Pequenas Felicidades Certas

 

Pois é, professora: Pelo que entendi, daquilo que você me pede, eu devo escrever sobre aquilo que me dá felicidade... Pequenas coisas que me fazem feliz... Pequenos momentos, pequenas coisas que são felicidades, certa!... Mas, professora, tem tanta coisa...; gosto de muita coisa! Muita coisa me da felicidade... muita coisa me faz feliz!...

Sabe, professora, tudo é lindo... como o bico do beija-flor acariciando, num beijo voluptuoso, o ventre da flor. O simples fato de estar escrevendo, confundindo o barulho da máquina de escrever com a melodia da chuva, lá fora... Desde o ouvir uma musica até andar descalço no corredor... Desde contemplar a natureza, obra do criador, até o fato de sentir saudades… tudo dá felicidade, basta saber olhar!

Sim! Professora! Sentir saudades é gostoso! Isso traz felicidade. Não pela dor da saudades mas pela lembrança dos momentos... É, pois a gente só sente saudade das coisas boas, daquilo que foi gostoso... E que a gente gostaria de experimentar, novamente... E então, revive na lembrança da saudade. Por isso a gente gosta de recortar o que foi bom. E o que foi bom dá saudades. O passado, quando foi ruim, a gente não gosta de relembrar, pois “Recordar é Viver”, e a gente não gosta de reviver o que não foi bom. Portanto, sentir saudades é bom. É gostoso e eu gosto!

Por exemplo, é gostoso a gente lembrar como o passado marcou a vida da gente... É bom rever, feito filme, as coisas do passado e ali buscar as lições para o hoje... e, muitas coisas a gente vai dizer: só por Deus... E assim, lembrar o passado é sonhar com o futuro. Mais: olhar para o passado e pegar a semente do futuro...

Oh! Doce felicidade! Meu passado, minha vida!

Que bom viver e esperar... Assistindo o passado... Sonhando com o futuro... Sentindo saudades do futuro...

Ih! Professora... Você me pede para falar das pequenas felicidades, mas eu não sei delas... Sei apenas falar daquilo que me deixa feliz! Gosto de olhar para uma flor... Senti-la acariciando-me os sentidos, em sua vaidade primaveril...

Gosto de trabalhar numa horta, plantar, crescer junto, colher, replantar, semear... Sujar as mãos de terra, de barro, deixar o suor escorrer pelo rosto preguiçoso... deixando que a brisa acaricie as folhas das arvores, das plantas, meu rosto suado... Deixar que o sol beije as lágrimas da chuva que faz crescer a natureza verde...

A vida toda é uma só felicidade!... desde que olhamos com o coração da mística do carinho, do amor, da beleza... Tudo é motivo de felicidade... como é feliz o vôo dos pássaros ou como é gostoso o despertar numa tarde ensolarada e preguiçosa de verão.

Isso é felicidade, professora! Não saber o que dizer, e já ter um amontoado de letras e frases e parágrafos... Já escritos... E saber que ainda não falei sobre minhas pequenas felicidades certas... talvez por que minhas pequenas felicidades nunca foram pequenas, mas sempre são grandes momentos de felicidade... talvez por que não sinto a felicidade estancada em pequenos frascos, mas por que em cada gota de felicidade eu respiro o perfume da totalidade de um momento feliz...

Sou feliz nas calmarias, nas tempestades, na busca e na espera. Na flor e nos espinhos, na semente e nos frutos... por saber que cada momento é semente de uma vida, é semente de um mundo feliz. Pois tudo esta penetrado pela beleza de ser vida, em diversos níveis.

Está vida que vivemos caminhando, os caminhos do céu; na busca de um novo, onde a felicidade não seja momentos. Talvez, sonhando com o céu, aqui, feito realidade do sonho...

Neri de Paula Carneiro

Rolim de Moura – RO