O monoteísmo e o politeísmo sempre foram crenças que juntas ou separadas, fizeram parte da cultura de muitos povos nas mais diversas regiões, todavia, o que se faz diferenciar o monoteísmo do politeísmo senão pelo fato que enquanto esta crê em vários Deuses e essa crê somente em um? Se houvesse somente essa diferenciação, então, poderíamos afirmar que todas as outras características que ambas possuem, poderiam ser compartilhadas umas com a outra porque possuem os mesmos valores, mas alguma vez ouvimos falar que o cristianismo possui atributos que foram baseados no espiritismo? Ou que algum santo utilizou-se de suas forças empunhada com uma espada e defendeu sua igreja? O objetivo desse artigo é demonstrar, de forma breve, algumas outras características que diferenciam tais crenças e suas riquezas.

No politeísmo ou os cultos idólatras, há tolerância sobre qualquer ideia, seja ela inútil ou bárbara, advinda de outros sistemas religiosos. A tolerância dos politeístas é tão sociável que por mais impiedosa e antipática que seja uma religião qualquer, será pouco provável que os idólatras a rejeitem ou tenham aversão. Para Hume (2005:79), "poucas corrupções do politeísmo são mais perniciosas para a sociedade do que essa corrupção do monoteísmo". Por exemplo, os Romanos adotavam os Deuses de cada cidade-estado que eles dominavam, e, além disso, nunca discutiam os atributos dessas divindades locais. De acordo com Hume (2005:77)

"o espírito de tolerância dos idólatras, tanto nos tempos antigos como nos modernos, revela-se de maneira bastante evidente a qualquer um que tiver a menor familiaridade com os escritos de historiadores e viajantes."

Nessa perspectiva há vantagens e desvantagens. Há desvantagens porque, por mais corrompida e vil que seja, para Hume (2005:75), ela "deixa uma ampla margem para que a velhacaria se imponha à credulidade, até fazer a moral e o sentimento de humanidade desparecerem dos sistemas religiosos dos homens".

Há vantagens no fato que eles, em relação aos deuses, limitam os poderes e suas funções. Eles concebem os deuses como seres relativamente superiores aos homens, nesse ponto, muitos dos deuses até foram humanos e que posteriormente se tornaram deuses. Essa limitação aos Deuses fornece às pessoas um piedoso sentimento de imitar e até competir com esses mesmos deuses. Essa capacidade de tentar imitar, ou aspirar competição, origina-se certas virtudes, tais como a vitalidade, a coragem, a magnanimidade, o amor à liberdade e todas as virtudes que faz do homem um ser nobre e grande. É fácil ver tal ideia quando buscamos os heróis pagãos como Hércules, Teses, Heitor e Rômulo. Esses heróis, que eram constituídos com superpoderes e se destacavam por suas bravuras, coragem, força e incorruptibilidade, travavam guerras sangrentas contra monstros e tiranos com o intuito de defender de suas pátrias e povos, e, as histórias dos seus atos heroicos eram motivos de orgulho e espelhamento. Um exemplo de como essas virtudes atingem o homem, foi o caso de Alexandre "O grande", pois, as expedições militares feita por ele, foram motivadas pelas histórias de força e bravura dos heróis e Hércules e Baco. Porém o politeísmo, assim como o paganismo carece de argumentações lógicas. Em muitos dos seus textos há muitas contradições sustentadas por um grau de autoridade que, de acordo com Hume (2005:86),

"A tradição antiga, sustentada pelos sacerdotes e pelos teólogos pagãos, é um fundamento débil e nos transmitiu um número tão grande de versões contraditórias, sustentadas todas elas por uma igual autoridade, que se torna absolutamente impossível escolher uma dentre elas. Por essa razão, uns poucos volumes poderiam conter todos os escritos polêmicos dos sacerdotes pagãos, e toda sua teologia consiste mais em fábulas tradicionais em práticas supersticiosas do que em argumentos e controvérsias filosóficas"

Em contradição às religiões politeístas, o monoteísmo não aceita e nem respeita outras divindades, considerando-lhes como algo inútil, irrazoável e desumano, sem nenhuma possibilidade para fornecer aos homens os melhores exemplos de um deus visto como infinitamente superior a tudo. Quando se há um único Deus, então, só se admite um único objeto de devoção, assim, torna-se algo absurdo e incompreensível a adoração de outro Deus. Um exemplo disso é a Arábia Saudita, pois, este país não só possui como religião oficial o maometismo, como também o alcorão como a base de suas leis. Não é para tanto que se olharmos a frase que contempla sua bandeira, percebemos a impossibilidade de não só aceitar outros Deuses, pois, nela diz: "Não há deus senão Alá, e Maomé é o seu mensageiro".

