Minhas memórias de estudante me transportam, constantemente, para os bancos escolares. Adulto, hoje, na escola onde trabalho, me vejo menino, na escola em que estudei. Recordo e agora conto como aprendi fazer conta; como aprendi o BE-A-BA...

E recordando, me vejo a comparar: O processo de alfabetização, de ontem e de hoje, é completamente diferente.

Naqueles tempos a criança era considerada alfabetizada quando realmente sabia ler e escrever, e ainda por cima, dominava operações básicas da matemática.

Nos dias de hoje... sei lá...!!! parece que,... não sei!!

Nem sei se isso é alfabetização.

O processo foi se corroendo, com o tempo. Dissolvendo-se no passar do tempo. Decompondo-se no descompasso do tempo...

Talvez por isso a criançada de hoje sai da escola sem saber quase nada. Mais ou menos do jeito que ocorre nesta “piada matemática” (que não sei quem é o autor e que circula pela internet). Eu a conheci quando a recebi num e-mail. Mas ela circula pelas redes sociais, dos dias de hoje – Ismail é coisa de gene antiga...

A piada é o seguinte:

Em 1950, o professor de matemática apresentava o seguinte problema aos seu alunos:

* Um cortador de lenha vende um carro de lenha por R$ 100. O custo de produção
dessa lenha é igual a 4/5 do preço de venda. Qual é o lucro?

Em 1970, o professor de matemática apresentava o seguinte problema para seus alunos:

*Um cortador de lenha vende um carro de lenha por R$ 100. O custo de produção
dessa lenha é igual a 4/5 do preço de venda
ou seja R$ 80. Qual é o lucro?

Em 1990, o professor de matemática apresentava o seguinte problema aos seu alunos:

* Um cortador de lenha vende um carro de lenha por R$ 100. O custo de produção
dessa lenha é R$ 80. Qual é o lucro?

Em 1990, o professor de matemática apresentava o seguinte problema aos seu alunos:

* Um cortador de lenha vende um carro de lenha por R$ 100. O custo de produção
dessa lenha é R$ 80. Escolha a resposta certa, que indica o lucro:

( ) R$ 20 ( ) R$ 40 ( ) R$ 60 ( ) R$ 80 ( ) R$ 100

No ano 2000, o professor de matemática apresentava o seguinte problema aos seu alunos:

* Um cortador de lenha vende um carro de lenha por R$ 100. O custo de produção dessa lenha é R$ 80. O lucro é de R$ 20. Está certo?

( ) SIM ( ) NÃO

Nos dias atuais, o professor de matemática apresenta o seguinte problema aos seu alunos:

* Um cortador de lenha vende um carro de lenha por R$ 100. O custo de produção
dessa lenha é R$ 80. Se você soube ler, coloque um "x" no R$ 20.

( ) R$ 20 ( ) R$ 40 ( ) R$ 60 ( ) R$ 80 ( ) R$ 100”

Não sei onde me encaixo, mas eu me recordo de minha mãe me ensinando (foi ela quem me ensinou a ler e escrever e fazer conta, como se dizia naqueles tempos):

Na hora de “sol quente”, a mãe não deixava ir ajudar o pai nos serviço da roça. Ela arrumava uns cadernos e me mandava escrever o “ABC”; copiar frases. E depois de algum tempo tinha que copiar textos. E em todo o tempo tinha que ler o que escrevia, pra ela ver se estava certo. E ainda tinha que fazer caligrafia pra ter letra legível...

Nas contas não era diferente. Ela me ensinou fazer as contas de menos, as de dividir, por um e por dois números na chave. Também as contas de mais e de multiplicação. Graças a ela, e não à escola formal e regular, aprendi que a divisão é uma espécie de subtração e a multiplicação uma forma sofisticada de adição.

Ela fazia isso porque eu ainda não tinha idade de ir pra escola, com minhas irmãs, que iam a pé – não tinha transporte escolar lá no sítio – com sol ou com chuva ou no frio do inverno paranaense.

Mas minha mãe não fazia isso comigo para me poupar do solão, enquanto o pai continuava a labuta na roça; pra quando refrescasse um pouco eu voltar ao serviço com o pai.

Não! Ela não fez isso para me poupar ou me ocupar.

Ela fez comigo da mesma forma que havia feito com minhas irmãs, mais velhas: Primeiro ensinava em casa aquilo que a gente, depois, reaprendia na escola. O que ela ensinou foi reforçado na escola; era confirmado ao lado de novas informações. Só depois que a gente tinha realmente aprendido é que a escola nos soltava pelo mundo: e o aprendido permanecia e permanece.

Como em mim permanece: o que aprendi na escola e o que me foi ensinado pela minha mãe, que foi como se fosse minha primeira professora.

Mas nisso tem um detalhe: minha mãe só tinha terminado a quarta série.

Neri de Paula Carneiro

Rolim de Moura - RO