Alicerces do capitalismo

Por NERI P. CARNEIRO | 11/02/2021 | História

Já imaginou viajar pelo tempo?

A história nos permite isso!

Viajemos, pois, para a Europa do século XVI. Vale lembrar que esses eram os tempos do absolutismo, ou seja, o rei (ou rainha, dependendo do caso) tinham poderes absolutos sobre tudo e todos.

Vamos visitar a Inglaterra. Lá vamos nos deparar com Henrique VIII, que rompeu com a a Igreja Católica, tomou suas terras e fundou sua própria Igreja Anglicana, na qual era o chefe supremo.

Mas ele não fez isso por questões religiosas. As terras da Igreja ele as distribuiu entre pessoas que poderiam apoiá-lo. Com essa distribuição (na verdade ele vendeu as terras!) aumentou o número de proprietários, aumentou a produção e os lucros do rei.

Sua sucessora foi a rainha Elizabeth I. Ampliou os domínios do reino, colonizou a América e aumentou seu poder e riqueza. Mas já havia muita gente descontente com os modelos absolutistas.

Esse descontentamento, na Inglaterra, gerou vários atritos entre os monarcas e grupos da nobreza, grupos de burgueses, além de grupos das camadas mais baixas da sociedade. Instalou-se aquilo que se denominou de Revolução Puritana, que na realidade foi uma guerra civil, da qual o Parlamento saiu fortalecido.

No final das escaramuças e atritos e revoluções, além do Parlamento, uma pessoa saiu fortalecida e se apropriou do poder: trata-se de Oliver Cromwell que instalou uma república, na Inglaterra. Mas isso já no século XVII. Seu governo, apoiado pelo Parlamento, teve como prioridade aumentar o poder econômico da Inglaterra. Para isso, entre outras coisas, foram aprovados os Atos de Navegação, lei que favorecia a marinha inglesa e, consequentemente, os empresários britânicos.

O Parlamento inglês passou a ter mais poderes que no tempo do absolutismo de Henrique VIII e de Elizabeth I. Os arranjos políticos, para impedir que um católico assumisse o governo, produziu a Revolução Gloriosa, pela qual o governante deveria respeitar a constituição e as decisões do Parlamento. Dessa forma os nobres mantiveram seus privilégios, os burgueses seus lucros e o livre comércio foi incentivado, com base no mercantilismo.

Tudo isso impulsionou a economia inglesa, sua indústria têxtil foi incentivada e o comércio internacional viu nascer um gigante que ficaria mais forte com a revolução seguinte que entrou para a história como Revolução Industrial.

Essa, de fato, mudou não as feições da Inglaterra, mas a cara do mundo. Mas isso foi possível graças aos arranjos políticos que se concretizaram na Inglaterra, ao criar uma monarquia parlamentar pela qual a burguesia efetivamente assumiu o poder. E foi essa burguesia inglesa que acionou os mecanismos que mobilizaram o sistema fabril.

O artesanato foi substituído por um sistema de produção doméstico pelo qual o artesão se comprometia a produzir para um grupo de homens de negócio que lhes fornecia matéria-prima e depois vendia a produção e ficava com o lucro. Mas na segunda metade do século XVII surgiu o patrão: dono de um barracão no qual, por várias horas seguidas, trabalhavam muitas pessoas, todas produzindo para o proprietário que vendia o produto e pagava um salário aos operários… e aumentava seus lucros.

Mas a real e efetiva revolução se deu já no século XVIII quando todos esses operários foram sendo substituídos por máquinas: a maquinofatura. Se antes o operário já não dominava a técnica da produção, nem tinha direitos trabalhistas, com este novo modelo industrial perdeu até mesmo o direito ao trabalho, pois as máquinas funcionavam muito mais rapidamente que as mãos humanas. Com isso o que aumentou foi a produção, a riqueza dos burgueses e o desemprego.

Ao trabalhador restou a tarefa de operar as máquinas, zelar por elas e mantê-las produzindo para aumentar o lucro dos burgueses que apoiaram, cada vez mais, a inovação das máquinas…

Com base em todas essas mudanças é que se fala em pioneirismo inglês, o qual consistiu em reformular o modelo monárquico, com a monarquia parlamentar e remodelar a economia, colocando os alicerces do capitalismo.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO