensino de ciências e matemática, disponível em:

https://books.google.com.br/books?isbn=8579830044. Acessado em 23/05/2016

 

Fonte de informação, disponível em:

https://pt.wikiversity.org/wiki/Wikinativa/Cricati, acessado em 21/05/2016

 

Grupo Indígena do Maranhão disponível em:

http://funai-itz.blogspot.com.br/2006/10/grupos-indgenas-do-maranho.html acessado em 23/05/2016

Indos do Maranhão, Disponível em:

http://funaiitz.blogspot.com.br/2012/04/indios-do-maranhao.html acessado em 21/05/2016

 

Método de Investigação cientifica, pág. 2 disponível em:

http://br.monografias.com/trabalhos3/metodos-investigacao-cientifica/metodos- investigacao-cientifica2.shtml acessado em 23/05/2016

Povo indígena no Brasil disponível em:

http://www.pib.socioambiental.org acessado em 05/05/2016

Tribo krikati, disponível em:

http://tribokrikati.blogspot.com.br/2012/06/ acessado em 21/05/2016

 

Visita de campo, disponível em:

http://books.scielo.org/id/g5q2h/pdf/nardi-9788579830044-03.pdf  acessado em 23/05/2016

Sztutman, Renato. Disponivel em:http://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/modos-de-vida/rituais Acesso em: 06 jun 2016 [email protected]