Para os monoteístas, somente é suscetível a crença em um único Deus, quando seus seguidores se afundam na submissão, na penitência e no sofrimento passivo, bem como, terrores supersticiosos e representação de virtudes monacal. Estas atitudes, para eles, são as únicas qualidades que são agradáveis a Deus, ou seja, para se ter honras celestiais é necessário se flagelar, fazer jejuns, ser passivo e humilde, ser submisso abjetamente e possuir obediência servil. Aqui não há heróis, mas sim, santos, tais como São Paulo, São Domingos, Santo Antônio, e entre outros. Consoante a Hume (2005:82):

"Esses fatos levaram Maquiavel a observar que as doutrinas da religião cristã, que recomendam apenas a coragem e o sofrimento passivo, subjugaram o espírito dos homens e os submeteram à escravidão e ao servilismo."

Como o politeísmo é carente em argumentações lógicas e racionais, o monoteísmo possui, na sua doutrina religiosa, princípios adequados e racionalmente sólidos, tanto que, a própria filosofia, em certos momentos da história, se confunde com a religião. Isso é muito perceptível só por saber que Thomas de Aquinos, Santo Agostinho e entre outros que, mais do que grandes pensadores, são religiosos. Ambos pensadores possuem dezenas de tratados que, além de tentar provar racionalmente muitas dúvidas que circundavam em suas épocas, também tentavam conciliar a fé e a razão. Em conformidade com Gregório (2006), Santo Agostinho foi um dos primeiro pensadores religiosos que tentou unir a fé e a razão, para ele, Agostinho

"Deixou formulado indicando o caminho para a sua solução - o problema das relações entre a Razão e Fé, que será o problema fundamental da escolástica medieval. Ao mesmo tempo demonstra claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma."

Um outro fato que deixa claro mais uma grande diferença entre tais crenças, é que, em nenhum momento, os povos politeístas acreditavam que foram os Deuses os criadores do mundo, isso porque, diferentemente dos monoteístas que creem na perfectibilidade divina, esses Deuses possuíam tamanha imperfeição que não seriam capazes de criar o universo em sua complexidade. Outros pensadores do politeísmo, tais como Ovídio e Diodoro de Sicília, deixaram a questão da imperfeição como indeterminada. Esse imperfectibilidade faz com que, em determinados momentos, o homem seja capaz de lutar contra os Deuses. Por exemplo, os chineses batiam nos seus Deuses quando os mesmo não ofereciam o que lhes eram pedido. Os gatos, no mundo mitológico Egípcio, eram considerados Deuses porque se pensava que, fugindo da violência humana, os Deus se "esconderam" nos gatos. É claro que em um mundo monoteísta, agredir seu Deus, seria considerado como um criminoso, sendo que, o correto, para eles, é, nunca pedir, mas sim, agradecer o que Ele dá.

Por mais diferentes que ambas crenças sejam, ambas cumprem muito bem suas funções, e que, além dessas diferenças, existe um rica caracterização conceitual que não torna alguma inferior a outra, e assim, impossibilitando a qualquer estudioso a provar categoricamente que tal crença é melhor do que outra e que por isso, as pessoas têm que segui-las para obter alguma salvação.


REFERÊNCIAS
HUME, David. História natural da religião. Trad. Jaimir Conte. São Paulo: UNESP, 2005.
GREGÓRIO, Sérgio Biagi. A história da filosofia: Uma síntese. Disponível em: http://www.ceismael.com.br/filosofia/sintese-historia-filosofia.htm (acessado em 2011.